Desejos Inconsequentes escrita por Bruno Silfer


Capítulo 2
Capítulo 2: Utopia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/195213/chapter/2

O estranho homem continuava a aproximar-se e Ino, a cada passo que ele dava, recuava um passo até encostar-se na parede onde não poderia mais fugir. Nisso ele chegou onde ela estava e disse em seu ouvido:

- Eu vou deixar você falar, mas você não vai gritar. Não vou te fazer mal nenhum e nem te tocar, só quero conversar. Tudo bem?

Ela assentiu com a cabeça e ele voltou a sentar-se na poltrona. Então ele abaixou o dedo e os lábios da garota voltaram a se mover. Ele continuava tranquilo. Ela continuava com medo, mas também estava curiosa e tinha muito o que perguntar.

- Quem é você?

- Para esclarecer logo. Não sou um fora da lei.

- Ah não? Então por que invadiu o meu quarto?

- Eu não invadi. Só entrei. E pela porta da frente.

Será que ele era algum funcionário novo ou conhecido da família? Passar pelos seguranças e por dentro da casa seria impossível para um desconhecido. Ino ficou mais calma e sentou-se na cama.

- O que você quer? Me sequestrar?

- Já disse que não sou bandido.

- Então?

- Vim lhe fazer uma proposta.

O clima de dúvida instalou-se. Se ele teve o trabalho de “invadir” a sua casa para falar com ela, pelo menos, pensou ela, ouviria o que ele tinha a dizer.

- Que tipo de proposta?

- Primeiramente: não estranhou o fato de que eu tenha entrado aqui sem ninguém ter me visto?

- Você deve ter sido contratado enquanto eu estive fora.

- Contratado? Você acha que sou um empregado novo? – ironizou.

- E não é?

- Olha... Eu consegui entrar sem ser visto porque eu não posso ser visto.

- Não pode ser visto... – repetiu a loira com desconfiança – Então você é invisível.

- É isso aí.

- Então como eu estou te vendo?

- Aí é que entra a parte legal.

- Quer saber? – levantou-se Ino já nervosa – Vou chamar os seguranças.

Enquanto ela os chamava ele permaneceu parado onde estava. Seria uma ótima demonstração da veracidade das suas palavras. Dois homens de terno preto chegaram ao quarto e ela disse:

- Ponham aquele ali para fora.

Diferente do que ela esperava os dois homens continuavam parados e olhando para o quarto. Ela disparou:

- O que estão esperando?

- Colocar quem para fora?

- Aquele ali ora! – apontou para a poltrona.

- Mas não tem ninguém ali.

- Como não tem ninguém?

Ela olhou para a poltrona e viu que o “desconhecido” estava na mesma posição de antes e tinha um semblante de quem estava se divertindo. Desconfortável, ela dispensou os seguranças, que foram embora sem nada entender, se aproximou dele e disse:

- Só pode ser truque. Você é mágico, é isso.

- Não sou mágico nenhum. Se quiser posso dar mais uma demonstração.

- Como assim?

- Você adora esse seu cabelo assim loirinho não é?

- Muito. É minha marca registrada.

- O que faria se ele ficasse preto de repente?

- O que eu faria era... Ei! Não me diga que...

- Melhor dar uma olhada.

Ela correu para o espelho e ficou abismada com o que viu. Seu cabelo estava totalmente preto sem um único fio que sequer lembrasse que ele já foi loiro um dia. Se sentindo vencida ela voltou a sentar na cama e disse chorosa:

- Tudo bem, tudo bem eu acredito em você. Devolve meu cabelo...

- Você manda.

Ele estalou os dedos e os cabelos da garota voltaram ao normal com um brilho dourado ainda maior. Depois de verificar se seu cabelo voltara mesmo ao normal, ainda sentada na cama, ela disse:

- Você disse que tinha uma proposta para mim.

- Exatamente.

- Que tipo de proposta?

Ele respirou fundo e começou:

- Eu estou disposto a te realizar três desejos.

Ino não esperava aquele tipo de proposta, tanto que perdeu a voz por alguns segundos.

