Londres, 1909

Neste exato momento o relógio marca as duas da madrugada, o vento varre as folhas secas lá fora nessa noite fria de outono enquanto uiva pelas ruas desertas. O céu está com poucos pontos brilhantes, apenas uma infinita zona escurecida, silenciosa e solitária.

Essa noite trás recordações.

Foi em uma noite assim que aconteceu e em uma noite assim que tudo acabou.

Mas foi há muito tempo... Em um passado distante que me acompanha até hoje, como um fantasma arrastando junto com suas correntes as lembranças muitas vezes tristes e muitas vezes felizes. O silêncio é minha testemunha. Ele sempre esteve aqui, presenciou tudo e poderia lhes relatar cada detalhe, porém nada diz. Como era de se esperar.

As paredes, por trás das pinturas, também guardam o que sabem. Elas são as confidentes do tempo que deixou tudo o que aconteceu naqueles anos aqui dentro, lembranças que convivem comigo. Afinal, são a única convivência que eu tenho nesse final de vida. Todos os que eu conhecia e amava já se foram, os que ficaram, têm suas próprias vidas.

Para mim sobrou a solidão, o passado e o desejo de voltar para lá e ficar junto de todos os que amo.

Sim, há alguém em especial. É em torno dele que minhas recordações giram. Mas para entender tudo, preciso contar desde o inicio. Tudo começa com a morte de meus pais, se alonga por semanas de um começo de uma nova vida, então chegam a uma pessoa e nela permanece até o fim. Uma pessoa marcante que no inicio não passava de alguém, porém, com o tempo, proporcionou-me as lembranças que vivem comigo atualmente. Seu nome... Caspian.