Merry Christmas escrita por Jojo Almeida


Capítulo 1
So This's Christmas!


Notas iniciais do capítulo

Heeey!
Sim, uma one&shot para comemorar o natal!
Minha cabeça está ficando cada vez melhor para escrever alguma coisa de Harry Potter...
O que antes era, tipo, impossível!
Bom, melhor aproveitar em quanto ainda dura.
Espero que gostem, porque isso aqui deu um trabalhão!



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"Merry Christ'mas"

Harry olhou distraído para as bolas vermelhas que pairavam acima da sua cabeça, no teto de seu escritório. Se reencostou na cadeira, colocando as mãos atrás da cabeça, e forçando-a para trás de forma que ficasse apenas parcialmente encostada no chão, sem tirar os olhos delas. Uma brisa suave entrou pela janela, balançando-as levemente e tornando completamente turva a imagem dele que refletiam.

                Quando se realinharam, ele pode se ver novamente. Ali estava ele, Harry Potter, com seus 40 e poucos, pai de três adolescentes. Ainda tinha os mesmo cabelos desgrenhados, apesar de agora levemente grisalhos, os olhos verde-esmeralda e o queixo quadrado. A camiseta azul-acinzentada de mangas compridas arregaçada até os cotovelos e aberta na frente para revelar outra azul escura, os jeans gastos e as meias brancas, simplesmente porque era preguiçoso demais para usar sapatos dentro de casa. Não lhe parecia nenhum herói, chefe do departamento de aurors. Também não era mais o garoto-que-sobreviveu. De fato, não era mais um garoto. Não que isso importasse. Para ele era apenas Harry Potter, o pai desleixado de três adolescentes, de 40 e poucos e que tinha orgulho de poder chamar a mais linda das mulheres de esposa.

                Ajeitou os óculos, se sentindo uma criança de novo. De alguma forma, aquelas bolas vermelhas que coloriam o teto de seu escritório lhe pareciam mais olhos de sangue do que alegres enfeites. Davam a estranha sensação de estar sendo observado por um milhão de inimigos, esperando para atacar, fazendo com que se sentisse pequeno e indefeso.

                Distraído, balançou a varinha entre os dedos, se esquecendo de que ainda a segurava. Podia fazer tudo sumir, com um simples aceno. Mas não, não faria. Gina perguntaria sobre isso mais tarde, e ele não teria o que responder. Era véspera de natal. Não sabia por que, mas era ainda mais estranho do que as bolas vermelhas pensar sobre isso. Véspera de natal. 24 de dezembro. Produziu uma careta engraçada, se lembrando do porque de este dia lhe soar estranho. Era o dia anterior ao natal. Isso mesmo.

                Harry Potter não gostava do natal.

                De fato, ele odiava o natal. E tinha bons motivos para isso.

                Quando era pequeno, por exemplo. O natal é, e sempre será, uma época mágica para crianças. Era uma época mágica para se lembrar, regada de surpresas, mistérios, presentes, risos, sentimentos e momentos em família. Havia toda aquela hesitação na espera do velho gordo que traria os presentes durante a noite, ou a animação de estar com familiares que não via a muito. Natal, acima de tudo, era a época de se estar com a família. Ah, família. Os Dursley eram sua única família.

                Não que eles gostem de lembra-lo disso. Sem presente, para que Harry não esperasse por eles. Sem risos, para que ele não se sentisse bem-vindo. Sem mistérios, porque esses não eram dignos dele. Nada de sentimentos, pois estes estavam acima dele, em um patamar que o garoto estava destinado a nunca alcançar. Sem mágica, porque, afinal, mágica não existe.

                Eles se esforçavam, se esforçavam ao máximo, para deixar bem claro que ele não era aceito. Que aquele não era, e nunca seria, seu lugar. Que não o queriam ali e que nunca, nunca, se atreveriam a chama-lo de família. Porque, no fim das contas, Harry Poter não merecia ter uma família.

                Ele não era convidado para jantar na véspera de natal. Ficava no seu armário, debaixo da escada, ouvindo os gracejos do tio e elogios da tia para o primo. Ficava lá, sentindo o avassalador cheiro da bem preparada ceia de Petúnia e imaginando, apenas imaginando, o que havia feito de tão ruim para estar ali.

                Amaldiçoava os Durslay por terem o trancado. Depois amaldiçoava a si mesmo por ter amaldiçoado-os, pensando que fosse sua, e apenas sua, culpa estar ali. Dizia a si mesmo, baixinho que tinha de ser um bom garoto. Tinha de obedecer os tios, por mais injustos que fosse, tinha que parar de implicar com o primo. Dizia que tinha de ficar sentado, calado, e aguentar o que quer que a vida lhe trouxesse sem reclamar disso. Dizia, e repetia varias vezes para a ideia tomar força, que tinha de ser um bom garoto.

                Pensava que assim, talvez, estaria sentado naquela mesa com eles no próximo ano.

