Ironias do Amor escrita por Tortuguita


Capítulo 1
Prólogo - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Olá querido leitor, essa fanfic não é assombrada por isso é totalmente proibido fantasmas por aqui, ouviu jovem? Dê sinal de vida, nem que seja para dizer um "gostei" ou "não gostei". Se você gostar da historia não se esqueça de marcar como favorito e quando tiver um tempinho deixar uma recomendação, vou ficar muito feliz.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/191475/chapter/1

Emily Sanders

Inicio de Abril; 2014

O Sol brilhava no alto do céu naquela sexta-feira.
A janela da Kombi estava aberta permitindo que o vento tocasse meus cabelos dourados. Meus dedos pressionavam o vidro, tamborilando em um ritmo frenético, e logo aquilo se tornou algo incansavelmente repetitivo conforme atravessamos toda a cidade de Lisboa.

Eu nunca gostei muito do barulho da cidade grande, talvez o cheiro de grama e terra molhada e o som dos passarinhos, fossem o que mais me chamaram atenção naquele lugar. Tudo era tão diferente do que eu estava acostumada, diferente a ponto de me dar certa curiosidade sobre como uma cidade daquelas foi parar em Portugal, cidades como aquela me lembravam lugares como a Holanda, ou até mesmo a região serrana do Rio de Janeiro.

Estava no país há cerca de dois anos e tenho que admitir, era tempo o suficiente para sentir falta da minha antiga vida no Brasil, mas eu não sentia.
Eu amo o Brasil, acredite, mas digamos que a minha árvore genealógica inteira morava nos arredores de casa e eles amavam se meter na minha vida. Sem contar que meu coração estava em cacos, então Portugal foi minha salvação.

Suspirei irritada mais uma vez, estava louca para sair daquele carro. Eu gostava de viajar, mas tantas mudanças já me deixavam cansada e, apesar disso, aqui estava eu novamente: trocando de cidade como se fosse algo natural.

Meus pais permaneciam em silêncio o tempo todo e só quando a Kombi engraçada do papai parou de andar que minha mãe se pronunciou visivelmente feliz.

— Chegamos. — Além de terem escolhido uma boa cidade naquela região, também optaram por uma ótima casa.

Meu pai levou para dentro algumas malas, que eram tudo o que faltava para trazer do meu “velho-doce-lar”, já que quase toda a mudança já tinha sido feita alguns dias antes por uma empresa cuidadosamente escolhida por minha mãe.

Passei o resto daquela tarde de sexta-feira lendo no jardim, o pedacinho da casa que me fez sentir o que era amor à primeira vista. Era todo coberto por grama de coloração verdinha, tão suave que eu cheguei a pensar na possibilidade de alguém tê-la pintado a mão. Existia apenas uma árvore ali, que proporcionava uma sombra perfeita, ela tinha galhos fortes o suficiente para sustentar o meu peso. Não, eu não estava pensado em me pendurar ali como eu fazia aos cinco anos, só para ouvir vovó gritar: “Desce! Se não eu vou contar para a sua mãe!” – Ela nunca contava.

Garotas de dezoito anos como eu não sobem mais em árvores, eu sei bem disso, mas o que queria era um simples balanço.

A sensação do vento acariciando o meu rosto me acalma, e segundo minhas expectativas, continuarei admirando aquele brinquedo até ser muito velhinha. Foi com esse argumento que convenci meu pai a construir um balanço, ali.

(…)

O fim de semana passou rápido, o que já era de se esperar, uma vez que eu não fiz muita coisa significativa nele. Na verdade, consigo até enumerar as poucas coisas que fiz: gravei com atenção o caminho percorrido pelo ônibus até minha nova escola, não era muito longe e o caminho era bastante singular, mas eu sempre tive graves problemas de localização, o que significa que existem 90% de chances de eu me perder.

