O Filho dos Mares escrita por Lieh


Capítulo 5
El "Karaboudjan"


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Mais um capítulo da fic para vocês. Espero que a demora da postagem seja compensada, porque esse capítulo até agora é o maior e foi o mais trabalhoso!
Tentar postar aos fim de semana não tá dando certo, por isso um post em qualquer dia da semana é melhor.
Acho que esse capítulo vai agradar os fãs de Percabeth...
Boa Leitura! E não atirem pedras, meu espanhol não é lá essas coisas :P



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A manhã chegou tão rápida parecendo que eu havia deitado há minutos, não horas. Despertei, espreguiçando-me calmamente. Um silêncio reconfortante pairava no chalé. Ao longe era possível ouvir os passarinhos cantando, e até mesmo o barulho do vento balançando a relva das copas das árvores. Tudo estava numa paz e tranquilidade tão grande que a única coisa que eu queria fazer era voltar a dormir.

Provavelmente era bem cedo, pensei. Ainda dava tempo de eu dormir mais um pouco.

Estava decidida a fazer isso, quando o barulho de uma porta sendo aberta violentamente me deu uma belo de um susto, fazendo-me pular da cama. Meus irmãos só podem estar brigando de novo, não era possível. Resolvi deixar para lá, já me virando para tirar um gostoso cochilo.

Porém quando dei por mim estava descoberta caindo no chão duro, enquanto uma voz raivosa gritava comigo:

– O QUE EU FALEI SOBRE SE ATRASAR, PRINCESA?!

Com mil demônios! - Xinguei mentalmente.

Clarisse me fitava tentando parecer brava, mas na verdade ela estava se segurando para não rir da situação ridícula que eu me encontrava. Claro, se você estiver com uma blusinha e shortinho de ursinho, caída no chão, com os cabelos espetados para todos os lados e com cara de sono, faria qualquer um rir.

– Precisava me acordar com toda essa delicadeza, Clarisse? – repreendi minha amiga, levantando-me.

– Você está atrasada, Princesa. Muito atrasada. O café da manhã já está quase terminando.

– Não brinca?! – exclamei assustada – Inferno! Dormi demais!

– Sério? Nem percebi – continuou ela – Anda, vai se arrumar que eu trago algo para você comer. E não volte a dormir! Se não vou cumprir minha promessa de lhe dar um banho!

Clarisse saiu pisando duro, deixando-me com uma promessa reconfortante. Concluí que era melhor eu tentar consertar a besteira que eu fiz de dormir demais.

Que raiva! Logo na minha primeira missão eu já me atraso!

Xingando e praguejando, fui direto para o banho.


Com uma pesada mochila nas costas, com fome e a cara lavada, corri para o pavilhão do refeitório. Para o meu azar, o café já tinha terminado. Sentei-me sozinha no banco da mesa de Atena tentando conter minha respiração. Meu dia já começou muito bem, por favor, deixe pior.

Não fiquei sozinha por muito tempo, pois logo Clarisse apareceu com uma bandeja de café da manhã completo só para mim. Que Zeus a abençoe!

– Não se acostume, ouviu? Sua vida de princesa vai acabar logo, logo.

Sorri agradecida, atacando os pãezinhos e o leite quente. Não tinha percebido o quanto eu estava com fome.

Clarisse permaneceu quieta enquanto eu devorava o meu café da manhã, mas ela também tinha déficit de atenção como todo semideus, então não demorou muito para ela começar a andar de um lado para outro. Mesmo concentrada em comer, eu percebi que ela estava agitada e preocupada com alguma coisa.

– O que foi Clarisse?

– Eu estava pensando... – ela começou

– O que é algo raro – completei ganhando um olhar fulminante dela – Continue.

– Eu estava me perguntando por onde vamos começar a procurar o navio de Barba Negra...

Aquele era um problema que eu não havia pensado. Naquela hora, o famoso “Queen Anne’s Revenge” poderia estar a quilômetros de distância da costa de Long Island. Íamos ter mais trabalhado em encontrar o navio do que libertar Percy Jackson.

– Eu realmente não havia pensando nisso, Clarisse – respondi – Mas acho que começando a investigar no porto de Nova Iorque seria apropriado.

– Ainda sim vai ser complicado, Annie – ela suspirou – Esse navio é muito rápido e não temos ideia de qual será o curso que ele deve estar seguindo.

Arriei os ombros desconfortavelmente. Eu havia dormido demais, estava com a aparência de um espantalho, e ainda por cima não tinha bolado nenhuma estratégia para a missão. Palmas para a Annabeth!

– Não temos um plano melhor, Clarisse. Vamos pedir a Argos que nos leve até o porto de Nova Iorque, ok? Sei lá, um cruzeiro para o Caribe seria bom. É o único plano que temos.

