A sala comunal nos domingos de manhã costumava ser um local bem agradável, mas naquele momento ser Lílian Potter não seria algo agradável em lugar nenhum. O café da manhã havia sido encerrado, e no momento em que as pessoas começaram a cochichar percebi que mesmo quando eu queria fugir dos holofotes não era fácil.

Ah, a adorável arte da fofoca. Alguns a fazem sem perceber, outros a fazem por prazer e alguns poucos o suficientemente sádicos gostam de executá-la de maneira a incomodar a paz alheia. Com certeza Hogwarts fornecia além de uma ótima educação bruxa uma vasta gama de assuntos que possibilitavam a elaboração e desenvolvimento desta arte de fuxicar desde a infância!

Nada como uma escola bem preparada.

Ou colegas insuportáveis.

Meu Merlin! Será que todos faltaram a aula de como " Discutir a vida alheia com elegância para manter a harmonia do ambiente"?!

Não, imagina. Seria demais esperar que alguns certos alunos fofocassem sobre a vida alheia de maneira menos escandalosa! Grrrr, alguém deveria falar para aquela terceiranista que não é educado apontar dedo para os outros! Hmph!

"Aposto como ele estava louco pra saber quem era Potter! Todos querem puxar o saco dela pra ficar de boa com o pai dela!"

"Claro que não! Parece que ele é um inventor de poções e quer testar uma poção pra revitalizar a saúde nela!"

"Não falem besteiras o cara é ex-namorado dela!"

"Na verdade ouvi dizer que ele é irmão dela, parece que o Sr. Potter salvador da pátria andou pulando cerca antes de se casar com a mãe dela!"

" Acho que ela e a Lana Prescott realmente gostam de uma sacanagem a três! Quer dizer, pelo que parece é de novo uma confusão por causa de um cara, fala sério!"

QUAL É O PROBLEMA DESSAS PESSOAS AFINAL?

Será que a vida deles anda meio chata e por isso eles resolveram cuidar da minha? Está certo que o David, digo, professor Lewis não foi nada discreto mas isso não dá o direito das pessoas inventarem coisas assim.

Meu irmão? Ex namorado? Fala sério.

Sara estava lendo, pra variar um pouco, porém vira e mexe ela levantava o olhar e me fitava como se quisesse perguntar algo, porém hesitava e por fim desistia. Era engraçado ver sua boca começar a abrir, ela estava morrendo de curiosidade, estava louca para me fazer uma enxurrada de perguntas. Mas acha que a castanha dava o braço a torcer? Claro que não, era a teimosa da Sara afinal, e eu que não iria começar uma confissão! Não que eu fosse teimosa.

Acho bom apenas começar a adquirir um senso de preservação pessoal mais aguçado. Ou você iria contar para a monitora chefe certinha, que por acaso também é sua cunhada (leia-se tem total acesso ao seu irão mais velho que vive num eterno "A minha irmãzinha, a minha Lilindinha, é muito nova para se envolver com rapazes!"), que você por acaso fugiu do castelo na noite anterior, foi numa festa restrita para maiores de 18, com uma sonserina que a pouco tempo era intitulada pela minha mesma pessoa de Lanapiranha, e que nesta mesma festa pegou um cara super gato... volta, um cara, que por acaso é o novo professor de poções? É, eu também não.

Lise tentava me ajudar ao seu modo fofo de sempre, me deu suas anotações de feitiços, me ofereceu balas e ficava provocando o Berlioz só pra me fazer rir. Só Merlin sabe o quanto ela podia me ajudar, era a parte menos séria do meu dia. E com certeza a parte mais estressante do dia do Lioz.

Hugo me encarava de longe, ele estava reunido com o time de quadribol e enquanto traçava suas estratégias para o último jogo da temporada me lançava olhadas nada discreta. Tentei ignorá-lo, até porque não estava a fim de me deprimir pensando que eu é quem devia estar traçando essas metas para o time.

Voltei minha atenção para o livro de Transfiguração, sim era minha matéria favorita mas com minha mente esgotada e cansada era tudo que eu conseguiria fazer naquela manhã. Droga, era só eu tentar estudar que aqueles olhos azuis voltavam, e então o olhar incisivo batia com força e uma culpa estratosférica me assolava, ainda que eu não soubesse o que aquele cara era pra Lana.

-Lílian? -Chamou Hugo, me assustei ao ver que ele estava parado em minha frente.

