Eu soava, estava nojenta, mas nada parecia importar além do fato de que eu tinha sonhado com Ned. Foi tão real tudo aquilo. O cheiro dele, seu toque, tudo. Até mesmo o modo como seu cabelo estava perfeitamente desarrumado.

Levei a mão tremendo a boca, para abafar um grito. Eu me lembrava do ar envolta de meu corpo, me envolvendo como um grosso cobertor. Me lembrava do horror que senti ao me imaginar caindo no chão e virando nada mais que pueira. Mas o que mais me marcou, o que me fazia tremer e querer gritar, era lembrar de como os braços de Ned se soltaram do meu corpo. Como ele me soltou, me deixou cair, mesmo prometendo não deixar. De como ele não me quis por perto.

Olhei casualmente minhas unhas e pulei até o céu quando vi o estado delas. Eu podia ver o sangue seco nelas, uma parte de pele em algumas. A pele de Ned. De quando eu me agarrei firme a ele, afim de me segurar o bastante para não cair no abismo.

Levantei da cama, tocando meus pés quentes no frio chão e estremessendo por todo o corpo. Sem me importar, fui até o banheiro, e lavei minhas mãos o mais forte que pude, na água mais gelada que a torneira permitia. Levantei os olhos para o espelho e abri o armário.

A gilete me encarava. Porque ela parecia tão atraente? Ela me causaria dor, eu sabia disso. Mas algo dentro de mim sabia que nada seria maior do que a dor em meu peito. A dor de lembrar de como Ned me deixou ir.

"Não faça isso, Val" a voz de Ned disse dentro de minha cabeça.

- SAÍA DA MINHA CABEÇA! - gritei para Ned.

Peguei a gilete e num ato impensado, desmontei a lâmina, cortando meus dedos com o gesto. Eu não me importava.

- Você não manda em mim. - falei segundos antes de cortar o pulso esquerdo.

O sangue começou a sair automaticamente, jorrando e sujando tudo a sua volta. A dor me preencheu. Era quase como um remédio. Era bom. Por um momento, eu não senti a dor mais forte. Aquela que eu não podia ter controle.

"Não faça isso, Val." a voz de Ned continuou repetindo na minha cabeça, recusando a me deixar esquecer dele.