The price of evil... escrita por Laís


Capítulo 38
We've walked these alleys a thousand times


Notas iniciais do capítulo

Então caras, aqui estamos nós. Só lamento por vcs que vão ler isso aqui pq tem mt mimimi hj. Primeiro, acho que todo mundo já se acostumou com a ideia de ser despachada, né? Depois das frescuras do Nyah eu percebi o quanto eu tinha que terminar essa fic aqui mesmo onde ela começou pq já faz quase um ano e a minha forma de pensar/escrever muito muito, caso eu precisasse reescrever ela em outro site, acho que eu mudaria MUITA coisa.
Segundo, já concluí a fanfic. Depois de postar esse capítulo apareço aqui p postar o último e o epílogo.
Vou deixar o resto do chororô pro próximo.
Agradecimentos ao serviço de beta prestado pela minha beta q tem a obrigação de betar o que eu mando ser betado.



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Clarisse

“Será que podemos perdoar uma assassina ainda que ela tenha tido o melhor dos motivos?”

Não recordava em qual livro havia lido aquela frase, porém, durante o voo, fora ela que transitara em minha mente como algo de sumo importância.

Eu possuía a plena consciência de que nem de longe eu tinha tido o melhor dos motivos, mas...

- Ah, que grande bosta – resmunguei para mim mesma interrompendo meus pensamentos enquanto massageava as têmporas. Aquilo tudo era confuso demais, como uma espécie de filme que eu peguei pela metade e agora nada fazia sentido por mais que eu pensasse e criasse diversas hipóteses para o porquê de tudo.

- Como disse? – o rapaz da poltrona ao lado me fitou com o semblante confuso. Era charmoso e até bonito, mas nada que me fizesse ter vontade de estabelecer qualquer conversa.

- Desculpa, pensei um pouco alto.

Ele riu, tentei retribuir o sorriso, mas meus músculos faciais não me obedeceram.

Comecei a repassar mentalmente tudo que ocorrera.

Primeiramente, Jace era um filho da puta mentiroso e eu estava com vontade de quebrar a cara dele. Segundo, meu pai ainda estava vivo e, terceiro, eu tinha uma meia-irmã.

Engoli em seco ao me lembrar da criaturinha pálida de olhos tão vivos. Eu usurpara o direito dela de crescer com uma mãe ao seu lado para lhe aconselhar ou lhe dar colo. Bufei. Como se Lisa fosse esse tipo de mãe.

O rapaz da poltrona ao lado mais uma vez me olhou como se eu o tivesse chamado. Sorri e fiz um gesto que tentava dizer que estava tudo bem e que ele deveria parar de se meter nos meus pensamentos.

O tempo foi se arrastando, meu estômago revirava com a simples ideia de rever meus antigos “colegas de banda” que arrumavam confusão por pouco motivo. Como eles estariam agora? Barrigudos e com princípio de calvície? Por muito tempo reprimi minha vontade de procurar informações sobre eles na internet e agora eu simplesmente não sabia o que esperar.

Em algum momento, cochilei. Acordei somente quando a voz melodiosa da aeromoça anunciava que estávamos prestes a aterrissar.

Suspirei fundo enquanto ignorava o enjôo que ficava cada vez mais forte. Acho que nunca estive tão nervosa em toda a minha vida.

-x-

Enquanto acenava para um táxi com minha única mala de tamanho médio tentei pensar em qual seria meu próximo passo. Eu não esperava que todos me recebessem da forma mais cortês. Zacky possivelmente ainda guardava mágoas de mim, Valary e todo o resto com absoluta certeza me culpavam pela morte de Michelle.

Entrei no carro e me preparei para as explicações que eu deveria dar.

- Qual o destino?

Olhei para o cartão de crédito em minha carteira com o nome de Jace. Não pretendia me esconder, aliás, até achava bom que ele soubesse onde eu estava.

- Para o hotel mais caro que o senhor conhecer - falei sorrindo. – Hoje não sou eu quem está pagando.

O motorista sorriu, parecia estar me achando uma maluca, porém não contestou e me levou para um hotel bonito próximo ao aeroporto. Não que eu não fosse acostumada com coisas sofisticadas, mas tudo aquilo me parecia tão desnecessário, o ambiente daquele lugar me deixou desconfortável. Apesar de rica, vovó Liv nunca fora tão extravagante. Estava decidido, por mais que eu quisesse gastar até o último centavo de Jace, no outro dia procuraria um lugar mais simples para ficar, um lugar onde eu não recebesse uma multa por qualquer passo em falso.