-Oi. -Respondi tentando não reparar que todo o salão comunal parecia prestar atenção naquela conversa. Com certeza, alunos dignos de PhD em fofoca. Bando de incheridos!

-Preciso da sua ajuda, não vou conseguir organizar o time sem você, ainda precisamos de um novo apanhador.- Falou ele tudo de uma única vez, como se o fato de falar rápido fosse amenizar o problema.

-COMO ASSIM VOCÊ AINDA NÃO TEM UM NOVO APANHADOR? - Perguntei totalmente chocada, quer dizer a temporada estava recomeçando, ele já devia ter um apanhador! Como as estratégias seriam traçadas sem um time completo? Hugo estava louco? Ele ia acabar com o time que eu me esforçara tanto para deixar pronto para ser campeão da taça das casas.

-Ninguém é tão bom como você Lílian. -Falou meu primo parecendo meio constrangido com meu surto, era como se ele fosse um menininho pego assaltando o pote de biscoitos, em seus olhos eu via a indecisão de sempre e por um momento tive vontade de tomar as rédeas da situação. Mesmo quando REALMENTE roubávamos os biscoitos antes do jantar ele já mantinha esse mesmo olhar. Dúvida. Não saber o que fazer. E o pior era quando éramos pegos. Ele sempre olhava para mim com aquela carinha de quem pede socorro e a boba aqui sempre lá para ajudar. Eu simplesmente não conseguia resistir a cara de coitado de Hugo. Inspirei profundamente buscando o que fazer.

Quero dizer, eu podia não estar jogando mas mesmo assim qual seria o problema em chefiar a equipe de fora? Como uma técnica? Porém uma pequena vozinha em minha consciência que costumava ter a voz da Sara falava "você não pode decidir as coisas por ele, assim Hugo nunca irá crescer, ficará pra sempre esperando que os outros tomem as decisões".

-Hugo sinto muito, mas eu não faço mais parte da equipe.-Respondi desviando o olhar dos meus antigos colegas de equipe que me olhavam parecendo magoados, principalmente minha pequena goleira Anne Wood. Não queria nem pensar o que passava pela cabeça deles agora. Eu que sempre os puxei para fazer o seu melhor estava agora simplesmente virando as costas. Mas eles tinham um novo capitão, e Hugo, querendo ou não, tinha que dar conta, ele TINHA QUE CRESCER!

-Mas Lílian você tem que ajudar. -Pediu ele novamente eu fiz toda a força do mundo para encarar seus lindos olhos que só agora eu percebia não era azuis de verdade. Não, perto dos olhos seguros e lindo de David, os olhos de Hugo eram apenas uma sombra. Oh Merlin, eu estava comparando os dois? Eu estava...

-E então? -Me perguntou ele novamente me trazendo novamente para a conversa.

-Sinto muito, mas já passou de você resolver as coisas por si mesmo Hugo. -Falei por fim e tentando evitar uma recaída peguei meus livros e subi para o dormitório feminino onde ele não poderia me alcançar. Onde nenhum deles e seus olharem acusadores pudessem me alcançar.

Subindo as escadas, degrau por degrau, apenas uma coisa passava pela minha cabeça "Mau dia, péssimo dia!".

Assim que me sentei em minha cama Heloíse Chase entrou carregando um furioso Berlioz no colo, assim que o gato me viu ele deu um jeito de escapar e vir pro meu lado. Eu suspirei pensando que realmente queria ficar sozinha naquele momento, mas sabendo que seria incapaz de falar isso para Lise apenas acariciei distraidamente o bichano.

-Sabe, eu entendo porque fez isso mas talvez você precise mostrar o caminho pra ele. -Me disse ela me encarando e dando um meio sorriso nada típico dela.

-Ele não precisa disso, Hugo precisa é parar de deixar que os outros vivam a vida dele por ele. -Falei soando mais dura do que gostaria. Minha amiga ficou me encarando parecendo triste com algo, eu realmente não entendia o que se passava com ela, porém a sensação de que ela iria defender Hugo me irritou profundamente.

Ela se sentou ao meu lado na cama, o que é claro fez o Lioz sair correndo do meu colo, Lise hoje estava vestida como uma bonequinha punk, como sempre exoticamente linda.

-Talvez ele precise de alguém que indique as opções, os caminhos, Lílian eu nunca tinha conhecido alguém tão inseguro como ele. -Falou ela devagar como se estivesse com medo que eu começasse a brigar com ela.

