Ele se trocou com a porta aberta. E eu tive que controlar minha parte louca para não ir até a porta. Não sei. Essa não era eu.

Ele saiu do quarto com uma calça de moletom e uma camisa gola V. Os cabelos ainda estavam rebeldes e úmidos. Fingi que deixei meu sapato cair, e ele olhou para a minha direção.

-Hmm, acho que já posso começar meu turno permanente em observar a sua casa e sua Fúria de estimação.

-Não! – eu gemi – Não precisa ser permanente. O seu pode ser o primeiro, é claro, mas depois você me chama para trocarmos de turno.

Ele chegou mais perto e se sentou na cama. Eu fiz o mesmo, e sentei mais perto do que de costume, meio que sem querer. Ele arqueou uma sobrancelha e sorriu, mas eu fingi não ligar.

-Você me chama quando estiver com sono, eu vou estar aqui, ou dormindo ou assistindo TV, okay? – eu disse com um tom de voz que encerrava o assusto.

-Claro, madame. – ele parecia submisso.

Ele saiu e eu procurei o controle da TV. Liguei e já estava no Discovery Channel. O programa era: Oceano. Gargalhei mentalmente e torci para que Percy não fosse capaz de ouvir a narração do programa. Ele estava no começo, então contei o tempo através dele.

Acho que, uma meia hora depois, Percy me chamou.

Corri até a escada de incêndio, o melhor lugar de onde dava para ver minha casa. Cheguei perto dele e ele sussurrou:

- Ela recebeu uma mensagem de Íris, xingou alguém e saiu voando.

-Ótimo, tomara que o pai dela tenha tido um ataque cardíaco ou coisa parecida.

Ele me olhou, incrédulo.

-Calma.

-Sempre estou calma. – falei e sorri confiante.

-Bom agora eu vou lá assistir TV no quarto da minha mãe, se não se importa.

-Ah claro, agora vou dormir enquanto você assiste Disney Channel. – eu o fuzilei com os olhos.

-Não assisto Disney Channel, bem só quando passa Sunny entre Estrelas, porque, cara, como a Demi é gata!

Eu senti uma fisgada no estomago, e não sei dizer o que foi.

-Claro, pode assistir, mas bem baixinho.

-Pode deixar. – ele sorriu, radiante.

Fomos para o quarto e como eu entre primeiro, eu peguei o controle remoto sem ele perceber e o escondi debaixo de mim. Deitei e me virei para a parede. Senti que ele se sentou ao meu lado.

-Hmm, viu o controle? – ele me perguntou.

-Não... – menti.

-Ah. – ele começou a procurar nos lençóis – Que chato esse Discovery Channel, como consegue assistir?

-Ah não sei, eu só liguei a TV e já estava ai, e como eu não encontrei o controle, não pude mudar. – eu respondi com um pouco da verdade.

-Sei... – ele respondeu pensativo.

Eu ri baixinho e ele ouviu. De repente senti cócegas e comecei a rir descontroladamente e a me debater. Ele estava me fazendo cócegas só por causa de um controle remoto. Ele era forte, porque quando eu tentava me livrar de suas mãos ele me segurava e voltava a fazer cócegas. Eu desisti e me rendi, deixando que ele me virasse. Mas ele faz mais uma coisa que eu não esperava. Ele subiu em mim, se sentando em cima do meu umbigo. Ele segurava minhas mãos nos lados da minha cabeça e me olhava nos olhos, como se me fuzilasse. Eu respirei fundo e ele foi se abaixando. Quando o nariz dele estava quase roçando no meu, ele fez um movimento rápido e tirou o controle de baixo de mim. Eu afaguei e o olhei. Ele já havia se sentado como antes, mas ainda me olhava, como se tivesse perdido algo dele em mim. Eu juntei as sobrancelhas e me virei para a parede. Ele havia se superado nessa.

O ouvi colocando em um outro canal, um canal de música, porque passava White Sparrows do Billy Talent.

Pisquei algumas vezes e dormi.

Sonhei que estava em uma rua deserta. Quero dizer, era a minha rua. A rua em que eu morava estava deserta. Estranhei e comecei a andar em direção a minha casa. Quando estava quase subindo os degraus, o ar tremeluziu e uma Fúria apareceu. Eu pulei de susto e cai no chão.

-Garota, não se assuste. Eu só quero que me faça uma promessa e terá seu Luke de volta.

Arregalei os olhos quando ouvi o nome do meu antigo amor morto: Luke.

-Oi? – eu disse sem pensar para a Fúria.

-Você mata Perceu que de volta terá seu Luke. Sei que quer isso. Uma alma por uma alma.

ELA QUER QUE EU MATE PERCY PARA TER LUKE? Bem querer... Ai não sei, não, não, não posso matar Percy e ter Luke só como um fantasma. Eu teria que lidar com duas dores. 1º Percy morto. 2ª Luke só um fantasma. Não eu não poderia. Eu... Eu...

-Se você não fizer isso, eu mesma farei. E...

Acordei assustada e tremendo. O ronco de Percy tinha me acordado. Bom, o primeiro ronco. No segundo quem acordou foi ele. Eu, durante o sonho, tinha me virado e me aproximado de Percy, quase nariz com nariz.

-Desculpe – ele me disse.

Foi ai que eu percebi que nossas pernas estavam entrelaçadas e nossas mãos dadas. Arregalei os olhos.

-Hmm. – eu disse.

Ele percebeu e apertou ainda mais minha mão enquanto se livrava de minhas pernas. Depois me olhou nos olhos e eu reuni coragem:

-Desculpe.

E me virei de novo para a parede, Tinha muita coisa na minha cabeça. O sonho, que mais cedo ou mais tarde eu deveria contar a Percy, e o que estava acontecendo quando eu acordei.

Pensando nisso, eu dormi, mas foi um sono sem sonhos.