- Draco!

- Hermione!

- Rony, Hermione, voltem aqui!

Passos, as solas de borracha dos sapatos assoviando contra o chão limpo. Um corpo choca-se contra uma armadura metálica, as rodas rolam pelo chão com seu barulho característico, soluços ofegantes, sussurros urgentes, berros indignados. Bogus levantou-se da sua escuridão e virou-se para a sala que deixara o sonserino, rabugento, se perguntando como pequenas pestes grifinorianas poderiam lhe dar tanto trabalho.

A namorada do loiro o abraçava, o rosto enfiado nas vestes do colégio, lagrimas caindo sobre aquele brasão detestável, isso fez Bogus rir, ele gostava de como as pessoas mudavam e esqueciam preconceitos em um momento desesperador, a solidariedade é uma coisa linda. O Menino-Que-Sobreviveu tentava não observar a cena, seus olhos corriam pelas paredes, empertigado e desconfiado, Bogus sabia tudo sobre ele, claro, vivendo tanto tempo na escuridão, há anos que se fala do nobre Harry Potter e ultimamente esses múrmuros são mais nítidos e festivos.  Ciumes? Não, concluiu o gênio, o alto e desengonçado sentia ciúmes, seus punhos apertavam o suficiente para deixar branco os nós de seus dedos, seus cabelos ruivos formavam uma cortina neutra, mas Bogus entendia todos os sentimentos que bombeavam seu coração. Achou de bom tom recepcionar o grupinho, começou a lentamente escorregar-se para a sala.

- Harry, nós temos que ir...

- O que? – Berrou Ronald, descontrolado – Pegamos o Malfoy e damos o fora? E a Luna? E os nojentos dos comparsas desse ai? Não se importa mais com ela?

Hermione se desconcertou, os olhos fitaram o vazio por meio segundo em que conseguia descer Draco da maca, o medo de perde-lo foi tomado pela coragem que residia em seu coração, coragem para salvar aos companheiros.

- Você tem razão – desculpou-se, envergonhada – Eu preciso de uma ajuda aqui.

Harry se prontificou e recebeu o braço de Malfoy sobre seus ombros, Hermione virou-se controlada para o restante da sala.

- Novamente não há portas... – Lamentou-se Weasley aproximando-se de uma das paredes –Onde será que estão os outros?

- Onde suas mãos humanas não podem chegar.

Hermione quem o viu primeiro, antes mesmo de falar, conhecia sua forma, encarara seus olhos negros de muito perto e por sorte – sorte? – Draco conseguira livrá-la do destino que ele teve. Agora podia vê-lo distintamente, parecia como um homem, muito alto e forte, um tom pardo cobria sua pele, indiano talvez, trajava uma calça folgada nas barras, e um manto azul marinho decorado com fios de ouro enrolava em seu pescoço e descia até suas coxas. Parte de seu peito sobrenatural estava exposto, Hermione arfou, agarrou as vestes de Potter.

- Harry!

Harry passou Hermione para trás de si, ela apertou as mãos em seu traje e olhou para Rony, o amigo assumira uma posição de defesa sem ao menos soltar Draco. Naquele momento Hermione entendeu Ronald e imaginou o quão horrível aquilo parecia a ele, ter de proteger um inimigo apenas pelo fato que a garota por quem era apaixonado direcionava seus amores a ele.

- Oh, você realmente veio, Potter. Comecei a duvidar de sua reputação de herói, não sei se você sabe, mas meu banquete está no fim. – Bogus sorriu, seus olhos também sorriam, poderia se passar por um senhor atencioso – Seria uma pena se você não aparecesse.

- O que você é? – Exigiu Harry.

A criatura chacoalhou-se em um sorriso, caminhou alguns passos a frente, o grupo de amigos recuaram o mesmo tanto, ele sorriu erguendo a mão com o indicador para cima.