-Isso porque você o conhece há muito tempo... -Falei de modo irônico e logo levei as mãos a boca percebendo o quanto soei cruel. -Desculpa.

-Sabe eu não vou me quebrar se você quiser brigar comigo. -Comentou ela como se estivesse falando sobre o tempo. -Você continua me tratando como se eu fosse uma criança que não soubesse lidar com crises.- ela apertou os lábios de modo severo – Todos sempre fazem isso.

-Lise não é assim, só que eu não quero ouvir sermão sobre o modo como me relaciono com meu primo. Ninguém o conhece melhor que eu! Eu conheço desde que nasci, ele foi meu primeiro e melhor amigo, foi meu primeiro namorado meu primeiro amor. Não quero ouvir alguém me falando sobre como lidar com Hugo Weasley, além disso não faz nem um ano que você o conhece! -Despejei tudo de uma vez sentindo como se pelo menos uma parte do peso que sentia me fosse retirada.

Apesar de gostar dos dois eu simplesmente não consegui entendê-los. Como ela poderia julgar conhecê-lo bem em tão pouco tempo, como os dois ficaram tão próximos mesmo sem se dar conta de quem machucavam no caminho? Não era justo que agora ela viesse defendê-lo, ela não passou pelo que eu passei. Mesmo lutando contra a amargura ela acabou transparecendo em minha voz.

Eu sofri enquanto eles se aproximavam. Mas isso não impediu que os dois ficassem cada vez mais juntos, impediu? Até mesmo a Lana, a loira sonserina supostamente fria sofreu. Mas aparentemente nada disso importa já que agora, eu, a Lily, aquela mesma que sofreu, estou aparentemente sendo muito dura por cobrar de Hugo uma postura ondizente com a sua idade e o título de capitão.

-Eu sei que o conheço há pouco tempo, mas toda vez estou com ele Lílian, é como se o mundo ganhasse cores novamente. - Droga, eu não queria ouvir aquilo, não queria ouvir o quanto Hugo fazia bem pra ela e acima de tudo não queria ser a mocréia que ia começar alertá-la sobre como meu primo podia ser um galinha completo. Até porque não sei se ela acreditaria em mim. Eu bem sei o poder do sorriso de covinhas do meu primo. Eu sei realmente muito bem que ele também já fez o MEU mundo colorido.

-Lise, o Hugo não é esse príncipe que você está idealizando. -

-Quem falou em príncipe Lílian? Eu não quero um príncipe, não agora pelo menos, Hugo é apenas um garoto, ele assim como eu não sabe o quer da vida, mas assim como eu ele também está pronto pra descobrir. Não sou como você e Sara, ele também não é, Lílian que você saiba que Hugo sempre será seu melhor amigo e seu primeiro amor e não sou quem vai tirar ele de você. -Senti as lágrimas se formarem involuntariamente, quando eu iria esperar aquilo dela? Uma confissão tão sincera e de certo modo tão inesperada, porém aquela pulguinha continuava me perseguindo, eu não queria admitir que uma partezinha minha relutava em admitir que eles poderiam dar certo juntos. Engoli em seco tentando segurar o choro.

-Você não o conhece como eu. -Insisti infantilmente, ela não disse nada no momento apenas se levantou da cama e fitou a janela, parecendo mais velha do que nunca.

-Você se esqueceu do aniversário dele esse ano.

Mais forte do que nunca as lágrimas escorreram, sim eu tinha esquecido completamente disso, dia 2 março, uma semana atrás, eu nunca iria me perdoar por isso. MERLIN! Por mais que ele tivesse errado comigo eu não queria magoá-lo, não do modo que ele me magoou.

Eu tinha me esquecido do aniversário de Hugo Weasley, meu primo meu...

-O que foi que você fez Lise? -A voz brava de Sara ecoou pelo quarto e em poucos segundo senti os braços magros de Sara me envolvendo, o que era ao mesmo tempo ótimo e surpreendente.

Eu devia estar horrível, chorava sem parar e uma dor imensa me assolava, talvez o que acontecia não fosse nem o fato de eu ter esquecido o aniversário, porém aquilo havia sido a minha gota. A gota de água que faltava para fazer o copo Lílian Potter transbordar. Eu chorei por ser um péssimo dia, eu chorei por Hugo, por Lise, pela confusão de ontem, pela suposta nova confusão com a Lana, pela minha falta de sorte em ficar com um professor sem saber e acima de tudo, eu chorei por mim.

