Enquanto Você Dormia escrita por Jun


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Esse textozinho em itálico que encerra o capítulo lembro que vi num depoimento aleatório dos Orkuts da vida, há muito tempo atrás. Guardei e achei que poderia ser útil em algo, e depois realmente foi, haha o/
Apesar de a fic ser mais sob o ponto de vista do Ren, acredito que esse texto sirva muito bem pros dois, por isso no 1° parágrafo coloquei "ela" e no 2°, "ele".



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1991, Mansão Tao, China.


      Um garotinho aparentando ter não mais que 5 anos, brincava com um tigrinho de pelúcia bem gasto, seu brinquedo preferido. Estava em um quarto luxuoso, de decoração chinesa pomposa, provavelmente o seu. O menino tinha belos olhos dourados, que brilhavam ao mirar seu amigo inanimado. Estava sentado no chão, sobre um tapete vermelho com ricos bordados em dourado. O quarto era iluminado pela morna luz do Sol que vinha da grande sacada frontal, dando vista para as propriedades e montanhas que circundavam o grande castelo. O cabelo do garoto, iluminado pelo Sol, tinha uma cor curiosa, entre o preto e o violeta. Flutuando no ar, perto dele, estava algo próximo de uma bola de fogo, de aparência fluídica, com uma espécie de capacete chinês, olhinhos brilhando por ver seu aparente mestre contente. 


Na cama às costas do menino, uma garotinha de uns 8 anos estava sentada, pezinhos balançando alegremente, observando-o com uma expressão mista de carinho e zêlo. A aparência, como a do menino, era curiosa - olhos violetas e cabelo verde esmeralda. Quando o garoto ria, ela ria também, e às vezes, trocavam olhares cúmplices, de afeto, o mais simples e puro.


      De repente, um barulho de algo sendo rasgado corta o ar. Um choro entristecido em seguida. O tigre de pelúcia, companheiro de tantas brincadeiras, teve seu quase fim: a base da cabeça se desprendeu do resto do corpo, ficando atada à ele apenas por um pedacinho de tecido e linha. O menino, vendo o que tinha feito com o próprio amigo de pano, começa a chorar mais ainda. As lágrimas escorriam sem cerimônia dos olhos, deixando-os ainda mais dourados e brilhantes. A garotinha de cabelos verdes arregalou os olhinhos de repente, dando muito mais dimensão ao que aconteceu do que normalmente teria. Pulou da cama de uma vez, e acorreu ao garoto, ficando ajoelhada ao lado dele. 

Carinhosamente, tomou o brinquedo rasgado das mãos e examinou, como um médico que examina um paciente em estado terminal. "Tem como consertar", diz ela, na voz mais doce que se pode imaginar para uma menina de 8 anos. 

O garoto apenas sacode a cabeça negativamente, olhando entristecido o amigo morto nas mãos da menina. De repente, a fúria o abraça, e as mãozinhas trêmulas fazem algo impensado para qualquer outra criança. Muito rapidamente, elas tomam o tigre bruscamente das mãos cuidadosas onde ele se encontrava. Se vira de costas para a garotinha. Uma das mãozinhas dele puxa a cabeça do tigre, e a outra o restante do corpo, fazendo ambas as partes se soltarem, e dando um derradeiro fim ao bicho de pelúcia surrado. 

Então, junta as duas partes e joga-as na parede e, como se isso fosse o estopim de tudo, grita e começa a chorar alto, como se o tigrinho de pelúcia não tivesse mesmo mais conserto, como se fosse alguém assassinado, que se foi pra sempre da convivência dele. A menina pacientemente se levanta, resgata o brinquedo com todo o cuidado do chão frio e se posta de novo ao lado do garotinho, que não parava de chorar. Carinhosamente, ela enxuga as lágrimas com uma das mãos, enquanto a outra segurava os pedaços do brinquedo. 

"Não chora, não chora... Vou falar com a mamãe pra que consertem..." 


