A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 50
Capítulo 49 - A morte de Elijah


Notas iniciais do capítulo

*snif snif*



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Nessie

            A sirene tocou exatamente às 7 horas da noite. Claro o bastante para que pudéssemos ver, escuro o bastante para que aquilo parecesse mais com um pesadelo do que realmente era. Todos os convocados foram para fora. Fizemos, calados, nosso caminho para o altar. Lizzie ia de mãos dadas comigo, os olhinhos claros cheios de lágrimas. Eu seguia séria ao lado de Jake, olhando somente à frente. Passara a noite em claro me preparando, preparando meu coração para ver aquela imagens e tal esforço me deixara temporariamente apática ao mundo ao meu redor. Qualquer coisa poderia estourar minha bolha de determinação. Era tão fina quando uma bolha de verdade.           

            O altar estava diferente. Estava vazio. Elijah estava mais a frente, de pé, amarrado pelos pulsos a duas estacas de madeira mais altas que ele. Pela fumaça que subia das cortas, deviam estar embebidas em Verbena. O silêncio era cortante enquanto nos sentávamos obedientemente nas cadeiras de pedra, com a docilidade de animais indo para o abate, e tínhamos nossos pulsos acorrentados por Scott. Jake visivelmente odiou aquela ideia, se movendo, desconfortável com as algemas de ferro, fazendo-as gemerem contra a pedra.

            -Não adianta. O barulho só vai deixar Klaus mais irritado. Quando começar, você vai se esquecer. Ah, e não desvie os olhos. Klaus odeia.

            Ele fez que sim e esticou os dedos para pegar os meus. Apertei-os de leve de volta. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo dentro da sua mente. A primeira execução. Às vezes, em alguns sonhos, ainda ouvia Trevor gritar. Sua morte, para mim, fora a pior, embora não a mais dolorosa. Fora o dia que minha alma rachara pela primeira vez. O dia em que eu fora definitivamente arrancada do meu feliz mundo particular que costumava viver com a minha família. O dia em que descobri quem Klaus era e como minha vida seria dali para a frente.

            Klaus chegou, sombrio. Era a primeira vez que não sorria em dia de execução, o que era estranho. Execuções eram como natais para ele. Percebi que ele não estava feliz com aquilo. Ele se posicionou entre nós e Elijah, de modo que nós o víssemos claramente e que ele olhasse para o filho. Seu olhar era indecifrável.

            E a semelhança entre os dois era assustadora agora que eu sabia que ela estava lá.

            -Por favor, diga-me o seu nome.

            Pediu a Elijah.

            -Elijah Mikaelson. Ovelha-Negra. Príncipe da Casa. Filho de Niklaus Mikaelson e Angela Johnson.

            Klaus fechou os olhos e seus lábios apertaram-se em uma linha fina de descontentamento. Ele a amava. A amava muito. E por isso detestava Elijah. O odiava porque nascera.

            -Diga direito o nome da sua mãe, DIGA!

            -ANGELA JOHNSON!

            -MIKAELSON! – Todos estavam chocados. Era a primeira vez que ouvíamos Klaus perder a compostura daquele modo – MIKAELSON! SUA MÃE ERA UMA MIKAELSON!

            -Nunca tiveram um casamento de verdade, sob os olhos dos deuses e dos homens como ela queria e como devia ter sido. Minha. Mãe. Morreu. Como. Johnson.

            -E o que é que você sabe sobre ela?! Não a conheceu por mais de 5 minutos.

            -Eu sei de tudo. O que Rebekka não me disse, eu li das próprias palavras dela.

            -Sua irmã era uma mentirosa...

            Sibilou Klaus.

            -Mas as mãos da minha mão não. Reproduziam o que ela guardava no coração.

            Respondeu Elijah. Lizzie olhou para mim, as sobrancelhas unidas e o olhar confuso e um pouco perdido.

            -Elijah tem uma irmã? Porque ele nunca me contou?

            Perguntou, magoada. Assenti.

            -Ele não falava sobe ela. Klaus não gostava. Acho que agora não importa mais.

