A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 12
Capítulo 11 - Nahuel e os primeiros dias de aula




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Quando terminamos já era de manhã, e o sol nascia no leste. Não conversamos muito durante a caçada. Depois de um tempo, Elijah começou a pegar o espírito da coisa e perseguir suas próprias presas, o que me deu mais liberdade. Mas ele nunca ia longe demais e toda vez que parecia que eu estava fugindo ele estava do meu lado, olhando-me cauteloso. Não que eu tenha tentado fugir. Eu podia sentir o cheiro de Scott nos rodeando o tempo todo, e as vezes via relances de seu corpo voando pelas árvores. Não ousaria com ele por perto.

            -Então você não se sente tentada pelo sangue humano? Nem um pouquinho?

            Ele perguntou enquanto voltávamos para a casa lado a lado. “Ele não gosta de mim, Percebi, gosta do que eu faço. Só precisa de mim para aprender a ser vegetariano. Ele não é um aliado.”

            -A tentação nunca acaba, mas diminui. É como se empanturrar de comida, você não vai ter espaço para a sobremesa, mesmo sendo a parte mais gostosa da refeição.

            -Entendi.

            Ele disse afirmando com a cabeça, como se arquivasse o conhecimento no cérebro. Chegando a casa, os primeiros sinais de movimentação coemçavam a se mostrar. Um único vulto solitário assistia uma matinê sobre os hábitos alimentícios dos Suricatos, no Animal Planet. “Qual seria o gosto de um suricato? Talvez mais doce por causa do calor...”

            -A gente se vê amanhã.

            Elijah disse indo à minha frente para subir a escada de mármore. Era bom saber que seu quarto era próximo ao meu, desse jeito, podia rastrear seus movimentos.

            -Ora, ora, ora, olhe o que a maré trouxe...

            Disse uma voz levemente familiar enquanto eu caminhava até a escada por onde Elijah desaparecera. O vulto que assistia o documentário, virou-se para mim e criou um rosto bronzeado de cabelos negros.

            -Você cortou o cabelo.

            Constatei com um sorriso fraco.

            -E você não mudou um centímetro sequer – Disse ele, levantando e vindo até a escada com as mãos nos bolsos. – Quero dizer, você parece mais alta, Renesmee.

            -Nessie, Nahuel. Gosto que me chame assim.

            -Está bem. – Ele concordou me examinando – E quando foi que chegou à Casa?

            -Uns dois dias.

            -Gostou do que viu?

            Ele perguntou, com a ironia estampada na pergunta. Preparei uma resposta igualmente irônica.

            -Claro. O que melhor do que ser confinada por um vampiro psicopata, que tem um seguidor estuprador, estando no meio do nada?

            -Não sei. Acho que dar a luz a um de nós soa melhor.

            -Somos dois – Concordei, pesando a idéia. Será que Klaus me liberaria se eu fizesse algo assim? Para sair dali, pariria 700 desses. – Mas então, quando você veio parar aqui?

            -Alguns meses mais ou menos. Talvez mais, talvez menos. Perdemos a noção do tempo nesse lugar. Você vai ver.

            -Perspectiva animadora não?

            -Completamente. Até os suricatos estão animados – Ele disse apontando para a tevê e dando uma espiada no que estava perdendo – Claro, se não forem engolidos por aquele grupo de hienas bem ali. – Ele voltou-se para mim – Então... Quer vê-los ser devorados comigo?

            -Passo. Passei a noite em claro, acho que a única coisa que quero ver devorado é meu corpo pela coberta.

            Ele fez que sim.

            -Então nos vemos por aí.

            -Claro. Por aí.

            Eu disse continuando a subir a escada. Estava tão cansada que nem pensei no que aquilo realmente significava. Aquilo só me atingiu quando vesti o pijama e deitei na minha cama nova que rangia como se tivesse uma alma penada incrustada. Klaus tinha ido até o Brasil para buscar Nahuel e provavelmente suas irmãs. Isso queria dizer que ele não media esforços para recolher sobrenaturalidades. Ele estava rodando o mundo atrás de mais de nós.

            E vindo de Klaus, coisa boa isso não poderia significar.

            Acordei na manhã seguinte com uma sensação quente e molhada, como se alguém estivesse espalhando suor em mim. Abri os olhos e descobri que não era suor nenhum. Era baba. Um enorme dogue alemão lambia meu rosto como se ele fosse algum tipo de presunto. Ele começou a mordiscar meu nariz quando eu não acordei.