-Lily, o que foi? -Perguntou minha amiga numa voz calma que tentava me acalentar.

-Eu esqueci.. -Foi tudo que saiu entre as lágrimas e soluços.

-O que você esqueceu? Trabalho de astronomia? Tarefa de poções? Lição de transfiguração? Eu posso lhe ajudar e resolveremos isso tão rápido que você nem vai perceber.-A preocupação de minha amiga com os estudos me fez rir por entre as lágrimas. Eu ri e continuei chorando, afinal isso era algo que nem mesmo Sara Hale e todos os livros da biblioteca juntos poderiam consertar. Afinal, alguém poderia ME consertar algum dia?

-O aniversário do Hugo. -Respondeu por mim Lise me fazendo olhar pra ela de modo bravo, quer dizer ela estava me fazendo chorar será que não se tocava de nada nunca? Mas ao olhar pra ela percebi que ela também chorava.

-Oh Lílian, sinto muito sei o quanto se importa com seu primo. -Disse Sara me dando tapinhas estranhos em minhas costas. Inspirei profundamente tentando me acalmar. Era um milagre a Sara ainda não ter saído correndo.

-Eu tenho sido uma idiota ultimamente? -Perguntei encarando-a.

-Hum, eu não definiria como idiota, você só está diferente.

-Diferente? - Pedi não gostando do modo como a palavra soara na boca de Sara. Ela encarou o meu olhar e confirmou com a cabeça, mesmo notando que eu não tinha gostado do que ela tinha dito.

-E ninguém culpa você por isso, você por algo marcante é claro que não seria a mesma coisa de antes do acidente. -Complementou Lise limpando o rosto.

-Você anda distante da gente, está estudando mais, deu de andar com a Lana Prescott e agora recusou quadribol. Isso não é você. Ou pelo menos isso não e o que você costumava ser. -Explicou Sara me deixando um pouco brava.

-Primeiro, eu não ando distante de vocês, é você quem tem me evitado, segundo não estou andando com Lana Prescott além do que ela não é tão ruim assim! Terceiro, não recusei quadribol apenas fiz o que acho certo, Hugo tem que tomar as próprias decisões! - Falei tentando fazer minha voz soar firme, mesmo que eu estivesse contendo as lágrimas minha antiga voz de capitã continuava lá.

-Olha Lílian, eu não quero mais discutir, você é minha melhor amiga e eu estou cansada. Mas acho que deve pensar melhor em tudo, assim como já disse a Lise nós entendemos que você esteja diferente. Só não se esqueça que somos suas amigas e você pode nos contar qualquer coisa. -Disse Sara ponderando cada palavra, incapaz de dizer qualquer coisa fiz que sim com a cabeça e me encolhi em minha cama, ainda não acreditava que aquilo estava mesmo acontecendo.

Sara apesar de tudo ainda me cobriu com cobertas e apertou suavemente meu ombro antes de olhar para a Lise e nada discretamente acenar para a porta do quarto numa ordem clara para que a outra também se retira-se do quarto. Quando a parta bateu atrás da monitora eu suspirei pesadamente.

Quer dizer eu estava bem há segundos, certo? Que tipo de pessoa bipolar eu era? Pensei em Lise tão chateada comigo, pensei em Sara se sentindo traída, pensei em Hugo que ficou esquecido e as lágrimas vieram com ainda mais força.

(...)

Quando acordei já passava das três horas da tarde, e eu estava morrendo de fome, agradeci mentalmente por ter seguido o conselho de Sara e ter tomado uma poção pra dormir sem sonhar. Me sentindo bem mais disposta e descansada resolvi que era hora de colocar os saltos e começar a resolver as questões pendentes.

A primeira coisa que eu precisava? Um banho.

Eu precisava me arrumar e sentir que pelo menos por fora eu estaria bem, me perguntei se minhas amigas tinham razão quanto ao perigo de ficar muito perto de Lana, eu estava até me tornando uma obcecada pela aparência.

Após me sentir satisfeita, o que foi um longo tempo após eu finalmente revirar todo meu malão, peguei o mapa do maroto enfiei no bolso e sai do dormitório decidida a ir até cozinha comer algo. Ao chegar no salão comunal me deparei com Hugo sentado em uma poltrona, era estranho que ele estivesse sozinho, sem me conter fui até ele.

-Oi. - Quis matá-lo pelo sorriso que deu ao me ver. Ele tinha que ser tão adorável?

