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Jasper

Não havia explicação para as sensações que eu estava sentindo quando Bella estava por perto. Certamente eu não esperava a estranha vontade de estremecer quando ela me tocou ou o desejo inabalável de abraça-la e não permitir se afasta de mim.

Ela parecia tão frágil quando a recolhi no chão da floresta, desfalecida e pálida, tão parecida com um cadáver que senti uma forte solidão. Se não fosse por seu peito subindo levemente com os movimentos de sua respiração, eu provavelmente teria enlouquecido naquele momento.

Isso era outro incômodo. Como uma pessoa com tantas décadas na bagagem, e que já sentiu e viu tantas coisas, eu deveria ser capaz de compreender ou até mesmo controlar meus próprios sentimentos, mas Bella não agiu como um ser humano normal nem uma vez desde que nos conhecemos, então porque agora seria diferente?

Em três semanas ela virou meus pensamentos e objetivos para orbitarem em torno dela. Nós não conversamos nenhuma vez nesse meio tempo, mas das sombras eu a acompanhava lutar com alguma coisa. Seus sentimentos como um caleidoscópio, eram substituídos uns pelos outros com rapidez e aos poucos isso foi me encantando. Um ser humano que pode sentir com tanta força é uma coisa difícil de encontrar nos dias atuais, com todos tão absortos em seus próprios desejos e necessidades supérfluas. Isabella Swan, em minha opinião, passara a ser contada como um diamante em meio a cacos de vidro.

Fico imaginando o que Edward faria se visse em meus pensamentos o quanto eles rondavam Isabella. Provavelmente daria um chilique e exigiria que eu me afastasse, talvez até fosse longe ao ponto de leva-la embora para fora do meu alcance. Só o pensamento já me deixa angustiado. Mas Edward podia ser contado como figurinha fora do álbum, ele partiu, deixou o coração de Bella em pedaços, e principalmente abriu o caminho para a vida dela, o que meu deixa estranhamente feliz.

Sacudi a cabeça dispensando os pensamentos absurdos que surgiram. Eu devo ter bebido sangue estragado. Olhei pra ela, que encarava o chão e percebi o quão constrangido estava. Enquanto buscava uma maneira de responder sua pergunta sobre os lobos, sem que houvesse a quebra do tratado, percebi que cedo ou tarde deveria falar com ela sobre o casamento de Edward. “Ótimo! Sobrou pra mim...“

Pensando bem, talvez fosse melhor tirar logo isso do caminho. Abri a boca para iniciar o que provavelmente seria um discurso que a levaria as lágrimas, quando fui salvo pela campainha tocando.

Pelos barulhos eu já sabia que tinha alguém desesperado lá embaixo. Eram mais de um, e definitivamente não humanos, se a falta de barulho da respiração significava qualquer coisa. A intensidade de suas emoções era tanta que do terceiro andar onde estávamos eu podia senti-las ainda forte.

Levantei a mão pondo o dedo indicador sobre os lábios num sinal claro para Bella não falar nada e permanecer em silêncio. Aproximei-me e disse o mais baixo que ela conseguiria ouvir.

—Permaneça aqui, e não faça barulho. Volto assim que der. – Saí pela porta em direção a entrada e ainda a ouvi sussurrar um baixo “fique bem”. Sorri sentindo meu peito se encher de alegria. Eu devo estar louco.

Na sala parecia bem pior, permaneci em alertar enquanto abri a porta e parei para observá-los.

Eram três. Duas loiras e um moreno. Uma delas, a que parecia menor estava ao lado da porta, provavelmente a que tocara a campainha, estava com um vestido verde escuro, rasgado e seus cabelos estavam repletos de folhas e bagunçados. Pra um vampiro seu estado era terrível. Usava apenas um sapato.

A outra estava de costas pra mim, na frente do homem, que eu só visualizava a cabeça. Seu estado não era melhor que o da primeira, seus cabelos estavam ainda mais embolados e com algo verde e viscoso que parecia lodo, ou algas.

Parei em frente à porta e a primeira garota suspirou aliviada abrindo um sorriso tenso.

—Oi, desculpe, mas nós realmente precisamos de ajuda! É o meu irmão, por favor!–Olhei pra ela em duvida e analisei friamente a situação. Eu não sabia nada sobre eles, poderia ser uma armadilha, ou algo pior. Ela não parecia uma vampira normal, poderia até ser mais velha que eu em anos vampíricos. A outra olhou pra mim, saindo da frente do homem e eu pude entender o porquê de seu desespero.

De todos ali, ele era o que estava em piores condições. Sem sapatos, suas calças jeans só tinham uma perna, já que a outra pareceu ser arrancada e sua camisa estava rasgada e sem mangas. Mas o problema não era esse. Nas mãos da outra garota jaziam três coisas grandes e alguns nacos de algo branco. Os rostos de todos retorcidos em dor, mas o dele era o pior.