Depois de ter feito tudo o que era de praxe, subi e fiz o que as pessoas fazem depois de uma longa viagem. Dormi tentando me preparar para o que quer que eu fosse encontrar nos próximos dias.

Jace

- Aquela... –esmurrei a parede.

- Jace, seria muito bom se você tentasse não derrubar essa coluna, eu agradeceria.

Bree, com seus dedos longos e finos, fazia círculos ao redor dos olhos em um movimento monótono.

- Olha aqui... – apontei o dedo indicador para ela, mas ela nem ao menos olhava em minha direção. Mais uma vez não concluí a frase, o que, aliás, estava se repetindo muito naqueles últimos minutos.

- Você está começando a me incomodar e ainda não respondeu o que veio fazer aqui.

Na verdade, até eu havia esquecido o principal motivo daquela visita.

- Por que ligou pra Isabelle?

- Por que eu liguei? Bom, eu lhe digo. Por que você é um palerma que nem ao menos sabia mais o que estava fazendo. Se bandeou pro lado daquela garota e foi preciso o Ross se meter nisso tudo pra que algo começasse a andar.

Respirei fundo e quando fiz menção de responder aquelas perguntas, uma menininha irrompeu pela porta. Assim que notou minha presença, passou a andar de uma forma mais contida e se sentou ao lado de Bree, ainda com os olhos esbugalhados voltados para mim.

- Clarisse a viu? –perguntei apontando o queixo para a criança.

- Sim e acha que é meia-irmã dela – a mulher revirou os olhos em sinal de deboche. –Às vezes essa menina consegue se superar.

Abafei uma risada, não queria concordar com nada que aquela mulher dissesse, mas realmente Clarisse chegava a ser tão ingênua e estúpida que me dava nos nervos.

Dirigi-me até a porta e a abri, olhei alguns instantes para o lado de fora.

- Para o seu governo, Bree, eu providenciei que Clarisse não viajasse sozinha, caso você ainda duvide do meu trabalho - falei alto suficiente para que quem estivesse dentro da casa pudesse me ouvir e fui embora.

Isabelle

Há dois dias Clarisse estava na cidade. Sim, enfim ela estava.

No dia anterior, havia recebido uma ligação de Jace dizendo em qual hotel ela estava. Não nego que adorei ouvi-lo espernear no telefone como uma criança por estar fora do caso das Wooden Brown.

Saí do apartamento e em pouco mais de quarenta minutos eu estava em frente ao hotel onde Clarisse se hospedara. Fiquei ali por um tempo pensando no que fazer ou dizer. Aquela história já tinha ido longe demais e eu estava decidida a dar um fim naquilo.

Por anos pensei em deixar a Clarisse descobrir tudo sozinha, fazer suas próprias escolhas, mas pelo visto ela tinha sido burra o suficiente pra não fazer nada disso. Impossível de acreditar que temos os mesmos genes.

Foi quando a avistei tropeçando em seus próprios pés e quase derramando o café que carregava. Sentou-se em um banco em frente ao hotel e permaneceu lá se misturando ao pano de fundo, quase que imperceptível. Mas eu sabia reconhecer a idiota da minha irmã.

Estava diferente, pelo visto tinha colocado alguma coisa na cabeça e parado de usar uns farrapos na tentativa de uma rebelião idiota pra mostrar quem manda.

Já estava saindo do carro quando avistei alguém caminhando em direção ao lugar onde Clarisse estava. Os dois trocaram um longo olhar e por fim Vernet sentou-se ao seu lado, visivelmente constrangido.

- Puta que pariu! Eu nem sabia que o infeliz estava na cidade.

Talvez ele fizesse a coisa certa a fazer. Talvez acabasse logo com tudo isso.

Ou talvez não.

A minha conclusão, ao ver que logo atrás de Vernet mais dois caras se dirigiram à Clarisse e que cada um mostrou algo que de longe me pareceu um distintivo, era que estava tudo fodido mais uma vez.

Peguei o celular jogado no banco do carona e disquei um número que há muito eu não ligava. Chamou até cair na caixa postal, liguei mais uma vez e uma voz sonolenta atendeu.

