Quando acordei, Hibari estava de pé, virado de costas para mim, olhando pela janela. Ao me mexer um pouco, a maca fez um barulho, fazendo-o virar-se para mim e me olhar, com aquela expressão de sempre.
– Como está? - Vi Hibird no seu ombro e sorri.
– Estou bem melhor. Acho que foi por comer uma comida tão pesada, e tão tarde como primeira refeição... - Falei quase que desnecessariamente.
– Que bom que está melhor. Vou lhe levar em casa.
Ele disse, me ajudando a levantar. Ia passar um dos meus braços pelo ombro dele, para eu me apoiar, mas eu recusei. Não precisava daquilo. Mukuro não estava por ali. Provavelmente pensou que não teria perigo, deixar Hibari pagar seu ultimo favor.
Fomos num caminho silencioso a minha casa, e ao chegar na entrada ele parou. Parecia querer falar algo, parecia que algo o incomodava, mas nada fez. Virei-me para entrar na casa, e logo virei-me de volta para ele.
– Hibari-san! Obrigada pelos ingressos, mas terei que te devolver. Eu não tenho com quem ir, de todo jeito. - Sorri sem graça, abrindo minha bolsa e catando-os. - Mas não precisa anular eles como favor. - Falei.
– Não eram um favor... E fique com eles. Se não achar ninguém para te acompanhar... Eu posso ir. Assim, te pago o outro favor. - Ele disse, sério. Um pouco inquieto ainda, talvez.
– Então iremos juntos! - Falei, sorrindo. Ele desviou o olhar.
– Tudo bem. Até logo. - Ele disse, virando-se e logo parando. - E ah. Cuidado com Mukuro. Ele pode apenas estar se fazendo de bonzinho. - Ele disse e quase começou a andar novamente, quando eu falei, um pouco mais alto que de costume, seu nome.
– Hibari-san! O-obrigada... Por tudo. - Ele ficou parado por uns segundos, e depois voltou a andar. Eu continuei sorrindo, até ele sumir aos meus olhos.
Ao entrar em casa, pensei que, logo depois de achar que Hibari não falaria comigo por pagar os favores, isso me incomodava um pouco. Talvez eu não quisesse que ele saísse da minha vida assim.

Na realidade Mukuro e Hibari me fizeram esquecer completamente meu problema. Eu não sentia aquela dor terrível no estomago quando via Tsuna. Meu coração não se sentia dilacerado ao ver um casal. Eu apenas sorria. E sorria por Tsuna estar feliz do jeito que estava. E sorria por agora, as coisas terem mudado tanto, e a mudança não ter me deixado triste. Agora eu tinha expectativas pros próximos dias, coisa que não sentia a muito tempo.
Agora eu esperava pelo dia que iria ao parque de diversão com Hibari e para meu próximo encontro com Mukuro. Eu esperava que ele não estivesse brincando comigo, e esperava que no fim disso tudo eu pudesse sorrir, como sorria agora.

Depois de tomar meu banho, recebi uma ligação. Era de Kyoko.
– Chrome-chan, você está bem? O que aconteceu hoje a tarde? Gokudera me disse umas coisas, e umas pessoas viram outr-
– Kyoko-chan, fique calma...
– Me desculpe por isso... Tentei ligar várias vezes para sua casa. - Ela disse. Eu deveria estar no banho. - É verdade que você piorou na hora da aula vaga?
– Sim. - Quando eu ia continuar, Kyoko logo continuou.
– E que Hibari Kyoya e Mukuro Rokudo estavam com você? - Ela parecia nervosa ao dizer isso.
– Kyoko-chan, tem algo que preciso te contar. - Falei, um pouco insegura.
Kyoko me disse, tranquilamente que me ouviria , então eu disse tudo. Apenas omiti sobre o que eu sentia. Sobre como a presença de Mukuro me deixava de certa forma intimidada. Falei sobre tudo. Sobre como Mukuro podia ser sincero, como Hibari podia ser gentil e sobre como eu não estava mais machucada. Kyoko ficou feliz, mas um pouco preocupada, por eu estar me metendo com os dois. Me disse para ter cuidado e que no dia seguinte iríamos conversar mais a respeito. Me perguntou se eu estava bem mais umas duas vezes e desligou.
Fui dormir logo em seguida, eu estava bem cansada ainda. Esperava estar melhor no outro dia, precisava procurar o gatinho que eu cuidava, já que não o via a dias.
Estava curiosa como seria aquele dia. Se Mukuro me chamaria para almoçar de novo, se Hibari falaria comigo, preocupado por hoje.
E ao pensar nisso, dormi sorrindo.
–
Acordei novamente na cama de casal que costumava dormir. Estava com um vestido branco, longo, nem ao menos parecia uma roupa de dormir, apesar de ser. Como sempre que acordava dessa ilusão cansativa, Mukuro estava deitado comigo, normalmente atrás de mim, mexendo nos meus cabelos longos. Os cabelos dele também eram longos, nessa realidade.
– Mukuro-sama...
– Estou acordado, minha querida Nagi. - Ele abriu os olhos e me mostrou seu sorriso de sempre. Ele sempre acordava segundos depois de mim.
– Mukuro-sama, não consigo entender. Por que isso está acontecendo? - Perguntei preocupada, virando-me para ele. - Por que eu sinto algo por ele também?
– Será que você sabe o que realmente sente, Nagi? Será que se tivesse chances, sentiria apenas por mim?
As palavras dele ficaram ecoando na minha mente. Aquela ilusão cairia sobre mim novamente, logo logo. Meus olhos foram fechando vagarosamente, enquanto sentia as mãos de Mukuro voltarem ao meu cabelo, acariciando-o. Eu não sabia responder aquela pergunta, nem que tivesse tempo para isso.