Cap. 17: Um passo mais perto
Legal que quando você acha tudo vai finalmente ficar bem, vem algo novamente que faz tudo desmoronar. Continuei imóvel com Summer ainda agarrada a mim. Seus braços finos me apertavam, e seus soluços ainda era audíveis. Eu podia sentir suas lágrimas molhando minha blusa. Eu iria matar Joshua. Ou talvez pudesse pagar alguém da cadeia para isso. Lá eles gostam de caras como ele: alto, tipo troglodita e que gosta de fazer mal aos outros. Passaram-se segundos até eu sair do meu transe. Estava incrivelmente calmo... ou não. Meu corpo inteiro tremia, e eu estava nervoso. Apertei Summer mais forte, acariciando levemente seus cabelos. Devem ter se passado horas ou minutos, até que a senti mais calma. Sua respiração desacelerou e seu aperto em minhas costas estava mais frouxo. Ela apenas me abraçava agora. Continuamos na mesma posição, o que era estranhamente... confortável. Eu nunca ficara assim tão próximo à Summer, tão perto, tão... de certa forma, íntimo. E não era ruim. Pelo contrário. Continuei acariciando seus cabelos e a abraçando, até que alguém bateu na porta do quarto de repente. Nos separamos rapidamente, devido ao susto. Summer virou-se de costas para mim, indo para o outro lado enquanto se ajeitava. Ainda trêmulo devido ao susto, ou à notícia (ou à tudo) eu fui até a porta e a abri. Era tio Rick. Ele sorriu sem graça para mim, coçando a nuca em sinal de vergonha. Continuei parado e quieto, esperando ele falar.- Desculpe ter interrompido, er...- ele disse, rindo. Ele achava o que? Que eu e Summer...?- É que sua mãe pediu para eu vir avisar que o jantar já está pronto, e que se Summer quiser ficar aqui, é para ela ficar a vontade.- tio Rick falou. Assenti, envergonhado. Tio Rick riu e deu um soquinho em meu ombro. Discretamente deu um olhar sobre meu ombro, para dentro do quarto, e sorriu levemente sussurrando:- Garoto de sorte, ela é muito bonita. Vai fundo!- e saiu. Garoto de sorte? Vai fundo? Vai fundo aonde, meu deus? E Summer não... ah, esquece. Encostei a porta do quarto e me virei para Summer, que estava sentada ao pé da minha cama amarrando seu cabelos, que pareciam ainda maiores, em um coque frouxo. Quando terminou, olhou para mim com aquelas olhinhos azuis. Ela já havia parado de chorar, mas eles ainda estavam levemente avermelhados. Ela sorriu levemente para mim e engoli em seco. "Garoto de sorte, ela é muito bonita."- tio Rick disse em minha mente. Suspirei.- Minha mãe fez o jantar, quer comer?- perguntei. Summer apenas assentiu e ficou de pé. Saímos do quarto e quando estávamos descendo as escadas, ouvimos os grito seguidos por risadas da minha mãe e das minhas primas. Assim que chegamos ao último degrau, todas as cabeças da sala se viraram para a nossa direção ao mesmo tempo. Isso sim era filme de terror.- Summer, querida, está melhor?- minha mãe perguntou, levantando-se do emaranhado de cobertas. Veio até nós e segurou as mãos de Summer, olhando-a preocupada. Summer sorriu levemente.- Estou sim, Elena. Obrigada.- ela disse com a voz baixinha. Minha mãe sorriu e a abraçou, dando um beijinho em sua testa.- Fique a vontade, ok? Summer assentiu e minha mãe voltou a se sentar no sofá com as meninas. Emma estava entretida no filme, e Nina nos observava. Quando iamos sair da sala, a olhei. Nina sorriu e fez um sinal de "positivo" com os dedos. Revirei os olhos e ri, levando Summer para a cozinha. Quando chegamos lá, não vi nada sobre a bancada nem sobre a mesa.- Mãe, onde está o jantar?!- gritei.- No forno!- ela respondeu. Fui em direção ao forno e, quando abri e vi o que tinha dentro dele, bufei. Peguei a bandeja com bolo e chocolate e mostrei para Summer, que riu.- ESSE é o jantar.- murmurei, animado com a ideia de comer alguma comida normal.- Eu não ligo!- Summer falou, parecendo animada. Sorri levemente enquanto me virava de costas para ela. Fazia um tempo que eu não a via sorrir assim. Peguei pratos e colheres e voltei a sentar à bancada ao lado de Summer. Pegamos um pedaço do bolo cada um e começamos a comer.