- Que é caralho?

- Preciso da sua ajuda.

- Não to afim hoje - respondeu com um resmungo.

- Gates, a Clarisse voltou e eu preciso da sua ajuda! Deu pra entender?

Houve um silêncio do outro lado da linha e eu tive que checar pra ver se ele não tinha desligado na minha cara.

- Clarisse? Quem diabos é Clarisse?

Ok, eu não podia esperar muito que um Gates meio adormecido se lembrasse de algo ocorrido há anos.

- A Lisa, Liss, Clarisse, Clary, sumiu, foi presa, morreu... Lembra agora? –despejei as palavras sem paciência. –Então, ela ta viva e pelo visto - observei os dois caras a levarem pelo braço até um carro estacionado mais adiante – vai ser presa de novo.

- Isabelle, que porra você anda cheirando, caralho?

- Eu só preciso que você me encontre na delegacia, ok?

Desliguei o celular embora não tivesse certeza de que Brian me obedeceria, afinal, ele era o Brian.

Depois da brilhante decisão de trazer minha escova de dente para Huntington Beach, achei que seria fácil demais me aproximar de uns caras de uma banda famosa e me ver livre dos meus pais adotivos e aquela maldita mania de fazer tudo parecer perfeito deles. Seguir os passos da Clarisse e largar todos que se importavam comigo. Descobri que não era tão fácil abandonar uma zona de conforto e viver por minhas próprias custas, ainda mais quando eu nunca me preocupara em fazer uma faculdade, não demorou dois meses para que eu ligasse pro Vernet pedindo ajuda, ele por sua vez me arranjou um emprego com uma conhecida da cidade que tinha uma clínica de estética, naquela época eu não achava que isso era necessariamente uma ajuda, porém passado uns anos consegui finalmente me desfazer de todas aquelas correntes que me mantinham fixa ao mesmo lugar, com as mesmas regalias.

Minha paixonite mercenária pelo guitarrista solo do Avenged Sevenfold não me resultou em mais do que algumas noites às escondias com ele. Outro engano foi achar que aquela relação dele com Michelle fosse só de fachada, mas venhamos e convenhamos, qualquer um pode cometer esse engano. Então depois de quebrar minha cara algumas vezes, eu percebi que não estava mais em casa e que nada aconteceria da forma que eu queria, poderia muito bem ter metido o rabinho entre as pernas e voltado correndo para o lar teatral em que eu morei a vida toda, mas não faz parte da minha índole voltar atrás. O que está feito, está feito.

Saltei do carro em frente à delegacia. Aproximei-me do primeiro guarda sentado atrás de um balcão que encontrei ignorando toda a cacofonia do ambiente e perguntei por uma moça que provavelmente deveria estar detida ali. Foi difícil conseguir alguma informação já que eu sabia que Clarisse provavelmente não deveria estar usando o mesmo nome, no fim o oficial me garantiu que não havia nenhuma moça com as escassas descrições que eu passei pra ele. Dei-me por vencida e fui pra casa decidida a ligar para meu querido papai e perguntar que porra ele achava que tava fazendo.

A tarde não estava nem na sua metade quando eu entrei no apartamento pequeno e organizado, me jogando no sofá logo em seguida. Respirei fundo algumas vezes e liguei novamente para o Gates. Na terceira tentativa, ele atendeu.

- Isabelle, que diabos você quer comigo? Caralho.

- Não to afim de ouvir você falar de como amanheceu horrível por causa da sua TPM, Brian. Quero falar com a Michelle.

- O que? –berrou e eu precisei afastar o telefone do meu ouvido por um tempo enquanto ele falava que estava trabalhando com os caras na nova turnê, que eu estava sendo um pé no saco e blá-blá-blá.

E lá se vai o meu sagrado estoque de paciência da semana.

- Olha aqui Brian, cala a boca e presta bem atenção. Eu estou pouco me fodendo pro caralho da sua turnê. Eu perdi o dia de folga da clínica e você sabe quando eu vou poder fazer isso de novo? Não estou querendo a sua ajuda, quero falar com a sua mulher, então me passa a porra do número dela antes que... –não conclui minha ameaça o que fez com que eu me sentisse patética, porém a melhor parte vem agora. Brian desligou na minha cara.