Tentei soar corajosa e confiante, mesmo eu estando tão preocupada quanto ela.

Enquanto eu pensava no que ela me dizia, lembrei-me que eu deveria fazer uma oferenda para Poseidon. Normalmente as oferendas são feitas durante o jantar, mas isso não impedia de acendermos uma fogueira a qualquer hora. Então fiz exatamente isso.

Levantei-me sobre o olhar de Clarisse, carregando comigo alguns pãezinhos na manteiga intactos, e saí do pavilhão contornando as mesas.

Atrás da estrutura do pavilhão, havia um trecho de mata que seguia para o bosque. Lá encontrei alguns galhos secos e toras. Não percebi a aproximação de Clarisse até vê-la ao meu lado, me ajudando em acender a fogueira, em silêncio. Quando juntamos uma pilha de gravetos e folhas, ela tirou do bolso da calça um isqueiro de prata, aproximou-se da pilha e o fogo se alastrou.

Peguei o meu café da manhã da bandeja e joguei os pãezinhos na fogueira, deferindo em voz alta:

– Ó grande Poseidon, Deus dos Mares, dos Terremotos e Portador dos Cavalos, aceite esta oferenda em nome de uma filha de Atena e uma filha de Ares. Em troca nos proteja em seus domínios.

E não me transforme em plâncton, pensei.

Observamos enquanto os pãezinhos viraram uma bela fumaça azul que subia até o céu, com um delicioso cheiro de manteiga.

Ficamos em silêncio por alguns minutos observando a fogueira.

– Vamos? – Clarisse olhou para mim quebrando o silêncio.

– Vamos procurar o Grover - suspirei em frustração. Algo me dizia que as coisas só iam piorar quando de fato estivéssemos por nossa própria conta.


Encontramos Grover na Casa Grande conversando com Quíron e o Senhor D. Quando adentramos no campo de visão ele olhou para mim e para Clarisse de forma crítica.

– Então, espero que essas duas aí sejam úteis – disse ele para Quíron continuando uma conversa – Porque vamos ser francos, o bode é muito lerdo, a Carlota é muito esquentada, e a Annabell...

– Annabeth – corrigi. Já fazia anos que eu estava no acampamento, ainda sim ele insistia em dizer meu nome errado.

– Que seja. A queridinha do acampamento nunca saiu em missão. Não ponho fé nesse trio dinâmico.

Tentei ao máximo ficar calma e não falar nenhuma besteira para não inflamar a ira de Dionísio. Porém eu não estava tendo muito sucesso. Clarisse não fez tanto esforço, olhando diabolicamente para ele. Grover se encolheu.

– Não sejamos precipitados, senhor D – respondeu Quíron – Tenho plena certeza que esta missão vai ser um sucesso.

Ele sorriu para nós três encorajando-nos, mas ainda sim não apagou a minha raiva do Deus do Vinho.

– Agora vão, já está ficando tarde.

Pegamos nossos pertences e nos dirigimos para o topo da Colina Meio-Sangue. Durante o trajeto, muitos companheiros acenaram e vieram se despedir de nós, inclusive a dríade chamada Juníper, o que deixou Grover bem sem graça. Eu esperava que Luke também viesse se despedir de mim, porém ele não veio.

Óbvio que fiquei chateada. Meu dia não tinha começado muito bem, ao menos eu queria ter uma lembrança agradável dele antes de partir, no entanto eu teria que enfrentar o mundo lá fora com a terrível sensação que Luke estava com raiva de mim por simplesmente ter aceitado a missão.

Olhei carinhosamente para o pinheiro de Thalia como uma prece silenciosa. Seria tão bom se ela estivesse comigo...

E com esses pensamentos felizes, nós partimos sem ter a certeza de quando veria o acampamento de novo.


Argos, assim como nós havíamos pedido, estava nos levando para o porto de Nova Iorque. Expliquei a Grover que esse deveria ser o primeiro lugar para começar, afinal não íamos nos deslocar por terra.

Tirando essa nossa pequena conversa, o caminho inteiro foi dominado por um silêncio assustador. Clarisse que estava sentada do lado da janela esquerda, seguida por Grover no meio de nós duas, e eu sentada do lado da janela direita, estava muito concentrada na paisagem da cidade que passava. Grover se encontrava comendo uma lata, com dó de acabar com ela. Ele havia colocado o boné rastafári para esconder os pequenos chifres e os pés falsos e tênis para esconder os cascos.

Quanto a mim, eu tentava acalmar os batimentos cardíacos do meu coração frenético e esconder minhas mãos que suavam. Não estava tão quente como nos dias anteriores. O sol estava escondido numa densa camada de nuvens negras já anunciando chuva. Mesmo assim, o dia estava abafado.

