Cuidado Com O Que Você Deseja escrita por Katie Anderson


Capítulo 3
Capítulo 3




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Capítulo 3

   A varanda de Annie era ótima. Pena que Annie não era.

   Annie é estranha. Tipo, beeem estranha. Ela coleciona moscas mortas! Isso parece normal? Não responda! Bem, eu não a culpo. Ela realmente teve uma infância difícil. Ela tem apenas 13 anos, e o colégio que ela estuda (não é o Yorek High School, graças a Deus!) é seu 5º colégio em 6 anos. O Meriwether High School, é uma escola para pessoas com uma inteligência acima da média. Por isso ela foi expulsa das outras escolas, quando os professores iam ensinar alguma coisa, ela olhava para o quadro e já entendia. Como ela é bem impaciente, ela não tinha paciência para ficar escutando a explicação, o que fazia ela sair de sala pelo menos três vezes por semana. Outro problema dela que foi descoberto recentemente (há mais ou menos dois anos) é que ela tem um negócio chamado de TDAH (Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade). Não é uma coisa grave, mas deixa-a meio impulsiva e raramente parada quieta, além de não conseguir fixar sua atenção em uma só coisa por muito tempo. No começo a gente achou que ela tava comendo muito açúcar, mas depois de levá-la no médico, vimos que ela era uma criança hiperativa. No começo eu achava divertido, ela nunca cansava e a gente brincava com ela de varias coisas, como: pega-pega, esconde-esconde, e assim por diante. Hoje é bem chato, ela nunca se aquieta, mal deixa a gente terminar uma pergunta! Tipo, é realmente muito chato e beeem esquisito. Não sei como eu aguento ela. Pior. Não sei como Dylan, o namorado dela (não me pergunte, também não sei como minha irmã consegue um namorado mais carinhoso e legal do que o meu) agüenta aquela garota todo santo dia. E olha que Dylan tem a mesma idade de Rick (15 anos)!

   O nosso dia-a-dia é mais ou menos assim:

   – Annie, o que você vai querer para o jant... – Mamãe perguntou semana passada, quando não sabia o que fazer para o jantar. Acho que ela ainda não sabe a coisa mais básica que as pessoas fazem com um telefone: impedir que as crianças morram de fome pelo simples motivo de que suas mães só sabem cozinhar sopa. É por isso que os restaurantes sempre dão aqueles ímãs de geladeira com o telefone deles escrito. É para quando abrirmos a geladeira, e não encontrarmos nada lá dentro, telefonarmos.

   – Sopa não, já enjoei. Que tal pedir uma pizza? Ou quem sabe empada? Pastel seria ótimo! Eu já disse que eu adoro peixe? – Falar não é a palavra certa, Annie simplesmente despejava uma palavra atrás da outra em cima da gente. Ainda bem que não damos mais açúcar pra ela!

Bem, eu odeio ser modesta, mas minha idéia foi realmente brilhante. Serio, á prova de falhas. Eu sairia lá pelas onze e meia (meus pais costumam ir dormir geralmente lá pelas onze horas), desceria pela árvore enquanto ninguém estivesse olhando (se não for muito alto, é claro. Se for, eu faço uma corda de lençóis como aquelas que a gente vê na TV.). E tirar Annie do quarto era algo simples de resolver: não existe nada que uma pequena chantagem não resolva. Como disse anteriormente, é beem difícil dormir com o meu quarto estando daquela cor. E o quarto de Annie é todo branco, igual a um hospício (o que, na minha opinião, é sem dúvida o lugar perfeito para ela). Como é que isso vai me ajudar a tirá-la de lá? Elementar, meu caro.

   – Annie? Cadê você? – pergunto ao sair do quarto dela...

   – Aqui na cozinha.

   Chegando lá, encontro ela ao lado de um pote de biscoitos de chocolate vazios. E ela estava cheio de farelo no rosto e tinha do seu lado um copo de leite. Estava literalmente na cara que ela tentou fazer um lanchinho antes de ir dormir.

   – Annie! O que você pensa que você está fazendo?

   – Comendo! – Responde ela.

   – Você sabe que isso é proibido! Comer biscoito depois das dez, quero dizer. Espera só até mamãe...

   – Nããão! Não conta pra ela Cath! Não! Ela vai me matar! Na última vez... – Ela começou a dizer.

