Lembranças Sutis

Capítulo Único

Ao entardecer daquele quente e maravilhoso dia, quando o sol estava se pondo no horizonte, deixando o céu azul com repletos e vivos tons cor de laranja e de um amarelo-dourado, daquela alta e verde colina, Sakura observava aquele lindo fim de dia.

Pensava em como a natureza era bela e serena, e como ela era um bom refugio para se estar nos momentos difíceis da vida. Sim, como era bom ter alguma hora de seu tempo que fosse calmo e tranquilo, onde não precisava encher a sua cabeça de problemas e mais problemas.

Abriu os braços, como se estivesse dando um forte abraço em tudo o que admirava. Sorriu, sentindo uma leve brisa se enroscar em seu corpo, fazendo com que os seus pelinhos da nuca se arrepiassem. Riu baixinho do vento, que bagunçava levemente os seus cabelos, de um lado para o outro, lhe fazendo cocegas dos braços e pescoço. Aquilo tudo era tão bom, tão relaxante para a sua alma.

De súbito, sentiu vontade de chorar. E isto não era causado pelas suas magoas, mas sim por causa de sua alegria; por finalmente conseguir se sentir leve, feliz, livre, como antigamente fora.

Suspirou, e sentou-se sobre a macia e verde grama que havia no alto relevo onde jazia.

Observou o pé desta. Haviam repletas arvores robustas, e agora estavam difíceis de enxergar nestas o verde-limão que encobria suas folhas, e seus troncos ásperos marrons, que davam vida ao resto da arvore em si. Depois de algum tempo, notou as pequenas plantas que nasciam pelo meio destas. Algumas eram pequenas, outras grandes demais; Determinadas eram verdes e continham flores, outras eram amarronzadas e estranhas, e haviam espinhos em seus caules. Eram obviamente bem diferentes umas das outras.

Aquilo lhe fez lembrar de seu passado; sua infância. Dos alunos a caçoando por causa de sua testa, seu corpinho magro, de sua timidez, enfim, de como era ela por fora. E isto lhe incidia por ela ser diferente demais em relação aos outros. Inclinou sua cabeça, olhando para seus braços, que cruzava apertadamente em seu peito. Deus, e como aquilo lhe fazia mal. Sempre quando pensava naquilo, ate hoje, sua cabeça doía, seu estomago se revirava, deixando-a com uma pesada agonia tomando conta de si. Sentia repulsa, ódio, indignação de si mesma.

Porem, o tempo passou. Apos ela ter se tornado uma adulta completa, quando todo o seu corpo ja estava totalmente desenvolvido, foi ai que ela começou a ser respeitada pelas pessoas.

Fechou os olhos com desprezo. Era difícil de aceitar, contudo ninguém nota as plantas pequenas, feias e insignificantes. Apenas olhavam para as fortes, crescidas e bonitas, que claramente, se destacavam em meio as outras. Todavia, se estas esperassem pelo menos as excluídas crescerem, desabrocharem, com forca o suficiente para exibir a sua beleza, apostava que iriam se surpreender com o que viriam.

Sim, Sakura estava tão magoada com tudo o que ela escondia anteriormente dos outros, de todos os seus segredos, amores, paixões por determinados indivíduos, que não prestavam atenção nem para a sua misera presença, e que agora, almejam tanto isto.

“Que vontade a minha de ser estranha como antes. Assim, eu poderia manter longe falsas amizades” – pensou a mulher, abraçando suas pernas com os braços, e apoiando o queixo sobre os seus joelhos. Droga, descansar aqui não esta funcionando...

_ Sakura? – alguém a chamou. Levantou-se rapidamente e virou-se para trás, surpreendida por não ter notado aquela presença. Viu que o seu antigo professor, Hatake Kakashi, a fitava seriamente.

_ O que você faz aqui? – suas palavras eram cortantes como o gelo.

_ O que você faz aqui? – ele repetiu sua pergunta, deixando-a irritada.

_ Por que você não vai magoar outra pessoa e me deixa em paz?

_ Vim aqui para ver se estava bem – ele contornou de volta pelo caminho de onde tinha vindo _ Bom, estou vendo que está melhor do que nunca – ele foi se afastando da mulher.

_ Por que você se importa?! – ela gritou com ele, fazendo-o parar de caminhar.