Encostei a cabeça no banco e fechei os olhos. Eu havia dormido muito mal, pois eu ainda estava com muito sono. A viagem iria demorar, nem no centro da cidade estávamos ainda, então resolvi que tirar um cochilo não faria mal algum.

Adormeci e tive um sonho perturbador.


No sonho eu não estava mais na cela trancafiada. O lugar era um amplo quarto apenas com uma cama, um candelabro no teto, uma escrivaninha e no extremo oposto, uma larga porta de madeira onde eu me encontrava parada. As velas pendidas do teto balançavam de um lado para outro devido ao movimento do lugar.

Sentado na cama de solteiro estava o garoto que eu havia tentado ajudar, agora sem correntes nos pés e nas mãos. Ele estava de cabeça baixa olhando para o chão e não havia percebido minha presença intrometida. Seus largos ombros estavam nus, meio caídos demonstrando preocupação.

O garoto levantou a cabeça fazendo o fogo das velas mostrarem metade de seu rosto, enquanto a outra metade ficou oculta nas sombras. Sem falar nada ele se levantou e deu dois passos na minha direção, o que encurtou a distância entre nós.

Ele era bem mais alto que eu, de porte atlético, vestido apenas com uma calça jeans. O peito largo muito bem esculpido iluminou-se fracamente pelas luzes das velas. Assim como os seus cabelos negros, bagunçados para todos os lados.

Mas não foi só a sua presença tão próxima de mim que me deixou sem graça e com o coração aos pulos. A intensidade daquele par de olhos verdes em chamas deixaria qualquer um desconfortável. O semblante parecia cansado e perturbado, mas de alguma forma que eu não sei explicar ele parecia me reconhecer e estar feliz por eu estar a ali.

– Desculpe – gaguejei – Isso é um sonho?

Ele sorriu de forma consoladora para mim, fazendo meu estômago dar voltas. Eu não conseguia desviar o olhar, porém alguma força do além me fez fitar o peito dele.

– Talvez – ele respondeu de forma divertida – E sinceramente eu preferiria continuar dormindo.

Essa última frase foi dita de forma um pouco melancólica com um quê a mais que eu não detectei a razão.

Ele percebeu o meu olhar indiscreto para ele, porque ele levantou uma sobrancelha e abaixou a cabeça. Posso jurar que vi um pouco de cor preencher suas bochechas mesmo na meia luz.

Limpei a garganta quebrando o clima desconfortável desviando o olhar dele mesmo que relutante. Olhei em volta.

– Que lugar é esse?

– Minha prisão em alto mar. Este é o navio de Barba Negra – respondeu ele.

– Então você é quem eu estou tentando salvar.

Ele ponderou por um momento essa última informação. De repente ele sorriu.

– Você está tentando me salvar? – ele parecia se divertir.

– Sim algum problema? – Querendo ou não fiquei com raiva, então minha pergunta saiu de forma áspera.

– Não entendo porque se dá ao trabalho... – O sorriso dele vacilou um pouco.

Eu tinha a minha resposta ensaiada e na ponta da língua, porém ficou entalado na garganta por causa da volta daquele sorriso dele e do olhar em chamas. Alguma coisa que ele viu em mim parecia agradar a ele, o que não ajudou no meu estômago cheio de borboletas e no meu rosto corado.

– Eu tenho os meus motivos – respondi simplesmente.

E que motivos.

Opa!

O sorriso dele só alargou mais o que me fez pensar como é que a pele do rosto dele não doía.

–Bom, um dia eu vou querer saber os seus motivos.

Acordei com o coração aos pulos. A van estava parada num sinal de trânsito. Estávamos quase chegando ao porto, já dava para ver o rio ao longe e alguns barcos que estavam partindo.

Olhei para a janela pensando no estranho sonho que tive. Dei graças a Zeus por ninguém ali ter a capacidade de ler mentes, porque seria muito constrangedor ter os meus pensamentos expostos naquela hora.

Um calor que não tinha nada a ver com o clima do dia se apoderou do meu corpo quando me recordei do garoto do sonho, ou melhor, o garoto que eu estava indo salvar, Percy Jackson. Era ele, isso é certeza.

E que gato!

Cala a boca!

Mandei os meus eus ficarem quietos porque definitivamente isso era constrangedor demais. Eu nunca havia pensado dessa forma tão indiscreta sobre qualquer garoto e não seria agora...

Por Zeus! Era só um sonho idiota!

Suspirei aliviada por estar finalmente saindo daquela van apertada.