            -Pára Chad.

            Disse empurrando o focinho do enorme cachorro de Caroline de cima de mim. Ele latiu e pulou sobre a minha cama, fazendo um barulho infernal e lambendo meu rosto com mais empenho. Abri os olhos e usei as duas mãos para empurrá-lo.

            -Pronto. Já acordei. É isso que você queria?

            -Era o que queríamos, sim. Vai logo se vestir?

            Pediu Caroline, gentil e agradável como sempre, puxando a coleira “enforcadora” de Chad para que ele descesse da minha cama, não que o termo “enforcadora” parecesse fazer algum efeito em Chad. Bonnie e Elena estavam com ela.

            -O que vamos fazer hoje?

            Perguntei sonolenta parando de resistir e abraçando o pescoço de Chad enquanto ele empapava meu rosto de baba nojenta e pegajosa.

            -Nós temos aula. E você também. Achou que ia ser dispensada da escola? Te deram um dia de colher de chá e os outros dois foram fim de semana. Já é mais que hora de levantar essa cabecinha da fossa e enfiar em um livro hein?

            Ela disse dando um soquinho no meu braço. Eu vi que ela estava tentando ser simpática, mas não estava funcionando. A última coisa que eu queria era levantar e passar a tarde estudando em um lugar de que não gosto, com pessoas que não gostam de mim, cercada por vampiros que eu odeio. Mas alguma vez desde que eu chegara naquele lugar eu tivera alguma escolha quando se tratava de Klaus ou de suas regras? Não. É claro que não. Levantei em silêncio e me troquei no banheiro. Estava com tanto sono que nem a água gelada que joguei no rosto parecia que ia me manter acordada.

            -Você parece péssima.

            Admitiu Elena quando saí do banheiro.

            -Obrigada. - Agradeci de má vontade pegando na cômoda um caderno não preenchido que eu estava guardando para a história de Jazmyn e Noah.            -Podemos ir.

            Eu disse esfregando os olhos. As meninas me olharam, trocaram olhares cautelosos, mas seguimos em frente.

            “Então é para isso que serve o prédio das colunas...” Percebi quando passamos por suas pesadíssimas portas de madeira. Me vi então em um imenso corredor cheios de... Isso mesmo, você acertou, armários. E bebedouros, e banheiros, uma sala de informática, secretaria... Klaus havia, por algum motivo construído uma verdadeira escola. Mas... Porque? Uma das maiores formas de conquista que os governantes usam desde a Era Medieval é a ignorância. Ignorância é a morte. Se uma pessoa não sabe, ela irá confiar no líder, que com certeza sabe mais do que ela. Mas se sabíamos... Porque Klaus iria se arriscar?

            -Porque, exatamente, vamos à escola?

            Perguntei, parecendo mais preguiçosa e criançona do que perturbada como estava. Quando se passa uma noite caçando, você deve passar o dia dormindo. O sangue dos animais não vai ajudar suas olheiras. Mas me recusava a voltar para a cama e dar um motivo a Scott para voltarmos a nos encontrar. As meninas pareciam levar a sério esse lance de escola, então devia ser importante.

            -Porque Klaus quer que sejamos inteligentes e felizes.

            Disse Caroline sorrindo ironicamente e até saltitando uma ou duas vezes. Eu estava de tão mal humor que me senti tentada a esmagar sua cabeça contra os armários mas me contive. Não se esmaga a cabeça dos amiguinhos Nessie, Eu podia ouvir o tio Emmett, com o dedo a frente como se me desse uma lição de moral, quando eu contasse aquilo para ele. Mas sem ele para fazer aquela piadinha acho que não valia a pena. Elena fez que não e Bonnie revirou os olhos.

            -Acho que tem a ver com algum tipo de lealdade que ele espera criar – Elena explicou. Fiquei olhando-a fixamente e ela percebeu que minha mente estava lenta e precisaria de mais informações. Ela suspirou – Alguns de nós não tinham nada. Viviam sozinhos na rua, matando seus companheiros, ou em algum bosque, ou algum lago... Enfim, poucos de nós tinham família. Então Klaus os trás aqui, dá comida, abrigo e estudo. Mas o que ele quer em troca? Não sabemos. Mas vindo dele...