-Está se sentindo melhor, Lise comentou que não estava bem...

É claro que LISE comentou. Como ela deixaria de comentar algo com Hugo. Respirei fundo e me ordenei mentalmente para parar imediatamente com isso.

-Sim, só estou com fome, será que você não quer ir lá na cozinha comigo? -Perguntei tentando parecer melhor do que realmente estava.

Caminhamos juntos até a cozinha, um estranho silêncio pairou entre nós e por mais que o silêncio fosse horrível não encontrei nada melhor pra falar pra ele.

-Lembra da primeira vez que me trouxe aqui? -Perguntei em um tom nostálgico enquanto comia um generoso pedaço de empadão já devidamente sentada na grande mesa da cozinha. - Primeira detenção? -Continue entre um sorriso, a lembrança o fez rir. -Você se apavorou! - Comentei já sorrindo de modo genuíno lembrando-me do garoto de 12 anos com medo de receber um berrador dos pais.

-Claro, nosso segundo ano. - Confirmou meu primo. Respirei profundamente antes de continuar.

-Sinto falta de falar com você Hugo. Éramos perfeitos como melhores amigos. O que aconteceu? -Lutei para não deixar a emoção tomar conta, eu já tinha chorado demais para um dia só.

-Nós crescemos Lílian, nos apaixonamos e então descobrimos que não estava dando mais certo. -Me respondeu ele parecendo tão triste quanto eu.

-Me desculpe por ter esquecido seu aniversário. -Falei olhando seriamente para seu rosto. -Me desculpe pelo modo como te tratei mais cedo, se você quiser eu posso te ajudar com o time.

Para minha surpresa e deleite ele caminhou até onde eu estava e me abraçou, não um abraço nojento do tipo; quero você gata. Pelo contrário, um abraço quase fraternal que me tranquilizou, e apesar dele não ter dito uma palavra soube que Hugo queria dizer que ele ainda estava ali para ser meu melhor amigo.

-Não se preocupe com meu aniversário Lily, quanto ao time vamos dar um jeito nele juntos, pode ser? -Perguntou o lindo garoto se afastando de mim apenas o suficiente para me encarar. Não confiando em minha própria voz apenas acenei com a cabeça Hugo beijou minha testa e voltou a me aconchegar em seus braços. Por algum tempo me senti segura novamente, estar ali envolvida por ele era como estar em casa, acolhida e protegida.

Mais cedo do que gostaria ele me soltou.

-Preciso ir Lily. Heloíse está me esperando. -Tentando não demonstrar o modo como aquele envolvimento de ambos me incomodava provoquei.

-Heloíse hein? -Hugo apenas sorriu e com os olhos brilhando saiu da cozinha.

Por algum motivo o empadão já não parecia mais tão maravilhoso e um lado da Lílian muito, muito egoísta queria correr atrás do garoto e prendê-lo pra sempre.

-Você os ama e quer ver ambos felizes! -Lembrei a mim mesma em voz alta e ignorando o resto da comida sai da cozinha disposta a encontrar qualquer outra coisa pra fazer, analisando o mapa do maroto um pontinho me chamou a atenção.

Por que diabos Lana Prescott estava entrando na sala do professor David Lewis?

Não que eu me importasse certo? Claro que era uma curiosidade mórbida totalmente inocente, não é como se eu quisesse ficar com ele de novo. Na verdade eu nem iria me importar se ele e Lana fossem tipo um casal, ou ex-casal! Não, eu não ficava enjoada só por considerar essa posibilidade, era uma reação psicológica totalmente infundada.

Curiosamente meus pés me guiaram pelos corredores de pedra até a nova sala de poções, é, tava na hora de eu admitir pelo menos pra mim mesma que eu era um caso perdido. Obvio que Lílian Potter não conseguiria um romance de uma noite, tudo em minha vida tinha que ser complicado.

Tetando não fazer barulho me aproximei cada vez mais da grande porta de madeira que estava entre-aberta, respira Lílian, finja que você estava simplesmente saltitando por aí, mesmo que você não saltite.

Droga, se meu coração acelerasse um pouco mais eles iriam conseguir me ouvir, eu definitivamente nunca poderia ser auror ou qualquer outra coisa que precise de espionagem.

-Não acredito que você voltou assim! -A voz de Lana ecoou, brava e insegura ao mesmo tempo.

-Lana você precisa entender o meu ponto de vista! - A voz grave e musical de David parecia implorar por algo, realmente o que ambos tinham um com o outro devia ser muito intesno.

