A luz prateada da lua transpassou por um breve momento a grossa cortina de chuva, que caia incessantemente, e foi possível ver com um pouco mais de clareza a rua quase vazia.
A noite já caira há muito, e ele estava sozinho ali, mas isso não parecia assustar o menino que caminhava pela calçada. Parou sob a luz vacilante de um poste ao notar, aos seus pés, uma pequena estátua de ferro, como as que costumava brincar. Considerou, por um momento, pegá-la para si, mas logo desistiu; provavelmente o brinquedo só havia sido esquecido ali por alguma criança durante o dia, e sua irmã havia ensinado-o a não pegar nada que não fosse seu.
Mas ora, isso fazia diferença agora? Sua irmã não estava mais ali para dizer o que fazer. Desviou do pequeno objeto, e se dirigiu ao meio da rua. O som dos passos, fortes e decididos demais para tão pouca idade, ecoava no silêncio, ligeiramente abafado pelo constante barulho das gotas de chuva tocando o chão.
Já devia ter se acostumado. Fazia quase um ano, mas parecia que o passar do tempo só piorava tudo. Ah, o tempo... o culpado de tudo. Tentava, em vão, afastar os pensamentos inquietantes de sua cabeça. Mas eles sempre voltavam. Ou apenas o pior deles. Porque, no fundo, Nico di Angelo sabia que não importa quanto tempo passe, nada iria mudar. Ele sempre vai estar andando sozinho, nas ruas escuras de qualquer cidade, apenas semivivo, com todos os sonhos destruídos.

Fim