            -Coisa boa não deve ser.

            Concluí. As meninas e meus pés cansados me conduziram até a secretaria onde encontrei meus novos horários e a combinação do meu armário, entregues para mim por uma, me surpreendi ao constatar, humana. O que estava fazendo ali? Será que tinha a menor idéia do que estava metida? Será que tinha idéia de que poderia ser devorada por três das quatro aparentes adolescentes naquela sala? O que Klaus havia feito para aquela pobre senhora de cabelos ruivos que já iam ficando grisalhos aceitar se sentar atrás daquele balcão? As meninas me arrastaram para fora antes que eu pudesse alertá-la.

            -Ela é...

            -Ah não me diga!

            Caroline me cortou. Encolhi-me ofendida. Bonnie lançou um olhar repreensivo para Caroline que deu de ombros.

            -Poder de persuasão, sobre o qual eu te disse na outra noite. Sabe? Klaus tem também.

            -Também? – Perguntei – Quem mais tem isso?

            As três pararam e eu passei por algumas portas sozinha até me tocar que elas tinham ficado para trás.

            -O que foi?

            Perguntei esfregando o rosto esperando que eu não estivesse babando enquanto andava. Estava tão cansada que dormiria dentro de um daqueles armários. Estava me esforçando para me manter acordada, mas não sabia o quanto estava tendo sucesso. Elas me alcançaram, ou melhor, voaram para cima de mim como abelhas em cima de refrigerante derrubado.

            -Você não sabia mesmo? Achei que estivesse brincando naquela noite...

            -Seu pai nunca te contou?

            -Como você conseguiu sobreviver?

            -Esperem aí... Que história é essa? Contar o que?

            Perguntei, perdida no contexto.

            -Sobre o seu poder de persuasão.

            Estreitei os olhos, tentando focalizar Elena direito com os olhos lacrimejando.

            -O que?

            Caroline revirou os olhos.

            -Deixe para lá. Vamos falar com ela quando ela estiver sóbria.

            Professores humanos. Eu tinha professores humanos. Aquilo realmente me pegou de surpresa quando entrei no laboratório de biologia. Um senhor com um tremendo bigode de morsa, pesados óculos de tartaruga e barrigão de leão-marinho era, de acordo com a placa em sua mesa, o Sr. Storm. A sala estava quase cheia, mas o professor ainda não tinha começado a aula. O laboratório era como qualquer outro em qualquer escola do país. Cartazes sobre dissecação nas paredes, animais empalhados, alguns preservados em potes e alguns ainda vivos em gaiolas. Um armário no fundo da sala guardava os livros.

            -Ei Nessie!

            Ouvi uma voz me chamar. Nahuel estava sozinho em uma das mesas de duplas. Os cabelos negros, agora cortados, caíam-lhe pelos olhos escuros e ele sorria levemente, indicando a cadeira ao seu lado. Bem, eu tinha outras opções... Mas estava tão cansada que considerá-las seria um esforço grande demais para o meu cérebro exausto. Caminhei até a mesa grata e desabei sobre a cadeira.

            -Bom dia.

            Resmunguei para não parecer mal-educada.

            -Com sono?

            Ele perguntou levantando uma sobrancelha. Fiquei tentada a lhe dar um soco. Não soque os amiguinhos Nessie, a não ser que eu mande. Imaginei tio Emmett dizendo na minha mente. Dei um sorrisinho e desabei em cima dos braços cruzados em cima da mesa. Acho que isso lhe deu a resposta que ele precisava. Quando o relógio marcou exatamente 9 horas o sinal tocou e Sr. Storm se levantou. Mandou que todos pegassem os livros e virou-se para o quadro.

            Eu nunca havia estado em uma escola de verdade, mas os professores deviam soar tão robotizados quanto Sr. Storm?

            Matemática. Matemática. Matemática. Eu costumava adorar matemática. Mas isso era quando meus pais me ensinavam. Ela parecia bem menos descomplicada quando meu pai traçava as fórmulas com perfeição e explicava para que e porque cada número estava no lugar. Mamãe inventava macetes para mim quando eu era pequena tais como:

            Para a taboada do 9 decorar

            Não devo me desesperar

            De um a nove vou a limpo passar

            De baixo para cima, e então ao contrário continuar.

