Lá fora o sol radiava contente, assim como a galera que aguardava ansiosa pela parada completa da van ao entrar no sítio. Puxa vida! Eu havia me esquecido de como aquele lugar era grande e maravilhoso. As árvores oscilaram quando uma brisa fresca bateu contra as mesmas. Apesar de o dia estar ensolarado, fazia frio e eu me aconcheguei dentro daquele fino casaco que me ajudava a esquentar. Estavam todos agitados a alegres com nosso passeio, que não paravam de gritar em nenhum momento - achei que ia ficar surda, não conseguia nem me concentrar em meus próprios pensamentos.

Quando ouvimos o aviso de que podíamos sair do veículo, parecíamos mais uma manada de elefantes - no bom sentido - correndo para fora daquele lugar que me causava claustrofobia. Desci, ainda de mão dadas com o Renato. Ele se quer as largou um minuto - eu já estava ficando nervosa com todo aquele carinho que ele tinha - bem que eu queria outra pessoa em seu lugar ali, de mãos dadas comigo. Acabei suspirando, fazendo o Renatinho notar e logo começar a falar comigo, novamente.

- Ta tudo bem, Mônica? - Ele franziu as sobrancelhas.

- Poderia estar melhor. - Fitei o chão, ao descer da van e pegar minhas malas.

- Ah qual é? - Ele levantou uma de suas sobrancelhas e depois riu - Se anima! Hoje vamos nos divertir muito! - Apertou nossas mãos e depois riu, agora maliciosamente.

Eu não entendi o tom da risada - bom, entendi sim, mas não queria entender. Aquele Renato estava com a bola toda e aquilo estava me deixando constrangida e nervosa, ao mesmo tempo. Sacudi a cabeça, tentando retirar todas aquelas frustrações de dentro da minha mente e ficar livre, leve e solta! Mas a galera não tava ajudando - principalmente o ex-troca-letras e a loira feia e oxigenada.

Os braços dele estavam ao redor da cintura da garota e ela apoiava uma de suas mãos no ombro largo dele. Aquilo não estava me fazendo bem, só estava me deixando com ânsia, não de vômito, mas sim de sair correndo dali e me esconder, para não ter que presenciar tais cenas.

- Dia Moçada! - Aquela voz... Eu sabia de quem era. Era dele, da pessoa que eu sentira tanta falta, com todos esses anos sem nos ver, sem nos falar.

- CHIIIIIIICO! - Soltei rapidamente as mãos de Renato e corri ao encontro do meu amigo - QUE SAUDADES!

Ah, ele estava tão bonito! Meu amigo agora estava grande e jovem, como eu e o resto da galera. Seus cabelos, de um tom negro, permaneciam no mesmo comprimento de sempre, e seus olhos pretos eram tão magníficos... Sua forma muscular não era nem gorda, nem magra - definida, seria a palavra perfeita - devia ser de tanto trabalhar na roça, ajudando seu pai com os trabalhos pesados. Ele já não usava mais aquela vestimenta rasgada, amarela e azul - suas roupas agora eram mais bonitas, adequadas para sua idade, mas ainda eram sujas de terra.

- Sardade memo sô! - Ele riu contente - Continua dentucinha né? - Disse ele enquanto ria e observava meus dentinhos.

- Poxa Chico, até você? - Devolvi com outra pergunta, fitando o chão com desânimo.

- To brincano sô! - Ele gargalhou - Num ta vendo meus dente aqui não é? Sô iguar ocê.

- É mesmo... - Observei - Vendo desse ângulo, dá pra perceber. - Rimos juntos.

Ele não tinha perdido seu bom humor, o mesmo de tantos anos atrás. Sua alegria me contagiava e eu acabei ficando mais animada quando vi a garota das trancinhas, com seu vestido vermelho até o joelho, que era parecido com os vestidos que, geralmente, usamos nas festas Juninas. Seus cabelos continham laços da mesma cor de sua vestimenta e eles prendiam duas lindas tranças que desciam até o busto, uma de cada lado - notei que seu cabelo estava mais comprido. Ao contrário do namorado, que estava descalço, ela calçava delicados sapatinhos de boneca. Um laço na cabeça dava um toque final, deixando-a radiante como sempre - nem parecia ser uma menina caipira. Seu nome era Rosinha, ou melhor, Rosa.

- Mônica! Qui linda qui ocê ta minina! - Seus olhos de um negro incomparável fitaram os meus da mesma cor, me fazendo sorrir.

- ROSA! - Nossos braços envolveram ambos os corpos, formando um reconfortante abraço de amigas - Você é quem está maravilhosa!

Não dissemos mais nada, apenas rimos todos juntas, felizes. A galera matou a saudade dos nossos amigos caipiras e depois cada um se dirigiu para os novos aposentos, construídos em uma grande área do sítio. O quarto, o qual eu iria ficar, continha exatamente sete camas, onde dormiria, eu, a Magali, a Marina, a Denise, a Cascuda, a Aninha e, infelizmente, a Irene.

Tentei não me preocupar com coisas alheias, apenas com as minhas coisas, as únicas que importavam para mim naqueles dias. É claro que o Cebolinha me importava, mas a loira aguada não, então, tentei ignorá-la o máximo possível. Minha tentativa logo falhou, pois a irritante da Irene veio puxando assunto comigo e não consegui escapar.

- Como você está, flor? - A falsidade estava estampada em sua cara - O Cê me disse que vai ter quermesse hoje à noite aqui no sítio, é verdade?

- Não sei... Mas por que está perguntando isso para mim? - Encarei-a - Se o Cê te disse, não era para ser verdade?

- É... - Ela pareceu pensar - Tem razão... Falando nele, vou me encontrar com o meu Cê. Ele deve estar esperando por mim.

- Vai tarde. - Disse em um tom, um tanto baixo demais, impedindo da mesma ouvir, pois ela já estava porta à fora.

- Eita Mô. - As palavras de Cascuda ecoavam em meu ouvido, feito zunidos desagradáveis - Mas você não se bica com essa Irene mesmo não é?

- Nem um pouco. - Rolei os olhos - Vou me encontrar com o MEU Renato. Ele deve estar esperando por mim. - Repeti as palavras antes ditas por alguém indesejável.

- Ui, SEU Renato amiga? - A voz de Magali tinha um tom de zombaria - O menino mal chegou e você já ta correndo atrás dele é? Do meu guarda-chuva você não corre atrás... Tudo bem, eu relevo.

- Me erra Maga! - Gargalhei junto com ela, saindo do quarto logo após e indo ao encontro do moreno que talvez sim, ou talvez não, estivesse me esperando lá fora - mas não era ele quem eu queria ver, quem eu queria encontrar, quem eu queria abraçar, ou até... Beijar.