Fechei os olhos por um momento. Pirraça. Ah, meu velho amigo! Por vezes eu o encontrava aqui e acolá, mas nunca como fora antes. Eu tinha uma dívida com ele. Apesar de ele agir como se o devedor fosse ele, como foi a muito tempo.

Meus olhos lacrimejavam. Sim, um fantasma pode chorar. Mas eu não iria. Era orgulhoso de esta época de minha história. Apenas tinha saudades...

A tesoura em minha mão marcara na parede cada palavra que eu dissera em sussurro. Eu contava minha vida para aquele cômodo inerte e todos que quisessem ver. Por quê? Porque eu tinha a esperança de que ela fosse o “quem quisesse ver”. Sabia que nunca seria. Era doloroso pensar nisso.

Voltei-me ao meu amigo poltergeist. Hoje, eu sabia seu real nome. Marlon Slytherin. O nobre e gentil primo de Salazar, um adulto com corpo infantil. Mas os poltergeists são o contrário, exatamente, do que foram em vida. Ele, de maduro e educado, passara para um bebezão, literalmente. Não que isso me fizesse amá-lo menos.

As correntes prezas às minhas pernas ainda me incomodavam. Não importava.

Corri os olhos pela sala. Hoje eu era tão similar à Pirraça! A diferença era que eu, infelizmente, era o mesmo que fui em vida, e me lembrava do que acontecera em minhas horas de carne e osso.

Imaginei a parte que viria agora. As lembranças eram umas das mais dolorosas. Mas eu continuaria. Por ela. Por nós.