           

            E não dava uma semana até que eu dominasse o conteúdo. Mas geometria com a Srta. Kom-Nome-Russo-Que-Não-Sei-Escrever-E-Nem-Ao-Menos-Pronunciar, enquanto estou morrendo de sono é impossível. A hipotenusa e os catetos viram o show de dança de HipoteMusa e Castetas e elas começam a dançar a dança dos números, deixando minha cabeça confusa. HipoteMusa tinha acabado de aterrissar na terra das linhas retas e suas Castetas davam cambalhotas na sua direção mas não conseguiam chegar quando achei ter ouvido alguma coisa direcionada a mim.

            -Hum?

            -Muito bem! O resultado é um!

            Disse a Srta. K. – Como eu decidira chamá-la para não ter que pronunciar seu sobrenome – exultante. Matt, do outro lado da sala abafou uma risada e quando virei-me para ele, ele segurava o caderno com um bilhete.

            Jogada de sorte.

            Ps.: Está babando.

            Sobressaltada passei os dedos pelo queixo e encontrei-o molhado. Matt reprimiu mais uma risada e afundei o rosto nos braços.

            Dois horários de Matemática custaram a passar. As meninas me encontraram enquanto eu estava caída ao lado do meu armário tentando reunir forças para me levantar e abri-lo. Meredith me ajudou a levantar do chão.

            -Você ter razão Caroline, mas só dessa vez. Nessie você está péssima.

            -Obrigada.

            Digo de má vontade.

            -Você dormiu alguma coisa essa noite? - Elena perguntou. Parei um pouco para pensar e acabei me distraindo, lembrando da dança divertida dos números e retas. -Nessie!

            -O que? Qual foi a pergunta?

            -Oh pobrezinha.

            Disse Bonnie, se apiedando de mim. Elas parcialmente me guiaram e parcialmente me arrastaram até o refeitório, onde deixaram que eu dormisse a uma hora que tínhamos para o almoço em cima dos meus braços cruzados.

            A aula de TEC consistia na programação de computadores – ou a desprogramação no caso daquela aula. Quando sentamos em frente ao computador, minha mente acendeu. Vou mandar um email para minha família!, pensei alegre. Esse pensamento até me livrou do torpor do sono por um tempo, mas não demorou muito para apodrecer e morrer. Eu não só não tinha a menor ideia de onde estava, como a internet estava proibida. Toda ela, menos o site que deveríamos derrubar. Era um site simples, e não havia nenhum contato em que eu pudesse escrever:

            Fui raptada! Socorro! Tem um vampiro psicopata conspirando para me matar!

            Ou algo desse tipo. Não que alguém que não fosse a minha família ou Jake fosse atender a esse pedido. Provavelmente achariam que era um tipo de trote e nem ligariam. No fim da aula de TEC eu estava mais exausta e deprimida do que no começo do dia, se é que isso era possível.

            Caroline me arrastou até a aula de Ciências Sociais tagarelando sobre como ela conseguira derrubar o site de primeira e como adorava aquele professor, que era um gatinho e tudo o mais. Para falar a verdade, eu não havia prestado muita atenção no professor e nem estava prestando muita agora, mas fingi que estava ouvindo e que estava dando todo o apoio que seu falatório precisava - O que no caso de Caroline são dois acenos de cabeça.

            A aula de Ciências Sociais se revelou apenas como se portar na frente dos humanos, o que é muito engraçado, porque tem um humano ensinando. O Sr. Demetrio – Que foi eleito na minha cabeça o professor com o melhor nome do dia – Dizia que devíamos nos alimentar de dia, não roubar crianças ou adolescentes para o almoço ou jantar – principalmente se são seus vizinhos -, não devíamos nos confinar em casa. Devíamos nos socializar, apenas o bastante para não parecermos párias, mas não o bastante para criar amigos íntimos demais que poderiam descobrir o segredo.

            Aquela aula não teria muita utilidade para mim, por isso, consegui mais um período para tirar uma soneca.

            A aula de música – Assim como o nome do Sr. Demetrio – Foi eleita por mim, a melhor do dia. A Srta. Birdwell era quase uma menina, eu daria a ela no máximo 21 anos, e ainda assim seria exagero. Ela esbanjava juventude por onde quer que passasse. Simpatizei com ela logo de cara. Foi a primeira professora que me cumprimentou e não pareceu robotizada durante suas ações na aula. Todos deviam escolher um instrumento e ela auxiliou a cada um sobre como seguir as notas.

