No capítulo anterior...

– Lily, sem querer se grosso, mas eu tenho horário, sabe? E daqui a pouco os outros alunos vão começar a descer para o café! – disse James um tanto incomodado com a enrolação da garota.

– Tá, desculpa, vou contar logo. – e então Lily contou tudo sobre o que desejara sem pensar, sobre Cook e seu desespero por reverter a bobagem que fizera. Explicou tudo sobre os Marauders, cada um dos quatro, como tinham se formado, os apelidos, personalidade. TUDO.

James apenas ouvia, sem questioná-la nenhuma vez, prestando atenção nos mínimos detalhes.

– E aí, vai me ajudar ou não? – perguntou a ruiva, ansiosa por um sim.

– Não. Desculpe Lily, mas não posso ajudar você. – respondeu James balançando a cabeça negativamente enquanto o chão da garota começava a desabar.

Aquela pontinha de esperança que abrigava o peito de Lily acabara de desaparecer. James era a única pessoa a quem a garota podia contar todo o ocorrido e pedir ajuda. Mas ele não ajudaria. A ruiva, não se dando por vencida, tentou mais uma vez:

– Por que não?

James deu um longo suspiro, ajeitou os óculos e disse:

– Olha Lily, não é que eu não queira ajudar você. O problema é que eu, simplesmente, não sei o que fazer! Eu nunca ouvi falar desse tipo de magia, principalmente vinda de elfos domésticos. Na verdade, já li algo parecido, mas no livro dizia que apenas os Cupidos teriam esse poder, usando essas mudanças forçadas no destino de certas pessoas para que elas pudessem enxergar como sentem falta de determinada pessoa.

Lily corou absurdamente, fazendo James rir, não entendendo a reação da garota.

– Mas pelo que sei, os cupidos são muito raros, então acho que essa possibilidade está fora de questão. – acrescentou o moreno, se levantando.

– Po... pois é. – disse a ruiva levantando-se também. – Mas de qualquer forma, obrigada por me ouvir, James. A... a gente se vê.

– A gente se vê.

Os dois se abraçaram brevemente e James seguiu seu caminho. A garota se jogou na poltrona mais próxima, pensativa. "...já li algo parecido, mas no livro dizia que apenas os Cupidos teriam esse poder, usando essas mudanças forçadas no destino de certas pessoas para que elas pudessem enxergar como sentem falta de determinada pessoa." Será que Cook era, na verdade, um cupido tentando fazer Lily perceber o quanto sentia falta do "arrogante Potter"? Se fosse, o "elfo" obtivera sucesso já que a ruiva estava totalmente arrependida e apaixonada por James. Mas, se fosse isso, por que o feitiço ainda não havia sido desfeito? Assim que percebeu que Remus estava descendo, a garoto logo saiu do Salão Comunal, não queria topar com o "namorado".

Era muita informação, a cabeça da garota estava um caos. Lily já chegara várias vezes a pensar em desistir, aceitar aquela nova realidade e viver daquela maneira daqui para frente. Tudo apontava para que essa fosse a decisão definitiva da ruiva. Mas havia um fato, um único fato que fazia todos os outros parecerem absolutamente insignificantes. Viver essa nova realidade significava viver sem o velho James. Sim, o arrogante, inconveniente e egocêntrico Potter fazia falta. Por mais educado, cavalheiro e quieto fosse o novo James, não fora por ele que Lily havia se apaixonado. Sim, ela havia admitido, não tinha mais motivos para ficar se enganando. Na verdade, sempre o amara. O problema é que Lily Evans odiava amar James Potter. Mas era por ele, apenas por ele, que a ruiva continuaria lutando para consertar as coisas.

Lily tomou café sozinha novamente, como todos os dias depois das mudanças. Assim que terminou suas torradas e deu uma olhada em seu relógio de pulso, a garota percebeu que ainda faltavam 20 minutos para o início das aulas do dia e então resolveu dar uma volta pelos corredores do castelo, com o intuito de esfriar um pouco a cabeça. Ao passar pelo corredor da bruxa de um olho só, Lily ouviu um barulho alto, de algo caindo vindo detrás de uma da colunas, seguido por resmungos baixos. A garota ficou estática. Seu lado racional mandou-lhe dar meia volta e seguir seu caminho mas sua curiosidade falou mais alto e a ruiva seguiu, pé ante pé, em direção ao lado que dera origem ao barulho.

