Exatamente às oito horas da manhã do dia seguinte ,eu acordei.Me sentia um pouco nervosa porque era o primeiro dia de treinamento.Lentamente quase me arrastando,eu fui para o banheiro.

   Apertei alguns botões sem sentido no painel e entrei no chuveiro.Alguma coisa azul e gosmenta começou a cair em mim na metade do banho.Tive que tentar tirar ela com uma escova de cabo verde.

  Quando saí,vi que a minha roupa estava disposta em cima de um baú ao lado do armário.Uma calça de um material que eu pensei ser malha ,uma blusa de manga comprida vermelha e uma bota.Quando terminei de trocar de roupa,pensei que talvez fosse bom prender o meu cabelo e depois saí para o café.

  Lyran e Justin,estavam sentados na mesa circular comendo feito locos.As duas equipes de preparação estavam na janela ,que tinha vista para a Capital,conversando animadamente.Vi os estilistas e Cato parados no sofá conversando sobre algo  que presumi importante.

   Eles tinham as tinhas as testas enrugadas e em algumas partes de pausa,mordiam o lábio.Quando Cato meu viu,ele fez a coisa mais ridícula que eu achei que ele seria capaz de fazer.

  Ele correu para cima de mim e me beijou,quase me derrubando no chão com seu peso quase dez vezes maior que o meu.Fiquei uns segundos com o olho aberto,tentando ver o que estava acontecendo.Os mentores ergueram as sobrancelhas e deram sorrisinhos.As equipes de preparação ficaram com caras estupefatas e os estilistas quase choraram.Então fui obrigada a fechar os olhos.

  Enquanto ele me beijava e me abraçava ,eu queria matá-lo.Ele está se aproveitando de mim,pensei.Depois de dois minutos e o empurrei e me sentei,deixando-o parado olhando por minhas costas.Minha expressão provavelmente estava vazia.Não sabia o que deveria mostrar para eles.Minha raiva,minha voracidade,minha felicidade...

  Eu comi o suficiente e já ia sair quando Justin segurou meu braço sussurrando:

   -Não seja arisca com ele.No treinamento...

   -Eu já sei.Vou ser mal com os outros e boa com ele.Eu realmente gostaria de poder fazer o contrário.

   -Você não pode Clove.

   -Tudo bem –disse eu ,revirando os olhos.- eu vou improvisar.

   -É bom.Agora,veja Cato.Ele está olhando para você.Olhe de volta e lhe mande um beijo.

  Eu quis me matar por estar fazendo tudo isso.Olhei para Cato com um olhar servil e lhe soprei um beijo.Ele estava realmente olhando para mim.Fui para o meu quarto e bati a porta.Escovei os dentes novamente e fiquei encarando a Capital através das janelas,dando zoom em certas figuras mais bizarras que o comum.Então eu ouvi uma batida na porta.

   -Clove...- cantarolou uma voz irritante.Cato

  -Que é?

  -Abre.

  Eu respirei fundo e pensei que talvez houvesse  algumas das equipes de preparação com ele,então tentei abrir a porta sem fazer alvoroço e com um olhar doce que insistia em fugir.Só que quando eu abri a porta,não havia ninguém além de Cato,então eu deixei o olhar doce realmente fugir.

  -Posso entrar?-disse ele ,já entrando.

  -Já entrou...- disse eu com um suspiro.-E então,o que você quer?

  -Feche a porta...

  -Fale.

  Eu fui vencida pela raiva e pelo pensamento de que,quanto mais cedo ele falasse,mais cedo ele sairia.Fechei a maldita porta.

  -Fala agora.

  -Tudo bem...E então,senta.

  Quando  eu relutantemente me sentei muito longe de Cato em minha própria cama ,ele ergueu a sobrancelha.

  -Você tem medo de mim,Clove?

  Eu quase ri.Porque ele pensava que eu iria ter medo dele?De um idiota fantasiado de máquina de matar?Me forcei a ficar séria e respondi:

  -Não.Porque você acha isso?

  -Sei lá...você fica fugindo de mim...

  Ele ficava dizendo isso enquanto fazia carinhos em minha mão com a sua.

   -Cato,não estou vendo câmeras aqui.

   -Isso não é atuação.

  Aquilo estava atingindo um ápice.O garoto ficava olhando atentamente  para mim,à procura de uma reação.Manti minha expressão a mesma de descaso e sem aviso :

  -Sai-disse eu calmamente.

  Ele pareceu entender a mensagem de primeira,o que me surpreendeu.

   -Não antes de fazer algo.

  Então,pela segunda vez ao dia,e eu me lembro de pensar,a última,ele veio e me beijou.Mas aquele foi tipo,terrível.Porque ele meio que ficava me carregando pelo meu quarto.Eu me lembro que no desespero ,pensei :Vai ver ele está atuando para os beijos selvagens.Percebi que não era isso,quando ele prendeu a minha cabeça na dele,segurando os meus fios.Então,disfarçadamente e meio que sem ar,fui empurrando ele até a minha cama.Peguei então a minha faca,que dormiu embaixo do meu travesseiro.Eu abri meus olhos e forcei Cato a fazer o mesmo,mostrando a minha faca.

