Draco observava a garota lendo nos jardins. A guerra havia acabado. Ele havia sido inocentado pelo ministério. Os envolvidos na guerra voltaram a Hogwarts para cursar o último ano perdido e lá estava ela.

A sangue-ruim. Amiga do Santo Potter e... Namorada do Weasel.

Ele sabia que não havia do que se queixar. Ela estava feliz com o cabeça de cenoura. Ele havia aprendido a lição no sexto ano, mas ainda assim, algo incomodava o loiro.

Ela havia mesmo esquecido? Havia esquecido de tudo?

É verdade que ele próprio havia lançado um obliviate na moça. Era o certo a se fazer na época...

"Eu não esqueceria nem com mil obliviates" -refletiu o loiro.

Ela havia mesmo esquecido que ele estava vivo? Ela sequer olhava pra ele.

Estava ali sentada no gramado, embaixo de uma grande árvore, lendo calmamente um livro pequeno. Suas feições demonstravam apenas... Draco não sabia identificar. É verdade que a garota vivia. Ela sorria, ela namorava o Weasley, ela continuava a melhor aluna da escola... Mas algo não se encaixava.

Draco sacudiu a cabeça para afugentar os pensamentos. Quem não se encaixava ali era ele. Um ex-comensal, um sonserino rejeitado, um filho patético. Um amante reprimido.

Estava ciente de que assim que o ano letivo acabasse sua mãe lhe arranjaria um casamento arranjado. Uma Greengrass ou até mesmo Pansy Parkinson... Ele não se importava de qualquer maneira.

As lembranças do sexto ano estavam vivas em sua memória. Ele pretendia guardar todas as memórias que possuía de seus motivos pra sorrir enquanto esteve na escola. Os motivos se resumiam a quadribol e... Hermione Granger. Draco lembrava de tudo.

O rapaz fechou os olhos por alguns segundos e inspirou o ar lentamente. Lembrou-se de quando consolou Hermione naqueles mesmos jardins, da dança que tiveram, de suas tentativas vãs de afastar-se dela, de seus ciúmes, de quando a beijou pela primeira vez, de quando a beijou pela última vez de quando a obliviou...

O sonserino observou a massa de cabelos castanhos da garota, que agora mais parecia uma mulher devido a maturidade que adquiriu na guerra, se agitarem com a brisa morna que acalentava os terrenos da Escola.

Seus pensamentos dirigiram-se a garota, e ele desejou que ela pudesse ler sua mente.

"Você esqueceu que eu estou vivo? Você esqueceu tudo o que tínhamos. Você esqueceu... Esqueceu sobre mim? Você esqueceu o que sentíamos por dentro? Você chegou a sentir algo?"

Mal imaginava o loiro que do outro lado dos jardins, a grifinória mais inteligente de Hogwarts dirigia seus pensamento a alguém, que ela sequer sabia quem era.

Após o episódio de Harry no sexto ano, quando ele quase matou o Malfoy no banheiro da Murta, Hermione havia desenvolvido estranhos pensamentos. Eram mais como flashs... memórias que ela acreditava serem dela mesma. O curioso é que nada daquilo podia ser real. Não fazia o mínimo sentido.

Danças no jardim com um desconhecido sem rosto, beijos em uma biblioteca diferente, lágrimas e abraços... mais beijos num quarto com flores? Que diabos era tudo aquilo? Não podia ter acontecido com ela. Ela nunca havia deixado de namorar Rony desde o sexto ano.

"Absurdo" -Pensou ela voltando sua atenção ao seu exemplar de Romeu e Julieta, a versão bruxa. Havia desenvolvido um estranho sentimento em relação a aquele livro. Algo nele a perturbava e ao mesmo tempo a acalmava. Sempre que podia, ficava lendo e relendo suas páginas gastas.

Sentiu uma brisa morna acariciar seu rosto e balançar seus cabelos. Inconscientemente a castanha fechou os olhos. A guerra havia acabado, ela havia voltado a Hogwarts junto com Rony e Harry e todos aqueles que havia perdido o sétimo ano lutando. Sabia que a qualquer momento o namorado a pediria em casamento, estava feliz com isso, mas... Faltava algo. Ela sentia constantemente que estava se esquecendo de algo.

"Mas o quê?" - Pensou a garota frustrada.

Draco estava vagando em seus pensamentos. Ele se recordava de uma melodia que ouvira em algum lugar no mundo trouxa. Andava vagando e se aventurando, sempre que podia, no mundo que antes odiara tanto. Descobriu que por vezes um universo sem mágica era mais mágico do que se podia imaginar. Apreciou bastante a música e a culinária trouxa... Pena que não podia revelar a ninguém sua admiração, afinal, quem acreditaria? Voltou a pensar na música. Era cantada por uma garota, americana pelo sotaque. A música falava sobre o ato esquecer... Na realidade era algo como uma súplica para não esquecer. O que era irônico, devido a situação atual do bruxo.

Hermione abriu os olhos e fitou o jardim. Deparou-se com algo bizarro. Draco Malfoy a encarava do outro lado do jardim. Estava sentado no meio da grama. De frente pra ela. Apenas metros e mais metros de grama verdejante os separavam. Como ela não reparou naquilo antes? Que diabos ele fazia ali? O que estava pensando?

A moça não resistiu e decidiu tentar invadir a mente do rapaz. Ele podia estar tramando algo contra ela...

Não. Não era isso. Hermione, de uma maneira que nem mesmo ela podia explicar, confiava mais em Malfoy do que em si própria.

Estava curiosa no final das contas... Ele devia ser um bom oclumente, mas ela iria tentar...

O rapaz percebeu de repente que Hermione estava o encarando de volta.

"Há quanto tempo será que ela me viu?"

O rapaz vascilou em seus pensamentos por uns segundos ou mais, mas uma coragem desconhecida o fez sustentar o olhar da garota. Ela tentou invadir sua mente, a princípio ele simplesmente bloqueou tudo. Estava acostumado a bloquear seus pensamentos contra o antigo Lorde. A mesma bravura inédita o fez abaixar as barreiras e deixar que a garota visse o que pensava. Mais do que isso, deixou que ela visse o que ele sentia. Era arriscado, mas ela provavelmente não iria entender, ou não se importar. Talvez achasse que ele havia enlouquecido...

De súbito, uma canção, que mais parecia uma melodia de ninar, encheu os pensamentos de Hermione. Ela ainda encarava Malfoy e sabia que ele havia abaixado a guarda. A letra da canção era algo como:

Em algum lugar nós erramos, nós éramos tão fortes, nosso amor é como uma canção mas você não quer cantar mais. Você se esqueceu...De...Nós...

A garota não entendeu direito e parou com a legilimência no mesmo instante. Olhou bem para o garoto e apesar de nunca ter certeza após o ocorrido, pode jurar que o viu falar:

–Não esqueça.