_ Você ainda não percebeu? – Retornou novamente a ela. Sua voz era triste.

_ Perceber o que? Já sei o que você quer, e não vou aceitar isso! – ela se afastou dele, porém, ele a segurou pelo braço, e a aproximou para mais perto de seu corpo. Isso a fez corar ligeiramente.

_ Sakura, por que não acredita em meus sentmentos? – ele perguntou baixinho – Eu a amo, e sei perfeitamente que você sente o mesmo, então, porque não aceita? – ele percebeu que ela não iria responder, e então perguntou _ O que aconteceu com aquela garotinha feliz, esperta e brincalhona de antigamente?

_ Quer saber? Ela cresceu!! E tomou consciência de que isto é ruim para ela! – ela explodiu, tentando se soltar dele _ Agora me diga: Por que você só gosta de mim agora?! Por que meu horrível rosto de antigamente está melhor? Ou será o meu ”corpinho” magro, que agora amadureceu?! Ah, por favor! Eu não nasci ontem! Sei que você não me ama de verdade!! – ela se debatia sobre ele, aflita, raivosa, com medo.

Não aguentando mais suas palavras cruéis e gélidas, ele colou o seu corpo junto ao dela, segurou a cabeça da mulher com as mãos, e puxou esta para junto de seus lábios, e sem tirar sua mascara, selou-os suavemente. Aquele beijo foi ardente, aflito, desesperado, porem doce, tenro, carinhoso. No começo, ela tentou se soltar, não correspondendo a ele, mas não resistiu, e deixou-se levar pelo anseio. A garota pousou as mãos nos ombros do homem. A seguir, ele segurou-a pela cintura, deixando-a mais unida a ele, aprofundando o beijo. Sakura sentiu uma pontada de prazer atingindo o seu corpo apos Kakashi ter feito aquilo. A colina, que antes se mostrava fresca e arejada, agora estava quente e abafada.

Quando Sakura esperava para ele prosseguir com os carinhos que fazia pelo seu corpo, soltou-se dela abruptamente. Ela fitou os olhos daquele homem , que cintilavam de desejo. A mulher arfava e tremia.

_ Eu sempre te amei, Sakura – ele rocou os seus lábios com os dela _ Desde quando era o seu professor, sempre tive um certo carisma para com você.

_ Então por que não me mostrou isto? – ela sussurrou, com os olhos molhados de lágrimas.

_ Porque eu sabia que era errado fazer isto com você – quando ele tocou o rosto da garota com a mão, ela se afastou dele inesperadamente _ Sabia que iria colocar o sua vida em risco. Afinal, você era muito pequena para podermos ficar juntos.

_ O “Senhor Correto” que você tentou bancar apenas me fez sofrer mais! – ela soltou algumas lágrimas de seus olhos. Ele se surpreendeu ao ouvir as palavras de sua antiga aluna.

_ O que? Como assim?

Ela suspirou profundamente.

_ Eu também sempre amei você, Kakashi – sua voz continha um som rouco, porém sincero. Eles se olharam por um bom tempo, até o professor dizer, confuso:

_ Sakura, eu... Não sabia disto. Achava que você gostasse do Sasuke.

O semblante da garota se pôs com ódio, tristeza e agressividade.

_ Se tivesse prestado mais atenção, tenho certeza de que esta ceninha ridícula não estaria acontecendo agora! E, sim, eu gostava do Sasuke. Mas percebi o quão idiota eu estava sendo em fazer isto se ele não retribuía os meu sentimentos. E isto aconteceu do mesmo modo com você! De qualquer jeito, poderíamos ter ficado juntos naquela época. Não seria certo para nós dois escondermos isto!

_ Se eu soubesse que você me amava desde que era pequena... Como eu adoraria ter você ao meu lado – ele começou a se aproximar.

_ Não se aproxime.

Ele segurou-lhe a mão.

_ Perdoe-me – a mulher rotou a sua face para o lado, desviando o seu olhar do dele – Entenda: fiz aquilo pelo seu próprio bem.

_ Vá embora...

_ Sakura, olhe para mim. Olhe para mim – ela o olhou, o rosto vermelho e molhado de lágrimas. Como doía vê-la chorar por sua causa _ Aceite o que está sentindo agora por mim. Não deixe o passado lhe atrapalhar agora. Pense mais claramente. Agora podemos viver juntos, felizes, sem ninguém nos incomodar.