  Ele reagiu quase comicamente.Foi tropeçando pelo quarto e para longe de mim,enquanto eu avançava em sua direção com a faca em minha mãos.Seus lábios que antes estavam vermelhos pelo beijo,ficaram pálidos,junto com todo o seu rosto.

  -E então amor...-eu ronronei provocativamente- Não me quer mais por perto?

   -Clove...

  -Olha,amor...-ele estava preso entre a parede e eu.-Você vai acabar se machucando...Se não quer morrer,Cato,saí daqui agora.Isso é fictício.Não existe paixão voraz de verdade entre nós.

  E então eu dei espaço para ele sair e a cor foi lentamente voltando a seu rosto.Já à porta,ele parou e disse provocativamente :

  -Você é linda.

  E a porta bateu.Quando ele saiu,fui me avaliar no espelho.Meus lábios estavam vermelhos,como eu sabia.Meus lábios incham e ficam vermelhos por muito pouco.Já eram nove e vinte,quando alguém novamente bateu à porta.Eu peguei a faca,minha nova melhor amiga,e me preparei para o caso de ser Cato.Mas não.Era Justin.

   -Vamos, Clove.Temos que chegar mais cedo pra intimidarmos mais.E para que esse faca?

   -Ah...É por causa de Cato.

  -Ele esteve vindo aqui?

   -Esteve –eu respondi ,corando.

  Justin se limitou a erguer as sobrancelhas grossas com à de sua mãe e nós fomos andando até o elevador,que nos levaria até as salas de treinamento,que ficavam abaixo do nível térreo do nosso prédio.Cato já estava lá.Percebi que apenas Justin estava lá para nos levar.A viagem foi bem rápida graças aos elevadores da Capital.Todos nós ficamos em silêncio.Cato apenas uma vez tentou pegar a minha mão,mas graças aos meus treinamentos para olhar de assassina,ele a soltou.

  As portas foram abertas para um enorme ginásio cheio de várias armas e caminhos de obstáculos.Apenas os tributos do 1 já haviam chegado.Alguém alfinetou o número do nosso distrito nas nossas costas.Somos obrigados a ficar num círculo silencioso esperando os outros tributos chegarem.Eu já estava esperando á quase dez minutos quando a silhueta de uma garota parou sobre a minha cadeira.

   -Glimmer- ela estendeu a mão.

 Olhei para Cato que estava sentado do outro lado e ele acenou.

   -Clove.-disse eu e apertei sua mão.  

  -Olá –disse o garoto do seu lado,seu parceiro –Marvel.

  -Olá.

  O garoto era quase tão forte quanto Cato e a garota era loira e bonita.Os dois eram enormes.

  -E então,Clove?Qual é o nome de seu parceiro? –perguntou Marvel.

  Cato havia se levantado em alguma hora da conversa e estava olhando fixamente à porta,se recusando a participar da conversa.

  -Cato!-chamei.

  Ele se demorou um pouco andando feito um gigante,mas veio.

  -Cato,esses são Glimmer e Marvel ,os do 1.

  -Hum...-resmungou ele em seu papel.-Alianças?

  -Exatamente,Cato.Alianças- disse Marvel.

  -Por mim,tudo bem.-ele respondeu vagamente.

  -Clove?-disse Glimmer,meio que tentando fazer amizade,em um tom doce.

  -Tudo bem.

  Então voltamos a ficar em silêncio .Pouco a pouco,os outros tributos vão chagando.A garotinha do 11 é a primeira dessa lista.Ela se senta no assento marcado,do lado de Tresh,seu parceiro.Sinto pena da garota,Rue.Ela estava assustada e olhava de Cato para Marvel.Ela me lembrava tanto Catherine que tive vontade de confortá-la.Mas limitei-me a não atirá-la olhares amedrontadores ,como Glimmer e Marvel estavam fazendo.Meus olhos vagavam por todo lugar,menos na direção da pequena Rue.

  Quando a sala já estava cheia eu comecei a ficar agoniada.Faltavam apenas o 12.Apesar de ter tenta gente,nós estávamos em silêncio.Algumas olhadelas eram passadas pelos tributos.Apenas Glimmer conversava com a garota do 4.Parecia que eles seriam uma nova parte da aliança.

  Então Katniss e Peeta chegaram.Eles estavam com roupas idênticas.Todos lançavam olhares de desprezo à Katniss,por seu estilista maravilhoso,exceto Rue e Tresh.A treinadora,Atala,nos liberou e eu me diriji imediatamente   para atiramento de faca.O resto dos Carreiristas,foram diretos para as armas de aspecto mais mortais e as manusearam muito bem,como se era de esperar.O almoço era servido em uma sala de jantar separada,com a comida em carrinhos.

  Eu realmente queria me sentar sozinha,como a maioria  dos outros tributos faziam,exceto os do 12 ,que pareciam ser muito amigos,mas Cato me puxou e me disse que deveríamos ficar em volta da mesa,ignorando os outros.De inicio eu achei a idéia ridícula.Mas depois eu acabei indo.Percebi que as pessoas nos evitavam.

   Então nós fomos liberados e eu dormi pelo resto do dia e a noite.Tive os pesadelos comuns.Mas Cato não foi me procurar.O que era bom.Mas dentro de mim,algo estava errado.Eu acho que fiquei esperando Cato.Ele não foi. E eu tive pesadelos.