- Foi Emma quem fez isso.- murmurei, reconhecendo o sabor do bolo.- Como sabe?- Summer perguntou. Sorri.- Ela era estranha e parecia me odiar, mas o bolo dela sempre foi inconfundível. Eu sempre pegava pedaços escondidos quando estava na casa dela.- falei baixinho, como se fosse segredo. Summer riu mais, tapando a boca cheia de bolo.- Não me faz rir, Mark!- ela disse, ainda tapando a boca com bolo. Comecei a rir da cara dela, que estava começando a ficar vermelha.- Ah, por quê? Você fica tão bem assim!- falei, rindo. Passei o dedo sobre a cobertura do bolo e rapidamente passei o dedo no rosto dela. Summer arregalou os olhos, engolindo o bolo que havia em sua boca rapidamente e quase se engasgando. Riu mais, com a bochecha cheia de chocolate. Prendi o riso rapidamente quando ela me olhou com aquela carinha de brava.- Ah, é assim?- ela perguntou. Não aguentei segurar o riso e voltei a rir, assim como ela. Summer passou o dedo na cobertura do bolo e passou no meu rosto também. Revidei assim como ela, e no fim, tinha mais bolo em nossas roupas e rosto do que no prato. Summer estava com as bochechas cheias de chocolate, assim sua blusa listrada. Tentava inutilmente se limpar com alguns guardanapos, mas sem sucesso.- Você me deixou imunda!- ela disse, sorrindo. Apontei para minha blusa branca agora inutilizável e meu rosto.- Você destruiu a minha blusa e meu rosto perfeito. Estamos quites. Summer revirou os olhos e negou algo com a cabeça. Botei a louça na pia e me virei para ela.- Acho que tem alguma blusa que dê em você. Vá ao banheiro tentar se limpar enquanto eu procuro.- falei. Summer semicerrou os olhos para mim, fingindo estar brava e foi para o banheiro. Subi rapidamente e fui até meu quarto procurar alguma blusa que entrasse nela naquele buraco-negro que era o meu guarda-roupa. Revirei todas as roupas e baguncei tudo ainda mais. Enfim achei uma blusa antiga e que eu havia usado umas duas vezes. Estava um pouco apertada em mim, então talvez não ficasse igual um vestido nela. Deixei a blusa sobre a cama e fui até o banheiro do meu quarto para tentar limpar meu rosto e arrancar aquela blusa manchada de mim. A joguei no cesto de roupa suja e lavei meu rosto e meus braços, onde também tinha chocolate. Assim que terminei saí do banheiro e encontrei Summer sentada em minha cama olhando a blusa que eu havia separado para ela. Quando me viu, corou e desviou o olhar. Ri da vergonha dela por eu estar sem blusa e fui até o guarda-roupa pegar uma blusa limpa. Me vesti rapidamente.- Pode se trocar no banheiro daqui.- falei. Mesmo sem me virar, pude ouvir Summer se levantar da cama e caminhar até o banheiro. Estava cansado, então continuei descabelado mesmo e me joguei em minha cama. Summer já havia me visto de tudo quanto era jeito, até de bigodinho falso, então eu nem tinha vergonha de parecer um mendigo na frente dela. Aliás, falando em bigodinho falso, eu não sabia sobre a peça. Summer saiu do banheiro com sua calça jeans e minha blusa, que batia nas coxas dela. Ela parecia ainda mais vulnerável daquele jeito. Ainda estava com o cabelo preso em um coque, de onde saíam vários cachos que se estendiam sobre suas costas. Ela foi até sua bolsa e guardou a blusa suja lá. Logo em seguida me olhou, parecia sem saber o que fazer. Ri.- Minha mãe mandou você ficar a vontade, então se joga onde quiser.- falei, passando as mãos no rosto para espentar o cansaço. Ainda estava de olhos fechados quando senti alguém pular na cama e se jogar sobre mim, rindo. Abri os olhos rapidamente e vi Summe rindo e olhando para o teto, com a cabeça deitada sobre minha barriga. Sorri e deitei a cabeça no travesseiro.- E a peça? Faltei todos esses dias, a professora deve estar querendo me matar.- falei depois de alguns segundos em silêncio.- Eu também faltei, o médico mandou eu ficar em casa depois... daquilo.- ela disse, suspirando ao final. Mas logo abriu um sorrisinho novamente, levantando a cabeça um pouco para me olhar.