   – Tá, tá, tá! Não conto! Mas com uma condição. Eu quero ir á uma festa amanha à noite e preciso do seu quarto.

   – Como assim?

   – Mamãe não me deixou ir, e eu vou ter que passar pela sua janela. – Ela fez uma cara meio esquisita, mas continuei. – Agora, escuta. Mamãe sabe que eu não vou dormir no meu quarto nesses primeiros dias, ela acha que eu vou fugir no meio da noite pra ir dormir na sala. Eu preciso que você vá dormir na casa de Jéssica amanhã. Ou na de Dylan. Ou na de Ash. Tanto faz, desde que você esteja fora de casa.

   – E isso tudo é pra que? – Perguntou ela, desconfiada.

   – Você não está entendendo. Eu tenho que ir pra essa festa. Mas eu só consigo se você ajudar.

   – E se eu não quiser?

   – Aí eu conto pra mamãe que você comeu biscoito agora e chocolate antes do almoço, e aí ela vai pintar o SEU quarto de rosa.

   – Ah, fala sério Cath. Você não faria isso. Quer dizer, chantagear a própria irmã? E, tipo, ela NUNCA me deixaria dormir na casa de Dylan!

   – Ah, vê se fica quieta. Além disso, você não sabe do que eu sou capaz de fazer. – Uuuui. Agora eu acho que eu peguei um pouquinho pesado. Mas acho que Annie estava certa. Quer dizer, acho que eu realmente passei um pouco dos limites.

   – Ta, ta bom. Vou sair. Bem, vou tentar ir à casa de Jess. Mas você sabe como mamãe fica quando eu saio de casa. Você vai ter que me ajudar a convencê-la também.

   É verdade. Sempre que Ann saía de casa, algo ruim acontecia (não com as pessoas com quem ela se divertia, mas com a gente, no dia seguinte). Nunca nada que fosse grave, só assustador. E estranho. Geralmente ela ia a algumas festas do pijama, aí virava a noite jogando vôlei ou pulando corda. Só que ela não dormia no dia seguinte. Ela simplesmente ficava bem agitada. Só que o organismo dela funciona de forma diferente, então a gente dava refrigerante para ela dormir (recomendação do médico). Mamãe estava muito estressada comigo para deixá-la sair de casa. Mesmo com um pouco de medo, prossegui.

   – Mããããe! Vem aqui um segundinho?

   – Sim querida. O que vocês querem? – Ela disse isso com uma doçura tão grande que eu quase acreditei que aquele plano maluco fosse dar certo. Iria conseguir isso fácil, fácil.

   – Mãe, nós temos algo programado para amanha à noite? – Perguntou Annie, com o rosto já lavado. Saí da cozinha e fui pra sala, admito com um pouco de medo, não fazia ideia de como aquilo poderia terminar.

   – Se tem algo eu não sei, além da festa que sua irmã NÃO VAI.

   – Valeu aí, mãe! – Mesmo na sala, com a TV ligada, eu escutei e percebi o sarcasmo na voz dela.

   – De nada. Algum dia você ainda vai me agradecer por eu não ter deixado você ir naquela festa.

   – Oooi! Podemos voltar a conversar, por favor, mãe? – Intrometeu-se Annie.

   – Sim, querida. Estava pensando em sair com seu pai, por quê? Você tem algo programado?

   – Na verdade, eu estava a fim de sair. Sabe, ir ao Mcdonalds e depois dormir na casa de Jéssica.

   – Não, não! Você ir ao Mcdonalds? Totalmente fora de cogitação! Sabe quantos carboidratos tem no hambúrguer de lá? E eu acho que eu não preciso mencionar como você fica depois de comer muito carboidrato.

   – Ah, mãe! Fala sério. A garota pede comida chinesa, se esse é o problema. Deixe-a ir. Já basta eu estar presa aqui em casa por dois meses! – Achei que já estava na hora de interromper, senão ela não poderia sair, e eu não poderia “dormir” no quarto dela e nem ir à festa! – Por favor, aí eu posso dormir no quarto dela!

   – Ah, então era para isso que você queria sair, não é, Annie? Só para sua irmã dormir no seu quarto.

   – Não, né mãe? Eu não vou à casa de Jess já faz séculos!