            Respondi, voltando a olhar para os Mikaelson.

            -Você foi flagrado tentando fugir dos domínios do senhor seu pai. Nega?

            Elijah trocou um olhar comigo. Por favor, sussurrei sem som, mas ele balançou a cabeça.

            -De forma alguma.

            Desviei os olhos, evitando as lágrimas. Porque não acabavam com aquela farsa de uma vez? Ambos sabiam o que havia acontecido. Estavam agindo feito crianças, seguindo cegamente as “regras” daquele jeito. Klaus estava louco para matar Elijah há muito tempo. Aquilo era apenas uma maneira que ele encontrara de se livrar dele, já que nunca o desejara.

            -Scott! – Chamou. O vampiro veio até o seu lado. Klaus tirou algo de baixo do, sobretudo, entregando à Scott. – Não forte o bastante para uma morte rápida, mas o bastante para alguma... Diversão. – A palavra pareceu amarga, o que eu não entendi. – No mínimo 200. Até que ele perca a consciência.

            Com isso, Klaus desapareceu por entre as árvores. Eu não podia crer no que meus olhos viam. Ele não assistiria. Depois de 4 anos rindo da dor das pessoas... Klaus não aguentaria ver o filho que sempre odiara ser torturado, mesmo tendo-o feito várias vezes ele mesmo. O que será que mudou? Perguntei-me. Será que, em algum lugar, Klaus gosta de Elijah?

            Scott desenrolou o que Klaus lhe dera com um estalo. Não. Isso é loucura. Klaus não gosta de ninguém. Um chicote grosso como uma cobra encontrava-se em sua mão. Prendi a respiração, aflita. Meu coração apertou-se a um tamanho minúsculo.

            -Feche os olhos Liz.  

            Pedi, temendo o que iria acontecer.

            -Mas Klaus...

            -Klaus não está aqui! NÃO OLHE!

            Ela fechou os olhos bem a tempo, mas eu não. O chicote estalou e eu vi as gotas do sangue de Elijah voarem, levantando-se e então caindo para manchar a grama, o altar e a roupa de Scott. As costas dele se arquearam, mas ele não gritou. Fechou os olhos, obstinado. Aguentar a dor calado. Isso é tão você, Elijah Mikaelson... Scott riu, divertindo-se como nunca.

            -Onde está a valentia agora?!

            Perguntou, estalando o chicote às gargalhadas. Elijah novamente não gritou, apenas apertou os olhos, com uma expressão de dor.

            -Ah, o que é isso?! Você é um chato mesmo! SEM GRITOS?

            Ele puxou o chicote para trás a cabeça e estalou-o com mais força. Elijah não se aguentou e gritou, o sangue voou, e eu gritei, e o chicote estalou, os olhos de Lizzie se abriram, e ela gritou, e Scott gargalhou, e o chicote estalou e eu gritei. Tudo se tornou um enorme ciclo de dor interminável e impotência. Não podia proteger Elijah, impedir Scott ou apagar a memória de Liz. Não podia fazer nada senão ficar ali.

            Jake

            Scott só nos libertou de manhã. Àquela altura, Elijah já perdera a consciência diversas vezes, mas seu peito continuava corajosamente a subir e descer. Eu precisava reconhecer: O cara que tinha garra. Eu não tinha certeza se conseguiria aguentar tudo o que ele tinha aguentado naquela noite.

            Nessie adormecera em algum momento depois que o castigo acabou e ficamos olhando Elijah sofrer. Eu ia pegá-la e carrega-la para a Casa, quando a mão pequena de Bonnie pousou-se sobre o meu ombro.

            -Ele ainda está vivo. Ela vai querer ficar... Até o amargo fim.

            Fiz que sim. Ela tinha razão. Lancei um olhar na direção de Lizzie, mas a baixinha tinha desaparecido. Olhei para o altar. Ela tocava o rosto de Elijah, com os olhinhos fechados e a mão direita brilhando em uma luz azul.

            -Liz?