- Gênio... – Ergueu um segundo dedo – Bogus... – Ergueu um terceiro – O Monstro de Hogwarts – Ergueu o quarto dedo – Fantasma... – Enfim sua grande palma estava completamente aberta voltava para eles – E a própria escuridão... Seja mais o que deseja me chamar.

- Explique-se! Quem é você e o que fez com nossos amigos? – Berrou Ronald, havia deixado Draco ao chão encostado a parede mais próxima.

Bogus virou-se ao Weasley e sorriu, avançou para ele e Rony não recuou, Harry juntou ao amigo.

- Ora, ora, ora, vocês Weasley se reproduzem como coelhos.

- Como você... – começou Rony, Hermione intervém.

- Ele pode ler, Rony, suas emoções, como se fosse um livro, ele sabe quem nós somos...

- E o que sentem realmente – Concluiu o próprio Bogus, olhando para Hermione – Você decorou todos aqueles diários?

- Não mude de assunto! – Rony tornou a gritar, suas mãos sujas apertavam com força a varinha .

- Certo, Sr.Weasley.

Bogus abriu os braços largos, destampando quase todo seu peito, uma cicatriz cobria a região de seu coração, pareceu a Hermione muito recente.

- Vou lhes contar como me tornei o que hoje sou, depois vou juntar-los a seus amigos – Bogus continuou, estalando os dedos, três macas surgiram quando uma parede se desfez.

- Luna! – Gritou Hermione ao correr para o leito da amiga.

- Há muitos anos atrás, mais do que vocês podem contar eu existi. Nós, a comunidade de Gênios vivíamos pacificamente com os mortais, dávamos a eles o seu desejo mais profundo, fazíamos com que eles vivenciassem as suas mais tentadoras emoções. Só pedíamos uma coisa em troca, um pouco de sua felicidade. Não, não nos comparem com Dementadores, aquelas criaturas vis e primitivas. Arrancar a felicidade com as próprias mãos é horrível, fazer com que nossos adoráveis clientes relembrem seus pesadelos na hora da comida? Jamais – O tom de Bogus era irritado e seus olhos faiscavam, andava da direita para a esquerda – Um dia, um Gênio meio atrapalhado, Rafael era seu nome, não acertou o verdadeiro sonho e um buxo e mesmo assim colheu o pagamento. Isso afetou toda a nossa raça, os bruxos se voltaram contra nós, acusando-nos de ser ma raça sombria e frívola, nos baniram, nos caçaram, os que puderam, nos assassinaram, extinguiram nossos direitos. O departamento para Criaturas Mágicas rasgou as escrituras com leis que levaram anos para serem acertadas e nos botaram no rank de criaturas perigosas e ameaçadoras. Durante meio século foi assim, até que a má fama corrompessem os nossos e passaram a agir como animais selvagens, deixavam ser capturados em suas lâmpadas por mercadores negros e quando surgia a oportunidade de um comprador, comiam toda sua alegria e davam-lhe pesadelos.

“Rebaixaram-se aquelas criaturas horríveis e muitos de nós, que apenas fugíamos e nos escondíamos acabavam concordando com toda aquela caçada. Quando o novo Ministro da Magia assumiu, nos retirou da lista negra, mas mandou aurores e Inomináveis nos caçarem na surdina e ao invés de nos matarem, era para sermos selados em nossas casas e transferidos a verdadeira fortalezas. Eu fui pego a cento e vinte e dois anos e aprisionado aqui, em Hogwarts. Eu ainda tive trinta anos de vida até falecer, a vida era boa por aqui, eu tinha meu espaço, alimento mortal, mas eu nunca deveria  oferecer aos alunos meus serviços. Quando eu morri, não tive duvidas, resolvi ficar na terra e dessa forma me tornar uma outra criatura, me tornei Bogus. Sempre me arrastando pelas sombras e me alimentando em intervalos regulares, eu nunca tive problema, até esses pombinhos resolverem parar a minha rotina.”