-Seu ponto de vista? Você me deixou! Você se foi e não me deu explicação alguma! -Gritou a sonserina, e eu decidi que iria dar o fora dali, aquela conversa estava tomando um rumo nada interessante pra mim.

Parecia bem claro que ambos eram um casal e ele a deixou.

-Você tinha 13 anos! Como eu poderia te explicar algo? Além disso te mandei cartas! -Opa, 13 anos? Eles não poderiam ser namorados nessa época, podiam?

Minha curiosidade foi mais forte que o medo que eu sentia de ser pega naquela situação, Ah dane-se, eu precisava saber o que estava acontecendo.

-Claro que me mandou cartas! Uma por ano? Você foi um covarde e eu nunca vou perdoar você por isso! -Apontou Lana ainda parecendo furiosa de mais para o meu bem estar, ela ficava ainda mais assustadora quando raivosa.

-Você precisa me perdoar, eu posso te ajudar com eles, maninha eu posso te tirar de lá! -Uau, isso sim era uma bomba. MANINHA? Eu tinha beijado o irmão de Lana Prescott, mas o sobrenome dele não batia!

-Me tirar de lá? Não obrigada David eu ainda tenho um pingo de dignidade. Olhe só pra você se escondendo! Usando o nome de solteira da mamãe. -Bom isso sim explicava bastante coisa.

Meu coração batia ainda mais forte, quase não acreditava naquilo, David e Lana eram irmãos! Parecia estranho mas na verdade eu sempre soube que ela tinha um irmão sumido por aí, ele tinha abdicado da herança da família.

OS OLHOS!

Finalmente me lembrara de onde conhecia os belos olhos de David, era de Lana. A mesma tonalidade angelical e azul, o mesmo brilho...como eu não tinha percebido antes?

Está certo que eu nunca fiquei muito tempo pensando sobre os olhos da Prescott, sempre passei mais tempo focada nos olhos do ex-namorado dela.

-Foi necessário Lana, foi a forma como encontrei pra sobreviver! Eu não aguentava mais aquele inferno! -Continuou David tentando justificar algo que eu não entendia ainda, mas se dependesse da minha curiosidade eu logo seria PHD em família Prescott.

-O QUE VOCÊ CHAMA DE INFERNO, EU CHAMO DE FAMÍLIA! -Gritou a garota com toda a força e aposto como todo o castelo pode ouví-la, era incrível como a horda de abutres fofoqueiros ainda não estava ali tomando notas.

-Aquilo não é uma família Lana, nem nunca vai ser. -Respondeu o homem de modo calmo e maduro, claro que isso deixou a oxigenada furiosa e antes que eu pudesse me preparar ela saiu em disparada pela porta.

BOM, ADIVINHA QUEM ESTAVA NA PORTA LERDA DE MAIS PRA DAR NO PÉ?

Pois é, claro que os irmãos perceberam minha nada discreta presença.

-Potter? O que faz aqui? -Me perguntou Lana e eu quase comecei a implorar pra ela não descontar aquela raiva em cima de mim. Sério após algumas aulas de feitiços com ela, aposto que a sonserina seria capaz de conjurar um trasgo pra me surrar se ela realmente quisesse isso.

-Potter? -A voz de David se fez presente e senti seu olhar sobre mim. Ah cara eu estava ficando vermelha, muito vermelha na verdade. Eu não queria olhar pra ele de modo algum, não queria olhar seus lábios nem indagar se seu pescoço estava mesmo arranhado como eu supunha que estava.

-É, ela é a Potter, David! -Exclamou a cobra como se isso fosse óbvio. -É por isso que você estava olhando pra ela logo cedo, certo? Sabia que ela era a filha do todo poderoso e seu herói de infância Harry Potter?

Certo agora eu estava quase roxa, ela precisava mesmo fazer isso? E como assim meu pai era o herói de infância dele? Seria cômico se não fosse trágico.

Finalmente criei coragem para responder seu olhar, péssima ideia, pois apenas um depois segundo eu quase me afoguei naquela imensidão azul, percebi que ele também estava corado. Bom, pelo menos eu não era a única ali!

-Não, eu não fazia a menor ideia que ela fosse Lílian Luna Potter. -Respondeu ele por fim dando um sorriso maroto que juro, fez cada pedaço do meu corpo se arrepiar.

Oh Merlin, alguém por favor me dá um balde com água bem gelada, agora?