Eu nunca tinha ido ao porto de Nova Iorque antes, o que explica a minha surpresa pela beleza do lugar. Ao longe era possível ver a Estátua da Liberdade na ilha da Liberdade, grande e imponente. Era de uma arquitetura incrível e muito bem feita, projetada por Bartholdi, um filho de Atena, que leva os créditos pela bela estrutura. O rio Hudson brilhava apesar das suas águas escuras, onde alguns poucos navios de carga estavam ancorados no cais, que era uma grade estrutura de concreto e ferros paralelos ao rio. Alguns marinheiros andavam para lá e para cá com caixotes se dirigindo para as avenidas próximas com caminhões esperando. Havia muitos turistas também que pareciam ter chegado à cidade recentemente, alguns com malas procurando algum táxi, outros parados conversando e tirando fotos da paisagem.

Argos já havia partido nos fitando por bastante tempo devido aos seus muitos olhos até o perdermos de vista.

Estávamos sozinhos, no meio do movimentado porto da cidade de Nova Iorque, com alguma comida, dinheiro de mortais, dracmas de ouro e a sorte dos deuses.

– Então? O que vamos fazer? – perguntou Clarisse.

Ponderei por um momento olhando atentamente por todo o cais. Um navio de carga me chamou a atenção, há bem uns duzentos metros de distância da plataforma. Tinha um formato irregular quase na forma de um triângulo, com o casco pintado de vermelho e alguns trechos em verde. A Ponte de Comando* se erguia imponente seguida pela chaminé logo atrás. O navio parecia estar abandonado, porque era o único que não tinha nenhum marinheiro entrando e saindo.

Sem olhar para os meus companheiros, caminhei até o navio. Já próxima dele, percebi o quão grande ele era mesmo para um navio de carga geral que não eram mais tão utilizados como os imensos navios petrolíferos. (Sim, eu havia feito um esforço com a dislexia e li tudo a respeito de navegação e tipos de navio, inclusive até tinha colocado alguns livros na mochila).

– Ei, o que estamos fazendo aqui? – interrogou Grover.

– Eu também gostaria de saber – completou Clarisse.

De repente eu tive um plano ao mesmo tempo idiota e perigoso, típico de semideuses.

– Vamos viajar neste navio – anuncie para os meus amigos como se eu fosse uma guia turística – Ele está deserto e se entrarmos ninguém vai nos ver. Podemos nos esconder no porão junto com a carga.

– Bem, entrar vai ser fácil, o difícil vai ser sair – ponderou Clarisse – E não sabemos qual é o destino dele.

– “Karaboudjan” * – falei.

– Quê? – perguntou Grover achando que eu tinha ficado doida.

– O nome do navio, é “Karaboudjan”. – apontei para a proa* onde estava escrito o nome em letras brancas, um pouco descascadas.

Clarisse resmungou:

– Urgh, não consigo ler este nome bizarro. Francamente eu não sei como você consegue ler, Annabeth.

– Prática – respondi orgulhosa – Minha dislexia não me atrapalha tanto, apesar de eu levar mais tempo para ler um livro sem ser em grego do que o normal, mas eu consigo.

Grover olhou para o “Karaboudjan” em dúvida.

– Não sei não. Esse navio me parece suspeito.

– Não temos muito tempo – encerrei a questão – É um navio de carga, e mesmo se o destino dele for muito longínquo, uma hora ou outra ele vai precisar ancorar para reabastecer os motores. E a tripulação não deve ser muita.

Parei olhando para uma pilha de caixotes que eu não havia percebido antes, chamando-me a atenção. Aproximei-me, lendo as inscrições logo acima deles. Era em uma língua esquisita, provavelmente sendo o espanhol em tinta vermelha, o que era péssimo de ler para quem era disléxico:

Carga Perecedera

Mantenerse alejado

Transporte de los Estados Unidos em el Caribe

Unitego Industries LTD


– Caribe? – perguntou Clarisse. – O navio está partindo para o Caribe?

– Mas isso é perfeito, podíamos começar a investigar por lá. – comentei satisfeita.

Confesso que eu estava muito feliz pela nossa sorte. Na região caribenha as chances de sabermos informações de Barba Negra seriam maiores.

Clarisse e Grover olhavam para mim e para o navio a nossa frente, nervosos. Não vou negar que o meu plano era muito arriscado. As chances de sermos descobertos como passageiros clandestinos eram enormes. Era um verdadeiro tiro no escuro.

– Pensem comigo – comecei – O Caribe é uma região muito movimentada por navios, principalmente os piratas, porque é praticamente é uma terra sem lei. Podíamos começar procurando por lá...

– Não parece ruim – disse Clarisse – Só não me agrada viajar num porão de navio cheio de ratos.

– Não temos escolha. Todos a bordo! – falei. Meus amigos resmungaram um pouco, mesmo assim me seguiram.

