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Bella

Já fazia três semanas que Jasper chegara à escola, e ele ainda não havia se dignado a falar comigo. Eu jurei a mim mesma que não o procuraria, pois se Edward queria que eu esquecesse tudo, eu esqueceria.

E é claro, eu falhei miseravelmente na hora de cumprir isso.

Durante os horários de intervalos e quando o via no corredor eu tentava me aproximar, ou puxar assunto e sempre era ignorada.

Tentei esperar por ele ao lado do meu carro, quando estava estacionado ao lado de sua moto, mas era só eu piscar por alguns míseros segundos e quando via ele já estava passando pelo portão, sem nem ao menos eu ter percebido.

Naquela sexta feira eu decidi que iria até a mansão dos Cullen. E Jasper teria que me ouvir por bem ou por mal!

Avisei a Charlie sobre ter um trabalho complicado para fazer e inventei uma desculpa, algo sobre uma festa do pijama na casa de uma amiga. Meu pai ficou extremamente satisfeito.

Senti-me culpada por mentir assim para Charlie, e sabia que era burrice não avisar onde eu passaria a noite, até porque eu estava disposta a acampar na casa de Carlisle se fosse preciso, justamente para falar com o vampiro que tentou me matar.

Tomei um banho e troquei de roupa rapidamente, prendi o cabelo no alto e coloquei algumas coisas que poderia precisar dentro da mochila, peguei a chave do carro indo pra minha Chevy.

Já na estrada a caminho da casa dos Cullen, eu vi um pouco ao longe uma estrada de chão familiar, sentindo as lágrimas acumular nos meus olhos eu virei o carro e segui naquela direção. Já não ouvia musicas, mas recordava perfeitamente que a primeira vez que vim aqui, Debussy tocava no toca CD do carro de Edward.

A estrada de chão estava um pouco mais enlameada por causa da chuva, mas o fato de não estar chovendo naquele momento me ajudou a chegar onde eu queria.

Encostei o carro num lugar determinado bem perto do bosque e respirei fundo enquanto pegava minha bolsa, precisava ver uma coisa.

Embrenhei-me mata adentro e sinceramente, fiquei completamente perdida. Eu jurava que lembraria o caminho, mas levaram quase 3 horas para que eu finalmente chegasse. Com a barra das calças jeans sujas e meio rasgadas, afastei uns poucos galhos de samambaias que caiam de troncos e avistei o amplo espaço. Nossa clareira.

Não estava florida como da ultima vez, mas ainda assim era especial.

Senti meus joelhos fraquejarem enquanto lembrava-me da ultima vez que havia ido ali, e me permiti chorar, jurando que aquela seria a ultima vez.

Enquanto estava ali, meu sofrimento transbordando para fora do meu corpo, perguntei-me novamente “o que aconteceu comigo?”.

Em Phoenix, eu não era a pessoa mais popular da escola, mas tinha amigos. Pessoas que eu considerava especiais, e principalmente que eram suportáveis de se ter por perto, pois aos 12 anos eu já era mais madura do que a maioria das outras crianças, devido ao fato de minha mãe ter uma mente infantil e eu ter de assumir a casa e o papel de figura materna.

Quando me mudei para Forks, sabia que seria difícil manter contato com a minha antiga vida, e eu estava disposta a manter laços com as escassas amizades verdadeiras que formei. Nos primeiros dias trocamos telefonemas e e-mails, e então eu conheci Edward.

Abandonei totalmente o contato após esse acontecimento.

Aos poucos a pessoa divertida e confiante que eu era, foi sendo substituída por uma garota passível e obediente, que não acreditava merecer o homem maravilhoso e todas as descobertas místicas que estavam acontecendo ao seu redor.

Que monte de merda.

Sentei e minha cabeça latejou, meus olhos estavam inchados e meus cabelos deveriam estar parecendo um ninho de pássaros, mas não me importei, só queria me livrar daquela dor o mais rápido possível e seguir em frente. Eu voltaria a ser a velha Bella Swan, custe o que custar.