Peguei uma almofada e afundei minha cara enquanto berrava reprimindo a vontade de matar aquele filho da puta. Por fim, saí de casa com a maior calma do mundo me perguntando quem eu deveria procurar primeiro. Michelle ou Clarisse?

Clarisse

- Entendeu agora?

Depois de um longo silêncio, Vernet fez a pergunta, mas eu ainda estava digerindo tudo aquilo. Eu tinha tanta coisa a perguntar, mas o que acabou escapando da minha boca pareceu não satisfazer as expectativas de Vernet.

- Então aquela menininha não é minha irmã?

- Não, ela não é.

- Mas ela é tão parecida... –minha voz se reduzira a um fio.

- Eu já disse.

Sim, já disse - pensei. Lembrei-me de como eu me sentira ao descobrir que a garotinha era minha irmã, aquele peso enorme na consciência de ter usurpado as pessoas mais importantes da vida dela. Acho que aquela era uma notícia boa, afinal agora eu tinha uma prima e consequentemente uma tia.

Nada me fazia esquecer como eu fui enganada pela pessoa que mais amei nessa vida, a única família que eu tive por muitos anos.

-Tem certeza que essa –pigarreei – é a história verdadeira?

Ele assentiu.

Estávamos em um banco do outro lado de uma praia pequena, o sol e o calor estavam me deixando zonza. Os outros dois caras seguiram outro rumo, nos deixando ali a pedido de Vernet. Eu tinha dado um jeito de conseguir entrar em contato com ele e havia sido uma surpresa ele estar na cidade, mas depois me explicou que Jace o avisara. Claro.

- Por que todo aquele teatrinho com os caras que estavam aparentemente me prendendo? Eu realmente achei que você ia me levar pra cadeia, que eu ia ser deportada e... Sei lá. –dei de ombros.

- Isabelle estava lá. Eu vi o carro dela estacionado no outro lado da rua antes de seguir pra falar com você. Precisava desse teatro por que assim eu sabia que ela não seguiria o carro por deduzir que eu estaria te levando pra delegacia, então ela primeiro buscaria ajuda com alguém.

- Isabelle me ajudando? Tem certeza? Porque já que é assim, aposto que ela está atrás de algum poste esperando pra fazer uma entrada triunfal. E a propósito, o que diabos ela ta fazendo aqui?

- A Bells mora aqui.

Permaneci atônita. Era impossível acreditar que aquela cachorra desgraçada realmente tinha se mudado pra lá, cogitei também se agora ela era amiga íntima dos rapazes da banda.

- Isso na sua cara, por acaso é uma invejinha fraternal? –Vernet parecia estar se divertido. Outro cachorro da mesma raça.

- Você deveria procurá-la, talvez ela te ajude...

- Ajudar? Sinceramente eu não consigo imaginar como ela poderia me ajudar, não tem nada que ela possa fazer e acima de tudo não tem nada que eu possa recuperar. –Esbravejei aumentando um pouco meu tom de voz, mas logo percebi que estava sendo estúpida, aliás, pela primeira vez na vida alguém estava me contando a verdade. -Obrigada. Muito obrigada mesmo, mas o que vai acontecer agora? Todo mundo vai saber que eu to viva e eu vou voltar pra cadeia? Clarisse Wooden Brown vai sair do túmulo?

Ele franziu o cenho e deu uma arfada cansada. Isso era a minha resposta. Vernet também não sabia o que iria acontecer a seguir.

-x-

Pegamos um táxi que me deixou na porta do hotel e depois Vernet seguiu sabe lá pra onde. Fui até meu quarto e desabei na cama, o interfone interrompeu o silêncio algumas vezes com uma voz desconhecida perguntando se eu iria querer o serviço de quarto, mas naquele momento eu não queria nada. Fiquei tentando trazer à tona todas as lembranças que me restavam de Liv. O tempo faz essas coisas, depois de uns anos sendo outra pessoa, você se esquece.

A primeira coisa da qual me lembrei foi de seus conselhos de como reconhecer um mentiroso, talvez se eu tivesse prestado mais atenção perceberia que ela própria era uma mentirosa de marca maior.

