Nos grandes jardins da Mansão Swan, a manhã nascia banhando, com os raios de sol, a grama verde molhada. Seria um dos poucos dias em Londres que faria sol quente como forma de trégua para os dias de intensa chuva que se sucederam durante todo o mês de outubro. Já com o sol alpino no céu azul, a jovem senhorita Swan sai de dentro da casa correndo pelo chão ainda empapado de agua gelada, de modo que a lama sujasse todo seu vestido rendado branco. Tinha uma aparência bem madura para seus quatorze anos. Os cabelos eram castanhos claros e os olhos carregavam uma coloração rara de azul com a volta da pupila em amarela. A pele era branca leitosa e bem cuidada e as maçãs do rosto eram corados no tom ideal. Pela a idade jovial o corpo ainda não ganhara formas, mas sua cabeça era rodeada de pensamentos avançados e inadequados para uma jovem da alta sociedade inglesa. Seu modo de pensar e relacionar as coisas eram muito mais inteligentes de que de uma mulher adulta, o que assustava muitas de suas ultimas sete tutoras, que estivera recebendo classes de etiqueta.

Notando que a sujeira na barra do vestido não ia sair tão facilmente, a jovem sorriu triunfante. Já chegava agora muito perto dos portões da casa- um monumento gigante folhado a ouro esculturado com anjos e rosas (um artefato muito antigo dos Swan's). Assim que as delicadas mãos cobertas por luvas toca as grades do portão, uma senhora de aparência cansada, com alguns cabelos brancos saindo do coque bem feito, e de pelo menos quarenta e nove anos, sai andando em passos rápidos e curtos (por ser bem baixinha e rechonchuda) em direção a sua senhora. Ana era a governanta da casa dos Swans desde que a jovem nascera e era considerada da família. A cada pisada suas bochechas ficavam cada vez mais vermelhas.

–Senhorita Swan!- exclamou Ana, mas sua senhora não fazia caso, apenas continuava a olhar por trás das grades do portão- Ainda terei uma apoplexia* com a senhorita fazendo eu andar dessa maneira- diz com as mãos no peito farto- Não notou que ultimamente meus cabelos estão ficando brancos!?

–Não se preocupe com que não deva Ana- respondeu virando para ela e deixando o sorriso maroto brotar em sua linda face- Porque creem que aparecem tantos?!

–Culpa sua!- exclamou novamente- Depois dos seus onze anos, meus pobres cachos vem ganhando essa coloração.

–Não coloque a culpa em mim por sua velhice!- responde indiferente tirando uns fios de cabelo do rosto.

Ana gostaria de ter sorrido, mas não tinha que afrouxar a rédia com a jovem, mas ela admirava a maneira como sua senhora era tão livre, viva, e inteligente. Não era como as outras jovens da sociedade inglesa, não tinha tolices na cabeça, e Ana sabia que ela um dia seria uma mulher maravilhosa.

–Vamos criança, chega de falar da minha pobre velhice- a morena riu- temos pouco tempo de igual maneira e antes que chega a senhora Darcy temos que trocar essa roupa, e terá que comer algo. Escolheremos um vestido bem bonito para causar uma boa impressão, quem sabe essa fique?

Mesmo com a cara agora amarrada, a jovem aceitou o braço que Ana lhe oferecia.

–Porque tenho que ir a essas aulas estupidas?- perguntou emburrada- Mamãe diz que é para quando fazer dezesseis anos e ter esse baile bobo de se apresentar na sociedade... Mas, ainda tenho dois anos até que chegue essa coisa! Não preciso estudar!

–A senhorita verá como irá passar rápido esses dois anos, e logo o grande dia que se tornar uma mulher perante a sociedade chegará, e nesse dia conhecera muito jovens para se esposar.

–Mas e se eu não querer ser uma “mulher perante a sociedade”? E porque eu tenho que aprender comer com o garfo na mão direita e não na esquerda, se na esquerda é mais confortável? Só por esse mero detalhe não irei casar com um bom homem? A senhora come como quer não estou certa? E mesmo assim tem o senhor Stewart, e ele é um bom marido, não?

–Seu mundo minha criança- diz passando as mãos nos cabelos largos da jovem com um sorriso maternal no rosto- não é o mesmo que o meu. A senhorita tem um titulo de nobreza e um brasão que nos divide, e o mais perto do que cheguei em minha vida na nobreza possa ter sido uma bisavó bastarda que tive.

–Um titulo e um brasão não faz eu ser melhor que você Ana- responde- Só por isso sou obrigada a ter aulas de etiqueta? Não acho isso muito justo ou correto.

–A senhorita é uma boa jovem, e tem um precioso coração. Seu que um dia irá entender o que digo e o que a sociedade impõe, mas até lá vamos nos preocupar com seu café-da-manhã e o vestido que temos que trocar esta bem?

A jovem apenas acenou com a cabeça e continuaram a caminhar de volta a mansão. Era realmente incrível saber que uma mulher de quarenta e nove anos pudesse conversar com uma da quatorze tão sensatamente, era quase como falar com uma mulher, exceto por algumas vezes que a senhorita se comportava de maneira infantil e fazia birra, o que era compreensível para a idade que tinha. A senhorita enquanto caminhava admirou o céu e sonhou por apenas um segundo como seria voar pelo portão e ter grandes aventuras. O que a senhorita, Isabella Victória Mary Swan não sabia, era que sua aventura estava próxima de chegar.

*Ataque cardíaco