Lily conseguiu se esconder atrás de um grande vaso, perto da coluna onde tinha ouvido o som, mas o ângulo era péssimo e a garota só conseguia enxergar as costas de um garoto agachado, recolhendo o que deixara cair no chão. Ao tentar inclinar-se um pouco mais para a frente, a garota perdeu o equilíbrio e caiu, estatelada, bem em frente a Remus Lupin. Tentando recompor-se o mais rápido possível, a ruiva logo se levantou, mas era quase impossível esconder o misto de raiva e vergonha que crescia dentro de seu peito. Com o intuito de amenizar um pouco sua situação "espiã", Lily se pôs a ajudar o loiro a recolher o resto de seus pertences. Afinal, pelo menos ficariam mais um pouco em silêncio, já que a garota não fazia ideia de que desculpa usar caso Remus lhe perguntasse (e com certeza perguntaria) o que estava fazendo atrás daquela coluna.

Assim que terminaram de recolher os pacotes que Lily reconhecera como "Baba de Dragão" (já vira o velho Potter usar contra Severo), veio a tal pergunta:

– Então Lírio, vai me explicar o que estava fazendo atrás daquela coluna ou vou ter que fazer uma consulta com a professora Trelawney.

– E-eu...eu? Quem disse que eu estava espionando? – a ruiva se arrependeu imediatamente de ter dito aquilo. Lupin não havia pronunciado em nenhum momento a palavra "espionando".

– E quem disse que você estava espionando? Por que eu que não fui. – disse Remus, venenoso.

Não havia mais motivos para negar. "Agora só me resta dizer a verdade, concertar a burrada não adianta." Pensou a garota. "Falo a verdade e aproveito pra dizer umas pouca e boas pra ele."

– É Remus, eu estava mesmo espiando o que você estava fazendo. Eu estava voltando do café quando ouvi o barulho de algo caído e fui ver o que era. Algum problema?

Remus a mirou, atônito.

– Não, nenhum problema. Quer dizer então que minha Lily voltou ao normal? – perguntou o garoto com um sorriso torto.

– O que quer dizer com isso? – questionou a ruiva um tanto confusa.

– Bom, quero saber se deixou de lado aquela ideia de ajudar o Potter e resolveu se juntar a mim novamente e participar da festa de hoje. E aí?

Lily não respondeu de imediato. Havia pensado bastante sobre o assunto e, no meio da noite, lembrara de um ditado trouxa antigo, que sua avó sempre dizia: "Se não pode com o inimigo, junte-se a ele.". Não que Remus fosse um inimigo, muito pelo contrario, ele era um grande amigo. Mas sua personalidade estava totalmente distorcida por causa do maldito desejo. Pensando bem, era muito mais fácil e viável proteger James estando envolvida com o plano do que fora dele.

– É eu... eu realmente mudei de ideia e vou ajudar você. Como antes. – disse, tentando parecer alegre.

– Que beleza! – exclamou Lupin, dando-lhe um abraço. – Bom, me encontre no Salão Comunal da Grifinória na hora do jantar. Enquanto todos comem, arrumamos tudo.

– Mas e nós? Não vamos jantar?

– A gente come na festa. Vamos pra aula.

Quanto mais Lily desejasse que dia passasse devagar, mais rápido o tempo corria. Já estavam na última aula e a garota não conseguira pensar em nada que lhe pudesse ser útil para uma possível defesa de James. Logo chegou a conclusão de que só poderia bolar alguma coisa quando soubesse, realmente, qual era o verdadeiro plano de Remus.

Finalmente chegou a hora. A garota saiu em disparada da aula de Herbologia direto para seu dormitório. Precisava trocar de roupa, afinal, seu uniforme estava imundo, cheio de terra. Lily tomou um banho e logo se vestiu. Fez uma linda trança com seus longos cabelos ruivo-flamejantes e desceu encontrando a Sala Comunal vazia. Sentou-se em uma das poltronas para esperar Remus e resolveu pegar o exemplar do Profeta Diário que estava em cima da mesa de centro para folheá-lo. Assim que mirou a capa, a foto principal da primeira página começou a perder o foco rapidamente e logo, a foto original do Ministro da Magia acenando foi substituída por um elfo gorducho extremamente familiar.

– Cook! – exclamou a ruiva, quase deixando o jornal cair de suas mãos trêmulas. – Achei que tivesse me abandonado, por que não tem aparecido mais?