   – Você foi lá há duas semanas. – Ann ignorou a mamãe e eu fiz o mesmo. 

   – E, além disso, eu disse que dormiria na sala de estar, e esse foi o único motivo pelo qual eu ainda não pintei aquela parede com o meu corretivo!

   – Corretivo? – Perguntaram minha mãe e Annie ao mesmo tempo.

   – Claro. Ou o meu esmalte branco. Mas respondam logo de uma vez, Annie vai sair ou não? Porque esse bendito diálogo já está me dando dor de cabeça. – Cara, minha mãe ia ficar com MUITA raiva depois daquilo.

   – Tá, ela vai. Mas sem Mcdonalds, senão eu mesma vou buscar você e as duas estarão de castigo, no seu caso Catherine, seu atual castigo será apenas (bem) prolongado e dois meses para cinco meses e meio.

   E Catherine obtem uma quase vitória! Agora só falta convencê-la de dormir no quarto de minha adorável irmã.

   – Entãão, já que Annie vai estar fora amanhã à noite, nada me impede de dormir lá no quarto dela, não é mesmo, mãezinha? – Minha mãe não resiste quando a chamam de algo no diminutivo.

   – Ok, tanto faz. Faço qualquer coisa se você me deixar em paz.

   Uh-hu! Agora sim, era uma vitória definitiva. Nada que me impedisse de ir àquela bendita festa.

   Tinha uma coisa que me impedia, sim. Não fazia idéia de que roupa usar. Mas, fora esse pequeno detalhe, aquilo parecia perfeito. Quer dizer, mesmo eu detestando Jennifer do jeito que ela é, já estava na hora de eu terminar com Rick. Estava mais do que na hora de ele saber que eu não sinto por ele o que ele sente por mim. Ah, duvido. Do jeito que ele é, ele nem vai ligar, e no dia seguinte já vai ter um encontro com Jennifer, e lá no shopping, o lugar preferido de ambos.

   Resolvi ligar para Kat, enquanto escutava McFly no último volume (minha mãe não proibiu isso, apenas sair de casa, ver TV e entrar no meu querido PC, mas esses dois últimos ela já esqueceu, pois eu estava falando com Daniel no MSN há poucos minutos). Não iria contar a parte de fuga improvisada, apenas do castigo.

   Tuuu... Tuuu... fazia o telefone. "ATENDE LOGO ESSE TELEFONE KATIE! Foi você que me meteu nessa roubada!" Eu berrava por dentro.

   Tá, não foi algo absolutamente muito inteligente conversar com Kat, pois eu sabia que ela não iria ficar comigo na festa, pois estaria grudada no Chad e nas suas amiguinhas líderes de torcida.

   “Katie?” perguntei.

   " Oiii Caaath! Então, você vai à festa amanhã, não é?"

   “Claro que vou, anta. Só tenho alguns problemas para resolver antes de ir."

   “Não me diga que sua mãe descobriu tudo e você ficou de castigo. Sabe, eu não conseguiria aguentar se isso acontecesse, já que você disse que ia, e sem você aquelas ridículas das animadoras de torcida não iriam me deixar entrar na festa e tal. Mas, eu sei que você é mais cuidadosa do que isso, e tão sortuda que...” tagarelava Kat no telefone, totalmente enganada.

   “Caramba, Kat. Você já considerou ser vidente como uma profissão?”

   “Mentira, né?”

   “A parte do castigo, não. Mas eu já consertei tudo. Minha mãe disse que eu posso ir à festa já que ela já tinha me dado permissão, e coisa e tal.” É, para que servem as amigas? Acho que ela acreditou. Bem, a boa notícia é que eu não era a única pessoa que estava escutando música nas alturas. Katie estava escutando Avril Lavigne.

   “Tá bom, então. Se é o que você diz... então, voltando ao seu problema. Qual é?" Perguntou bem curiosa, se quer saber minha opinião.

   “É que... sabe...” Além de líder de torcida, Kat sabia dessas coisas de moda e passa pelo menos uma hora por dia dizendo se o que as pessoas estão vestindo é legal ou não. Ela com certeza vai ficar decepcionada se eu admitir que eu não sabia o que vestir.

   “Diga logo o que é, lesa. Eu vou tentar não te matar."

   “É que... eu não sei o que vestir.”