                E apagava a luz, fechava os olhos, indo dormir feliz e esperançoso. Na manhã seguinte acordava com os pesados passos de Duda na escada, correndo para abrir os presentes. Balançava a cabeça para se despertar melhor e ia até a sala, mesmo já sabendo que não haveria um só presente para ele. Observava enquanto o primo rasgava inúmeros embrulhos de papel colorido e desprezava presentes que Harry já mais se atreveria a sonhar em ganhar. Mais tarde, Petúnia desceria a escadas em seu hobe rosa e cara de cansaço, para colocar a cafeteira nas chamas de seu fogão ao mesmo tempo em que murmurava um “Feliz Natal para você também, Harry” sem ao menos olhar em seus olhos.

                Quando Duda entrasse na cozinha, ela daria um abraço caloroso no filho e ouviria pacientemente as reclamações do filho sobre os presentes, tentando ameniza-las com promessas que o tio teria de cumprir com até três dias de prazo. Em seguida o tio desceria as escadas e tomaria uma xícara de café, desejando felicidades a todos (apesar do fato de Harry não estar incluído em todos ficar bem implícito). Começaria a falar do almoço que Petúnia preparava para seus familiares todos os anos. Então olharia para Harry com um olhar misto de nojo, desprezo e repulsa, mandando que ele se arrumasse pois dentro de cinco minutos o deixaria na casa da Sra.Figg para que ele não se metesse em assuntos onde não era chamado.

                Harry voltava para o minúsculo espaço que fora lhe cedido dentro do armário e trocava de roupa, indo para a cozinha novamente para anunciar que estava pronto. O tio ia pegar as chaves do carro, enquanto ele lançava um ultimo olhar para a enorme pilha de presentes de Duda, tão invejoso quanto se permitia sentir.

                Por outro lado, não era justo lembrar-se apenas dos Dursley quando se tratava do natal.

                Houvera os natais em Hogwarts. Ah, esses foram os melhores natais de sua vida. Os primeiros pelos quais ele teve um motivo a esperar por eles, os primeiros que se mostraram únicos a sua própria forma.

                No primeiro natal em Hogwarts, Dumbledore lhe enviara a capa. Também ganhara um dos famosos suéter de Molly, uma caixa dos horrendos doces de Hagrid, feijõezinhos de todos os sabores de Hermione e a Nimbus 2000 da professora McGonagall. Foram os primeiros presentes que ganhara em toda a sua vida, longe dos horrores que era a seu irritante cotidiano com os tios. Naquela noite, sentado à mesa com todos os Weasley, ele se sentiu parte de uma família pela primeira vez em toda sua vida. Sentiu que alguém realmente se importava com ele.

                No segundo ano ganhara tantos presentes quanto no primeiro, e no terceiro ano ainda ganhara a Firebolt de Sirius (apesar de na época não saber que fora o padrinho que lhe enviara o presente).

                No quarto ano, durante o Torneio Tribruxo, houve aquele horrendo Baile de Natal em que ele e Rony foram com as gêmeas Patil. Não fora um final feliz em nenhum dos lados, mas não podia negar que fora um dos piores natais de sua vida. Apenas estava nervoso demais com a ideia do torneio em si e a sempre constante pressão dos outros competidores.

                Já no quinto ano, o natal fora exatamente como todos os outros que passara até então dentro dos limites do castelo. A ideia da volta de Voldemort, que o assolara durante tanta semanas, simplesmente desaparecera como mágica durante esse curto período de tempo. No sexto ano, estava seguro em Hogwarts. E, principalmente, estava com Gina. O que tornou este um dos melhores natais até então.

                O natal seguinte dele, foi o que estava naquela busca doentia e ingrata pelas horcruxes de Voldemort. Era um época tão sombria, em que estava tão afastado de tudo por um propósito até então inalcançável, que sequer se dera conta que era natal até as ultimas horas do dia.

                Vinha sendo uma semana terrível. Rony havia os deixado há um bom tempo e, finalmente, Hermione admitira que sentia sua falta. Era como um espécie de sombra que raia sobre os dois, mais pesada do que podiam aguentar.

                Harry decidira que queria ir até Godric's Hollow. Ver o que havia deixado para trás. Ver o que perdera quando Voldemort lhe tirara seus pais.

                Parecia, no geral, uma ideia bem masoquista. Como se ele quisesse sentir dor de propósito. Mas, não, era mais que isso. Era um grande passo. Ele nunca estivera em sua cidade até então, quem diria pensar em visita-la. Quando viu aquelas inscrições de rabiscos, em pequenas palavras de força, percebeu que era a escolha certa.

                Mas, apenas quando estava ajoelhado na neve suja do cemitério, encarando as duas lápides de mármore branco com Hermione ao seu lado conjurando  uma guirlanda de lírios, Harry percebeu que não era algo assim tão simples. Que era uma enorme decisão, que talvez ele ainda não estivesse pronto para isso.

                Foi só aí, que Harry percebeu o quão significativo o natal deveria ser. E, principalmente, o quão sem significado o natal era para ele.

                Esse natal é um dos que ele queria esquecer. Um dos que, com certeza, estava no topo de sua lista de razão para odiar o natal.

