Querida Addie Bear, 

Já faz um tempo que não escrevo, mas sinto que isso precisa ser documentado. Tudo está tão bom em nossas vidas que é quase difícil de acreditar... nós ainda não estamos trabalhando, para passar o máximo de tempo com você, mas mamãe já começou a ir a algumas reuniões e... enfim, isso não importa e sim a cena que eu tenho a alegria de assistir quase todos os dias quando volto para casa.

Da primeira vez, assim que cheguei, pendurei meu casaco, tirei meus sapatos e coloquei minhas chaves em cima da mesa, gritei um “Estou em casa” e não obtive resposta... acho que fiquei esperando uma catástrofe na casa e fiquei com um bobo medo de avançar. Mesmo assim, segui em frente, olhei a cozinha, não havia ninguém, na sala de estar e na de jantar, a mesma coisa. Subi as escadas, olhei em seu quarto, no nosso e no seu cantinho... nada também. Mas aí, ouvi um som abafado vindo da sala de música improvisada, segui até lá e a porta estava encostada, abri uma pequena frestinha e espiei uma das coisas mais lindas da minha vida:

Você estava sentada em cima do piano, do lado direito, como você insistia sempre e dó de quem tentasse impedir, Rob estava tocando Ballad pour Adeline que reconheci das tantas vezes que ouvi durante a gravidez. E, é claro, Bear e Yoshi estavam aos pés dele, lutando pelo espaço mais aconchegante.

Olha, depois que seu pai me explicou eu entendi melhor a cena, então irei apenas descrever o que presenciei: a coisa é que como você insistia em sentar naquele determinado ponto, Rob teve que adaptar algumas partes da música pois suas pernas longas quase faziam as pontinhas dos dedinhos dos seus pés encostarem em algumas teclas do instrumento. E mesmo assim, havia duas partes exatamente que eram inevitáveis de não bater nas teclas barradas por seus dedos gordinhos. Era praticamente o ápice da música quando ele corria seus dedos por uma longa extensão do piano, tamborilando várias teclas rapidamente indo em direção a sua exata localização. Então vocês fizeram um combinado...Enquanto Rob começava a melodia o mais longe possível de você, tudo que eu via era suas perninhas balançando em excitação e quando você sabia que a hora ia se aproximando, os dedos de suas mãos se juntavam com suas pernas batucando levemente a madeira do piano e quando seu pai finalmente começava a tocar a parte mais importante da música, você quase não se agüentava criando um ritmo frenético com todos os seus membros, seja lá como isso for possível. E aí, finalmente, chegava a hora em que ele quase encostava em sua canela direita e você levantava as duas perninhas o mais alto que conseguia para seu pai passar suas mãos mágicas por debaixo delas. E nesse momento, você se dobrava de rir, jogando o pescoço para trás e gargalhando as alturas, o que eram, como sempre, acompanhadas pelas de seu pai, que mesmo rindo e olhando você se esbaldar, continuava a tocar com perfeição, voltando ao ritmo inicial. Já Bear e Yoshi que estavam quase caindo no sono, ficaram alertas de repente com a barulhada e eu me escondi mais ainda para nenhum deles perceberem minha presença.

Mas depois de um tempo, lá estava o ápice de novo que era exatamente igual ao primeiro e você estava tão ansiosa quanto. Porém, na hora em que as mãos dele foram de encontro a suas pernas agitadas, vocês acabaram trombando. Há! E aí que você fez a festa de vez! Riu até por a mão na barriga e como se não fosse o bastante, não conseguiu sustentar o peso do seu corpo com apenas uma mãozinha apoiada e caiu de costas sobre o piano ainda balançando as perninhas freneticamente agora no ar. Rob era outro que por pouco não conseguiu levantar-se para poder de ajudar devido às risadas. Bear e Yoshi estavam totalmente agitados também, correndo em círculos em volta do banco do piano, onde seu pai tinha te colocado, tentando pular em vocês, aproveitando a bagunça como ninguém.Eu fechei a porta devagar com um sorriso bobo nos lábios. E mesmo depois de passar o dia fora, longe dos meus amados, eles ainda conseguiam me deixar 100% satisfeita com apenas alguns minutos. 


Com amor, Mamãe