Helena apagou a luz do seu quarto e deitou em sua cama. Queria pensar e nada como a escuridão para lhe clarear as idéias. Seus sentimentos estavam tão confusos, suas emoções tão distorcidas...

                Lembrou do último beijo que recebera da vocalista. Fora um beijo tão mágico! E lembrou dos beijos que a namorada lhe dava. Eram beijos muito diferentes. Era como se com Babi fosse amor e com Manu, paixão. Seus beijos eram quentes, sempre que entravam em contato pegavam fogo. Em Bárbara encontrara a tranqüilidade de um amor maduro, sem tormentas.

                Pensar na baterista lhe afligiu ainda mais o coração. Ela não merecia aquelas dúvidas todas. Sempre fora uma ótima namorada e nunca dera motivo algum para insatisfação.

                Sempre soubera que Babi era a pessoa ideal para fazê-la feliz, mas por algum motivo desconhecido, essa sua convicção estava abalada. “E se todo esse tempo foi a Manu o meu verdadeiro amor?” se perguntou, cheia de medo.

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                O celular vibrou e Manuella o pegou rapidamente, pensando que João Pedro mudara de idéia.

                                               Estava aqui deitada, pensando em você, quando começou a tocar uma música que me lembrou um pouco da nossa história. Chama-se Agenda.

                A escritora suspirou. No meio do sofrimento por perder o namorado, esquecera-se completamente da loirinha.

                Secou as lágrimas que ainda rolavam e mudou de posição, sentando-se na cama e abraçando suas pernas. O escuro lhe fazia bem. Não queria ver nada, não queria fazer nada, queria apenas que a dor passasse.

                O celular vibrou novamente.

                                               Ninguém vai entender porque te aceito assim, mas ficar sem você é bem pior pra mim. Conselhos de amor cansei de escutar, quem não se apaixonou, não pode me julgar, dizer que estou errada...

                Pierrot acariciou a tela do aparelho. Sem saber, a mais nova estava lhe fazendo um grande bem, estava se tornando presente naquele momento tão crítico.

                Ela se permitiu sorrir, afinal, alguém ainda a queria, mesmo com os seus defeitos e confusões. Sentia-se melhor.

                Mais uma vez o celular vibrou.

                                               Deixa eu errar? Pra esse amor quero me entregar, quem sabe o meu dia vai chegar porque a vida sem você não faz sentido...

                Queria dizer sim, queria ser amada, queria nunca mais sofrer de amor. Alicinha a amara por tanto tempo, merecia uma chance. Mas amava João Pedro e, apesar de tudo, queria se acertar com ele.

                Sentiu-se dividida entre os dois. Muito mais dividida do que estava quando JP terminara tudo.

                O celular voltou a vibrar.

                                               Deixa eu tentar? É perigoso, mas vou arriscar, com toda a minha força vou lutar pra você ficar só comigo...

                Com essa mensagem se decidira. Agora era uma garota solteira. Não custava nada tentar refazer a sua vida. Confiante, digitou: “Sim, eu deixo!” e enviou para a garota...

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                Alice mal acreditou quando leu aquela mensagem. Seu coração disparou e se não tivesse deitada, provavelmente cairia pois suas pernas ficaram completamente bambas. Digitou “Jura?” e enviou. Cada segundo parecia uma eternidade. Suas mãos suavam absurdamente e estavam trêmulas como há muito não ficavam.

                Após alguns minutos, o celular finalmente tocou.

                                               Sim, juro... Só que preciso de tempo porque meu namoro acabou de terminar. Ainda não estou pronta para me entregar por completo, mas quero te conhecer melhor, quero descobrir porquê você me encanta tanto. Boa noite!

                A loirinha não conseguiu conter um enorme sorriso que despontou em sua face. Depois de tanto tempo, tantas lágrimas, ela finalmente conseguira uma chance...

                Não conseguiu dormir naquela noite. Fizera tantos planos, construíra tantos sonhos. Seu coração batia feliz como não fazia há alguns anos. Seu corpo irradiava felicidade e esperança. Sua vida voltava a ter algum sentido e ela não conseguia deixar de sorrir bobamente.