- E pelo o que eu soube, fomos substituídos. Julieta será Keith, aquela ruivinha com sotaque escocês. E Sr. Capuleto sera Dylan! Ri quando ela disse que Dylan pegara meu papel. Do jeito que ele era idiota, iria fazer da vida da professora um inferno com aquele bigodinho.- Faz tempo que não falo com ele.- falei.- Ele está bem.- ela murmurou. Ficamos em silêncio por alguem tempo. Depois de alguns minutos, olhei para baixo pensando que Summer já tivesse dormido. Mas ela me observava atentamente.- O que foi?- perguntei, envergonhado. Meu deus, eu estou patético. Summer sorriu e voltou para olhar para o teto.- Como você consegue?- perguntei baixinho, olhando-a.- O que?- Continuar sorrindo apesar de tudo. O sorriso de Summer desmanchou, e seu olhar ficou sem brilho. Ela suspirou, fechando os olhos fortemente e abrindo-os novamente.- Eu não quero ficar doente. Não mais do que já estou.- ela respondeu.- Não quero ficar toda paranóica, me escondendo pelos cantos com medo das pessoas só porque uma pessoa fez mal à mim. Já tenho problemas demais. Se eu me trancar dentro do meu mundinho não vou conseguir viver.- sua voz ia abaixando a cada palavra. Suspirei.- Por isso que eu vim aqui.- ela disse de repente.- Lá em casa somos apenas eu e Christofer na maior parte do tempo. Meus pais são empresários, meu pai vive viajando a negócios assim como minha mãe com a grife dela. E Christofer... faz eu me sentir doente. A todo momento ele pergunta se estou bem, se preciso de ajuda com algo, fica ao meu redor, me sufoca.- Ele se preocupa com você, Summer.- falei.- Eu sei, eu entendo. Ele viu tudo o que eu passei até hoje. Mas eu sorrio justamente para mostrar que estou bem, que não vou me entregar tão facilmente aos problemas. Mas ele parece não entender.- ela disse, virando o corpo e ficando me bruços em meu peito. Olhava diretamente para a parede do outro lado do meu quarto, pensativa. Ela estava bem próxima à mim, de modo que eu pudesse ver claramente um pequeno corte arroxeado em sua bochecha. Passei o dedo pelo local e Summer contraiu o corpo.- O que foi isso?- perguntei.- Foi ele quem fez.- ela murmurou, passando sua mão pelo machucado e retirando a minha de lá. Minha vontade era de abraçar Summer. De cuidar dela. De passar a mão por aqueles cabelos longos e cacheados sempre que eu quisesse. Suspirei, me xingando mentalmente. O que eu tinha na cabeça? - Você avisou à Chris que viria aqui?- perguntei, alarmado. Do jeito que ela era louca, devia ter saído de casa sem avisar e a essa hora Christofer deveria estar louco atrás dela. Summer revirou os olhos.- Avisei. Ele ficou tentando me prender em casa dizendo que a rua é perigosa e esconde seres obscuros que sugam a vida e energia dos outros, e se aproveitam da fragilidade me meninas como eu.- ela disse, bufando ao final. Ri da paranóia de Christofer. Ele era capaz de inventar qualquer coisa para manter Summer com ele.- MARK!- Summer gritou de repente, me assustando.- Quer ver uma coisa muito legal?! Fiquei com medo. Summer estava exatamente como quando a conheci: os cachos emoldurando seu rosto, os olhos brilhando e aquele sorriso aberto em minha direção.- O que...?- Vai, levanta! É rápido, você vai gostar!- ela disse, levantando-se da cama e correndo para o banheiro enquanto soltava o cabelo. Continuei paradinho onde estava, com medo do que estava por vir. Logo Summer apareceu e me lançou um olhar congelante. Levantei-me rapidamente.- Vou pegar meu casaco.- falei.
