Boneca De Porcelana escrita por Milka


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Escrevi com o coração. Espero que gostem.



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Era um dia frio de inverno. Eu sabia disso, não porque estava com frio, mas sim por causa das árvores balançando e as pessoas agasalhadas que passavam lá fora. Eu não sentia frio. Nem calor, nem fome, nem sede. Nem felicidade, nem tristeza, nem saudades, nem ódio, nem raiva. Eu não sentia nada.

Eu estava sentada na minha prateleira, no quarto de minha mãe. Quer dizer, ela não é minha mãe. É minha dona. Mas eu gostava de chamá-la de mãe, pois eu não tinha uma.

Meu vestido florido estava um pouco empoeirado, assim como meu cabelo, que também estava meio embaraçado. Mas eu não fiquei chateada por causa disso, porque como eu já disse antes, eu não sinto nada. Havia uma pequena rachadura em meu rosto branco como a neve, causada por uma queda da prateleira.

Eu não sabia meu nome e nem minha idade. Não sabia nada sobre mim. A única coisa que sabia, era que não sentia nada, e nunca poderia sentir. O quarto estava calmo e sereno, como sempre. A enorme janela de vidro que iluminava o quarto estava um pouco aberta, fazendo as cortinas cor de rosa balançarem um pouco. A cama estava bem arrumada, com um belo cobertor florido por cima dela. A penteadeira de madeira escura estava como sempre, organizada e limpa, apenas com uma escova de cabelos descansando em sua mesa. O armário estava com uma porta aberta, deixando à mostra as simples roupas de minha mãe. Por fim, haviam as prateleiras, recheadas de livros sobre todos os assuntos. E, no meio deles, havia eu.

Sim, eu era uma boneca de porcelana. Apenas uma boneca. Que não sentia, não falava, não comia, não dormia... Só ficava lá, olhando para o quarto da dona. Todos os dias de minha existência (acho que não posso usar o termo vida.) eram iguais. Eu via minha mamãe chegar da escola e jogar sua bolsa em cima da cama. Depois do almoço, ela cochilava tranquilamente em sua cama. Quando acordava, fazia os deveres de casa e ficava no computador. Tudo igual, todos os dias.

Mas naquela tarde, tudo mudou. Eu observei minha mãe entrar em seu quarto e jogar sua bolsa na cama, como sempre, mas havia alguém junto com ela. Um garoto. Seria o papai? Ele era lindo. Sim, eu sabia disso. Eu observava aquele garoto que nunca havia visto antes. Meu suposto papai e minha mamãe se beijavam. Estavam apaixonados. Devia ser ótimo sentir aquilo

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Muitos anos se passaram. Eu continuo na minha prateleira, no quarto de minha mamãe. Mas agora, o quarto não é apenas de mamãe. É do papai também. Algo acontecera. Casamento, eu acho. Eles guardavam tudo em grandes malas. Eu os ouvia conversar sobre uma grande e nova casa. Nova casa. Era isso! Iríamos nos mudar.

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Alguns dias se passaram. Eu estou sozinha no antigo quarto de minha mamãe. Ainda não vieram me buscar. Continuo na minha prateleira, um pouco empoeirada, mas minha. Eu esperava ver o rosto de mamãe de novo. De repente, senti algo se quebrando dentro de mim. Doía muito. Eu senti a dor. Aquilo crescia, e a dor só aumentava. Então, com um estalo, algo se quebrara em meu peito. Parecia uma rocha que fora quebrada. Eu senti algo palpitando. Um coração? O que era aquilo? Sim. Um coração. Eu tinha um coração. E agora, eu sentia algo! Fiquei feliz por isso. Mas depois, esse sentimento começou a machucar. Então fiquei triste por isso.

Eu estava com saudades.


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