Ela murmurava baixinho, de modo que só ele ouvisse. As lágrimas ainda não tinham secado. Vendo isso, a menininha o puxa pelos ombros e o abraça, se balançando de levinho, murmurando uma canção de ninar. O menino então se solta dos braços dela, e deita em seu colo, abraçado ao tigrinho rasgado. Ela faz carinho em seus cabelos, e percebe que as lágrimas pararam, restando apenas o fungar descompassado de criancinhas quando choram. Ele aperta mais o brinquedo contra o peito, a voz que canta somente pra ele o embala ainda mais, e vai se perdendo na consciência nebulosa de alguém que dorme confortavelmente...


2006, algum apartamento luxuoso em Tokyo.


      A claridade débil do alvorecer é filtrada pela cortina cor de creme. A sala, de decoração minimalista e chique se encontra impecavelmente arrumada, a não ser por um pote de pipoca vazio em cima da mesinha de centro e dois corpos que se encontram largados em cima de um sofá espaçoso. Ela dormia com a cabeça encostada no braço do sofá, os cabelos esmeralda sombreando seu rosto e caindo pelos ombros. Usava uma camisola branca, de alças, deixando à mostra parte do seu colo e uma boa parte das pernas.

 Ele dormia sobre o tapete felpudo, no chão, com o dorso apoiado sobre o sofá, perto dos joelhos da moça. Os cabelos escuros, indo até um pouco abaixo do maxilar, estavam bagunçados pelo sono. Usava uma bermuda que ia até o joelho e uma camiseta branca, mostrando os braços bem contornados e discretamente musculosos, acostumados com o treinamento físico desde criança. Então, ele abre os olhos, sonolento. O costume de acordar cedo demais não o tinha abandonado. 


"Droga, acabamos dormindo no sofá depois do filme. Deveria ter levado ela pra sua cama", ele pensou. 


Esfrega os olhos devagar, e sente o cheiro doce que aquele corpo sobre o sofá exalava. Não queria sentir, mas era inevitável. Não queria olhar, mas era inevitável. Não queria desejar, mas era mais inevitável ainda. Seus lábios sérios então se convertem num sorriso mudo, afetuoso, relembrando o sonho que teve, de um momento de quando eram crianças. Ele então deita um olhar carinhoso sobre ela, a atmosfera silenciosa, mas barulhenta de sentimentos. A moça dormindo sobre o sofá se revira um pouco, o corpo se encolhe de frio. Ele então se levanta, vai ao quarto dela e pega algo pra cobri-la. Estende sobre ela, dando um beijo de leve na testa, leve o suficiente para que ela não acorde, mas caloroso o suficiente pra passar um pouco do que estivesse em seu peito naquele momento. Então, volta à posição em que se encontrava, deitado no tapete mas com o dorso sobre o sofá, perto dela, para que pudesse velar pelo seu sonho. Quem sabe não poderia ser o mesmo que o dele...?


"Às vezes me pergunto porque depois de tanta história e tanto problema e tanto não-sei-o-quê, ela ainda está por perto..."

"Às vezes não sei porque ele me diz o que sempre me diz, e não sei se sempre diz pra alguém o que diz pra mim... Embora no fundo eu saiba que é só pra mim... Mas às vezes eu custo a acreditar com medo de pensar em como vai ser se eu mostrar que eu acredito."


"Às vezes eu quero saber como seria, às vezes eu acho que eu já sei...Ganham as poucas vezes que sei que não sei de nada... E não saber de nada me faz gostar cada vez mais... Continue sendo um mistério, meu mistério, meu tormento, meu medo... Por favor, assim, quem sabe... Um dia se torne o meu amor."


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Notas finais do capítulo

Bom, entonces é isso gente. Digam o que acharam da fic! o Gostei de tê-la escrito. Hoje, quando reli pela enésima vez, fiz algumas modificaçõezinhas de modo a melhorá-la. E foi gostoso escrever algo assim, levinho e fofo, como se fosse uma cena corriqueira da vida deles.
Bisous! :*