Surreal escrita por Dark Sheep


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Está ai o prólogo.
Esperamos que gostem. (:



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Surreal

Escrita por e Dark Sheep

Prólogo

.......

“Eu ando em uma estrada solitária

A única que eu sempre conheci

Não sei até onde vai

Mas sou só eu, e eu ando só”

A noite se fazia gélida e sombria, como em todos os dias do ano. Os finos flocos de neve que caiam, cobriam o asfalto escuro com um gigantesco manto branco.

Na cidade em que vivo o frio sempre se faz presente. As ruas, as casas, as pessoas... Tudo ali era cinza. As nuvens espessas cobriam o céu, inabaláveis, dia após dia, impedindo os raios de sol de iluminar-nos aqui em baixo.

A “cidade cinzenta” como é conhecida, vive diariamente submersa nas sombras, escondida por entre a neblina. Completamente alheia a tudo que ocorre em sua volta.

A cidade é um local isolado do mundo. Ninguém nunca vem aqui. Ninguém nunca sai daqui. Ela é como uma fortaleza impenetrável, cercada por muralhas impossíveis de atravessar ou destruir.

Eu nunca gostei deste lugar, eu sempre odiei o frio e o escuro. Assombra-me essa morbidez persistente, que me assola todas as vezes que piso os pés fora de casa.

E no inverno tudo fica ainda pior...

As ruas completamente vazias, nenhum sinal de seres vivos por perto. Olho para os lados, encarando as ruas que parecem nunca ter fim, escolhendo para que lado devo seguir. É difícil tomar uma direção certa nesse lugar. As ruas, às vezes, acabam por nos trair, levando-nos a lugares onde não se desejava ir, encontrando coisas das quais temiam em ver. Nos perdendo, nos encurralando, nos amedrontando.

Eu estava no meio de um cruzamento completamente deserto como tudo em volta, as botas de couro afundadas na neve branca. Não usava agasalhos, nunca os usei. Estava com minha típica calça jeans e camiseta laranja. Os pelos dos meus braços se eriçando devido ao frio.

Avancei alguns passos, decidido a caminhar em frente, chutando a neve dos meus pés. Como sempre, eu estava sem rumo, preso em minha obsessão de procurar pelo que eu sabia que jamais encontraria. Mas era inevitável, a ânsia que sentia por encontrá-lo era grande demais para suportar. O sangue em minhas veias esquentava só de pensar na remota possibilidade de achá-lo.

Eu não poderia deixar de procurá-lo, nunca!

Mesmo tendo de mergulhar na mais profunda e gelada escuridão para encontrá-lo, eu o faria.

A cidade cinzenta poderia ser assombrosa demais para mim, mas ela ainda não era capaz de amedrontar-me ao ponto de desistir de achá-lo.

Avancei mais alguns passos sobre a neve gélida e adentrei na neblina que se fechou ao meu redor, envolvendo-me com seu manto escuro. O vento frio chicoteava minha pele, fazendo as maçãs do meu rosto corarem com o contato violento.

As noites na cidade cinzenta eram sempre sombrias e de certo modo perigosas. Não era comum ver pessoas transitando àquela hora da noite. Na verdade, não era comum ver muitas pessoas pela cidade, ela mais parecia uma cidade fantasma, desabitada há algumas décadas. Mas haviam sim pessoas que viviam ali, todas trancadas em suas casas com a falsa idéia da “segurança do lar”. Todos hipócritas a meu ver.

As pessoas daqui sabem que nem as paredes firmes de concreto, nem as portas de trancas resistentes são empecilhos para o verdadeiro mal que se esconde por entre as sombras da névoa. Todos tem conhecimento de que o mal ultrapassa qualquer barreira que for posta a sua frente. Ele é forte, indestrutível, e todos se recolhem apenas para não ter que de encará-lo frente a frente.

É claro que ele me assusta também, mas por culpa da minha obsessão, sou obrigado a enfrentá-lo todos os dias. Meu desejo é mais forte do que qualquer coisa, é mais forte até que o mal dessa cidade. Por isso, sou o único que caminho à noite por aqui, sou o único que adentro na névoa escura, a fim de cumprir o meu propósito.

Ao contrário do que pensam, o mal não é nenhum serial killer desses de filme de terror. Não, ele é muito pior. Ele não pode ser visto, não pode ser tocado e seu ataque é tão rápido que é impossível de evitar.

Desde que cheguei a essa cidade, tento lutar contra ele; escapar de suas garras assombrosas para ir de encontro ao que tanto anseio. Por sorte, até hoje tive sucesso em minhas fugas. Mas sempre que o sinto se aproximar, me gela o sangue, o suor escorre de minha face e meu coração parece bater tão alto que o sinto ecoar por todo o espaço, indo diretamente para a escuridão assustadora.

Felizmente, ele é o principal motivo pelo qual nunca fui pego...

Encaro a minha frente, enquanto sinto a escuridão fechando-se atrás de mim. Acelero meus passos, avistando de longe a visão que sempre anseio em ver.

Ele estava lá, impecável. Os braços cruzados, escorado em sua lustrosa moto negra, que até hoje me pergunto como é possível que ele consiga pilotá-la no meio de toda essa neve. A calça jeans justa, sobreposta por suas botas que assim como as minhas, estavam afundadas na neve. Sua jaqueta de couro perfeitamente alinhada ao corpo esguio e definido, aberta o bastante para que eu possa ver a camiseta preta que usava por baixo.

Eu sorri. Os olhos negros e impassíveis se encontrando com os meus azuis. Fazendo-me perder o ar por alguns instantes, enquanto meu coração saltava do peito, batendo tão rápido que pensei não poder suportar. Seu pequeno sorriso de lábios colados me fazendo suspirar, sentindo valer cada segundo de toda a cansativa busca.

— Finalmente te encontrei. — Disse a ele, após alcançá-lo.

Como esperado, ele riu.

— Já lhe disse que não me encontrará enquanto não acabar com esse mal que te persegue. — Respondeu ele, sua voz grave e levemente rouca. Apontando com o queixo, para a terrível escuridão que eu sabia estar atrás de mim. — Como sempre, fui eu quem encontrou você.

— Mas não é possível! Como você...

— Tudo é possível aqui nesta cidade. Agora vamos, suba na moto. Antes que essa escuridão nos engula. — Ele disse, dando-me as costas e subindo na moto. Fazendo-me subir logo em seguida.

Eu não entendia como ele era capaz de sempre me encontrar, nunca me dando a chance de fazê-lo por mim mesmo. Tudo que eu ansiava era simplesmente achá-lo, apesar de sempre o ver. Queria eu ter a chance de dizer-lhe que o encontrei.

Mas bem, na noite de hoje eu já havia perdido minha chance. E enquanto corríamos a toda velocidade, fugindo da escuridão atrás de nós, papai adentrava em meu quarto, me despertando mais uma vez de um sonho do qual eu não queria ter de acordar.

“Estou andando por todo o caminho
Que me divide em algum lugar na minha mente
Na linha do limite entre o abismo
E onde eu ando só”


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?
Esperamos muitos comentários *-*