Subimos a escada de embarque chegando ao convés. Não havia me ocorrido naquela hora que tudo estava ocorrendo fácil demais. Esse pensamento só viria bem mais tarde quando já estávamos enrascados.

A Ponte de Comando, onde se encontrava a cabine de controle, estava vazia como todo o resto do navio. Era muita irresponsabilidade, pensei, deixar um navio largado daquele jeito num porto movimentado como o de Nova Iorque, permitindo qualquer um embarcar clandestinamente, como nós. Os tripulantes pareciam ter confiança que ninguém iria fazer isso, só poderia ser essa a justificativa. Motivo? Não sei se era bom saber.

O navio não era muito grande na sua extensão superior. Fomos para a popa* que era onde ficava a abertura do convés quadrangular, logo atrás da chaminé, que levava até os deques, onde ficava a tripulação e o porão.

Um ruído e passos nos informou que os donos do navio estavam embarcando. A abertura do convés só permitia a passagem de uma pessoa por vez. A sorte nossa que a chaminé nos escondia da vista da proa.

Numa assembleia relâmpago, com os corações aos pulos, Grover foi descendo a escada da abertura, seguido por mim e Clarisse logo atrás.

A parte inferior do navio era muito escura cheirando a mofo. A única luz que vinha era da abertura do convés por onde tínhamos descido e pelas pequenas janelinhas circulares nas laterais da embarcação.

O deque onde estávamos seria onde os marinheiros dormiam pelas redes penduradas. Num sinal falei para seguirmos em frente. Um pequeno corredor escuro se abriu diante de nós seguindo para os outros deques. Lá em cima, os passos aumentaram denotando mais gente embarcando. Eu respirava tentando acalmar o meu coração. O silêncio era tenso enquanto atravessávamos o corredor. O único barulho era das nossas respirações descompassadas.

Parecia que o corredor não tinha fim e que tínhamos levado anos para atravessá-lo. Cada vez mais o escuro se intensificava, enquanto o corredor estreitava. Para quem tem certa fobia por lugares fechados eu sinceramente não recomendo. Ou para você que já sonhou que estava preso numa caixa que a cada segundo diminuía a ponto de esmagar você até a morte.

Nada agradável.

Eu estava pensando nisso quando num passo infalso, senti a ponta do meu pé esquerdo sem apoio. Se Clarisse não tivesse me segurado a tempo, eu teria dado o meu último passo, e adeus vida cruel. Eu iria rolar aquela escada enorme que se abria bater a cabeça e morrer. Já podia até ouvir a marcha fúnebre.

Meu coração foi até a garganta e voltou quando eu olhei para a altura que seria a minha morte. A escada era bem mais larga e extensa do que a do convés, onde levava para a parte mais baixa do navio, incluindo o porão.

– Obrigada – cochichei para Clarisse.

– Dispunha. Ultimamente eu só venho salvado sua pele. Você está me devendo.

Sorri mesmo no escuro de breu, agradecida pela amiga que eu tinha.

Tentando fazer o mínimo de barulho possível, mesmo que lá em cima no convés ninguém iria nos ouvir mesmo se gritássemos, fomos prudentes o suficiente (Ei, somos cuidadosos, tá? Tudo bem, não havíamos provado isso até agora, mas somos...), em não fazer tanto barulho.

Descemos e chegamos num amplo espaço, bem maior do que o deque superior dos marinheiros, cheio de caixotes cobertos por lonas. Provavelmente eram os mesmos que vimos no cais.

Um pensamento horrível me ocorreu naquela hora.

– Os caixotes!

– Sim Annabeth, já sabemos que são caixotes – disse Grover gesticulando.

– Não Grover, os caixotes que estão lá fora! Eles podem trazer para o porão!

Clarisse engoliu em seco, Grover baliu nervoso e eu dei um belo tapa na testa. Eu queria me bater e chutar pela minha ideia estúpida, mas não havia como nós voltarmos naquela altura do campeonato.

Numa prece silenciosa, rezei para minha mãe que aquela possibilidade terrível não acontecesse.

Esperamos que a qualquer instante algum marinheiro viesse ao porão conferir a carga ou trazer aquela que estava no cais, nos metendo numa grande encrenca.

No entanto, nada aconteceu.

Ainda sim estávamos apreensivos. Tudo estava muito quieto, o que só me deixava mais nervosa. Por fim, cansados nos acomodamos no chão esperando o navio zarpar.

Não demorou muito e ouvimos o barulho da âncora sendo erguida e o motor sendo ligado. O navio oscilou um pouco quando se desprendeu, me fazendo cair meio de lado e Clarisse praquejar por ter batido a cabeça num caixote. Grover e eu não seguramos os risos, deixando a filha de Ares bem mais irritada.