                E ainda houveram tantos natais depois desse! E ainda houveram tantos natais depois desse! No primeiro natal depois da guerra, Harry estava tão nervoso em fazer Teddy se sentir parte da família que esquecera completamente o fato de que tinha que buscar Gina na estação (o que gerou uma quantidade infindável de problemas, acredite).

Teve aquele em que Harry estava na escola de Aurors e saiu em sua primeira missão. Passou a noite em uma caverna fria e afastada, nos Alpes de algum ponto no norte da frança. Este fora bem deprimente, considerando que estava sozinho no meio do nada com apenas um vento frio de companhia.

 Houve aquele natal em que Molly ficara tão animada por ter todos reunidos depois de tanto tempo que acidentalmente esquecera o peru no forno, provocando um inofensivo incêndio que exterminou quase toda a cozinha d’A Toca. Ou aquele em que Percy trouxera uma namorada para conhecer a família, mas a pobre coitada ficou com tanto medo que sequer tentou falar com ele durante um mês inteiro.

                Teve aquele em que Harry e Gina brigaram. Estavam noivos, mas a briga foi tão feia que as pessoas falaram que não estavam mais por um bom tempo. Harry ainda tinha calafrios ao lembrar daquela noite horrenda, então esse natal ia para a lista dos que definitivamente não tiveram um bom fim.

                Teve aquele em que Hermione anunciara sua gravidez no mesmo dia em que Gina descobrira acidentalmente a sua (o que era bem engraçado, para falar a verdade). Ah, e aquele em que Rony quebrou o pulso ao tentar colocar a estrela no alto da arvore sem qualqer tipo de ajuda mágica por pura teimosia.

                Houve também o natal em que James fugira de casa, só para saber como era a sensação (Gina ficara tão preocupada que Harry também não gostava muito desse natal). Ou o natal em que Alvo pulara da janela do terceiro andar graças aos belos conselhos do irmão mais velho (por sorte, ninguém se machucou).

                Outra coisa engraçada sobre o natal, era como a data deixava as pessoas estranhamente nostálgicas. Como se os anos passados fossem repentinamente mais emocionantes, ou mais interessantes do que o que estava acontecendo. E, na opinião de Harry, isso era bem irritante.

                - PAAAAAAI! – Lily gritou por ele, entrando no escritório de repente, num furacão ruivo muito conhecido. Harry estrangulou um grito, arregalando os olhos e caindo da cadeira de tanto susto.

                Ele ficou um segundo lá, parado, olhando para as bolas vermelhas do teto. É. Realmente pareciam olhos de sangue.

                - Nossa, Pai, você precisa ter mais cuidado. – A caçula se lamentou ajudando-o a se levantar. Ele coçou a cabeça desleixadamente, ajeitando os ósculos. Lily estava com quinze anos. Nesse exato momento, ela usava um suéter vermelho que Molly fizera para ela e uma calça jeans escura. Era engraçado como seus olhos castanho-esverdeados estavam com um brilho de irritação.

                - Tá, tá. – Harry resmungou tentando se lembrar do que estava fazendo antes de começar a olhas os enfeites e pensar sobre o natal. – Algum problema?

                - Problema do tipo grande. – Lily respondeu cruzando os braços e parecendo ainda mais irritada. – James e Al não param de...

                Ela parou de falar de repente, inclinado a cabeça para a esquerda e analisando-o criticamente. Como se visse mais do que Harry podia sequer imaginar, e entendesse completamente alguma coisa a seu respeito que ele mesmo não entendia.

                - Tá tudo bem? – perguntou com um tom de voz meio estranho. O pai franziu o cenho para ela, meio curioso com a pergunta assim tão repentina.

                - Claro, Lils – Harry respondeu, sem nenhuma vontade de explicar tudo aquilo que andava pensando até então. Esses pensamentos era o tipo de coisa que os pais não contam para os filhos assim de repente, como um livro aberto.

                - Então se anima. É quase natal! – Lily disse sorrindo animada, em quanto dava um tapinha fraco em seu braço e saia do escritório, esquecendo  completamente de seu problema ‘do tipo grande’, ou simplesmente decidindo que não era nada tão importante assim.

                Harry sorriu involuntariamente ao observá-la desaparecer no corredor, sem conseguir se conter. Ele esquecera de um detalhe. Um detalhe tão grande e tão importante, que era estranho ele ter esquecido dele desse jeito. Um detalhe que praticamente era a coisa toda.

                Porque, agora, Harry Potter tinha uma família. Sua família. Que ele vira crescer, que participara dos momentos mais importantes de sua vida. Filhos que o amariam exatamente como ele os amava. Pessoas que se importavam verdadeiramente com ele, lhe davam um lar e um motivo para se importar. O natal era, além de uma data nostálgica e estranha, a união, a família. Harry finalmente tinha uma família.

                E só isso eram motivos suficientes para não odiar mais o natal tanto assim.


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Notas finais do capítulo

E... Fim.
Bom, um feliz natal para todo mundo!
Tudo de bom e do melhor para vocês, galera!
Mereço reviews?
Beijos,
Jojo