– Acalme-se Srta. Evans, e fale baixo! Por Merlin, quer que o garoto Lupin nos ouça aqui?

– Tudo bem, tudo bem, desculpe. É que você me deixou sozinha e preocupada. – explicou a garota irritada, baixando o tom de voz. – Ah Cook, por favor, me diga o que fazer!

– Siga seus instintos. E principalmente, siga seu coração. – disse o elfo dando uma risadinha estridente.

– Cook, é sério, chega de indiretas. Fala de uma vez o que eu tenho que fazer, que eu faço e... EI, ESPERA! COOK, NÃO, NÃO VAI, EU AINDA NÃO ACABEI! – mas era tarde demais, o elfo já havia sumido. Como sempre. Lily ficou desesperada, como aquele elfo era irritante! Fez o desejo sem o consentimento dela própria e agora não queria ajudá-la a reverter a idiotice. Estava tão fora de si que nem ouviu os passos que faziam os degraus que levavam ao dormitório masculino rangerem levemente, um a um. Por isso se assustou ao ouvir uma voz vinda da escada, dirigindo-se a ela.

– Que gritaria é essa, Lily? – perguntou um Remus extremamente irritado aproximando-se do sofá onde a ruiva arfava.

– Remus! – Lily levantou-se rapidamente. – Não foi nada, eu só estava...

– Não importa, só não fique gritando. Não era para estarmos aqui. – murmurou Lupin, dando-lhe uma piscadela. – Vamos começar?

– Que tal você me contar o plano primeiro?

Remus suspirou.

– Tudo bem. Por mais que eu já tenha dito centenas de vezes que você que bolou esse plano e continuar insistindo na ideia de que você anda sofrendo de amnesia e não quer me contar, eu te explico o plano. – disse o garoto com uma voz cansada, praticamente se arrastando nas palavras.

– Ótimo!

– Tá Lily, presta atenção. Eu e você vamos supostamente apenas dar uma festa às escondidas aqui, na nossa Sala Comunal. Tudo vai rolar como de costume: comida, bebida, danças. Nós dois sabemos que o nerd do Potter estuda 2 horas por dia na biblioteca depois do jantar, então... ei, do que você tá rindo?

Lily não conseguira se controlar e agora estava rindo freneticamente na frente de um Lupin extremamente confuso. A verdade é que Remus falava das horas de estudo de James com um tom extremamente debochado, mas na vida real, ou melhor, na vida antes do desejo, era o próprio lobisomem que passava horas e horas estudando depois do jantar, garantindo piadinhas infames dos outros Marauders.

– Desculpa, Remus. – respondeu a ruiva tentando se controlar um pouco. Sério, não é nada, pode continuar.

– Bom, o Potter vai passar as 2 horinhas ridículas de estudos dele lá na biblioteca enquanto a gente curte a festa. Nós agora vamos preparar uma armadilha pra quando ele entrar. Eu comprei duas latas de Baba de Dragão que nós vamos enfeitiçar para deixá-las bem em cima da passagem da Mulher Gorda. Assim que ele entrar, eu usarei um contrafeitiço e todo o conteúdo despencará bem em cima da cabeça do Potter! Entendido?

Aquilo seria pegar pesado. Baba de Dragão era um produto proibido por causar danos corporais. Era a própria baba de um dragão encontrado no sul da Irlanda, espessa e esverdeada, um tanto ácida, a ponto de causar pequenas queimaduras na pele, deixando uma coceira inimaginável que só se extinguia após dois longos e torturantes dias. Lily sabia pois James já havia usado a baba uma vez contra Severus, o que quase lhe custara uma expulsão. A garota queria gritar e pedir que Remus não fizesse isso, que não era necessária tamanha maldade. Mas ele nunca mudaria de ideia e se ela quisesse mesmo salvar James, deveria manter a boca fechada e pensar por conta própria em um jeito de fazer aquele plano dar errado.

– Entendido. – disse Lily, tentado parecer entusiasmada.

A hora da festa finalmente chegou. Pessoas e mais pessoas entravam no Salão Comunal da Grifinória, dançando comendo e se divertindo. Ninguém havia ousado contar aos professores sobre a festa ilegal, mesmo os alunos mais certinhos, tamanho o medo do que Remus pudesse fazer com eles caso contassem.

