A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 55
Capítulo 54 - Viva


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo é Morta, outro é Viva. Palmas para a minha criatividade! #bolinha de palha do velho oeste voando.



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Nessie

            A primeira coisa que vi quando abri os olhos pesados, foram os tons pastéis das paredes. Pisquei várias vezes, procurando algo em foco. Aos poucos, tudo foi voltando aos pouquinhos. A janela cuspia um sol lindo e alaranjado, por trás do vidro clinicamente limpo. Olhei em volta. O relógio na parede marcava 6 horas e seis minutos, e eu não podia ver o que vestia, por estar coberta com um fino lençol de algodão. Uma das minhas mãos tinha um estranho grampo no indicador, que estava conectado a uma das milhões de máquinas que bipavam ao meu redor continuadamente, de uma forma hipnotizante.

            Meu pulso esquerdo não era visível por conta de uma munhequeira preta. Fui procurar o outro pulso e ali, apoiado pelos cotovelos no leito clínico, estava Jake, segurando minha mão entre as dele, unidas com a minha dentro, dando a impressão de que estava rezando. Um ronco longo e estrondoso ecoou pelo quarto e soube que ele não estava rezando.

            -Jake...

            Tentei chamá-lo, mas me engasguei, com uma dor terrivelmente aguda na garganta, como se minhas cordas vocais fossem esticadas como a corda de um arco. Levei a mão à garganta dolorida sem entender nada, e apertei-a, sentindo que ela iria explodir. Quando senti as ataduras ásperas contra os dedos e uma pontada de dor garganta abaixo, tudo voltou. O fogo. Havia fogo para todo lado. E verbena... Oh Deus, quanta verbena... Meus olhos se encheram de lágrimas ao lembrar daquela noite.

            “Jake. Jake!”

            Chamei através do contato com sua mão. Ele levantou a cabeça e piscou assustado, olhando ao redor, do quarto procurando quem o chamara. Ele olhou para a porta e levantou-se indo até a janela, soltando minha mão, que caiu, fria e solitária, ao lado da cama. Revirei os olhos. Ele colocou as mãos na cintura olhando ao redor do quarto até que seus olhos pousaram em mim e encontraram meus olhos descortinados pelas pálpebras, castanhos.

            -Nessie? Está acordada? Consegue me entender?

            Ele perguntou voltando ao lado da cama correndo, pegando minha mão novamente.

            “Claro que sim.”

            Respondi, ultrajada.

            -Porque está falando assim?

            Mostrei minha garganta enfaixada onde o punhal enfeitado de Klaus havia aberto caminho.

            “Minha garganta dói”

            Ele fez que sim e tirou uma mecha do meu cabelo da frente dos meus olhos. Pude ver seus olhos encherem-se de lágrimas. Toquei seu rosto com a mão livre.

            “Não chore... Vai melhorar.”

            Assegurei-lhe, acariciando seu rosto lindo. Ele segurou minha mão em seu rosto e beijou minha palma, como se meu cheiro fosse o que ele precisasse para não chorar.

            -Estava tão preocupado com você...

            Ele disse. Seus ombros que tremiam provavam que ele se esforçava para segurar os soluços.

            “Há quanto tempo estou aqui?”

            Perguntei, ainda acariciando seu rosto na tentativa de acalmá-lo. O rosto mostrava claros sinais de cansaço.

            -Uma semana... Talvez duas, não tenho certeza. – Ele segurou a palma da minha mão contra si, olhando-a com tristeza. Uma tristeza que eu queria mais do que tudo afastar dele – O tempo não é o mesmo desde... – Ele hesitou e eu não o pressionei, apenas apertei sua mão na minha, mostrando que estava ali – Eles disseram todo o tipo de coisa... Que não havia nada a se fazer... E que você podia não ter muito tempo e... Que tínhamos que esperar – Ele apertou minha mão de volta, como se tivesse medo que eu ficasse translúcida de repente – Você sabe que eu odeio esperar, eu odeio tanto...

            “Shhh... Pronto, pronto, meu amor... Eu estou bem, já está tudo bem...”. Ele fez que sim, fechando os olhos com força como se tentasse se convencer disso. Acariciei suas mãos que seguravam as minhas. “Porém algo que me intriga é... Como, exatamente eu estou bem?”

            Ele sorriu levemente.

            -Acho que você deve agradecer à uma linda anãzinha de olhos azuis.

            “Lizzie?!”