Ele a abraçou forte, sentindo o calor de sua pele.

_ Isto nunca vai dar certo... – ela sussurrou em seu ouvido. Subitamente ele se soltou do abraço.

_ Estou vendo que eu não posso mudar o seu pensamento – ele fitou friamente Sakura _ Achava que conseguiria, mas percebo que você mesma não quer ser feliz comigo – ele andou pelo caminho que tinha vindo, abandonando-a sozinha ali.

Sentindo um puro ódio de si mesma, ela desabou sobre a grama, chorando. Queria tanto que não tivesse dito aquilo a ele. Odiava a si mesma por ter feito uma besteira dessas. Kami-Sama, o que ela estava fazendo? Por que não ficou com Kakashi, o seu mais puro amor que guardava em seu coração desde quando era uma garotinha? Não sabia dizer.

E, apenas pensando que ela estava perdendo o amor de sua vida, por causa de sua estupidez e ignorância, deixava-a com a bílis subindo a garganta. Ela não podia, não deveria deixá-lo partir.

Sem conseguir pensar em mais nada, se levantou e correu. Correu para os seus braços.

||:Lembranças Sutis:||

Kakashi descia pela colina, com os passos lentos, calmo. Mesmo forcando as suas pernas a andarem mais rápido, elas não o obedeciam.

Talvez... Porque ele ainda tinha esperança de que ela voltasse para ele.

Sacudiu a cabeça, tentando tirar estes pensamentos de sua mente, não conseguindo, infelizmente. Droga, ainda gostava demais daquela mulher. E almejava este sentimento dela para com ele. Sabia que Sakura nunca mais amaria ele, contudo alguma parte de si insistia para que ela ficasse com ele. Mesmo tentando parar com isto, sempre se pegava tentando convencer a garota, ansiando pela sua atenção. Parou.

Maldição... Temia não conseguir chegar ao fim da colina antes de desmoronar e chorar como um bebê. Olhou para o céu. Diante dele, a lua se elevava por cima das silhuetas das arvores e era cheia: um disco brilhante e gordo na noite fria, sem nuvens. Ficou admirando aquela linda paisagem, ate escutar um ruído insistente que vinha detrás dele. Uma espécie de batida rítmica.

Como aquilo aumentava a intensidade, Kakashi olhou para trás.

Viu Sakura descendo a colina, não se importando por onde pisava. Ela corria ofegante de encontro a ele, e quando finalmente o alcançou, lançou-se sobre os braços dele. Ela o abraçou tão forte que o deixou sem ar.

Soluçava. Gritava. Chorava tanto que seu corpo tremia.

Ele não se atreveu a perguntar, retribuiu o abraço apenas.

_ Eu sou muito ignorante – disse ela com voz rouca e respiração entrecortada _ Kakashi, por favor... Me perdoe.

Ele fechou os olhos e a abraçou forte.

_ Não precisa se desculpar, minha linda – “Que praga... Acho que vou chorar agora mesmo...”

_ Eu... Amo você. Sempre te amei – em seu colo, ela aproximou sua face da dele.

_ Também amo você – disse o homem de cabelos grisalhos. Lentamente, ela retirou sua máscara. Como ele era lindo.

Beijaram-se fortemente, com os seus sentimentos a flor da pele. Ambos os dois exalavam paixão e amor naquele ato. Quando terminaram, ele a colocou no chão, e, com o seu tom claramente abalado, perguntou com clareza:

_ Casa-te comigo?

Sakura pensou que iria explodir.

_ Sim, sim! – ela voltou a abraçá-lo, ambos com os olhos cheios de lagrimas. Quando se soltaram, ela viu os olhos de seu antigo sensei vermelhos.

_ Kakashi-Sempai, está chorando? – ela brincou, com um sorriso divertido impregnado em seus lábios. Rapidamente, ele enxugou seu rosto com o braço, constrangido. Quando ela iniciou a rir, ele a fitou com sarcasmo.

_ Tenho a total razão de confirmar que você nunca vai mudar – ele sorriu, voltando a beija-la novamente, ao brilho da lua.

Desejavam às estrelas que haviam ao céu, vorazmente, que aquele momento durasse para sempre...