Capítulo 17

“Você sabe que nunca vai se dar bem, não é Nara?”

Minha voz era só um sussurro. Minha mente estava com mil e dois pensamentos ao mesmo tempo. Será que Megan sabia que minha mãe era a Rainha Carmim e meu pai o Rei Dark? E que eu era a maldita princesa perdida. Tantas coisas para se pensar quando se tem uma faca pressionada no pescoço por uma doida ciumenta. Nara deu mais um riso, enfatizando meu pensamento.

“Sabe como eu vou me dar bem , querida?”, ela perguntou, mas eu sabia que era retórica. “Eu vou te matar com um único golpe na garganta. Verei seu sangue escorrendo. Então curarei seu pescoço e direi aos outros que tem te matou foram as sombras.”, ela sorriu como a pessoa mais doce do mundo.

Faltou pouco para eu cuspir no rosto dela. Mas, novamente, olhei por cima do ombro dela, mas dessa vez. Atraiu a sua atenção. Seus olhos escuros se arregalaram e ela olhou na mesma direção que eu.

“O que você está olhando, verme?”, ela virou um pouco do seu corpo, fazendo com que a faca desencostasse um pouco de meu pescoço.

Um surto de adrenalina fluiu dentro de mim e antes que qualquer coisa pudesse me deter, eu me esquivei da faca e me joguei na direção de Nara. Dei uma cotovelada em seu barriga e a vi recuando de dor. Se eu não estivesse tão concentrada em tirar aquela faca da mãe dela, falaria umas poucas e boas.

Suas mãos pareciam garras de ferro em volta da faca. Tinha cuidado ao pegar na lâmina e mesmo ela se contorcendo um pouco por conta da cotovelada, ainda tinha força. Tentei dar outro golpe nela, mas isso a fez desequilibrar e me levar junto para o chão. Eu sabia que, se perdesse essa disputa com a faca, seria o meu fim. Mas eu não poderia desistir.

“Eu juro, garota, que quando pegar essa faca foi te furar em todos os lugares humanamente possível.” , Nara ameaçou puxando a faca com força. Não larguei, sentindo a lâmina cortar a palma e fechando os olhos de dor. “E vou começar arrancando esses lindos olhos que Ethan tanto gosta.”

Nós rolamos mais um pouco, minha boca presa em uma linha reta, porque se eu a abrisse, seria para gritar de dor. Nara também não estava fazendo um bom trabalho. Um momento crucial foi quando a faca escapou das nossas mãos parando a poucos metros de onde estávamos. Eu e Nara nos encaramos antes de eu começar a engatinhar em direção a faca.

Ela segurou meu tornozelo e me puxou de volta. Eu me desequilibrei e bati com o rosto com força na grama. Quando levantei meus olhos, meus óculos estavam sujos com lama. E Nara estava a poucos centímetros da faca. Me joguei em suas costas , nos fazendo rolar novamente. Só que ela parou embaixo de mim. Estiquei minha mão, com um pouco de dificuldade e quase consegui pegar a faca.

Nara foi mais rápida e me virou, impossibilitando que eu a conseguisse pegar a faca. Antes que eu pudesse impedí-la, ela me deu um soco no estômago e pegou a faca. A dor que subiu pela minha pele foi cortante. Eu senti que pudia vomitar a qualquer momento, mas segurei quando vi Nara levantando a faca novamente para mim. Em seus olhos escuros, havia loucura.

Tentei engatinhar para longe, mas ela me segurou novamente e me puxou. Parei deitada de barriga para cima e ela sentou em cima de mim, disposta a cravar aquela faca em mim. Com todo esse conflito acontecendo, eu não tinha tempo para pensar que, ela estava fazendo isso por Ethan e por eu ser meia Dark. Ah sim, e por eu ser a Princesa Carmim Dark. Segurei seus pulsos, impedindo que ela cravasse aquela faca em meu peito.

“Aceite a morte, sua Dark maldita.”, Nara disse quando viu que eu lutaria bastante.

