28

       Eu estava olhando para o lindo céu azul. Uma brisa passou por mim e por Akira, que dormia tranquilamente ao meu lado. Eu estava deitada naquela grama verdinha, sentindo todas as vibrações que as pessoas, ou youkais, faziam quando pisavam ao chão.

Resfoleguei e fechei meus olhos.

Mirei naqueles olhos vermelhos escarlates que apareceram como um vulto em meus pensamentos. Eles pareciam estar me observando de algum lugar, não tão longe de mim...

- Hentai. – eu disse tranquilamente e o rosário agiu, mandando-o direto ao chão.

Akira acordou com o estrondo e miou. Abri meus olhos e olhei para aqueles olhinhos vermelhinhos tão fofos. Aquela pelagem preta parecia realçar a cor desses olhos que pouco se assusta nessa forma.

- O que eu fiz?! – perguntou Hino irritado.

- Você estava me vigiando, oras. – comecei a acariciar Akira, ela fechou os olhos e começou a ronronar. – Odeio quando estão me encarando. – acrescentei.

- Não estava de vigiando.

- Mentira, estava sim. Eu posso sentir com as vibrações da terra. – dei um risinho e olhei para aquela gatinha tão fofa que estava prestes a dormir de novo.

- Malditas vibrações! – exclamou.

Senti mais vibrações, alguém estava vindo em nossa direção, segurando um bastão e correndo desesperado.

- Azumi-sama! – gritou Jaken próximo a nós.

Parei de acariciar Akira e me sentei. Aquela coisa verde se aproximou de nós, parou ofegante e depois olhou para mim.

- Te achei! – ofegou.

- Você e Sesshoumaru fizeram uma aposta? – Hino perguntou com sarcasmo na voz.

Esse sarcasmo irrita. Pensei irritada.

- Conviva. – ele disse grosseiramente.

- Não, não estávamos. – respondeu Jaken olhando sombriamente para Hino. – Aliás, Sesshoumaru está lá no vilarejo, ele deseja falar com você, Azumi-sama.

- Comigo? – eu disse desconfiada.

- Sim, com você. – disse Hino enciumado.

Suspirei e falei a primeira palavra que veio a minha cabeça:

- Hentai.

O rosário agiu.

- Hmm, quer dizer que Azumi-sama está controlando esse pervertido? – disse Jaken com deboche na voz.

- Controlando não! Infernizando-me seria a palavra certa. Nos últimos dois dias, é só isso: Hentai, pra lá, Hentai pra cá, e tanto. – reclamou Hino tirando a sujeira.

- Quem manda você ficar me observando e ficar passando a mão em mim. – minha voz saiu um pouco grossa.

- VOCÊ ESTÁ PASSANDO A MÃO EM AZUMI-SAMA! – Jaken gritou furioso.

Corei. Nunca pensaria que Jaken gritaria para que todo o Japão ouvisse; até mesmo o mundo.

Sesshoumaru saiu das árvores junto com Rin. Ele olhou para Hino com frieza e raiva. Só tenho um pouco de certeza que ele ouviu. Só acho.

- Nunca mais toque suas mãos nojentas de vampiro em minha imoto. – disse ele friamente.

- Ou o quê? – disse Hino desafiadoramente.

- Não está óbvio. Vou te matar. – Sesshoumaru disse o óbvio.

- Sério? – a voz de Hino era de deboche. – Eu sou mais forte que você, Sesshoumaru.

Sesshoumaru deu um riso irônico e olhou para Rin.

- Rin, leve Jaken para ver a sua grande invenção. – disse Sesshoumaru a doce garotinha.

Rin acenou e foi em direção de Jaken, pegando seu pequeninho braço e puxando o em direção ao vilarejo.

- Não quer violência perto da garotinha, mas quer que sua querida imoto veja. – zombou. – Poupe-me do seu esforço Sesshoumaru, você ainda é o filho do inu-daiyoukai e eu sou um daiyoukai. Nossos tipos não batem.

- Quando Azumi-chan colocou esse rosário você parou de ser respeitado, Hino.

Hino olhou para Sesshoumaru assustado e com o cenho franzido, depois desviou o olhar e fitou alguma coisa dentro da floresta.

- Mentiroso.

- Hino, você não é mais um daiyoukai. Azumi-chan tirou seu posto de “o mais assustador dos vampiros”. – não sei se era impressão minha mais Sesshoumaru estava de bom humor hoje.

- Não é só impressão. – disse Hino respondendo para mim.

- Aaah, eu pedi sua opinião? – cortei-o.

- Garota não me faça...

- Hentai. – interrompi o que ele ia falar. Ele foi ao chão.

- Era isso que eu estava falando. – Sesshoumaru ironizou e depois olhou para mim. – Venha. – disse e começou a andar para o lado oposto.

Olhei para Hino, que estava inconsciente no chão e segui Sesshoumaru.