            Perguntei assustada. Ela estava bem? Usara demais do seu poder? Morta? De alguma forma havia se livrado das correntes e tentado me proteger? Não, isso não podia acontecer não podia! Onde ela estava?! Os bipes ao meu redor ecoaram meu nervosismo súbito.

            -Ei, ei, se acalme, a baixinha está bem...

            Ele disse, olhando preocupado para o monitor e afagando a minha mão. Suspirei audivelmente e toquei meu pescoço involuntariamente quando senti uma pontada de dor. Seu olhar preocupado seguiu minha mão e demorou-se no meu pescoço, tornando-se triste.

            “O que aconteceu então?!”

            Perguntei, desesperada por mais informação. Ele piscou e só então pareceu voltar ao presente.

            -Oh, sim. Bem, ela não te salvou sozinha. Nós tivemos uma grande ajuda externa.

            “Ajuda?”

            Ele fez que sim e umedeceu os lábios lentamente, como se quisesse me enlouquecer de curiosidade.

            -Os Volturi.

            Para entender tudo o que aconteceu, é preciso mergulhar no “backstage” da Casa, do jeito que Jake viu tudo. Da primeira vez que meus pais encontraram a casa, nós estávamos viajando. Por isso a mansão estava vazia. Eles voltaram imediatamente quando Collin afirmou ter me visto perto do chalé. Eles rastrearam o ônibus de longe e o seguiram até a Casa. Depois de ouvir de mim sobre Klaus, eles foram à Itália, chamar os únicos que podiam vencer Klaus. Sim, os Volturi. Eles concordaram em tomar uma atitude depois de ver minhas memórias pelos olhos dos meus pais.

            Porém, sua conhecida desconfiança dos Cullen, eles esperaram até o último momento para agir. Segundo Jake, foi um dos melhores momentos da vida dele, ver Felix arrancando a cabeça de Klaus, e jogando-a na fogueira de verbena. Apesar de ter fantasiado aquilo por anos, não sorri.

            “O que houve com Lizzie?”

            Perguntei interrompendo-o no meio de uma frase, sem conseguir me segurar. Ele me olhou, repreendedor e tocou meu nariz levemente.

            -Monstrinha impaciente... Eu ia chegar lá. – Lancei a ele um olhar implorando que contasse logo – Está bem, está bem. Deixe-me ver... No instante que Klaus ia... – Ele parou, sem saber ao certo como continuar – Você sabe... Os Volturi chegaram e ele fez às pressas, o que, segundo seu avô, foi o que te salvou...

            “Lizzie...”

            Pedi impaciente. Ele revirou os olhos.

            -A baixinha começou a gritar quando viu o que Klaus tinha feito. Com aquele poder de hipnose maluco de vocês, ela convenceu um dos Volturi a soltá-la. Ela não tirou os olhos de você um segundo daquele jeito vidrado que ela faz, gritando que precisava ajudar e correu direto para o altar, no meio daquela confusão, enquanto todos gritavam para que ela voltasse. Ela chegou até você e te tocou e... Ela fechou os olhos e ficou lá. Eu corri para perto quando me soltaram, mas ela não se moveu. Então as queimaduras ficaram menos vermelhos e os cortes menores. Então ela caiu sobre mim e dormiu por dois dias seguidos.

            “Mas ela está bem agora, não é?”

            -Tão bem quanto eu. Eu estou muito bem, se você quer saber. Um telefone tocou ali perto com o toque da Motorola. Jake pegou um celular em cima da mesa de cabeceira.

            -Alô?

            Atendeu, feliz, segurando minha mão firmemente com um sorriso sereno. Ele parecia Boi quando filhotinho, feliz por seguir Lizzie para todo o lugar.

            “Quem é?”

            Perguntei curiosa. Que eu me lembrasse, eu nunca o tinha visto usar um celular. Por questões de praticidade, ele nunca carregava um desses. Ignorando quem quer que estivesse falando, ele apoiou o celular no ombro, tapando o fone.

            -É o seu pai. Ele está a caminho com a sua mãe. Quer dizer alguma coisa?

            Dei de ombros, sentindo uma pontada dolorosa no pulso.

            “Só diga que acordei”

            Ele fez que sim e falou brevemente ao telefone. Fechei os olhos, ouvindo minha mãe tagarelar com ele, preocupada, ao telefone, fazendo milhões de perguntas. Calmamente respondendo, Jake acariciava minha mão, desenhando círculos com o polegar sobre a minha pele macia.

            -Ok, até daqui a pouco, Bells.