Give me love - Ed Sheeran:(http://www.youtube.com/watch?v=XF2AlO8cKbE) Andamos por uns 20 minutos em direção ao final do condomínio onde morava. Summer não dizia para onde me levava, ou o que tinha lá. O tempo estava um pouco frio, mas confortável. Ao meu lado estava Summer igual a um daqueles bonecos de posto que ficam balançando para lá e para cá. Usava uma blusa minha e um casaco meu também, ambos um pouco maiores que ela. Seus cabelos soltos caindo pelas costas até chegar quase na cintura, balançando conforme ela andava. Em seu rosto tinha um sorrisinho e suas bochechas estavam coradas devido ao vento. Estávamos ainda mais próximos da praia, já que o condomínio era bem ao lado e algumas casas tinham como quintal a areia da praia mesmo. - É aqui.- Summer falou. Entramos na areia e andamos um pouco até chegar em uma parte em que tinha um monte. Haviam pedras lá em cima e algumas plantas. De um lado, o mar. Do outro, a cidade. Summer me puxou pela mão até um tronco que estava caído no chão. Me empurrou levemente para eu me sentar e foi até uma árvore que havia lá, atrás de mim. Ela parecia procurar algo, então desviei o olhar dela e olhei para o que havia à minha frente. Não era muito alto, mas como estava de noite, parecia ser bem mais alto do que realmente era. De onde estávamos era possível ver todo o condomínio em que eu morava, as casas formando um "caracol". As ruas eram mais escuras em certos pontos, e apenas algumas casas possuíam algumas luzes. Estava tudo silencioso, com exceção das ondas do mar, que batiam contra a areia da praia. Uma brisa passou, fria mas reconfortante. Sorri levemente.- Mark!- Summer chamou, quase sussurrando. Olhei para trás na mesma hora em que alguns vagalumes começaram a sair de trás de uma das moitas que rodeavam a árvore. Summer sorria abertamente. A luz branca da Lua batia contra seu rosto, fazendo-a parecer ainda mais branca e seus olhos ainda mais azuis. Ela estava paradinha enquanto os vagalumes saíam voando. Não eram muitos, mas também não eram poucos. Summer sorria enquanto os olhava ao seu redor e tentava pegar alguns. Sorri olhando seu rosto. Pouco a pouco ela estava mais perto de voltar ao que era antes... Summer McLean, a garota estranha que vivia sorrindo. A menina feliz até demais. E de certa forma ela não me dava mais medo por ser assim. Minha Julieta Capuleto. A que me acolheu quando eu mesmo me abandonei. Mesmo que seu sorriso, às vezes, fossem para esconder a dor... ele era, de certa forma, o meu preferido.- É tão fooooofo!- ela disse, rindo consigo mesma. Dava pequenos pulinhos enquanto tentava capturar os vagalumes, fazendo seus cachos pularem ao seu redor. Summer parecia um criança. - Me ajuda, seu imprestável!- ela disse, colocando as mãos na cintura e sem desmanchar o sorriso. Ri e me levantei num pulo, correndo até ela. Ela riu, mas gritou quando eu a peguei no colo e a rodei. Agarrou meu pescoço fortemente, dando gritinhos. Eu ria quando a coloquei no chão. Seus braços ainda rodeando meu pescoço. Encostei meu queixo no topo de sua cabeça, tentando parar de rir, assim como ela. Passaram-se alguns segundos e a olhei. Summer levantou os olhos para mim, corando em seguida. Deu um pequeno sorriso para mim, me fazendo sorrir também. Pouco a pouco fui me aproximando de seu rosto. Summer não se separou de mim, não se afastou, não me empurrou me chamando de tarado. Isso era um bom sinal... certo? Faltava pouco. Estávamos ainda mais perto quando Summer olhou dentro dos meus olhos e, para minha surpresa, ficou na ponta dos pés rapidamente e me beijou. Pressionou seus lábios contra os meus enquanto eu, pateticamente surpreso, continuei parado. Summer logo se afastou e saiu dos meus braços. Me deu as costas e saiu andando. O que havia acontecido? Meu deus, ela nunca mais vai olhar na minha cara! Mas ela me beijou, ela que quis. Mas eu que saí agarrando a menina. Agora ela vai dizer para Christofer e eu vou ficar com a cara toda roxa e inchada e ninguém nunca mais vai me reconhecer porque vou ficar desfigurado e...- Mark, anda logo! Quero milk-shake!- Summer gritou. Olhei em sua direção e a vi. Estava parada na descida do monte, me olhando sorrindo. Suas mãos no bolso do casaco e o cabelo voando. Senti meu corpo inteiro se arrepiar com visão. O que tá acontecendo comigo? Engoli em seco e, quando ela riu da minha cara, sorri. Dei uma última olhada para o mar ao meu lado e andei rápido até ela. Eu estava a um passo mais perto de fazer as coisas direito. Não iria fracassar... não mais.