No segundo seguinte, sentimos o navio deslizar pelas águas do rio Hudson. Aproximei-me de uma das janelinhas laterais. Suavemente o navio se afastava do porto indo em direção ao mar deixando Nova Iorque e meu confortável chalé lá no acampamento para trás.

Cinco desvantagens de se viajar num porão de navio

Por Annabeth Chase, Clarisse La Rue e Grover Underwood.

5. Você balança de um lado para o outro a cada manobra do navio, levando a carga junto ou ganhando um belo galo na cabeça;

4. Faça dia ou noite, mas você continua no escuro de breu. A única luz proveniente era da pequena janelinha, sendo totalmente inútil durante a noite, porque o escuro aumenta duas vezes, a não ser que tenha lua. (Grover que o diga);

3. Calor sufocante, espaço desconfortável, e todos os seus amigos fedendo a peixe podre;

2. Podemos fazer barulho, mas nós não recomendamos isso para que os tripulantes não pensem que sejam ratos e venham querer conferir a carga.

Sim, tivemos que nos esconder em baixo da lona, em cima dos caixotes quando dois marinheiros entraram no porão algumas horas depois que havíamos partido justamente trazendo a carga que vimos no cais, deixando num canto afastado. Não preciso mencionar o desconforto em dobro, ou em eu ter quase estrangulado Grover por fazer barulho com os cascos, ou pior ainda todo o peso de Clarisse caindo em cima de mim assim que os tripulantes saíram. Eu juro que ficou um hematoma no meu cotovelo por ter apoiado todo o peso do meu corpo e do dela na queda.

Di Immortales que sorte! Ou eles eram muito burros ou muito cegos por não terem percebido uma carga a mais.

E no primeiro lugar:

1. Você precisar escapulir durante a noite para os banheiros dos deques superiores enquanto todos dormem e para completar ter pouca comida e muito stress.

Tirando tudo isso, foi um cruzeiro bem agradável.

Percebemos que a tripulação eram todos estrangeiros, pois de vez ou outra nós conseguíamos os ouvir conversando acima de nós em espanhol.

O pouco contato que tivemos com eles só foi naquele dia tenso em que quase nos pegaram e a durante a noite quando subíamos para o deque superior fazer as necessidades físicas. Graças a Zeus nós havíamos trazido comida nas nossas mochilas, mesmo sendo apenas salgadinhos e refrigerantes, o problema era que até a comida estava acabando. Eu não imaginava que o Caribe fosse tão distante da costa norte-americana, mas era uma viagem em um navio e ele não era lá muito rápido.

Calculei que provavelmente estávamos navegando por quase uma semana. Era um alívio poder olhar as águas do oceano Atlântico se movimentando a cada avanço do navio e também por eu ter trago livros na mochila, do contrário eu já teria ficado doida confinada naquele lugar.

Por fora eu era a calma em pessoa, mas por dentro eu estava assim:

Ah! Eu quero uma comida decente que não seja Cheetos, quero minha cama, quero o meu ursinho Teddy e um banho! E cadê o Percy nessas horas para me consolar em sonho? Hein?!

É cadê o Percy, e toda a sua saúde para nos consolar?

Tudo isso era o que eu estava sentido e gritando por dentro (menos essa última parte... Tá, também essa última parte, feliz agora?), porém eu engolia esses meus protestos, abria um livro e deixava o tempo passar, ora lendo ora perdida nos meus FPCs.

Há! Autocontrole é uma coisa que eu sei fazer muito bem, obrigada. Eu deveria ganhar um prêmio por ser a garota com melhor autocontrole que existe.

Clarisse e Grover não estavam lhe dando muito bem com a situação como eu. Era visível na carranca deles e nas palavras carinhosas que trocavam.

– Grover, afasta esses malditos cascos para lá. Estão quase em cima de mim! – uivou uma Clarisse raivosa.

– Não enche Clarisse!

– Que diabos, eu quero deitar, minhas costas estão doendo de tanto ficar sentada!

– Pois deita, oras!

Grover estava com os cascos sem o tênis, esticado no chão do porão direto para Clarisse.

– Eu me deitaria se esse monte de pêlos de jumento não estivesse na minha cara!

– Ei, jumento é a vovozinha! – Grover agitou os cascos bem na cara da filha de Ares. Vi o cheiro de briga assim que olhei para ela. O olhar era puro ódio e posso apostar minha vida que ela iria partir para cima do sátiro, só que ele não estava ajudando provocando-a daquele jeito.

Apoiei o meu livro no colo, suspirando frustrada.

– Parem vocês dois! Isso não ajuda em nada na nossa situação – Fitei Grover em desaprovação – Você bem que podia tirar essa sua pata de Clarisse, e você – Olhei para a minha amiga – Pare de agir feito uma criança. Os dois!

