A tensão que reinava no dormitório do terceiro ano da Grifinória era palpável. Não que seus ocupantes, os quatro rapazes que se autodenominavam Marotos, se dessem mal uns com os outros, mas quando eles se desentendiam a situação era crítica. Desta vez o assunto que eles tratavam entre si era muito sério e delicado. Um prato cheio para que aquele clima pairasse no ar.

O olhar castanho, envolto pela armação de metal sustentando as lentes de vidro, olhava fixamente para o rapaz sentado a sua frente. Não ostentava uma pose altiva, mas via-se, claramente, o ar de liderança que possuía, mesmo que neste momento esta pose natural dividisse espaço com certa amargura.

Ao seu lado, um rapaz baixinho e gorducho meio que se escondia sob o encosto da poltrona, seu olhar era do mais puro pavor, mas, assim como os outros, o ar de repreensão também era notável.

O único que não se encontrava ao lado dos três, estava esparramado sobre o colchão da cama do líder, era o mais velho, com traços angulosos formando o rosto bonito, em vez de olhar para a cena que se desenvolvia ao seu lado, estava com os olhos fechados e com a face voltada para cima, com os braços cruzados sob a cabeça, ancorando-a.

O rapaz de cabelos castanhos claros, quase loiros, sentado no banquinho à frente da poltrona principal, parecia querer se esconder, de tão encolhido que estava. A face mirando fixamente o chão e os fios caindo por sobre os olhos amendoados.

Perante a cena, era possível se identificar quais seriam os acusadores e quem era o acusado.

- Então, Lupin, o que tem a nos dizer? - a voz do moreno de lentes quebrou aquele minuto de silêncio que havia se formado. O tom não era de acusação, era uma pergunta, mas que possuía em si certa inquisição.

O pequeno encolhido levantou os olhos cor de mel e, mirando os três outros rapazes, buscou encontrar a coragem que o havia indicado para ser membro daquela casa na Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts.

- James, Pedro, Sírius... - Ao seu chamado, o rapaz que estava esparramado sobre a cama se deu ao trabalho de abrir um dos olhos e observar o jovem acusado. - E-eu... Desculpem-me! Tive medo...

- Não crê que somos nós quem deveríamos estar com medo aqui? - A pergunta partiu de Sírius, que tornara a fechar os olhos, como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos.

- Sim. Mas, vocês não seriam capazes de entender...

- Por que não tenta nos explicar então, Remo? - James soltou a pergunta que parecia ser a principal dúvida de todos os presentes.

O rapaz mirou bem os olhos negros por detrás das lentes e, ainda incerto, se digladiou por um momento, enquanto eclodia um antigo tique-nervoso: mordeu seu lábio inferior com os dentes. Poderia parecer uma besteira sem tamanho para os outros, mas não era para si.

- Eu tive medo de perder os primeiros amigos que possuo. - sua voz saiu baixa, tímido de estar confessando um segredo tão íntimo seu.

Mas, para a sua surpresa, em vez de ser rechaçado ou excluído do círculo de amigos, o abraço que recebera de Sírius, no momento em que terminara sua confissão, fez com que nenhuma outra palavra fosse necessária para que entendesse que eles seriam amigos por muito tempo ainda.

o.O.o.O.o

Seus olhos se abriram, mirando o teto de madeira em um chalé que virara sua casa já há alguns dias. O sonho - ou seria uma lembrança? - mexera consigo. Era algo muito antigo e que lhe era querido demais para ser esquecido. Mas, naquele momento, lhe trazia certa angústia no peito. Não que lembrar-se dos amigos fosse ruim, mas os fatos que haviam transcorridos com o passar dos anos não ajudavam para que pudesse classificá-las como agradáveis.

O que mais lhe doía, na verdade, era a lembrança das trocas de carícias com Sírius. Sentia muito a falta do amigo e que, mais tarde, viria a se tornar seu amante.