Era fácil ver que nós duas estávamos cansadas. Nossas respirações pesadas eram um bom indício. Comecei a sentir o fraquejo de minhas mãos. Minha mente pegando as palavras de Nara e filtrando. Ethan realmente iria me odiar por eu ser quem eu sou. Mesmo ele dizendo que gosta de mim, tinha preconceito suficiente para me odiar em dois segundos.

Quando Nara abrisse a boca, seria o fim da minha vida. Talvez se eu pegasse aquela faca e a matasse, poderia me ver livre dessa culpa e Ethan nunca descobrisse. Megan e eu poderíamos nos mudar para manter o segredo. Um lugar não muito longe. Só para que as pessoas pudessem parar de me procurar. Quero dizer, se minha mãe realmente era a Rainha Carmim que havia me abandonado com a minha madrinha, por que ela nunca foi atrás de Megan?

“Aceite que você vai queimar no inferno junto com os seus parente demônios podres.”, Nara continuou dizendo e sorriu. “Ethan vai me amar novamente.”, ela cantarolou.

Talvez eu devesse mesmo morrer e deixar que Ethan fosse feliz com Nara. Ele nem se lembraria da Jordan. Se lembraria da Dark maldita que o seduziu e o beijou. Uma dor atingiu meu peito. Não tinha nada a ver com a faca que eu ainda estava lutando para ter em meu poder. Era de saber que eu amava uma pessoa com a cabeça tão fechada. Eu conhecia tão pouco Ethan. Era o que ele era não era nada comparado a saber como ele era.

Enquanto a mim? Eu era sempre aberta com Ethan. Dizia o que pensava. Esconder o que eu era , servia apenas como proteção. E também por causa da promessa que tinha feito a Megan. Tinha esquecido de qual seria a reação de Ethan. Só de imaginar aqueles olhos verdes que eu tanto amava, me odiando, fazia meu estômago dar voltas.

“Não sei porque seus pais ainda te deixaram viver.”, Nara continuou com seu veneno. Ela estava vendo minha batalha interna e o meu fraquejo. “Você é uma aberração. Deve ter sido por isso que eles te abandonaram.”

Meu coração deu um aperto. Todas as pessoas que eu amava me odiavam? E Christina? Talvez ela soubesse que eu não era uma garota normal, mas mal imagina que sou mestiça. Uma aberração como Nara disse. Ela sorriu, vendo poucas lágrimas deslizando por meu rosto. Isso estava embaçando a minha visão e os meus óculos.

“Está desistindo tão cedo?”, ela gracejou. “Estou louca para ver o rosto de sua madrinha quando souber que você morreu. Ela vai culpar seus pais, por terem te abandonado. Quando anos ela tem? 25? 27? Você estragou a vida dela, no segundo que apareceu em sua vida.”

Isso fez algo se despertar em mim. Era como se uma outra parte de mim, que estava adormecida , finalmente acordasse. Meu peito ardeu um pouco. Mas, eu gostei da ardência. Era como o poder me tocasse da ponta dos meus pés até o meu cérebro. Uma força incomum me possuiu e eu empurrei Nara , parando em cima dela. Seus olhos escuros se arregalaram e um sorriso frio escorregou por meu rosto.

“Vá para o inferno, invejosa.”, eu disse tomando a faca de sua mão.

Ela ficou estática, assustada com a minha mudança brusca de humor. Eu estava me sentindo tão bem. Tudo o que eu queria era enfiar aquela faca tão fundo na pele de Nara que minha mão iria junto. Ver o sangue dela escorrendo por meus dedos e ver a vida saindo lentamente de seu corpo. A faca estava a poucos centímetros dela quando, eu parei. Aquela não podia ser eu. Era tão amarga. Soltei a faca, pondo as mãos em minha cabeça e fechando os olhos com força.

Nara aproveitou meu momento de luta interna e envolveu suas mãos entorno de meu pescoço. Ela tinha desistido da faca. Suas mãos era forte e com a surpresa de seu ataque, eu já havia perdido muito ar. Minha visão já tinha pontos escuros, e eu tateava inutilmente pelo chão tentando achar a faca. Só grama passava por minha mão. Nara continuava com aquela expressão alucinada no rosto.

“É hoje que você morre.”, ela disse fazendo uma careta por conta da força que estava aplicando. “Seja de um jeito ou de outro.”