Decidindo que eu poderia lidar com eles caso fosse alguma emboscada, olhei para a primeira, buscando um jeito de confiar nela e achei ao ver seus olhos. Eram dourados e brilhantes, isso já fazia com que eu me sentisse melhor. A segunda parecia estar aderindo à dieta há pouco tempo, seus olhos estavam meio alaranjados, mas os do garoto eram como o da primeira menina. Pensando em Bella no andar de cima e confiante de que se ela mantivesse silencio, poderíamos sair dessa, suspirei.

—Entrem – decidi por fim, saindo da frente da porta. – Coloque-no no sofá, eu já volto com algo para... ajudar com a junção dos pedaços. – A primeira loira sorriu passando por mim com ele ao lado, enquanto a outra carregava os pedaços.

Corri pra cozinha e voltei no minuto seguinte para onde eles estavam. Coloquei um pano limpo sobre a mesa e pedi a garota para me passar o braço direito dele.

—Uma das duas vai ter que por veneno nisso, o ideal seria o dele, não deixaria marcas, mas não temos tempo para mantê-los parado. – Disse olhando para o garoto que não parava de se contorcer. Vampiros são extremamente resistentes, mas ter uma parte do corpo arrancada dói tanto quanto se ocorresse com um ser humano. No caso da parte arrancada não ser reposta no corpo, poderia doer por séculos.

 Elas se olharam por um segundo antes da mais nova passar a língua sobre a extremidade do braço, encharcando de veneno. Retirei rapidamente de suas mãos e juntei o braço, pressionando e pedindo a garota ao meu lado para manter daquele jeito por alguns minutos. Depois repetimos o processo com a perna dele e colei o naco arrancado do ombro, terminando ao passar a toalha em volta dos locais que escorriam veneno.

Ele aguentou tudo apenas respirando um pouco mais forte quando doía, tendo parado de gritar após o braço ter sido colocado. Claro que pra mim doeu muito mais. Eu sentia a dor dele, e das jovens por vê-lo machucado.

Terminando meu trabalho, sentei na poltrona ao lado.

Ficamos em silêncio por um tempo enquanto eu olhava discretamente para o teto, pensando no que aconteceria com Bella se a descobrissem ali.

O garoto pigarreou baixinho e eu olhei pra ele, que esboçou um sorriso. A essa altura parecia outra pessoa.

—Ahn, muito obrigado... Ajudou mesmo sem me conhecer e eu fico grato por isso... Meus pedaços agradecem. – Esbocei um sorriso leve, o rapaz mal começou a falar e eu já o estava associando a um velho amigo. Ele estendeu a mão do braço que não fora arrancado – Sou Noah Fenx, muito prazer. Essa é minha esposa, Maile. – apontou para a loira que carregara seus pedaços e essa acenou de leve com a cabeça, retribui e ele indicou a garota ao lado – e essa é minha irmãzinha, Dorcas. – A garota revirou os olhos ao jeito como o irmão se referiu a ela e deu a volta no sofá, me surpreendendo com um abraço extremamente forte, ao qual tive que conter meus instintos para não reagir como uma ameaça. Ela não parecia perigosa, mas é exatamente a temer esse tipo de coisa que eu aprendi na guerra, cautela nunca é demais. - Muito obrigado por ajudar-nos. - ela sussurrou.

—Não há problema. Posso providenciar algumas roupas para vocês. Mas me respondam, como ficaram nesse estado? – perguntei quando ela finalmente se afastou.

A garota Fenx, Dorcas, olhou para os outros dois, que assentiram de leve.

—Estávamos fugindo dos Volturi – fiz uma careta instantaneamente, já me arrependendo de ter oferecido auxílio. Isso não era legal, poderiam atrair a atenção deles para Bella, por um segundo me vi preparado para coloca-los para fora quando ela completou a frase, pegando-me de surpresa. – Soubemos dos Cullen, que eram vegetaríamos e resolvemos aderir à dieta. Viemos atrás de vocês, mas eles não gostaram da saída de Maile da guarda e nos perseguiram.

—Então vocês estavam procurando... Os cullen? – Mudei o final da frase no ultimo instante, não sabia exatamente como me sentia no momento em relação a minha “família”.

—Sim, nós... – Noah começou a falar, mas em um instante ficaram todos paralisados. Um cheiro familiar me atingiu e meu corpo tencionou pronto para o combate. Foi quando Bella apontou no começo das escadarias e Maile arregalou os olhos, suas mãos apertando-se em punhos, enquanto seus olhos escureciam – Uma humana?! – Ela praticamente rosnou.

Precipitei-me em direção a Bella, dessa vez não por sede de seu sangue, mas pra protegê-lo dos outros vampiros presentes.

Na escada, Bella parou e olhou para a sala com os olhos arregalados.