“Olivia engravidou muito cedo, antes mesmo de se tornar uma advogada. Era de se esperar que ela não quisesse jogar a vida dela pela janela só por causa de um deslize, então abandonou a criança. Eu sei que pra você deve ser difícil imaginar isso de uma pessoa que conviveu com você durante tanto tempo, mas é a verdade. Depois que ela se formou e se casou, Liss nasceu e foi uma adolescente muito parecida com você, com essa mania de rebelião, o que só piorou com a morte do pai. Foi aí que ela descobriu que tinha uma meia irmã e se voltou completamente contra sua avó. Depois de uns meses, pegou muito dinheiro ‘emprestado’ e sumiu a procura da irmã perdida. Olivia tinha dito em qual orfanato a criança fora deixada e foi a partir daí que Lisa começou. Quando encontrou Bree, descobriu que ela era casada. O marido de Bree era envolvido com muitas coisas pesadas, entende? Coisas que eu não posso te contar porque ainda estamos tentando prender o cara e é aí que você e Isabelle entram. Bom, primeiro Isabelle. Lisa, que tinha viajado tanto querendo resgatar a irmã, ao invés de ajudar, se afundou junto com ela. Engravidou, deixou Isabelle comigo e sumiu. O final da história você já conhece. Ela apareceu de novo e é aí que você entra. Depois da morte de Liv, ela precisava desesperadamente de dinheiro. Voltou de novo e... Enfim.”

Em seguida eu perguntei qual era participação do Jace e daquele tal de Ross na história e Vernet prosseguiu:

“Depois que descobriu onde as filhas estavam, Liv passou a mandar um quantia em dinheiro considerável para as duas. Dinheiro que era usado para fins ilegais, obviamente. Depois da morte da sua mãe e da sua avó, a polícia descobriu de onde vinha a fonte e é aí que Jace aparece como agente disfarçado. Mas ele precisava de você no território deles, entende? Por isso a sua morte forjada. Jace e Ross achavam que uma hora ou outra você os levaria até o centro de tudo. Mas você não sabia de nada, nunca soube. Enquanto você seguia com sua nova vida, eles descobriram tudo isso. E perceberam que você não tinha mais grande utilidade, até que resolveu sair do seu torpor e parar de digerir somente o que Jace te dizia. Te protegeram por que precisavam de você, agora...”

Durante todos aqueles anos eu estive fora brincando de ser outro alguém, negligenciando o passado enquanto outras pessoas decidiam o que eu deveria saber ou fazer, onde eu deveria estar e quem eu deveria ser. Não lembrava qual houvera sido a última vez que eu tinha chorado daquele jeito, porém agora as lágrimas voltavam como um aviso de que tudo estava acontecendo de novo. Dei voltas e mais voltas, mas acabei regressando ao mesmo lugar. Chorei de raiva. Raiva deles, mas principalmente raiva de mim por ser tão burra.

Em pensar que Charlie me contara quase tudo naquela noite no galpão abandonado. Tudo parecia ter acontecido em outra vida. Charlie, que trabalhava para o tal marido de Bree, sabia que eu era mais útil morta, então não fazia diferença nenhuma falar ou não falar. Além dele, Sara, ambos peões, assim como eu. Charlie quase me contara a história completa quando Jace invadiu o galpão e atirou nele, é claro que ninguém questionou sua atitude. O herói transformado em vilão, ou talvez o vilão que nunca fora herói. A última coisa que Vernet me disse antes que eu saísse do táxi vagou por minha mente por tempo indeterminado.

“Você não tem mais serventia por isso me ligaram, entregando de bandeja uma fugitiva, pra que eu te acusasse de tudo e a prendesse. Cabe a você decidir o que vai acontecer dessa vez.”

O que exatamente eu deveria ponderar? Me entregar, admitir que forjei minha morte e ser presa ou ficar a mercê de Jace e daquele velho barrigudo? Puxa, esse era exatamente o futuro que eu sempre sonhei!

O interfone tocou me arrastando para a realidade.

- Srta. Lee? Tem uma moça na portaria que insiste em se encontrar com a senhora.

Eu deveria ter deduzido que obviamente era Isabelle já que ela sabia que eu estava ali, mas mesmo assim não pude deixar de me sentir nervosa e pensar que todos sabiam quem eu era.

- Ela diz ser sua irmã. Posso mandar subir ou a senhora vai descer?

Respirei fundo. –Eu desço.

