24

       Esse cheiro voltou.

Ela voltou, finalmente.

 ***

       Pousamos perfeitamente e escalamos o poço. Finalmente, voltei. Deixei o sol me cegar e senti aquela doce brisa. Sorri quando vi uma borboleta passando por nós.

Saímos do poço.

- Em casa. – disse Kagome sorrindo.

Assenti. Espera... Essa presença.

- Um youkai. – disse Inuyasha na nossa frente.

Comecei a farejar. Podia sentir que minhas características hanyou voltaram. O cheiro que estávamos sentindo me parecia um pouco familiar. Familiar até demais.

- Acho que é um deles. – eu disse.

- Você diz os inimigos?

- Aham. – afirmei.

Kagome pegou o arco e flecha e se preparou. Toquei na Tasseiga – que não me repeliu – e fiquei em alerta.

- Ah, a famosa miko-youkai Inuichi. Que foi lacrada com o miasma do seu fiel companheiro Naraku e que agora aparece viva. – disse uma voz grossa e rude.

Não consegui senti sua presença, mas eu sabia que ele se encontrava aqui.

Ah, legal, mais um!

- Aliás, quem é você? – perguntei numa voz furiosa.

Algo caiu perto de nós. Virei-me e vi um garoto humano com um gato de duas caudas preto.

O gato preto me olhou e veio em minha direção.

- Kawaii! – eu e Kagome dissemos juntas.

- Ela parece com a Kirara. – comentou Inuyasha.

- Aham, mas na versão preta. – disse Kagome se agachando e acariciando aquela gatinha.

Agachei-me e fiquei fitando aquela gatinha. Ela era tão familiar.

- Akira! – gritou o garoto humano.

Akira? Perguntei-me.

***

       - Por favor, Sesshoumaru-nii-chan! – disse uma garotinha de cabelos brancos que segurava uma gata preta.

- Não. – disse Sesshoumaru grosseiramente.

- Chichi-ue? Por favor! – perguntou para um homem que olhava para o lago.

Ele olhou para ela e fechou os olhos.

- Desculpe querida, mas não dá. Sesshoumaru não gosta de acompanhantes e se levar esse gato vai dar mais trabalho para ele.

- Chichi-ue. – disse a garotinha com os olhos cheios de lágrimas.

- Inuichi, não comece! – exclamou Sesshoumaru irritado.

- Mas, mas, mas...

- Não há mais! – gritou.

Inuichi começou a chorar. Aquela cena era de partir o coração, mas ela tinha que crescer e deixar a gata de lado.

- Ande logo, se despeça dela. Temos um caminho para seguir. – disse Sesshoumaru irritado.

Inuichi secou as lagrimas e olhou para a gatinha.

- Até mais, Akira.

 ***

       Era assim então. Uma lembrança “feliz” de quando Inuichi começou a ser criada por Sesshoumaru. Aquela cena deu dó de Inuichi. Sesshoumaru era tão rude com ela, porque ele odiava companhia.

Se ele acha irritante ser seguido por Jaken, então ele sentia um ódio do tamanho da galáxia quando estava com Inuichi.

- Akira! – o garoto chamou de novo.

Akira o ignorou e pulou em meu colo. Ela tinha uma coisinha pendurada no pescoço dela.

- Fogo. Seu outro lado é o gelo. – murmurei e Akira soltou um ronronado de aprovação.

- Como assim? – perguntou Kagome.

- Tanto pode queimar como congelar. A mesma coisa com a vida, tanto vive quanto morre. – eu disse. – Quase todas as Pérolas têm seu lado negativo e era esse lado negativo que Naraku queria. – murmurei.

- EI! DEVOLVE-A! – gritou o garoto.

Olhei para ele. Ele parecia que não tomava banho há séculos. Sua presença era normal. Um humano.

Afinal, o que ele tem haver com Inuichi?

- Solte-a, seu monstro! – disse ele.

- Ei, pirralho, minha aneue não é um monstro! – gritou Inuyasha.

- Bem que vocês se parecem! – zombou.

Inuyasha se irritou e correu para atacá-lo.

- Osuwari. – eu e Kagome dissemos calmamente. (n/a: preciso nem escrever o que acontece, né?)

- Aliás, o que você tem haver com Inuichi? – perguntei.

- Você me aprisionou nesse corpo humano. – respondeu com os braços cruzados. Ele me olhou e cheirou o ar. – Você não é você.

- Eu sei, sou uma espécie de reencarnação de Inuichi. – minha voz saiu delicada.

Nossos olhos se encontraram e então percebi seu poder. Ele era mais poderoso que Sesshoumaru.

- Como ela te aprisionou? – perguntei.

- É uma longa história. – ele disse olhando para o lado.

- Se é uma longa história, por que não conta? – perguntou Inuyasha limpando a sujeira do seu quimono.

- Vocês não entenderiam. Ela era muito má. – disse numa voz rouca.

Suspirei e me levantei.

- Vamos. Todos nos esperam. Assim você pode nos contar o que houve. – sorri para ele.

Ele me olhou encantado e com os olhos arregalados. Eu tinha que me acostumar com esse encanto.

Akira pulou em meu ombro e se esfregou em meu rosto.

- Calma menina. Estou bem. – ri com aquele gesto.

- Vamos. – disse Kagome gentilmente.