Recebi dois olhares raivosos em resposta, mas pelo menos Grover deu espaço para a Clarisse deitar. Era difícil a acomodação devido ao monte de caixotes empilhados. Eu havia arranjado um canto não muito grande para o meu tamanho na lateral do navio, na janela, enquanto os outros dois ficarão do outro lado, separados por caixotes e lonas.

Durante os primeiros dias tivemos uma grande discussão devido a uma descoberta que fizemos sobre a carga daquele navio.

Sem querer Grover desastrado do jeito que é, deixou cair um caixote que estava bem no alto de uma pilha provocando um barulho escandaloso. De dentro do caixote tubos cilíndricos escuros se esparramaram para todo o lado. Enquanto Clarisse ralhava com Grover, eu peguei um dos estranhos objetos. Era leve feito de um material vindo da madeira, eu tinha certeza. Cheirei e fiz uma careta.

Era tabaco. Vários charutos cubanos estavam naqueles caixotes. Eu sabia por causa das inscrições talhadas em cada lateral do charuto, no estilo Made In China, no caso, Made In Cuba.

Alguma coisa me dizia que a nossa situação só iria piorar com aquela informação.

Mandei meus dois companheiros calarem a boca e mostrei a eles os charutos.

– Sim, e daí? – perguntou Clarisse.

– E daí que eu acho esquisito um navio transportando charutos cubanos dos Estados Unidos.

– São se são cubanos, são de Cuba, certo? – disse Grover – Os charutos podem estar sendo distribuídos de Cuba para os outros países.

– Sério Grover? Que brilhante!

– Menos Clarisse – repreendi – O que eu acho esquisito é a troca com os Estados Unidos. Que eu saiba os dois países não se dão muito bem.

– Que seja. Não vejo no que isso vá nos ajudar...

– Você pode ter razão, Clarisse – franzi a testa, me calando.

Nos dias que se seguiram não consegui tirar aquilo da cabeça.

Eu desejei mentalmente que aportássemos logo em qualquer lugar. Eu não ia mais aguentar nenhuma dia naquele maldito navio como passageiros clandestinos tendo como companhia uma filha de Ares a beira de soltar fogo pelas narinas e um sátiro irritado, e muito provavelmente (eu esperava que eu estivesse errada!), uma tripulação de bandidos que faziam comércio marítimo ilegal.

Minhas preces foram atendidas.

A parte boa, iríamos sair do navio.

A parte ruim era que seria pulando dele, com vários tripulantes raivosos atrás de nós.

Aconteceu naquela noite. Ninguém estava conseguindo dormir por causa do calor e do balanço excessivo da embarcação, me deixando bem enjoada por sinal.

Nossos sentidos aguçados perceberam a aproximação de alguma coisa mesmo que essa coisa ou alguém não quisesse ser descoberto. Fiquei em pé imediatamente, com a mochila já nas costas seguida por Clarisse que também havia pegado a dela, e um Grover resmungando sobre enchiladas jogando a mochila dele nas costas também e calçando os tênis. Se precisássemos fazer uma fuga rápida não seríamos burros de deixar nossas coisas no navio. Havíamos combinado aquilo desde que embarcamos. Qualquer aproximação pegue tudo e caia fora. Como? Improviso, meu caro.

A escuridão só não era total pela janelinha, o que não era um consolo muito grande.

Por um momento eu achei que eu tinha imaginado o barulho, mas não tivemos tempo para nos esconder como na primeira vez.

Três silhuetas estavam na entrada do porão, paradas. Uma delas era a maior tendo um formato engraçado na cabeça. Só foi quando ela se aproximou de nós e da luz prateada da janela foi que eu consegui vê-la.

Complicando ainda mais as coisas.

Era o capitão do navio e a coisa engraçada na cabeça era o chapéu. Era um homem alto e queimado pelo sol, com um sorriso desdentado e sinistro para nós. Atrás dele estava um comparsa, bem mais baixo, forte e careca e quando se aproximou vimos uma horrível tatuagem de caveira no braço direito refletida pela luz da janela. O outro era um palmo mais baixo que o capitão, mas tão forte quanto o outro companheiro.

O capitão sem tirar o sorriso feioso da cara cumprimentou-nos:

Así que aqui son los niños.

Tinha uma voz grave e um hálito que cheirava a cerveja de segunda linha. Gesticulando para os companheiros ele falou alguma coisa rápido demais para captar naquela língua horrível de entender. Eu tinha o básico em espanhol, mas não estava ajudando naquele momento.

Um comparsa, aquele que tinha a tatuagem, se aproximou do capitão, com algo brilhando na mão esquerda. Clarisse engasgou enquanto eu sufoquei um grito.

Era um pé-de-cabra.