- Isso é ridículo – Murmurou Hermione, tinha descido Luna e a segurava em seus braços – Não pode ter decidido ficar para recuperar o tempo perdido, você deve ter uma razão para ter ficado mal...

- Razão? Ter sido caçado e culpado de erros imbecis de terceiros não é razão suficiente?!

Bogus virou-se para Hermione, as sombras esticavam-se ameaçadoramente conforme sua voz se elevava, Harry e Ronald dispararam em sincronia os feitiços, que foram todos engolidos pela sombra negra asquerosa de suas costas.

- Vocês serão minha ultima refeição desse ano, não ou devove-los vou sugar... SUAS... ALMAS!

Hermione de soltar Luna rolou por trás das macas para se proteger, estava ficando frio, lembrava a ela os dementadores e como ela nunca conseguira lidar direito com eles. O único feitiço que tinha dificuldades, Bogus desapareceu por um instante de seu campo de visão, ela girou os olhos cuidadosamente da direita para a esquerda.

- MIONE! ATRÁS DE VOCÊ.

Já era tarde, o braço forte de Bogus desceu e acertou o rosto da garota, ela foi arremessada contra a parede, seus olhos gostariam muito de se fechar, eles agradeceriam, seu corpo exausto queria descansar, era estranho, geralmente em ocasiões criticas a adrenalina ainda correria por horas. Seria aquele o feitiço adormecedor de Bogus? Virou a cabeça para a direita, estava tudo tão gelado e escuro, sua respiração entre cortada fazia uma nuvem de fumaça a frente de seus olhos cerrados. Pode ver Rony e Harry de um lado, um lado ainda brilhante, cheio de luz e esperança, contra uma sombra gigante, que consumia inteiramente a parede oposta, ali estavam seus colegas, nada mais que um borrão pálido e desacordado frente aos olhos embaçados de Hermione. Um show de luzes parecia acerar a escuridão sem efeito, Hermione temeu e deixou seu corpo cair, era o fim todos ali iriam morrer e Bogus ficria livre

A cabeça da garota, ao invés de um chão duro e gelado, encontrou algo macio e familiar. Um batimento cardíaco fraco enchia seus ouvidos, suas mãos bêbadas se agarraram aquele tecido, Hermione escondeu seu rosto nas vestes, sentiu o cheiro dele, aquele cheiro familiar adocicado que desprendia de sua pele, reunindo forçar conseguiu erguer mais seu corpo e seu nariz encheu-se daquele hálito de menta, fresco, Draco estava gelado, lembrou por um breve segundo, a uma cobra de sangue frio. Hermione reuniu forças e abriu os olhos, viu o rosto de Draco, dormindo, sereno, os cabelos loiros em as testa, ele parecia feliz, talvez Bogus o colocara em um sonho bom. Hermione voltou a fechar os olhos as lagrimas rolaram em seu rosto.

- Desculpe... Draco... – Soluçou – Eu não pude te salvar...

- Hermione...

A garota sobressaltou-se e encarou muito desperta Draco, ele ainda dormia, mas estava com uma expressão triste e chorava, Draco Malfoy chorava por ela. O ódio e a coragem queimou em seu peito quebrando aquilo que Bogus jogara a ela, levantou-se, tirando a varinha das vestes. Não morreria ali, ninguém morreria ali, ela não iria deixar. Virou-se para a cena, Rony estava caído, sangrava na altura do ombro, Harry acuado a uma parede determinado, as sombras estavam por toda a parte agora, o fecho de luz restante era os feitiços saia da varinha de Potter. Crabbe, Goyle e Luna jaziam estirados ao chão, as macas viradas, um cenário cheio de caos que pela primeira vez não sobre julgou Hermione de medo.

- Hei, Bogus.

Ela gritou, sabia o que fazer, estava claro, talvez sempre soubesse o que fazer, desde que vira aquela cicatriz tão humana em seu peito. Fora Draco Malfoy que fizera aquilo, ela tinha certeza, não poderia ser qualquer outro feitiço, tinha de ser aquele.