Coloquei uma das mãos no pulso dela, tentando frouxar um pouco o aperto e ganhando um sorriso vitorioso em resposta. Se eu soubesse que tudo isso iria acontecer, não teria saído de casa. Procurava desesperada, o ar já me faltando e a dor de cabeça tomando conta de mim. Estava quase desistindo quando, uma movimentação no canto dos meus olhos começou. Nem precisei ler a mente para saber quem eram. O silêncio vindo da mente de Ethan, era o melhor som de todos.

“Nara, solte-a.”, ele gritou ao longe.

Uma pena que eu não pudesse vê-lo. Mas Nara podia. E assim que o fez, seu aperto frouxou entorno de meu pescoço e eu pude respirar. Me imaginei quase roxa de tanto tempo sem ar. Christina estava logo ao lado de Ethan, com os olhos arregalados e a mão na boca. Ethan tinha os olhos verdes estreitos de raiva e os ombros tensos. Pelo menos era isso que estava vendo pela mente de Nara. E também pude ver quando ela decidiu ir até o final com a minha morte.

“Você não entende, Ethan”, Nara disse completamente entregue a loucura. Suas mãos ficaram firmes novamente em meu pescoço. Mas o pouco ar que tomei, foi o suficiente para me dar foco. Senti a lâmina da faca com a ponta dos dedos e segurei o cabo com força, mas sem chamar atenção.

“Nara, estou falando sério”, Ethan continuou falando. “Jordan não fez nada para você. O que aconteceu entre nós já passou.”

“Não.”, Nara balançou a cabeça com algumas lágrimas escorrendo por seus olhos. Se ela não tivesse tentando me matar enforcada, eu teria pena dela. “Quando você souber o que eu sei, voltará para mim. E eu vou me livrar dela.”, seu olhar oscilou para mim e voltou para Ethan. “Para que nunca mais se meta entre nós.”

Seu aperto ficou mais perigoso, tirando novamente o meu ar. Minha mão já mal conseguia sentir o cabo da faca, mas eu pude ver que ela estava escapando por meus dedos. Então seria assim? Minha última imagem de Ethan, seria ele observando Nara me enforcando? Pelos pensamentos de Nara vi Ethan dando um passo hesitante na minha direção. Seu olhar focado em mim. Isso fez a raiva de Nara aumentar, e meus olhos se arregalaram quando vi que ela contaria a verdade. Com dificuldade, meus dedos seguraram a faca.

“Ethan, você não vê?”, ela perguntou. “Ela não é quem você pensa. Jordan Leight é a ...”

Nara não pode terminar a frase. Antes que ela pudesse dizer quem e o que eu era, a esfaqueei na barriga. Ela gritou alto e eu retirei a faca, repetindo o movimento mais uma vez e escutando o seu grito. Com esse, ela soltou meu pescoço e pôs as mãos nos lugares onde eu havia esfaqueado. Ela me olhou com espanto, então, desmaiou. Me afastei de seu corpo desacordado e escutei os passos apressados dos irmãos Ramirez.

“Você está bem, Jordan?”, Ethan perguntou pondo os braços ao meu redor.

Não. Eu não estava bem. Em poucos minutos, eu quase fui morta, duas vezes. Descobri que meus pais são inimigos naturais e ex-amantes. Esfaqueei uma pessoa. E percebi que realmente estava apaixonada pela pessoa que poderia me matar no segundo que soubesse quem eu era. Mas, mesmo com tudo isso, me aconcheguei nos braços de Ethan, sentindo seu cheiro.

“Como ela está?”, ele perguntou para a irmã.

Christina colocou dois dedos no pescoço de Nara.

“Ela está fraca, mas se for para um médico vai sobreviver.”, ela disse se levantando e me olhando. Tinha algo estranho em seus olhos. Conhecimento, talvez. “ Você está bem, Jô?”

“Eu quero ir para casa.”, disse em um tom baixo e sentindo a dor na garganta ao tentar engolir. Então senti a ardência em meus olhos e me dei ao luxo de chorar no peito de Ethan. “Eu só quero ir para casa.”