Eu acordei em uma confortável poltrona reclinável. A sala era muito grande, mas eu só via uma escrivaninha, minha poltrona e uma cama de cachorro, aparentemente muito confortável também.

Nas paredes haviam centenas, não, milhares de telas. Não televisões, eram como se fossem pequenos granitos onde uma imagem distorcida aparecia. Era como se a tela focasse em uma pessoa somente. Várias pessoas andavam de um lado para o outro olhando as telas e anotando coisas em seus tablets.

– Ela acordou! Venham ver! - Uma pessoa disse, não reconheci quem, mas todos se viraram para me ver.

– Eu, estava dormindo a muito tempo? - Vários riram.

– Você estava no... mundo. - Um deles falou com desprezo.

– Lembra-se de nós, 3? - 3? Meu nome era um número? Incrivelmente me lembrei de uma propaganda que dizia: "Aqui, você não é um número". Bem, no céu, você é um número... Curioso...

– Perdão, não lembro nem mesmo de mim.

– Tragam o Cheiro da Infância! Rápido! - Repitindo... Curioso. A Infância sempre foi tratada com letra maiúscula por mim. Isso, é uma coisa realmente importante. Eles me deram um frasco belíssimo, o frasco era incrivelmente quente, carregado de sonhos e esperança. Eu senti o cheiro, doce, frágil, simples, perfeito. Nesse exato momento me lembrei de muitas coisas. Uma mulher e um homem me olhanda com curiosidade em um belíssimo jardim, Éden. Joana D'Arc queimando na fogueira, princesas, Charlie Chaplin, Hitler, eu sentada em uma escrivaninha, exatamente igual a que se encontrava ao meu lado, só que em uma sala diferente. Eu comecei a ter convulsões.

– Rápido! Águas da Loucura! Tragam as Águas da Loucura! - Eles me levaram um pequeno frasco e jogaram em meus olhos, que queimaram e eu me senti como se estivesse sendo presa. Então, apaguei. Sim, de novo.