 ***

       - Como você o agüenta? – perguntou Sesshoumaru olhando para o céu.

Corei e comecei a mexer na grama de tão nervosa que estava. Eu sei que Sesshoumaru está sendo – ou pelo menos tentando ser – gentil comigo. Não entendi quando chegamos aqui. Ele apenas se sentou no gramado e me sentei ao lado dele.

- Acho que deveria perguntar assim: Você o agüenta? – ri.

Ele deu um meio sorriso e depois olhou para mim. Seus olhos amarelos não parecem mais aqueles que eu conheci há um mês. Agora eles pareciam mais serenos e carinhos... Comigo, é claro; porque com os outros era a mesma coisa.

- Sim, essa seria uma pergunta interessante. – disse naquele tom baixo e grosso.

- Bem, acho que ele está se adaptando os outros e a mim. – sorri amarelo e franzi o cenho. – Quer dizer... A convivência. Eu sou irritante, segundo ele. – acrescentei.

Sesshoumaru acenou com a cabeça e voltou a olhar para o céu.

Não sei por que, mas parecia que ele estava tenso ao meu lado. Como se ele quisesse fazer alguma coisa comigo. Foi por causa do beijo? Do amor que ele sentia pra mim e que esse sentimento não era recíproco?

Um aperto surgiu no meu peito. Abaixei meu olhar para a grama e continuei a mexer nela. Uma brisa passou por nós, meu cabelo foi todo para minha cara. Tentei ajeitá-lo, mas uma mão me impediu. Ele ajeitou meu cabelo carinhosamente.

Corei e voltei minha atenção para as plantinhas.

- Alguma coisa de errado? – perguntou abruptamente.

- N-não. – gaguejei.

Não queria olhá-lo, minha atenção estava voltada para as plantinhas, mas minha mente o queria.

- Tens certeza? – forçou.

Assenti lentamente.

O que eu podia fazer? Nada, claro. Eu tinha que ficar ali, com o maior aperto no coração e com um nó na minha garganta! Meu rosto estava vermelho de tanta coisa que eu imaginava e que poderiam acontecer.

- Azumi, está doente? – indagou.

Olhei para ele, ainda corada.

- C-como a-assim? – gaguejei.

Ele estendeu o corpo, levantando o braço, colocando a mão em minha testa para medir minha temperatura.

- Você está um pouco quente. – murmurou.

- Não se preocupe Sesshoumaru. – abanei minha mão totalmente nervosa.

Ele me olhou nos olhos, preocupado. Sua mão desceu até minha bochecha, acariciando-a. Ruborizei e arregalei um pouco os olhos.

Surgiu um estranho nó em minha garganta, impedindo-me de falar ou proferir algo. Minha mente que estava criando várias coisas, que eu nem conseguia fazer nada.

Ele se aproximou de mim e tocou seus lábios aos meus. O grande aperto em meu peito sumiu. Minha mente voltou a raciocinar direito. O estranho nó em minha garganta saiu. Meus olhos automaticamente se fecharam e procurei me concentrar naqueles lábios aveludados e doces.

Minhas mãos dividiram suas tarefas em: uma ficar nos cabelos prateados de Sesshoumaru e outra em sua nuca, para poder senti seu corpo mais próximo ao meu. Sua única mão, apenas acariciava minha bochecha, dando-me pequenos arrepios e conforto. Nossas línguas dançavam em perfeita sincronia.

O ar nos faltou e nos afastamos.

Abri meus olhos e mirei naquele mar dourado. Um sorriso brotou em seus lábios e sua mão continuou a acariciar meu rosto.

Eu ofegava um pouco, meu coração já estava parando, minha mente estava entrando em um estado de vegetação e meu corpo correspondendo a toda aquela paixão que sentíamos um pelo outro.

Ele me beijou de novo, só que esse beijou foi mais intenso. Ele conseguiu me deitar no chão. Aquele amor estava se tornando em luxúria ou é só impressão minha?

- É luxuria. – disse alguém perto de nós.

Corei e parei de beijar Sesshoumaru. Não pude nem pensar três vezes pra saber quem era.

- Hentai! – disse com toda a fúria do mundo.

Sesshoumaru saiu de cima de mim e eu me sentei. Olhei para Hino inconsciente no chão. Fico grata por Sayuri fazer esse colar para ele e eu poder comandá-lo.

- Bem, acho que já vou indo. – disse Sesshoumaru se levantando derrotado.

Estamos quase tendo um momento só nosso. Ai Hino nos interrompe.

- Hentai! – gritei de novo com ódio dele.

Levantei-me com raiva e olhei para Sesshoumaru. Ele olhava para Hino, que desmaiara com tanta fúria, e depois desviou seu olhar para mim. Ele se aproximou um pouco, tocando em meu rosto, mas depois recuou e foi seguindo em direção ao vilarejo.

Continua...