Vários pontinhos brilhantes flutuavam levianamente no céu. Me encantavam como faria o canto de uma sereia. Talvez até mais. Eu simplesmente não conseguia despregar os olhos daqueles pontinhos que chamávamos de estrelas. Era comum que isto acontecesse todas as noites. Parecia-me perfeitamente compreensível que, neste momento, eu me acalmasse e as lágrimas rolassem soltas, sem um mero esforço de impedi-las.

Pisquei fazendo-as cair ainda mais densamente, rolando por meu rosto. Alguma luz que batia nelas era automaticamente refletida, como se as lágrimas fossem pequenos diamantes na noite.

Atrás de mim um ruído me chamou a atenção.

- Não está na hora de parar de olhar para ela? – perguntou meu velho amigo, agora mais um colega de quarto.

- Você sabe que eu não conseguiria. – eu não despregava meus olhos lá de cima.

- Você sabe que não quer. – rebateu. Eu realmente o sabia. Sorri levemente ao perceber o quanto aquele garoto me conhecia. Desci o olhar até ele e Harrison se aproximou, dando um leve tapa em minhas costas. – Vem logo dormir garoto.

Concordei com a cabeça, fechando as cortinas para que meus olhos não a buscassem durante a noite.

Sem aquela distração, dormi rapidamente.

“Ela era linda, loira, de olhos esmeralda. O corpo repleto de curvas e a pele clara a tornavam ainda mais atraente. Vestia-se de prateado, com joias de esmeralda que ressaltavam a cor de seus olhos. O sapato de salto alto, diversos braceletes, os cabelos presos em um elaborado penteado. E ela parecia sorrir com os olhos enquanto caminhava, apesar de seus lábios estarem selados. Ela tinha esse talento de nos encantar apenas com o olhar.

Eu não podia me mover, domado por uma emoção forte demais. Finalmente sua boca formou um sorriso de felicidade sincera. Ela parou de caminhar e acenou para que eu me aproximasse. Não hesitei em obedecer e tomei sua mão.

Ao nosso redor um cheiro de damas da noite preenchia o vazio que estava no ar. Eu me perdia, com a visão conturbada, tamanho era o brilho da lua, e mais, como ele estava belo, refletido pelas águas prateadas à nossa frente. Apesar da neve do inverno, que devia predominar, parecíamos estar no verão, tamanho era o calor.

Nos sentamos na grama macia. Jamais havia sentido algo tão confortável.

Por momentos que poderiam ter sido horas e horas, ficamos nos olhando. Nada era mais importante do que sentir sua doce presença naquele momento. Era agradável estar ao seu lado como era agradável tomar um banho de rio no verão (N/A: ignorem a comparação kkk).

- Estou com saudades. – a primeira palavra foi dela, a voz tão linda quanto eu me lembrava, mas, dessa vez, mais sedutora.

- Por que me deixou? – perguntei. Parecia que minha voz se recusava a sair.

A bela garota tocou meu rosto.

- Você sabe que era preciso. Para mim. Para vocês. – a palavra doeu em mim.

- O que... Que... – gaguejei. Como? – Nós?

- Vocês. Ah, Will, eu torço tanto por vocês... Amor verdadeiro sempre me atraiu.

Pisquei atônito. As estrelas lá encima brilhavam com mais força essa noite. A sua ainda estava lá.

- Sophie, eu...

Ela subitamente virou o rosto para trás, como se alguém a chamasse. Da densa e calma (N/A: notem o calma. É a descrição da Floresta Proibida nessa época.) floresta atrás de nós, um vulto surgiu. Eu sabia o que era.

- Seu...

- É sim. Aquele é meu pai. Will... Tenho que ir. – havia algo de relutante em sua voz. – Boa sorte para vocês.

- Sophie? – ela se levantou e começou a caminhar. – Fica! Sophie?”

- NÃO VAI! – acordei.

À minha volta, vários alunos da Sonserina. Eu percebi que suava frio. Precisava, imediatamente, de algo para parar isso.

“[...] e acho que assim eu digo adeus.”

Fechei o envelope, e lacrei-o. Mais lágrimas rolaram, mas, dessa vez, eu não olhava para as estrelas.

- Queime. – ouvi a voz de meu amigo sussurrar ao meu lado. Mas não dava. Não... Eu apenas atirei o papel dentro do Lago Negro, e fui embora.