            Muitos pegaram os violões, guitarras e baixos. Bonnie pegou o pandeiro. Meredith a bateria. E foi então que eu o vi. Ao lado da bateria de tambores verdes-esmeralda, havia um piano de cauda negro envernizado. Era tão parecido com o do meu pai que quase pude vê-lo sentado no banco tocando para a minha mãe a sua canção de ninar. Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto fui até lá. Levantei a tampa e encontrei as teclas de marfim brancas e pretas, familiares como velhas amigas.

            -Coloque seus dedinhos aqui. Isso. Essa é a base para tudo. Agora você vai poder tocar o que você quiser.

            Dizia papai enquanto eu estava em seu colo no banco do piano. Meus olhinhos castanhos absorviam tudo o que viam e ouviam com uma voraz curiosidade.

            -Até a canção da mamãe?

            Perguntei ansiosa sorrindo. Ele tocou meu nariz e sorriu serenamente.

            -Sim, até a canção da mamãe.

            Concordou.

            Antes que pudesse evitar, a melodia me veio a mente e meus dedos estavam se movimentando pelo piano de cauda clássico que ocupava boa parte da sala. As teclas certas quase pulavam a frente dos meus olhos dizendo que eram as próximas. Tinha tocado tantas vezes com meu pai para a minha mãe, que tinha certeza que não importava quanto tempo se passasse eu jamais esqueceria as notas, a melodia e nem a expressão orgulhosa que eles faziam quando eu terminava, como se nada no mundo fosse mais belo e perfeito do que o que eles tinham criado. Era quando eu me sentia mais feliz no mundo todo. Quando terminei a sala toda estava em silêncio e eu estava encarando as teclas, ofegante, com as lágrimas teimando em irromper pelos olhos.

            Eu não estava mais cansada. Eu estava com saudade. Eu queria ir para casa. Fugi da sala para o banheiro quando os aplausos começaram.

            Eu fiquei trancada no banheiro até que deram pela minha falta.

            -Nessie? Você está ai? Sai daí!

            Elena pediu do outro lado da porta do privativo. Fiz que não mesmo que elas não pudessem ver. Se eu não podia fugir, eu passaria o resto dos meus dias trancada naquela cabine de banheiro.

            -O que aconteceu na sala de música?

            Meredith perguntou. Apertei os braços ao redor dos joelhos, puxando-os mais para perto do peito, tentando me manter inteira.

            -Eu tocava aquela musica com meus pais em casa.

            Admiti. Elas ficaram quietas do outro lado da porta, provavelmente pesando as palavras. Mas não havia palavras. Não havia o que pudessem dizer, porque nada daquilo iria me levar para casa, para a proteção do meu namorado, pais, tios, e avós. Nada do que elas dissessem tiraria da minha mente os horrores que eu vivera nos últimos dias. Nenhuma palavra tiraria o desespero que crescia dentro de mim, e nem consertaria meu coração partido cheio de dúvidas. Resumindo, se eu não tomasse uma atitude, eu realmente ficaria ali a vida toda.

            Levantei e abri a porta da cabine olhando para as duas. Recebi um abraço grupal. Mas não me fez sentir melhor.

            No momento que eu cheguei no meu quarto a minha vontade era destruir tudo. Colocar tudo abaixo. Por não ser meu quarto. Por ser uma substituição barata do meu quarto. Do que importavam todas aquelas coisas? Eu não tinha mais vontade de vê-las. Era melhor que tivessem ficado em casa e que eu tivesse começado tudo do zero. Daria a sensação de algo novo. Mas aquilo era como estar em um quarto todo feito com pontas presas, coisas que eu fui obrigada a deixar para trás. Joguei-me na cama e golpeei meu travesseiro até me cansei e caí deitada. Tirei Caçadora de baixo de mim e abracei-a contra o peito.

            Quando levantei os olhos para o criado mudo, o meu sorriso e de Jake numa foto me encaravam felizes. Quem me visse naquele estado jamais imaginaria que eu era a mesma menina da foto. Puxei a fotografia para baixo das cobertas e deixei-a lá, perto de mim. Apesar da frieza do vidro, isso me lembraria do calor do corpo dele. Pelo menos eu esperava que sim.


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