            Ele disse, desligando. Abri os olhos e encontrei-o me analisando.

            “O que foi?”

            Ele deu de ombros.

            -Você é tão linda... – Disse, curvando-se na direção da cama. Ele brincou calmamente com um cacho meu na mão livre – Achei que tinha te perdido.

            Apertei sua mão.

            “Nunca.”

            Ele apertou de volta e sorriu, mais feliz do que eu já o havia visto em vários meses. E o melhor de tudo, era um sorriso livre da sombra de Klaus.

            Uma semana depois, eu já havia recebido alta do hospital. Quando perguntei à minha preocupada, porém aliviada família como tinham explicado os ferimentos da verbena, eles explicaram que Lizzie compeliu os médicos a emitir um laudo diferente. Sorri e lembrei-me de encher o rostinho daquela garotinha de beijinhos. Ela ficou radiante quando veio me visitar e não parava de tagarelar sobre como estava feliz que Klaus estava morto e que Boi finalmente podia descansar em paz. Perguntei-lhe se ela estava brava comigo pela sua mãe, mas ela disse que não.

            -Eu tenho uma nova mamãe agora.

            Respondeu sorrindo. Surpreendentemente ou não, agora tínhamos duas loiras obcecadas por rosa dentro da mansão dos Cullen. Lizzie não saíra de perto de Rose um segundo desde que a Casa de Klaus fora oficialmente fechada e queimada. É óbvio que chamamos o pai de Lizzie para vir buscá-la, mas ele demoraria algum tempo a chegar. Estava fazendo arranjos para que pudesse morar na cidade, perto de nós, para que Lizzie pudesse sempre me manter por perto.

            Olhei os cartões de “Fique boa logo!” não só de Lizzie, mas da maioria dos meus amigos da Casa. Todos me agradeciam, a caminho de casa. Elena, Bonnie, Jeremy e Katherine voltaram para o Sul. Morariam todos juntos, como uma família. Meredith e Miles me deixaram milhões de abraços e um convite para seu casamento, em Março. Tyler me agradecia por protegê-lo depois da morte de Elijah e por ter feito o amigo mais feliz do que ele jamais havia sido, e que descansasse em paz agora que finalmente estava livre do pai. Invadindo sua carta, Caroline contou sobre as compras que estava fazendo em Fell’s Church e sobre a FABULOSA mansão dos pais de Tyler, que agora pertencia a Tyler, onde os dois estavam morando, juntamente com Mason, Jules e o pequeno Grayson. Ela estava mais animada do que se tivesse encontrado botas Gucci pela metade do preço.

            Eu estava feliz por eles. Por todos eles na verdade. E agora tudo se acertaria para mim também. Levantei da cama e fui até o banheiro me olhar no espelho.

            Eu estava diferente. Sentia-me diferente também. Aliviada. Até feliz, me atreveria a dizer. As feridas, físicas e psicológicas que Klaus me infligira demorariam a sarar, e algumas talvez nunca realmente sanassem. Porém agora eu finalmente podia recomeçar. Respirar. Poderia ir a qualquer lugar agora, sem medo de encontrar sombras na esquina. E não havia lugar que eu queria mais ir do que para casa. Ouço uma batida na porta do quarto.

            -Estou no banheiro!

            Avisei. Jake chegou e passou os braços ao redor da minha cintura, beijando vigorosamente minha bochecha. Parecia radiante. De novo. Ultimamente era como se Lizzie houvesse feito uma infusão de seu temperamento nele. E eu adorava vê-lo feliz assim.

            -Está pronta?

            Ele perguntou.

            -Quase. Quero tirar isso antes de ir.

            Eu disse, tocando a atadura ao redor do meu pescoço. Ele olhou para a minha mão e então para os meus olhos no espelho, erguendo a mão para tocar a gaze branca.

            -Não sei não... – Ele disse – Quem sabe podíamos deixar mais um pouco...

            Fiz que não.

            -Estou indo para casa. Não quero mais me sentir no hospital. Vem me ajudar aqui.

            Pedi. Depois de hesitar por alguns segundos, olhando nos meus olhos, dando-me a chance de desistir. Então ele suspirou e começou a desenrolar as bandagens do meu pescoço. Eu sabia que ele estava com medo, por ter visto a minha garganta aberta e tudo o mais. Eu ouvia os gritos que os pesadelos lhe traziam. O ouvia enquanto ele murmurava sobre o sangue, a verbena e as queimaduras. Eu limpava suas lágrimas quando ele acordava sobressaltado no meio da noite. Mas isso eu precisava fazer. Precisava mostrar a mim mesma que a fase da minha vida de ter medo passara.