- Como assim?

- Três desejos. Você pede e eu realizo.

- Então você é um tipo de gênio?

- Errado. O termo mais adequado seria semideus.

- Semideus... Três desejos... Uma proposta dessas assim de repente...

- Acho melhor explicar direitinho as regras.

- Regras?

- É. Regras. Eu explico e quando terminar você diz se aceita ou não.

Ela acenou que sim com a cabeça e ele começou:

- Em princípio esqueça aquelas historinhas de gênio da lâmpada que realiza três desejos e tal. Comigo as coisas são diferentes. Por exemplo: você não precisa fazer os três pedidos imediatamente.

- Então eu posso pedir quando eu quiser?

- Correto. Só que tem uma coisa: enquanto você não fizer todos os pedidos eu terei que acompanha-la onde quer que você vá.

- Em todos os lugares?

- Fora o banheiro e os lugares em que você esteja trocando de roupa. Mas não se preocupe, afinal só você pode me ver.

De fato não seria nada agradável ter alguém na sua cola vinte e quatro horas por dia, mas como ninguém mais iria vê-lo pensou que poderia suportar ter uma “sombra” a mais por algum tempo.

- Acho que dá para aguentar. Por mim tudo bem.

- Outra coisa: os pedidos não são de graça.

- Então você quer dinheiro não é?

- Errado de novo. Dinheiro não tem valor nenhum para mim.

- Então?

- Ninguém consegue nada de graça na vida. Sendo assim cada pedido terá um preço, que não é em dinheiro, que eu costumo chamar de “consequência”.

- Qual o preço de cada pedido?

- Depende de você. Eu posso realizar qualquer pedido que você fizer, mas quanto mais difícil for realiza-lo mais pesada será a consequência para você.

Ino teria de pensar sobre essa regra. Para isso tinha que sanar algumas dúvidas.

- Mas como vou saber se eu aguento pagar o custo?

- Muito simples. Quando você fizer um pedido eu lhe contarei a consequência logo em seguida. Caso você aceite, eu o realizarei.

A loira ficou mais aliviada com essa explicação. Ficou mais segura e também concordou com essa regra.

- Mais uma coisa. Uma vez que você aceite você terá que fazer os três pedidos sem exceção.

- Pode ter certeza que eu farei. – disse Ino e sorriu pela primeira vez naquela conversa.

- Por fim existe uma coisa que eu só posso falar quando você fizer o primeiro pedido e outra quando você fizer o segundo pedido.

Ele terminou de ditar as regras e esperou uma resposta. Ino levantou e ficou a andar pelo quarto enquanto pensava. Ela ainda queria saber duas coisas antes de responder.

- Então. – disse a garota parando em frente ao “gênio” postando as mãos na cintura – Antes de dar a minha resposta eu quero perguntar mais duas coisas.

- Pode perguntar.

- Qual o seu nome?

- Bom... Pode me chamar de Gaara.

- Pois bem Gaara. O que acontece se eu recusar a sua oferta?

- Eu desapareço da sua frente, apago a nossa conversa da sua memória e nunca mais você terá outra experiência com um de nós.

Ela pensou muito ao ouvir essa última frase. Como dinheiro não era problema para sua família, não sabia o que poderia pedir de diferente, mas pela chance única que tinha e pela aventura que aquele semideus poderia lhe proporcionar, soltou:

- Muito bem semideus Gaara. Eu aceito a sua proposta.

- Excelente. – disse Gaara levantando da poltrona e ficando de frente para Ino – Agora se iniciará uma nova fase da nossa vida.

- Isso parece frase de filme.

- Verdade. Mas caiu muito bem nesse momento.

Ela riu da frase, mas ele continuou com a mesma cara séria. A partir daquele dia Ino seria literalmente vigiada a todo momento não importando aonde fosse ou o que dissesse. Ela queria alguma coisa nova na vida há muito tempo, mas nunca imaginaria que a utopia de ter alguém a lhe realizar três desejos poderia se tornar realidade. Deixaria tudo rolar naturalmente, não importando o que iria acontecer a partir daquele dia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!