            Chamei, me aproximando. Ela me olhou, tristonha, baixando a mão.

            -Eu fiz tudo o que eu pude.

            Disse, estendendo os braços para que eu a erguesse no colo. Levantei-a e comecei a fazer o caminho de volta para a Casa, enquanto Lizzie chorava baixinho.

            -Flower gleam and glow – Começou a cantarolar baixinho. – Let your power shine. Make the clock reverse… Bring back what once was mine…

            Um sentimento de instinto paternal tomou conta de mim e eu apertei-a contra mim, acariciando suas costas.

            -Vai ficar tudo bem, Lizzie. Você vai ver.

            Se Lizzie precisava de um pai, eu o seria. Podia nunca substituir Elijah – E eu jamais desejaria isso – mas estaria lá quando ela precisasse.

            Nessie

            Quando acordei, todos haviam sumido. Por um segundo, imaginei que aquilo era um sonho, mas a clareza dos detalhes era avassaladora demais. Levantei-me e corri até Elijah, pegando-lhe o rosto entre as mãos. Respirava com dificuldades. Olhei ao redor e encontrei uma pedra pontiaguda que usei para cortar as cordas que ainda lhe feriam os pulsos. Seu corpo desabou de encontro ao meu. Sentei-me na grama molhada de orvalho e sustentei-o no meu colo, o rosto perto do meu.

            -Elijah. – Chamei, segurando seu rosto com a mão livre. – Pode me ouvir? – Ele grunhiu baixinho, os lábios mal se separando a cada palavra. – O quê?

            -Come... What... May...

            Ele sussurrou com dificuldade, gemendo. Meus olhos, já cansados de chorar, novamente se encheram de lágrimas. Moulin Rouge era o primeiro filme que tínhamos assistido juntos no Hall, sem Lizzie. Era algo próximo ao nosso primeiro encontro.

            -I’ll love you...

            -‘Till my dying day...

            Completou com uma careta. Encostei minha testa na dele. O cheiro do seu suor misturava-se ao cheiro metálico do sangue e do doce e denso da morte. Eu sabia que não adiantava olhar suas feridas. Era tarde demais.

            -É melhor... É melhor você ir... Não quero... Que... Me veja assim.

            -Passei a noite te vendo assim. Não vou embora agora.

            -Vá – Pediu, ofegante. Uma lágrima de frustração escorreu pela minha bochecha direita. – Promete que vai... Que vai ser feliz... Com ele.

            Fiz que sim, abraçando-o do melhor jeito que podia sem machuca-lo.

            -Me desculpe por tudo o que te fiz passar. Eu te amo.

            -Eu também te amo. E... Obrigado. Por tudo... O que me fez passar.

            Beijei sua bochecha, e então sua testa, e por fim, seus lábios de leve. Com cuidado, deitei-o na grama. Afastei-me, com as mãos tremendo. Seu sangue manchara minhas roupas, e seu cheiro parecia me seguir. Olhei-o ali, uma última vez.

            Andei alguns passos, virando-me de costas para ele. Ouvi-o sugar o ar com mais e mais dificuldade, este arranhando por sua garganta. Por uma última vez, ouvi-o respirar e expirar. E então, o silêncio das coníferas. Segurei-me à arvore mais próxima e fechei a mão em punho. Não sei quanto tempo fiquei parada ali, tentando tomar coragem para olhar, mas quando me virei e vi sua pele clara ficar cada vez perceptivelmente mais pálida, não consegui evitar me dobrar no meio e vomitar.

            Meu corpo perdeu as forças e eu caí para o lado, ao lado da poça que eu criara. Meu mundo girava, molhado de lágrimas. Lá em cima, o céu estava carregado de nuvens brancas e fofas, provavelmente carregadas de neve. Mas aquele milagre da natureza não me alegraria naquele ano.   

            Porque era o fim de Elijah Mikaelson e o mundo havia acabado de perder uma das suas mais incríveis pessoas.


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Notas finais do capítulo

O mundo se tornou um lugar mais escuro depois da postagem deste capítulo.