O animago nunca mais poderia estar consigo, visto que a alguns dias atrás havia morrido e era isto, neste momento, que mais lhe angustiava.

Tivera que enterrar seu grande amigo James, que havia o apoiado nos momentos em que menos esperara e que, acima de tudo, o ajudou instigando para que tentasse ser feliz. Além dele, enterrou sua doce esposa, Lilian, que mesmo não pertencendo ao pequeno grupo, tornara-se parte importante e companheira de segredos. E agora, por menos que quisesse, teria que enterrar Sírius... Seu Almofadinhas...

Desta morte, não sobrara corpo para ser velado.

A perda se dera no último combate travado entre a Nova Ordem e os Comensais da Morte de Voldmort, no Departamento de Mistérios do Ministério da Magia, mas, diferente dos outros, para Sírius fora destinado uma peregrinação sem fim por entre o Arco de pedra.

Este fato, esta lembrança, lhe doía mais do que aquela que havia tido em seu mundo de sonhos.

o.O.o.O.o

Os lábios avançavam sobre os seus em uma deliciosa dança de carícias e busca de contato. As línguas se enroscavam, exploravam, buscavam, degustavam o sabor um do outro e todas as sensações que acompanhavam este bailar se refletiam por todos os poros de suas peles.

Era a madrugada da última noite de Lua daquele mês de seu sétimo ano em Hogwarts.

Pontas e Rabicho dormiam a sono alto na sala do andar de baixo da Casa dos gritos e ele, juntamente de Almofadinhas, dividiam o único quarto habitável do andar superior.

Não deveriam estar daquela forma, emaranhados sobre o colchão da cama de casal. Seu corpo estava fraco, sua cabeça doía e ainda sentia seus músculos protestarem por causa da recém-terminada transformação, mas o desejo que ardia em seu peito, e que era correspondido por Black, era maior do que tudo isso junto.

Enlaçou o pescoço do moreno com os braços machucados e aprofundou mais o beijo. Sentia o peso do outro rapaz sobre si, as pernas mais grossas e definidas que as suas indo de encontro a suas nádegas e o tórax magro e definido raspando e instigando seu pênis, preso entre seus corpos, em uma tortura deliciosa.

Segurava-se para não soltar gemidos altos, não queria que os amigos acordassem e interrompessem o que faziam, mas era impossível se ater de emitir algum tipo de som. Era prazeroso. Era delicioso. Era enlouquecedor. E Sírius sabia disso e exatamente por este motivo, continuava com aquela cadencia de movimentos.

Findou o beijo ao deixar escapar um gemido mais longo e profundo, seus olhos fechados e a dominação do êxtase sobre seu corpo. Estava ao seu limite. Iria gozar a qualquer momento e foi com uma estocada mais forte que sentiu seu sêmen ser expelido, caindo sobre sua barriga. Para seu deleite, ouviu o gemido profundo de Sírius e sentiu o outro atingir o seu clímax dentro de si.

Ambas as respirações estavam entrecortadas quando o mais velho saiu de dentro de si e tombou para o lado da cama, aconchegando-o em um semiabraço. Uma sensação de plenitude lhe preenchia e, naquele instante, o tempo poderia ser eterno que não se arrependeria.

E, por mais que o sono lhe pesasse os olhos, ainda sentiu o beijo depositado sobre o topo de sua cabeça e a declaração de amor - Eu te amo. - que abandonou os lábios do animago.

o.O.o.O.o

Não saberia explicar o porquê desta ser a lembrança que vinha a sua mente no momento em que sentia a vida lhe abandonar o corpo físico. Havia superado o romance que tivera quando mais novo. Havia seguido sua vida, constituído família, tido um filho. Mas, eram as palavras que Sírius Black havia lhe confessado naquela noite que retornava para si naquele momento.

Era como se, aquele doce resquício de sua adolescência, lhe viesse saudar para a vida pós-morte.

Uma vida onde, talvez, pudesse se reencontrar com o amigo. Com o companheiro. Com o amante. Com Sírius.

FIM