- Hiroki.

A voz de Nowaki era séria. Diferente do seu doce timbre de sempre. A doçura e ingenuidade do mais novo ali deixaram de existir ha muito tempo. E o seu "Hiro-san" não havia percebido.
Convenhamos, Hiroki não era muito... participativo naquela relação. Sim, sejamos sinceros.

- Não me chame assim ! - Hiroki suspirava, virando seu rosto na direção contrária do moreno. -

Nowaki segurou um dos braços do rapaz com um tanto de força, puxando-o para perto de si. Ele queria que Hiroki o olhasse nos olhos, fixamente. A frieza de Nowaki era incerta. Os olhar profundo do alto rapaz expressava tristeza. Ele tentava esconder de Hiroki o que realmente estava sentindo, mas era impossivel.
Pequeninas lágrimas insistiam em escapar do canto de seus olhos azuis. O alto tom de voz tentava recobrir seu receio. Os olhos de Kamijou arregalaram-se.

- Eu estou farto ! Não aguento mais ! Você acha que eu não me importo com o seu desprezo comigo ? Você não me escuta, não me dá atenção e chegamos a brigar por motivos banais! - Nowaki dava uma pequena pausa, respirava fundo e prosseguia - ... Logo porque, se você tivesse um pingo de vontade de prestar um pouco mais de atenção no que digo, essas confusões nunca existiriam.

Essa voz, essa expressão em seu rosto... Aquele não era O Nowaki, pelo menos para Kamijou. O Nowaki que ele conhecia, não existia mais.
Era como se toda a angustia escondida e presa dentro de um baú a sete chaves estivesse escapado dentre os lábios daquele pediatra.

Para Hiroki, era como se o chão estivesse caindo abaixo de si. Ele ficava tonto. Aquelas palavras o atingiam como flechas em seu peito. Ele queria se defender, mas com o quê ? Hiroki, de fato, estava errado, ele só não queria admitir para si mesmo.Ele apoiou uma das mãos sobre a parede, encarando o chão, procurando um foco. A visão estava turva, a garganta travava... Ele sentia-se um grande incopetente. Aquele rapaz apenas queria fugir dos olhos do seu amado. Ele estava consciente de que isso iria acontecer... Não. Ele apenas considerava aquilo como "conclusões precipitadas", fugindo da verdade.

Os lábios de Nowaki se entre-abriram, como se ele fosse dizer algo. Ele apenas os cerrou novamente e andou em passos rápidos e furiosos até ao quarto. Kusama abria a porta do cômodo com violência e guiava seu olhar até uma espaçosa mala em cima do armário. Como era alto, não teve complicações ao pegá-la. Hiroki o seguia desgovernado.

- O qu... O que você pretende fazer com essa mala, Nowaki ?

O moreno ficou em silêncio e apenas varejava suas roupas para dentro das malas. Ele parecia estar decidido sobre aquilo.
Em cada peça de roupa que ele pegava e jogava na mala, era como se pegasse cada lembrança de Hiroki e jogasse no lixo. Era tudo muito repentino, ele agia sem pensar. Hiroki cerrava os dentes enquanto abraçava um dos braços do maior. Os movimentos de Kusama ficaram mais lentos, e ele jogava a última peça de roupa com fraqueza na mala. Talvez... ele não quisesse ir. Talvez o coração dele estivesse achando que era a ideia mais absurda do mundo, mas a sua mente estava no seu limite.

- H-Hiroki, me solte. Eu não vou voltar atrás na minha decisão.
- Aquelas palavras doiam como se estivessem retalhando seu coração. -

- De-Decisão... ? Que decisão ?!

- Eu vou embora. E eu não volto. Não volto.

- Nowaki, você não pode ir assim, nós ainda temos muito que conversar!

- Conversar? O quê? Você vai tentar me dar algum conselho agora? Jogar a culpa na diferença de nossa idade?
- O alto rapaz dizia enquanto pegava uma grande mochila, retiravando rapidamente alguns pertences de dentro de gavetas e os colocando ali. -

- NOWAKI. PARE E ME ESCUTE! - Kamijou o puxou com força, para que assim o encarasse nos olhos. Ele arrependia-se. O olhar do pediatra era tão triste e vazio que chegava a doer em seu peito. Ele assim, engoliu em seco. - Eu sei que eu posso lhe deixar de lado algumas vezes, mas é apenas uma fase. Irá passar... E-Eu nem estou tão ocupado com o trabalho assim!

- Esse não é o problema, Hiro... ki. O problema é que eu acho que você não está feliz comigo. Você não entendeu ? Você não me dá atenção, você não se alegra com o que eu faço...

 Ele retirava um documento um tanto quanto importante de uma das gavetas. Ele parou por um tempo, encarou o documento e fez uma expressão pensativa.

" O passaporte... " - Hiroki pensava enquanto engolia em seco.

- ... E, bem, de certa forma, será melhor para nós. Pensarmos se é realmente isso que queremos para nossa relação.

 Ele jogou o passaporte dentro da mochila e assim, a fechou. O celular estava no bolso da calça jeans e a mala já estava fechada. Aquelas palavras... Todas aquelas palavras, não eram palavras que Nowaki diria. Hiroki nunca havia o visto daquela maneira  tão... insensível. O problema é que não era isso que ele queria. Provavelmente, Kusama iria jogar longe a mala e a mochila e daria um forte abraço em Hiroki, como se não quisesse soltá-lo mais. Porém, se ele fizesse isso apenas seria como sempre. De novo e de novo. Aquilo precisava acabar. 

- Para onde você vai... ?

- Qualquer lugar, mas não ficarei aqui.

- Nowak...

A porta do apartamento era aberta as pressas. A mala já estava ao chão, equilibrada sobre duas pequeninas rodas e a mochila ficava em sua mão. Este soltou a mochila e a mala em frente a porta do local do lado de fora e aproximou-se de Hiroki para que ele escutasse claramente, suas ultimas palavras.

- Adeus, Hiroki.

As mãos suadas, gélidas e trêmulas de Kamijou apertavam as mãos quentes do maior. Ele não queria deixá-lo ir mas, sabia que a sua força era inútil contra a dele. Aos poucos suas mãos foram se soltando até que Nowaki batera a porta. Após isso, o silêncio profundo tomou conta do local. Kamijou jogou as costas contra a porta e escorregou lentamente até o chão frio. Suas mãos cobriram a face e o silêncio foi rompido por soluços.

A culpa era dele, totalmente dele. Se ele tivesse sido o namorado perfeito, o companheiro perfeito, ele não teria que sofrer tanto daquela maneira. Era a consequência que ele estava sofrendo. Entretanto, Nowaki ainda estava lá, ainda estava lá atrás, ouvindo seus soluços, ouvindo seus supiros. Ele apertou com força a alça da mochila, hesitando, combatendo contra si mesmo, até que passos fora ouvidos de trás da porta. Cada vez ficando mais distantes, e distantes... Até desaparecerem por completo.