Depois de horas trabalhando, Hera finalmente parou para descansar, deixando os olhos fechados por alguns instantes. Nunca lera tanta coisa em tão pouco tempo e com tão pouca luz, já que não queria incomodar Zeus, que ressoava ao seu lado, num sono profundo.

Depois de cochilar por alguns minutos, levantou e foi pegar uma barra de cereal para comer de almoço. Há dias que não comia direito, uma refeição de verdade. Estava só a base das barras que Deméter a dera para lanchar. A irmã entendera que ela não sairia do quarto de modo algum, ainda mais depois de uma "visitinha agradável" de uma ninfa sem-vergonha.

Estava terminando sua segunda barra de cereais quando ouviu uma leve batida na porta. Virou-se murmurando um suave "quem?". Estava cansada demais para discutir com alguém.

– Hum, sou eu, mãe... - Hera sorriu. Ártemis era uma das poucas que algum dia chamou Hera de mãe. Mesmo depois de tudo que ela fizera para Leto, a deusa da lua a respeitava e a amava como se nada tivesse acontecido.

Não que Hera não gostasse disso. Não, pelo contrario, ela amava ser chamada de mãe, e, por ironia das Parcas, nem Ares nem Hefesto a chamava de mãe, sendo que o ultimo nunca havia dito tal palavra na frente dela, e Ares a chamava mais quando era menor e precisava assumir os problemas sozinho.

–Ártemis, querida, entre - A deusa da caça entrou, tímida, e fechou a porta suavemente atrás de si. - Achei que voltaria apenas mês que vem...

–Semana que vem, na verdade, mas Apolo me disse sobre o.. incidente, e eu resolvi voltar mais cedo. Trouxe Thalia comigo, se você não se importar. Pelo jeito que Apolo falou, ele... - Os olhos de Ártemis pousaram em Zeus, e ela cobriu sua boca com a mão. Ele parecia tão mal. Um nó se formou em sua garganta, e ela sentiu uma vontade imensa de chorar como um bebê. Seu pai daquele jeito... qualquer um se sentiria desse jeito, até o filho mais odiado.

Hera, ao perceber a reação de Ártemis, se levantou e caminhou até ela, com um sorriso solidário nos lábios e tristeza nos olhos. Ártemis a olhou, suplicante, e as duas se abraçaram. Ártemis enterrou seu rosto nos cabelos da madrasta, deixando lágrimas silenciosas deixarem seus olhos.

–Shh, vai ficar tudo bem, você sabe como seu pai é forte, foi só um susto... - Hera sussurrava em seu ouvido, acariciando os cabelos de Ártemis. - E seu irmão, mesmo sendo irritante, é bem responsável quando quer, e eficiente...

E assim ficaram por um tempo, até Ártemis se acalmar e sair do quarto. Ela acenou para alguém entrar. Hera caminhou e pegou um copo d'água.

–O-oi - A voz da menina soou insegura. Estranho, para a sua personalidade, mas Hera entendia, não é como se ela fosse uma madrasta muito amorosa com os semideuses.

–Thalia - Hera acenou a cabeça, tomando um gole de sua água. Ela estava cansada demais para se irritar com o fato da menina estar ali, em seu quarto, praticamente sozinha com ela. Ela odiava ficar sozinha com a Grace, sempre dava algo errado, era sempre melhor ter alguém para controlar as duas.

–Lady Ártemis me disse que meu pai estava mal e me convidou para vir junto - Ela disse, olhando para Hera fixamente, nos olhos. Hera, por sua vez, não respondeu. A deusa apenas direcionou seu olhar a Zeus, fazendo com que a menina fizesse o mesmo.

Ela se espantara assim como Ártemis, mas Hera não a abraçou, apenas caminhou até ela, murmurou algumas palavras de consolo e colocou a mão em seu ombro. Teria ainda de fazer isso com muitos dos filhos de Zeus. O que parecia era que o "horário de visitação" havia iniciado.