—Isabella? – Dei um pulo do lugar que estava e virei para encarar o dono da voz estranhamente familiar.

—Jasper!? – sussurrei surpresa.

Sua roupa estava perfeitamente arrumada, os cabelos cacheados como de anjos, a camiseta verde de mangas compridas, e a calça jeans escura. Tênis esportivos.

Senti-me envergonhada diante de sua aparência impecável, e tentei secar as lágrimas inutilmente. Desisti ao constatar que mesmo que conseguisse me livrar delas, meus olhos continuariam inchados e vermelhos.

—O que faz aqui? A floresta não é um bom lugar para humanos, Isabella. – Ele disse educadamente, e eu percebi o uso de meu nome. Fiz uma careta.

—É Bella. – disse meio automaticamente e olhei em volta. – Vim me despedir. – sussurrei.

—Vai embora? –Ele levantou uma sobrancelha e senti se aproximar, eu não importei, ele era somente mais uma prova que Edward existiu, e eu gostava de Jasper, ele era um... Bom amigo.

“Puff, ok. Isso é o eufemismo do ano”. Ignorando essa linha de pensamentos, foquei em responder sua pergunta.

—Não, vim apenas lembrar uma ultima vez antes de começar a esquecer. Como Edward quer. –Falar nele ainda doía.

—Então acho que não estou ajudando estando aqui, não é? – Ele perguntou ainda se aproximando, será que Jasper iria me matar? Balancei a cabeça diante desse pensamento. Ele ainda era vegetariano. “Jasper não faria nada do tipo, isso decepcionaria os Cullen, principalmente Alice.” Pensei enquanto ele ficava de pé ao meu lado, e isso chamou minha atenção para duas coisas.

—Estava caçando, Jasper? – perguntei temerosa. Meu Deus se fosse isso eu poderia ter morrido. Segundo uma conversa que tive com Carlisle uma vez, quando se esta caçando seus instintos te levam até a comida e te dizem o que fazer. E a minha presença ali poderia ter despertado os instintos dele para outra coisa. Sangue humano. O meu sangue.

Ele deu um sorriso, deveria ter sentido minhas emoções ficarem meio desesperadas. Estendeu a mão pra me ajudar.

—Não Bella, estava apenas dando uma volta, não tinha muito que fazer em casa. – peguei sua mão gélida e mais coisas invadiram minha mente. Mais lembranças.

Sorri de leve enquanto limpava a parte de trás de minha calça, sem muito sucesso, teria que deixa-la de molho para tirar o barro avermelhado. – Onde esta Alice, Jasper? Ela veio com você? – Olhei pra ele distraidamente querendo desesperadamente noticias pelo menos de minha amiga. O semblante dele se fechou e eu senti um arrepio, ele parecia triste.

—Isso não vem ao caso agora – ele sussurrou com os olhos meio vidrados. Minhas preocupações só aumentavam, será que minha suposta teoria estava correta? Não, não, os Cullen tinham que estar bem, principalmente Alice.

—Jasper, onde esta Alice? – perguntei novamente, dessa vez mais firme. Ele sacudiu um pouco a cabeça e abriu a boca para responder algo, provavelmente rude pela sua expressão, mas uma carranca ameaçadora se formou quando ele farejou o ar e se abaixou em posição de Ataque.

“Deus! Jasper vai me matar!”. Observei, amedrontada, ele se abaixar e saltar. Fechei os olhos esperando o impacto, mas não aconteceu. Algo ensurdecedor trovejou no meio da floresta e um vulto passou a mil por mim, de trás das moitas no lugar onde eu me encontrava, criaturas grandes saltaram atrás de Jasper. Olhei em choque para aquilo tudo, enquanto seis lobos de cores sortidas e do tamanho de cavalos passavam sem nem me olhar, exceto pelo ultimo, que tinha uma cor avermelhada nos pelos e olhos castanhos que me fitaram atentamente antes de correr atrás dos outros. Vi tudo a minha volta escurecer, e antes de cair inconsciente, ouvi um suspiro exasperado e um resmungo familiar.