Capítulo Quatro

Um barulhinho irritante tocava incansavelmente.

Tateei em minha cômoda a procura da fonte de tal barulho, motivada a desligá-lo e voltar a dormir até que a realidade se chocou violentamente contra mim.

O barulho irritante era meu despertador e eu teria aula em uma hora.

O primeiro dia de aula.

Oh, droga!

Levantei-me da cama em um pulo, pegando minha toalha pelo caminho, em seguida a roupa que usaria, enquanto me dirigia ao banheiro, que por uma intervenção divina estava vazio. Alias, acho que ninguém havia acordado ainda.

Depois de uns vinte deliciosos minutos de banho, vesti uma calça jeans azul escura com os bolsos rasgados e uma camiseta branca e preta da Crush & Burn por cima da lingerie branca, então saí do banheiro secando meu cabelo com a toalha.

Entrei no quarto e vi a garota que seria minha colega de quarto procurando alguma coisa em sua mala.

– Olá, sou Leana. E você deve ser a...

A garota se virou em minha direção, revelando a estatura mediana, o cabelo negro que batia na cintura e os olhos ambarinos. Um sorriso amável.

– Lucy. Meu nome é Lucy. – Sorriu.

– Bem Lucy, sinta-se em casa, pois isso será a sua casa pelos próximos anos – fiz um gesto com as mãos que incluía todo o quarto que iríamos dividir.

Ela riu.

– Obrigada.

Fui em direção à minha mesa de cabeceira, posicionando um pequeno espelho e passando o corretivo em volta das olheiras que contornavam meus olhos cinza, logo depois calçando meu All Star preto. Coloquei a minha bolsa no ombro e saí do quarto, passando pela cozinha apenas para tomar uma xícara de café antes de ir para aula.

Assim que abri a porta, alguém me parou.

– Leana, espera aí – falou Lucy descendo correndo as escadas. – Sabe-me dizer onde ficam as aulas de teatro? – Perguntou ofegante, parado bruscamente em minha frente.

Dei um sorriso de lado.

Definitivamente, simpatizei com a garota.

– Sei sim, é no meu caminho.

Começamos a caminhar.

– Então, você faz faculdade de quê?

– Artes plásticas...

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Ajeitei-me na cadeira, tentando prestar atenção no que o professor dizia quando notei meu telefone – que estava no silencioso – com a tela acesa. Havia acabado de receber uma mensagem texto.

Do Cameron.

“Como estão suas aulas? Conseguiu acordar no horário?!”

Ah, me esqueci de mencionar que “às vezes” me atraso.

É, ele estava tirando uma com a minha cara.

Revirei os olhos, digitando sorrateiramente uma mensagem pra ele.

“Há-há. Muito engraçado. As aulas estão legais até. E as suas? Ahhh, melhor, presta atenção nas suas aulas e para de mandar sms. Hahaha. Nos falamos no almoço.”

Guardei o telefone na bolsa, que não muito tempo depois mostrou que havia uma nova mensagem, mas não parei pra ver.

Prestei atenção nas aulas que de fato eram interessantes, da qual o professor que ensinava deveria ter no máximo vinte e oito anos e era uma coisa de tão gato.

O sinal soou e rapidamente guardei tudo dentro da bolsa, porém algumas páginas soltas se separaram e eu tive que arrumá-las, ou seja, só consegui sair da sala quando quase já não restavam alunos.

Assim que passei pelo professor, ele me chamou.

– Leana, né? – Indagou ele com a voz rouca e eu somente assenti. – Então, se eu fosse você prestaria mais atenção nas aulas e não ficaria mandando mensagens, pode ser? – Falou calmamente, com a expressão neutra.

Por um segundo vacilei.

– Tudo bem. Desculpa, foi um erro de conduta meu.

Ele deu um meio sorriso.

– Pode ir.

Assenti com a cabeça, apressando meus passos em direção à rua. Encontrei Lucy na metade do caminho em direção à Irmandade, andando de costas pra mim.

– Lucy! – Gritei, chamando sua atenção.

Ela rapidamente se virou de costas, esboçando um sorriso tímido ao me ver.

– Oi.

– Oi. Hey, quer vir comigo e meu namorado, e mais alguns amigos dele almoçar com a gente?

– Não sei... – Deu-me um olhar duvidoso.

– Amigos gatos. – Disse com um sorriso malicioso, cutucando-a levemente com o braço.

Ela riu.

– Okay, eu vou.

– Só não conta que eu te disse isso pro meu namorado, okay? – Falei rindo.

Voltamos para a Irmandade, onde só largamos as bolsas e pegamos as carteiras, em seguida caminhamos até uma lanchonete. Logo na entrada vimos à mesa em que eles estavam só pela bagunça que faziam.

Eles pareciam garotos do colegial, não da faculdade.

Ri sozinha, desviando das mesas e seguindo o meu caminho até a mesa que estava Cameron, de costas pra mim.

Cobri os olhos de Cameron com as mãos, impossibilitando que ele me visse enquanto olhava significativamente para Thomaz – um dos amigos de Cameron.

– Imagina quem é? – Disse ele afinando a voz para parecer uma garota.

Mordi os lábios para segurar a risada.

Senti os músculos do rosto de Cameron se contorcerem em um sorriso travesso.

– Leana. A voz é inconfundível – disse ele rindo.

Soltei-o indignada, colocando as mãos na cintura e dando a ele meu melhor olhar de descrença exagerada. Dei um tapa em seu braço.

– Doeu. Você bate forte – disse ele esfregando o braço.

Bati no outro.

– Ai – disse ele me olhando sem entender.

– Isso foi por ter sido pega por causa das tuas mensagens.

Os próximos quinze minutos foram quando todos os amigos de Cameron resolveram implicar com ele dizendo que entre ele e eu, eu mandava e ele obedecia.

Nem preciso mencionar o fato de ele ter ficado muito irritado enquanto eu ria horrores.

Rapidamente desviei meus olhos da carranca hilária de Cameron e procurei por Lucy, que estava a algumas mesas de distância conversando animadamente com Thomaz.

Até que eles formavam um belo casal.

Virei-me novamente para Cameron e sua carranca, rindo dele, mas parando no instante seguinte quando vi alguém se aproximar da nossa mesa, juntamente de duas garotas que pareciam duas cópias mal feitas.

– Olá – disse ela sorrindo falsamente para todos.

– Olá Meredith – respondi seca.

O clima pesou.