POV Annabeth

Sai da propriedade da escola apressada fugindo dos pingos de chuva gelados que começavam a despencar, corri até o taxi que já havia chamado previamente, e dando as coordenadas ao motorista fui logo me desfazendo da máscara e da peruca negra que me pinicava o couro cabeludo, troquei os saltos pelo meu surrado All-Star e pus um casaco comprido que cobria todo o vestido.

Não demoramos muito para chegar à mansão Chase e depois de pagar o taxista coloquei o casaco sobre a cabeça para que não me molha-se muito, andei pé por pé até a porta dos fundos abrindo-a com todo o cuidado para que não fosse vista, ao passar pela sala tive de conter o riso ao ver minha madrasta no sofá roncando cercada de baldes de frango frito.

–Até o próximo show! – resmungava babando.

Apenas desliguei a luz da sala subindo para o segundo andar silenciosamente. A grande porta branca com diversas placas de perigo e mantenha distancia já não me assustava tanto quanto antes, abri-a com cuidado encontrando Matt e Dylan aninhados na mesma cama, ambos idênticos com os olhinhos arregalados, aquela visão fez meu coração apertar no peito.

–Annabeth?- chamou Dylan baixinho, liguei o abajur mais próximo para que pudessem me ver e depois de me desfazer do casaco molhado pela chuva caminhei até a cama.

–Hey – disse meio sem jeito, não sabia dizer se aquilo era mais uma das armadilhas dos meus irmãos ou se realmente estavam com medo.

–É bom ter você em casa – disse Matt tocando minha mão.

–É bom estar em casa - disse sorrindo. Eu não me sentia bem naquele lugar, aquela já não era mais a minha casa, mas eu sabia o quanto meus irmãos eram carentes de atenção, sabia o quanto eles sofriam tendo de estudar em um colégio interno onde só podiam vir para casa um ou dois finais de semana por bimestre e nas férias de verão. – Mas me digam o que aconteceu? – perguntei sentando entre os dois na cama.

–A chuva – disse Matt com os olhos marejados, é claro, pensei me batendo mentalmente, como pude esquecer que eles tinham medo de trovão.

–Ohhh – exclamei abraçando-os – não precisa ter medo ok? Eu estou aqui agora. – Eles nada disseram apenas se acomodaram nos meus braços e então comecei a cantar suavemente a música que por anos meu pai cantou para que eu dormisse. Aos poucos a respiração dos gêmeos foi se acalmando, sai da cama e sem fazer movimentos bruscos, para que não acordassem, tapei-os com os cobertores depositando um beijo na testa de cada um e então sussurrando um “Boa noite” deixei o quarto.

Já no meu quarto/sótão sentei-me na pequena penteadeira desfazendo o penteado e limpando a maquiagem do rosto, guardei os brincos no pequeno porta-joias e qual não foi a minha surpresa ao não encontrar minha pulseira.

–Merda – exclamei começando a revirar tudo em busca de uma das únicas lembranças de minha mãe que ainda existia, revirei o quarto todo, desci as escadas, olhei até mesmo no quarto dos gêmeos, mas de nada adiantou procurar, agora pensando bem percebo que sequer havia entrado na casa com ela, sabe-se lá onde poderia ter perdido, naquele momento poderia estar dentro de um taxi em algum lugar da cidade, ou numa sarjeta qualquer na saída da escola ou até mesmo lá dentro do prédio. Completamente acabada e triste deitei-me na cama fazendo um apanhado de tudo o que havia acontecido.

1. Havia feito um grande show na festa;

2. Rachel estava usando a fantasia que deveria ser minha e isso não me passou despercebido;

3. Percy... uau Percy estava tão lindo

4. Tango! Quem diria que Percy também tomou aulas com Afrodite? Foi incrível, na verdade incrível é pouco para descrever o que aconteceu naquele momento.

5. Apesar de tudo, não tinha certeza se Percy realmente havia me reconhecido, e se ele não percebeu? Ele seria capaz de dançar, olhar e até mesmo flertar, daquele modo com outra?

6. Meus irmãos. Sentia-me mal por vê-los assim, abandonados por uma mãe desleixada que não se importava com seus filhos.

E por fim:

7. Minha pulseira. Aquele acessório na verdade não tinha muito valor monetário, mas era uma das poucas lembranças de minha mãe que podia carregar comigo e perde-la fazia com que sua imagem se parece ainda mais distante.

E foi entre esses pensamentos que acabei finalmente adormecendo.

~~x~~

O novo dia amanheceu como há algum tempo não acontecia, a lagartixa caminhava calmamente no meu braço, rindo levei-a até o quarto dos gêmeos que ainda dormiam. Depois de ir ao banheiro e vestir-me devidamente fui até a padaria mais próxima e comprei o café da manhã. Ao retornar encontrei uma vivam zumbi andando pela casa enquanto resmungava de dor nas costas, ela definitivamente estava ficando velha, ri sozinha enquanto arrumava a mesa para o café.

–Annabeth foi você quem achou a Lyla? – perguntou Matt aparecendo de repente com o irmão ao seu encalço.

–Foi sim, ela tinha desaparecido?

–Uhum - respondeu sentando-se a mesa- acho que vou levar ela comigo, não confio muito na mamãe – terminou baixinho.

O café da manhã se passou amistosamente, por incrível que pareça Viviam não desceu e nem gritou pedindo pelo café, talvez tenha desmaiado lá em cima... Quem se importa? Pensei dando de ombros.

Depois de arrumar o andar superior da casa e preparar o almoço finalmente tive um momento de descanso e decidi mexer no baú onde guardava as coisas da mamãe, fazia anos desde a última vez que mexi ali, as lágrimas me tomaram ao olhar as fotos e objetos que pertenceram á minha mãe, a saudade era tanta que eu já cogitara coisas absurdas, mas a mensagem no meu celular veio como um lembrete de quais eram meus motivos para viver:

Princesa, como está? Sinto sua falta, sim nos vimos ontem, mas mesmo assim é muito tempo não acha? Escrevi uma música incrível espero que os meninos gostem, mas quero que seja a primeira a ouvir!

Te amo minha loira

P.J.

Com um suspiro digitou rapidamente a resposta:

Olá meu príncipe estou bem, e sim a saudade já é grande ·.

Estou ansiosa para ouvir sua música, segunda no terraço o que acha?

Te amo ainda mais

A.C.

Deixou o celular ao lado e seguiu revirando o baú até que algumas fitas lhe chamaram a atenção.

Amor leve seu notebook ok? Tenho algo para lhe mostrar!

A.C.