Começamos a caminhar para o vilarejo. A viagem foi silenciosa, mas tranqüila. Não conseguia imaginar o que Inuichi fez para aquele garoto – se era um garoto humano. Só queria sentar e conversar. Descobrir mais as maldades que ela fez quando esteve com Naraku.

Suspirei alegre quando vi a cabana da Kaede-baba.

Sango cuidava dos filhos e Miroku conversava com Sayuri e Kaede. Shippou estava brincando com Monka e aquele macaquinho branco.

Senti alguém sugar meu sangue e bati no meu pescoço.

- Myouga-jiji. – murmurei. Ele se recuperou e me olhou alegre e ao mesmo tempo impressionado.

- Você está bem, Azumi-sama. – disse ele pulando da minha mão e indo em direção à cabana.

- Azumi-chan! – gritou Shippou e veio correndo para me abraçar.

Todos me olharam e sorriram.

- Ela está bem. – murmurou Sayuri.

Segurei Shippou e fui até eles, sorrindo.

- Kirara? – disse Sango impressionada.

- Não, essa é a gatinha de Inuichi, Akira. – Kagome explicou.

Shippou saiu de perto de mim e foi abraçar Kagome.

- Estão todos bem, né? – perguntei sorrindo.

- Sim, estamos! – disseram em uníssono.

Suspirei aliviada. Todos estavam sãos e salvos.

- Como foi à recuperação? – perguntou Monka.

- Foi boa. – respondi sorrindo.

Monka olhou para o garoto e sorriu maliciosa.

- Não acredito que ainda não se livrou disso. – disse numa tom de zombaria.

- Ah, não enche, Monka! – disse ele com os braços cruzados.

- Ran, um daiyoukai como você ainda está sobre o encanto daquela Traidora? Estou dando risadas infinitas. – disse arrogantemente.

- Cala a boca, Monka! – gritou ele.

- Espera... – disse Miroku interrompendo a discussão deles. – Daiyoukai?

O garoto olhou para ele e assentiu.

- Sim, eu era um daiyoukai. Já lutei até contra Sesshoumaru, mas ele venceu. – disse rudemente.

Sesshoumaru...

Farejei o ar, mas não senti seu cheiro.

- Cadê ele? – minha voz saiu rouca.

- Ele quem, Azumi-sama? – perguntou Miroku.

Todos se entreolharam.

- Estão escondendo algo de mim? – eu disse irritada.

- Bem, Azumi-nee-chan... – Inuyasha hesitou.

- Cadê Sesshoumaru? – repeti com raiva.

- Ele desapareceu. – disse Monka olhando para suas garras.

- Como assim desapareceu? – perguntei triste.

Ele foi embora por minha culpa? Por culpa do monstro.

- Monka-chan! – Sayuri disse irritada.

- Depois que você voltou para sua Era, seu cheiro desapareceu. – Monka continuou a jogar o veneno que tanto queria.

- Ele... – minha voz falhou.

Balancei a cabeça e comecei a rir nervosamente. Eu estava tão triste, mas eu deveria pelo menos não me importar com isso. Aliás, Sesshoumaru era só meu irmão. Eu não sentia mais nada por ele.

- Tens certeza? – perguntou o garoto.

- Ahn, como assim? – perguntei corada.

Ele lia mentes?

- Sim. – murmurou.

Corei ainda mais. Quer dizer que ele estava lendo minha mente todo esse tempo e nem falou nada!

- Bem, me deixa explicar logo a porcaria de história pra você me livrar desse corpo. – disse ele hesitante.

Assenti.

- Quer que eu vá? – perguntou Inuyasha.

- Sabe Inuyasha, eu não vou lutar com ela, nem matá-la. A verdadeira Inuichi está morta mesmo. – disse ele arrogantemente.

- Eu pensei...

- Ele ler mentes. – disse Monka. – Na verdade, ele quer a mim, Sayuri e Azumi para contar a “incrível história dele”. – disse gesticulando aspas com os dedos.

Ele assentiu e olhou para mim. Que merda Inuichi fez para ele?

- A maior de todas, Azumi-sama.

- Sama? – murmurei.

- Sim, “sama”. Você merece mais respeito que Inuichi. – disse ele me analisando.

Lembrei-me de quando Inuyasha entrou no meu quarto e me viu nua... Mas por que eu me lembrei disso?

Corei fortemente e ele sorriu com minha lembrança.

- Seu corpo é bonito, tirando as cicatrizes, claro. – murmurou.

Corei mais ainda e Inuyasha também.

- Como você ousa falar assim da minha irmã?! – disse Inuyasha arregaçando as mangas.

- Ela lembrou, oras. – disse ele olhando para o lado.

- Inuyasha viu Azumi pelada? – Shippou perguntou assustado nos braços de Kagome.

Agora virei tomate de tão vermelha que estava.

- Não entenda por esse lado, pirralho! – disse Inuyasha irritado, mas nervoso.

- Kagome faça alguma coisa! – disse Shippou desesperando.

Olhei para a platéia que assistia a esse show de comédia. Alguns aldeões olhavam feio para mim e para Inuyasha. Sango e Miroku tentavam tampar os ouvidos de seus filhos. Sayuri ria com a situação junto com Kaede e Monka. Virei meu rosto e olhei para Kagome. Ela olhava para Inuyasha com ciúmes e Shippou estava fortemente corada com tudo.

Agora pronto. Todos estavam pensando que tínhamos feito algo de...

- Sesshoumaru. – senti seu cheiro e comecei a correr para onde vinha.