Só em pensar que teria de fazer aquele percurso todos os dias, durante os próximos três meses até que eu vá para a faculdade, doía. Eu não gosto da sensação de ser enlatada que esse meio de transporte proporcionava.

Para compensar, eu morava muito perto da cidade universitária, na verdade fica a algumas quadras da minha casa, ou seja, eu poderei me despedir do ônibus em pouco tempo.

O fim do ensino médio também foi algo que me ocupou durante todo o fim de semana. Minha mente confusa e metamórfica ainda não conseguiu decidir o que quer cursar, o que é um absurdo e me deixa desesperada, considerando o pouco tempo que faltava para ter que tomar essa decisão. Eu gosto de muitas profissões e isso não é algo concreto. Meu espírito de peru me deixa inquieta, sim, eu tenho espírito de peru; assim como o peru morre na véspera do natal, eu morro na véspera de tudo de importante que tenho para fazer.

Já no domingo, passei alguns minutos assistindo meu pai construir meu glorioso balanço e, depois, apenas li até o anoitecer, devorando quase cinquenta páginas de The Scorpio Races, o novo livro que comprei na semana passada.

E foi assim que a noite chegou. Eu ainda estava encarando tudo aquilo como pequenas férias em um lugar calmo e acolhedor. Nem parecia que tudo tinha mudado. A ficha só caiu quando me vi arrumando as coisas da escola, eu iria dormir, acordaria cedo, entraria num lugar em que nunca estive, veria pessoas desconhecidas, me olhando com curiosidade. Teria meus minutos de “déjà vu”, uma das dádivas de ser imigrante.

Eu seria uma estrangeira, novata e desconhecida, exatamente como da primeira vez que entrei numa escola em Portugal. Acho que a única diferença é que agora eu consigo entender o que eles falam sem nenhuma complicação, assim como também sou capaz de imitar o sotaque engraçado, muito mal, mas consigo.

Eu sei que deveria estar ligeiramente acostumada com mudanças, mas compreenda, estávamos no fim do ano letivo, no ponto final antes da faculdade e eu estava sendo transferida, novamente.

(...)

Para a minha surpresa eu dormi bem naquela noite e quando acordei estava muito mais confiante. Quando dei por mim já estava na porta da escola.

Entrei, tentando esconder o meu nervosismo, e caminhei entre a multidão de alunos que falavam muito alto e riam sem parar, algo meio constrangedor para mim. Eu não levantava os olhos do papel que haviam me dado na inscrição da matrícula. Nele estavam os números das salas onde eu teria aula, as matérias e os nomes dos professores.

Por intuição segui os números sinalizados nas portas em ordem decrescente até chegar à sala, onde provavelmente eu teria que entrar.
Em frente à porta estava uma garota de cabelos amendoados e muito compridos, ela conversava animadamente com outra garota, também morena, mas em um tom mais escuro, quase preto.

No corredor havia mais alguns grupinhos de alunos que riam alheios a minha presença. Olhando assim nem pareciam ser tão assustadores – acho que vou sobreviver a isso. Aproximei-me timidamente da porta, encarando a placa que informava o número da sala.

— É, deve ser aqui. – Murmurei baixinho, mas isso fez as duas garotas pararem de conversar e me encararem.

— Perdida? – A de cabelos longos me perguntou sorrindo. Ela tinha, além de um sorriso bonito, um par de olhos castanhos intensos.

— Acho que acabei de me encontrar – Sorri de volta, inclinando o papel para que elas pudessem ver.

— Ah, legal! Você é da nossa turma. – A outra morena se pronunciou com um sorriso sincero brincando em seu rosto, seus olhos eram azuis e brilhavam como uma pedra preciosa. – Eu sou Julia, e essa é Melanie. – Ela apontou para a garota ao seu lado, que sorriu novamente.

Acho que minha falta de sorte foi viajar por uns tempos, elas pareciam ser legais e os resquícios no sotaque mostravam que também eram brasileiras.

— Meu nome é Emily. – Respondi.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!