- Expectro...

- Hermione, o que você esta fazendo? Ele não é um dementador!

Bogus se virou, os olhos amedrontados, se aquilo o pegasse, e aquilo o pegasse...

- PATRONO!

A lontra saiu da ponta da sua varinha, só que quinze vezes maior, o refugo foi forte ao ponto de levar a garota a segurar seu braço direito. As faíscas, ao invés de azuis, estavam douradas, e jorravam feito uma fonte de ouro liquido, Bogus gritou e avançou para a garota, se houvesse um único meio de se defender, ele poderia resistir aquele ataque, mas ela sabia o que queria, ergueu a mão da varinha e a lontra rodopiou no ar, Bogus ergueu a cabeça para avistá-la, mas nesse instante ela havia decido e enterrado o feitiço em cima de sua cicatriz.

O gênio gritou, suas mãos enroscam em seu longo cabelo, mas ele se desfez, o próprio Bogus era consumido, devorado pela luz, sua pele, toda sua existência começava a despencar como areia. Ele estava queimando por dentro, ele estava morrendo. Uma grande fonte de luz quase cegou Harry, Rony e Hermione, eles se esquivaram. Um grito assustador, como um mau agouro, encheu a sala e quando o trio abriu os olhos, a sala não passava de um calabouço normal de Hogwarts e um monte de areia jazia no meio da sala.

- Rony! – Gritou Hermione, correndo ao seu amigo – Você está bem?

Rony sangrava, mas nada muito sério um corte em seu ombro parecia ser pouco fundo, ele sorriu para ela pálido, sempre fora fraco em perder sangue.

- Tudo bem, acho que não vou precisar ser carregado.

- Mione, olhe...

Harry chamava de um canto, Luna estava se mexendo, ergueu a cabeleira dourada, seus olhos brlhantes faiscaram para os amigos. Parecia satisfeita.

- Eu tinha certeza que vocês viriam.

Crabbe e Goyle também rolavam de um lado para o outro, pareciam despertos, com menos peso e pálidos, mas mesmo assim bem. Hermione levantou-se e olhou para a parede onde vira Draco, ele permanecia sentado, olhava Hermione com os olhos molhados, suas lagrimas pingavam indiscretas em suas vestes. Lembrou-se do sonho, fora lindo, perfeito, questionou se era realmente aquilo que seu coração mais desejava. Mas não importava, secou as lagrimas e sorriu, viu Hermione engasgar-se e correr, seus longos cabelos volumosos em poucos segundos encheram sua visão, o calor da pele dela, seu corpo gentilmente apertado ao dele, seu cheiro de morango, tudo aquilo era cem vezes melhor que o sonho, por ser realidade. As mãos grandes e frias do garoto seguraram seu rosto e limparam suas lagrimas.

- Sentiu falta de mim? – Ele murmurou.

- Cada segundo parecia uma eternidade –Ela respondeu corada.

Draco puxou o rosto da garota Granger e uniu seus lábios aos dela de forma apaixonada, cheia de saudade e desejo e mais um significado que Hermione descobriria dali a poucas horas.

Atrás deles, os espectadores, Harry olhava do casal para Ronald inteiramente boquiaberto, os sonserinos tinham repulsa no modo como franziam os lábios, Luna sorria, ela entendia o sentimento daqueles dois. Ronald deu um passo a frente, Harry fez menção de segurar seu braço, mas Rony esquivou dando de ombros.

- Bem – começou, o casal se separou e olhou para o Weasley, ele tinha um sorriso triste e conformado no rosto – Isso explica muita coisa.

- Vamos – Propôs Luna – Preciso comer alguma coisa.

Os sonserinos se colocaram em pé, Hermione ajudou Draco a se levantar, juntos saíram daquela sala, deixando resto do Gênio, de Bogus, do Monstro de Hogwarts, do Fantasma e da Própria Escuridão para trás. Tudo isso para mergulhar em um conflito ainda mais assustador.