                Sabia que na Inglaterra alguém estava sofrendo as custas de sua felicidade e aquilo até lhe doía, mas não conseguia deixar de se sentir a garota mais sortuda do mundo, a garota mais feliz do mundo.

                Agora ela realmente tinha chance de ter a única pessoa que amara na vida... E não a desperdiçaria...

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                João Pedro viu o raiar do sol chegar na mesma posição que ficou quando saiu do computador. A dor era tão grande que não tivera nem forças para se mexer. O travesseiro era prova do quanto chorara, do quanto àquela noite fora longa.

                Olhou para o violão abandonado no chão e resolveu pegá-lo. Sentia vontade de colocar toda a dor que sentia para fora, queria diminuir o vazio através da música. Deixou a melodia lhe invadir e aos poucos a letra também foi aparecendo. Depois de algum tempo, a canção estava pronta.

                Ele ligou o computador, abriu o audacity e começou a gravá-la. Em seguida, anexou a música e enviou para a ex por mail.

                “Não há mais nada que possa fazer. Agora é só esperar.” pensou, indo tomar banho.

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                Pierrot acordou exausta. Demorara muito tempo pra conseguir dormir e seu rosto estava bastante inchado. Apesar de ter dito sim, ter dito que daria uma chance para Alice, seu coração ainda pertencia ao ex. Ainda era com ele que ela queria estar. E foi pensando nele, lembrando dele que conseguira adormecer toda encolhida, tentando não ser rasgada pela dor que lhe consumia.

                Levantou, ligou o computador e foi tomar banho para ir para a faculdade. A água foi caindo e se lembrou dos vários banhos que tomara com João Pedro. Um sorriso aflorou em seu rosto, para morrer em seguida. Ele terminara tudo. Se o amor dele fosse tão forte, ele aceitaria dar um tempo, aceitaria até que ela estivesse convicta de seus sentimentos.

                Desligou o chuveiro, saiu do banheiro e se vestiu. Em seguida, foi ver sua caixa de emails e se surpreendeu ao encontrar um do rapaz.

                Só tinha uma palavra escrita. Dizia: escute! Ela baixou o arquivo e aumentou o som para que pudesse escutar melhor.

Um lugar, nós dois e as estrelas

E o escuro me fez descobrir

Estava ali o que eu tanto esperava

E os teus olhos a me refletir

E o desejo chegou de repente

E meu mundo parou nesse olhar

Nada mais importava pra gente

Nos seus braços deixei me levar

Onde eu errei?

A falta que você me faz

Ninguém me fez

Só penso em

Ver o seu sorriso outra vez

E o céu no seu olhar

Eu hoje conto passos

Nessa escuridão

E tudo ao meu redor

Não faz sentido algum

Se você não voltar...

                As lágrimas se misturavam com os sorrisos. Nem tudo estava perdido. Pegou o celular e ligou para o amado.

                - Desligado, merda, deve estar na aula!

                Manu estava eufórica. Tudo que queria era se acertar com João. Não precisava de tempo e de nada, naquela noite percebera que seu amor ainda estava intacto. Resolveu que ligaria para ele mais tarde e foi embora pra faculdade.

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                Cínthia estranhou tanta animação na amiga.

                - O que aconteceu de tão bom?

                - Eu e o João tínhamos terminado. Mas vamos fazer as pazes ainda hoje. Eu o amo mesmo, Cínthia. Eu o amo de verdade! – disse sem conter um sorriso bobo.

                A baixista revirou os olhos. Falar naquele cara lhe embrulhava o estômago.

                - Você tem o novo número da Letícia? – perguntou querendo mudar de assunto.

                - Tenho sim, ta aqui no meu celular. Olha aí enquanto vou ali no banheiro.

                A loirinha foi vendo os contatos na agenda e viu que antes da tecladista, estava o número de João Pedro. Uma idéia maléfica passou por sua mente e por mais que achasse isso errado, resolveu que talvez fosse uma boa opção. Copiou o número do rapaz e o sentenciou.

- Em breve você terá uma grande surpresa, Joãozinho... – disse debochada.