   “Ah, fala sério Catherine! Todo esse drama só por isso. Será que eu posso dar uma passadinha aí agora ou você prefere vir aqui?”

   “É, eu acho que eu vou ir para sua casa mesmo. Chego em 15 minutos. Beijo, gata."

   “Certo. Te vejo daqui a pouco. Beijo.”

   É, acho que não tem problema eu sair hoje. Minha mãe só determinou que o castigo começa amanhã. Acho que eu posso fazer praticamente o que eu quiser hoje, já que amanhã eu vou ter que arrumar a cama e lavar a louça. Argh!

   Pelo menos de uma coisa eu estava certa: minha mãe meio que deixou eu ir para a casa de Katie. Bem, ela não quis deixar, mas como meu pai estava na sala, ele me deu uma ajudinha.

   – Mãe, pai... Posso ir à casa de Katie agora enquanto ainda não estou de castigo?

   – Acho que não, querida. – Disse a chata da minha mãe.

   – Claro que sim, querida. – Disse meu pai. – Por que ela não pode ir? Afinal, ela só começa aquele bendito castigo amanhã. Não veja um só motivo para ela não ir. Deixa a pobre menina se divertir um pouco antes de ficar em casa quase que permanentemente.

   Não disse que o meu pai era legal?

   – Roberto! – Exclamou minha mãe ao mesmo tempo em que eu dava pulinhos e gritava Uh-hu! Enfim, tudo deu mais ou menos certo. Pelo menos minha mãe não surtou o tanto que eu achava que ela ia surtar; Kat não me matou porque eu não tinha o que vestir; e Annie meio que me "doou" seu quarto para eu poder colocar em prática amanhã a noite, o meu plano anti-falhas.

Chegando à casa de Kat, não encontrei os pais dela. Apenas seu irmão chato, Matt. Ela me disse que os pais haviam saído para uma festa ou algo do gênero. Seria tão bom se a vida dos meus pais fosse tão sociável como a dos pais dela! Eu já tinha ido lá muitas vezes, mas Kat nunca tinha me mostrado seu closet. Era tão... enorme. Grande. Cheio de coisas. Nunca tinha visto tantos sapatos! Acho que ela deve ter uma obsessão por sapatos e bolsas, pois foi o que eu mais encontrei lá.

   – Então... vamos ver o que combina com você aqui. – Disse Kat. Eu ainda estava chocada por realmente ver tudo o que ela tinha.

   – Kat, não precisa fazer isso. Eu devo ter uma calça jeans ou uma blusa, sei lá.

   – Nem pense nisso. Você vai usar um vestido. Nem tente me contrariar, você sabe que isso não funciona. – É verdade. Quando Kat coloca algo na cabeça, não há nada no mundo que faça mudar de idéia.

   Então ela começou a me mostrar um moonte de vestidos. Curtos, não tão curtos, curtíssimos... e por aí vai. Nenhum vestido longo. Quer dizer, um vermelho-vinho, lá no fundo, mas esse era para um casamento e ela só usou uma vez. Jamais me emprestaria. Ah, eu nem queria mesmo. Sabe, que tipo de pessoa usaria um vestido longo numa festa de adolescentes?

   Mas então eu vi. Um vestido bem curtinho, mas um rosa vivo. Mais ou menos da cor do meu quarto. Lindo. Sinceramente, não sei o que deu em mim; odeio rosa, não importa qual a tonalidade da cor, se é clara ou escura, simplesmente odeio. Mas aquele vestido, sei lá. Me fez esquecer totalmente esse ódio.

   – Acho que pela sua cara você gostou desse daqui. ­– Ela parou, pegou o rosa e refletiu por um minuto – É, ele combina com você. Nem sei por que eu comprei, não fica muito bom em mim. – É isso. Simples assim. Kat compra um vestido e depois não sabe por que comprou.

   – Sério, Kat? Quer dizer, você tem certeza?

   – Leva, se não eu vou me sentir ofendida!

   Então o problema do vestido já estava resolvido. Eu tenho umas sandálias de salto que vão ficar lidas com ele, então já é outro problema resolvido. A questão do cabelo, não tem problema. Vou com ele solto, mesmo. Meu cabelo é lindo, um liso-ondulado castanho-loiro então também resolvido. Então, por que eu sentia uma total insegurança por causa de tudo isso? 


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