Isabelle

Alguns minutos se passaram até que uma Clarisse desgrenhada aparecesse. Não que isso fosse uma novidade, mas ela estava visivelmente mais diferente que hoje de manhã. Os olhos fundos e vermelhos diziam que ela já sabia de tudo. Ao chegar mais perto e fixar seu olhar em mim, percebi que estava usando lentes e aquela não era a única novidade, Clarisse tinha pintado e cortado o cabelo, estava um pouco mais forte – e quando eu digo “forte”, quero dizer gorda – e as bochechas mais preenchidas. Pelo menos a aparência doentia não estava mais lá.

- Oi Clarisse. –ela nem ao menos se deu o trabalho de esboçar um sorrisinho amarelo. –Que foi? Ta me olhando assim por quê? Não vai me dizer que quer me dar um abraço por favor.

Ela não sorriu. Nossa, que sem graça essa garota.

- Irmãzinha –prossegui – se eu fosse você, tratava de me bajular muito, por que eu te trouxe um presentinho.

- Não quero nada que venha de você, sua miserável.

- Epa, epa! Olha o respeito com a mais primogênita.

Clarisse apertou os olhos e continuou tão imóvel quanto as paredes do hotel.

- Vem comigo até meu carro, garanto que não vai se arrepender. –dei um olhar sugestivo pra ela que a deixou com uma cara de cachorro assustado, o que, aliás, foi impagável. Mas aquilo não era nada comparado com o pavor que tomou conta de seu rosto ao avistar Michelle apoiada em meu carro, impaciente.

É claro que a figurinha repetida não ia muito com a minha cara por que era mais do que óbvio que eu me jogava pra cima do macho dela, então quando eu praticamente a arrastei de casa e a trouxe até o hotel sem explicação nenhuma ela não ficou lá muito feliz e visivelmente com vontade de perguntar onde eu havia comprado minha blusa.

Clarisse agarrou meu pulso, as mãos estavam trêmulas. Michelle estava de óculos escuros, então era difícil saber se já nos notara.

- Isabelle... –por um instante achei que Clary fosse ter um ataque cardíaco, toda a cor de seu rosto se esvaiu, os olhos quase saltavam das órbitas e percebi que ela tinha prendido a respiração – que brincadeira é essa?

- Eu achava que vocês eram amigas –dei de ombros – daquelas que usam cordões escrito “best friend” e compartilham calcinhas.

- Por que você trouxe a Valary aqui? Ela... Não deve ter se inscrito no meu fã clube, principalmente agora que... –ela respirou fundo e por um momento pensei que não diria mais nada. – Principalmente agora que todo mundo deve me culpar pela morte da Michelle.

- O que? –franzi o cenho e fitei Clarisse tentando imaginar se ela tinha algum problema mental. –Ta louca, sua lerda? Essa aí é a Michelle! E meu Deus, que palhaçada é essa de que ela morreu? Você ta se drogando? Tudo bem que eu também confundia as duas, mas depois que a outra pariu fica muito mais fácil saber quem é quem... Opa. Estraguei a outra surpresa. Enfim, de qualquer jeito, é bom você saber que os seus amiguinhos deram cria.

Paradas sob um puta sol eu já começava a me sentir uma batata frita assando, só então me dei conta que Michelle estava olhando em nossa direção. Arrastei Clarisse que parecia plantada naquele chão e a deixei de fronte a Michelle que retirou os óculos e me encarou com um semblante confuso.

- O que foi Isabelle? Que diabos ta acontecendo?

- Michelle, querida...

- Eu não sua querida - ela ergueu as sobrancelhas em sinal de desdém. Ah, se ela soubesse que o que ela sentia por mim era recíproco.

- Tanto faz. Então, aqui estão as amiguinhas juntas de novo, podem tricotar como se eu não estivesse aqui.

Clarisse parecia que nem se encontrava ali, continuava muda e rígida como uma porta.

- Ah, não acredito! Onde estão os abraços e os “ai amiga, me conta tudo”? –as duas se analisavam perplexas e eu quase quis tirar uma foto. –Respondendo logo as perguntas de ambas, sim nenhuma de vocês é um fantasma. Clarisse, como você pode ver, Michelle está viva. Digo o mesmo pra você, Michelle. Eba, agora todo mundo tá feliz! –revirei os olhos.

Talvez um pouco de pragmatismo não fizesse mal àquele povo.


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Notas finais do capítulo

É isso gente, até breve ♥



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