Lily estava tensa, apreensiva. Não sabia se sua ideia teria sucesso e nem o que lhe aconteceria depois disso. Havia pensado em lançar um feitiço estuporante nas latas no momento que estivessem caindo, desviando-as da cabeça de James. Era um plano idiota, ela sabia. Mas não conseguira pensar em mais nenhum. E além disso, Lily era muito bom de mira e poderia acabar dando certo.

Faltavam 10 minutos para a hora em que James costumava chegar. Era visível que Lupin já havia parado de se divertir para prestar atenção na entrada do Salão Comunal, a varinha em punho. E então, a passagem se abriu. Lily nunca percebera o quanto essa ação era demorada, talvez só fosse agora, devido a sua ansiedade. James adentrou o salão lendo um livro, sem muito perceber para onde ia. Lily acabou lançando o feitiço ao mesmo tempo que Remus, não depois, como deveria, e este acabou passando um pouco antes das latas caírem, derramando todo o líquido esverdeado na cabeça de James. Tudo parou. As pessoas, as conversas, as danças, a música. Silêncio sepulcral.

James deixou seu livro cair no chão e imediatamente começou a se coçar, tentando limpar a gosma verde que encobria seu corpo da cabeça aos pés. Todos começaram a rir, principalmente Remus, que pedia aplausos e fazia reverências aos demais estudantes. Lily ficou estática por um momento, sem saber o que fazer. Falhara, em tudo. Na briga, no desejo, na tentativa de impedir aquela festa...Tudo. E quem mais pagara por isso? Ela? Também, mas não tanto quanto James, que caira de joelhos gritando e se coçando. A cena perfeita para despertar a ira da ruiva.

– Parem! – gritou Lily, mas suas palavras não fizeram efeito algum, talvez pelo barulho excessivo de risadas, talvez pelo descaso de seus colegas de casa. – CHEGA, PAREM DE RIR, CALEM A BOCA!

Desta vez o efeito foi instantâneo. Todos, inclusive Lupin se calaram e voltaram suas cabeças para a garota ruiva fora de controle. Alguns murmuravam baixinho, surpresos com a ação repentina da própria organizadora da festa.

– Por que estão rindo desse jeito, hein? Não percebem o que acabou de acontecer? – a sala agora estava em total silêncio. – Isso não tem graça. Com uma guerra pronta pra estourar lá fora, em vez de nos preocuparmos uns com os outros e garantirmos a segurança de cada um em nossa volta, estamos aqui machucando pessoas sem motivo algum que não seja para nossa própria diversão! E para quê? James nunca fez nada a vocês. E são atitudes como essa que desencadeiam fatos que nunca deveriam ter acontecido.

– Mas Lily, docinho, você concordou em me ajudar hoje cedo! – disse Remus perplexo com a atitude da garota.

– Para tentar te impedir! – exclamou Lily com voz de choro. Agora ninguém ousava nem piscar no Salão Comunal da Grifinória. – Apesar de nada disso ser sua culpa. A culpa é toda minha. Eu que fiz um desejo idiota que mudou toda a minha vida. Você não é assim Remus, eu te fiz assim. Eu fiz todos vocês mudarem e eu não tinha esse direito!

Lily estava em prantos, e os outros em silêncio absolutos. A ruiva correu direto para Lupin, segurou-lhe pelos braços e começou a falar abruptamente.

– Eu cansei! Eu quero o Lupin de antes, todo certinho e arrumadinho que não faz mal a uma mosca, fracote e desajeitado com as meninas, mas que mesmo assim eu amo! Quero meu amigo de volta, Remus...

Ao soltá-lo, disse em alto e bom som, para todos ouvirem, tudo o que estava preso em sua garganta à dias.

– Quero minhas amigas de volta. Marlene, Alice, Dorcas... TODAS! Não quero que me odeiem, quero rir a noite toda com elas sem se preocupar com as aulas do dia seguinte, quero passar tardes e tardes lendo com elas revistas de fofocas e passear por toda Hogsmead nos feriados! Quero o Pettigrew de volta, que mesmo nunca sabendo realmente como ele faz falta, tenho saudades! Quero o Sirius, o Black chato, bajulador e brincalhão que vive querendo me juntar com o Potter arrogante. E quero... – a garota suspirou e virou-se para James. – Quero o velho James, que por mais imbecil e conquistador barato que seja, é o garoto que eu amo.

O James cheio de gosma ainda se coçava, mas parecia entender tudo o que Lily dizia, toda sua dor. A garota não conseguiu mais presenciar a cena e subiu correndo para o dormitório feminino, sem olhar para trás.