            Faltavam algumas camadas de tecido quando ele parou e suspirou:

            -Tem certeza que quer fazer isso?

            Fiz que sim, decidida.

            -Eu vou entender se não quiser ver. Posso fazer isso sozinha.

            Eu disse. Ele sorriu levemente e baixou a mão livre até alcançar a minha, entrelaçando nossos dedos.

            -Estou com você. Para sempre.

            Sorri, tentando conter as lágrimas. Elas não estragariam aquele momento, quando eu finalmente me lembraria como eu era antes de viver com medo. Ele vagarosamente tirou a bandagem.

            Por um segundo, não entendi o que vi. Até ali, eu não tinha realmente entendido que eu havia sido praticamente degolada, como nos filmes em que o mocinho vem por trás e puxa silenciosamente uma faca pela garganta do capanga do bandido. Isso e o que acontecera comigo pareciam completos opostos. Mas a horrorosa cicatriz estampada no espelho dizia o contrário. Klaus podia ter finalmente ido, mas havia deixado sua marca em mim, mais fundo do que eu esperava. Uma lembrança constante e permanente da sua insanidade. Com a mão trêmula, tracei a grossa e torta linha com a ponta dos dedos. O local estava sensível, não totalmente cicatrizado.

            Em um assalto de baixa auto-estima, olhei para os olhos de Jake, desesperada pela sua opinião. Não entendi o que vi. Ele não expressava emoção alguma, como um soldado a caminho da guerra.

            -Coloque de volta.

            Pedi, com os olhos marejados. Ele olhou nos meus olhos no espelho.

            -Não adianta mais Néss. Isso é parte de quem você é agora – Ele disse suavemente, tocando a ponta da cicatriz. Olhei-me no espelho. Aquela pessoa não era eu. Era uma espiã de filme de comédia, ou alguma veterana de guerra, mas não eu. Jake inclinou a cabeça e beijou onde tocava, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar. – E se é uma parte de você, eu já a amo.

            Ele disse sorrindo com o canto da boca. Sorri e toquei sua mão.

            -Estou pronta para ir agora.

            Em casa, antes de dormir, tomei todos os comprimidos para dor a mim receitados, o bastante para matar um cavalo de overdose, em minha opinião. Mamãe e papai vieram me dar beijos de boa noite e ao saírem, deixaram a porta meio aberta. Eu sabia que a partir de agora, eles dobrariam a atenção que costumavam ter sobre mim. Mesmo que não houvesse mais Klaus lá fora, eles jamais descansariam novamente. As garras do Original também tinham se estendido para eles. Os remédios me derrubaram e em poucos minutos eu estava completamente apagada.

           

            Pisquei os olhos, ouvindo um ruído. Meus olhos estavam pesados e a visão, turva, mas ainda assim pude ver um vulto a minha frente, envolvido na penumbra.

            -Eu não queria te acordar.

            Disse a voz do vulto, colocando um cacho atrás da minha orelha. Com um sorriso, sem mais nem menos, o vulto pulou a janela, apenas um milissegundo antes que a luz se acendesse, me cegando.

            -Você está bem, meu amor?

            Perguntou minha mãe entrando no quarto. Assenti, sentando-me devagar na cama, pesada de sono. Mamãe me recebeu com um abraço frio, sentando-se ao meu lado na cama.

            -De onde veio isso?

            Perguntou papai, indo até a cabeceira e pegando entre os dedos o caule fino de uma flor branca. Uma flor de baunilha.

            -Eu... Eu não sei – Disse, sinceramente. Eles trocaram um olhar preocupado. Suspirei – Eu... Alguém deve ter mandado e eu esqueci. Deixe aí.

            Trocando outro olhar, eles fizeram que sim, ainda não totalmente convencidos. Não deixei meus pensamentos transparecerem nada. Papai deixou a flor sobre a mesa de cabeceira e os dois silenciosamente se foram, apagando a luz. Alcancei a flor sobre a mesinha e aproximei-a do rosto. O aroma selvagem da baunilha me atingiu. Meus olhos cansados se encheram de lágrimas.

            -Elijah?

            Sussurrei para a noite vazia.


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Notas finais do capítulo

Ainda não é o fim! Se preparem para morrer de fofura com o capítulo 55 na segunda-feira, e receber uma prévia quentíssima da segunda temporada no epílogo!



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