Imediatamente levei a mão a minha faca de bronze celestial no bolso da calça. Se eles fossem mortais não seria uma arma letal. Clarisse olhou sugestivamente para a mochila no chão onde estava a sua lança elétrica. Grover se encolheu. Corajoso, ele não?

No meio daquele falatório deles, captei algumas palavras como ladrones, jefe, e morir, essa última sendo a pior de todas. Eu não sei seria inteligente enfrenta-los naquele momento, visto que um deles estava armado.

O capitão se virou para nós sorrindo como se fossemos passageiros de um belo cruzeiro.

Usted, ahora se levantan.

Ele sabia que não entendíamos muito bem o que ele dizia, porque naquela hora um comparsa agarrou Clarisse por um braço enquanto o outro pegava Grover. O capitão agarrou o meu braço assim como estavam fazendo com Clarisse num aperto de morte. Íamos para o convés.

O caminho foi difícil devido à escuridão e o aperto no meu braço. O capitão praticamente me arrastava pelas escadas. Era incrível a sua força, como que em alguns momentos ele me levantava só com uma mão. Durante o caminho os outros tripulantes nos observavam alguns curiosos, outros demonstrando irritação, e tinha ainda aqueles que sabiam que teriam diversão na certa.

Engoli em seco. Seja lá o que eles iriam fazer com nós três eu não queria saber.

Era uma noite quente no meio do oceano. A lua estava bem alta banhando todo o convés do navio com a luz prateada. Ao longe era possível ver pequenos cumes rochosos. Provavelmente era uma ilha. Ainda sim não fiquei mais calma.

Naquela altura, todos os tripulantes estavam próximos o suficiente para ver o desenrolar da cena.

Ainda estávamos sendo arrastados pelos comparsas e o capitão. Ouvi risadas roucas ao longe. Aproximamo-nos da Ponte de Comando onde tínhamos uma vista ampla da embarcação.

O capitão como se fosse um apresentador de TV se dirigiu aos tripulantes:

Clandestino em nuestro barco – ele gesticulou para nós sorrindo Probablemente espías estadunidenses...

Muitos grunhidos de raiva foram ecoados. Eu me esforçava para tentar entender o que diabos o capitão dizia. Clarisse fazia uma careta bem feia pelo aperto no braço, enquanto Grover resmungava.

Así que amigos – continuou o capitão – Lo que hacemos com los espías ilegales?

Muerte! – gritaram os marinheiros.

Olhei para os meus amigos que pareciam chocados. Não precisávamos de intérprete para saber o que significava.

Só tínhamos uma coisa em mente: fugir. Eles querem nos matar, certo? Mas isso não significa que vai ser fácil!

O meu olhar para os meus amigos deixava bem claro o que eu queria fazer.

E assim fizemos num milésimo de segundo depois. Nem ao menos os marinheiros tinham terminado de gritar, eu já dei um chute bem dado nas partes baixas do capitão que uivou de dor. Clarisse deu uma cotovelada na cara do comparsa que a segurava, este cambaleando segurando o rosto, enquanto Grover deu um coice na canela do marinheiro que perdeu o equilíbrio e o soltou. Quando dei por mim, Clarisse já estava com a sua lança elétrica na mão (e eu não sei como ela conseguiu abrir a mochila e pegá-la tão rápido), avançando para cima dos outros bandidos que já estavam prontos para brigar, só esperando as ordens do capitão-mor.

Grover e eu a ajudamos batendo nos marinheiros mais apressadinhos. O capitão estava ajoelhado segurando o “amiguinho” que eu havia machucado feio. Ele cuspiu no chão olhando com ódio para nós. Não havia nenhum vestígio do seu sorrisinho cínico de antes. Era pura raiva.

Mátalos! – gritou ele – Matar a todos!

Naquele momento foi um verdadeiro caos no navio. Aqueles tripulantes que aguardavam as ordens do capitão se juntaram aos outros que já estavam em cima de nós. Eram muitos, não íamos dar conta de todos eles. Nem mesmo Clarisse com sua lança conseguiria acertar todos. Fiquei intrigada com o fato da arma dela também ferir mortais, mas como estamos falando do Deus da Guerra eu não deveria ficar surpresa. Eu brigava com os próprios punhos dando socos, chutes e nocauteando qualquer um que aparecesse no meu caminho. Grover dava coices e pontapés com seus cascos, tendo a vantagem de ter calçado os tênis e nenhum dos tripulantes perceberem que havia um garoto meio bode a bordo.

Já estávamos no meio da embarcação, perdendo já a briga. Não havia jeito, teríamos que sair dali. Aos pulos.

– Vamos para a popa! Temos que sair do navio! – gritei para os meus companheiros.

– O quê?! Você ficou louca?! – Clarisse eletrocutava dois bandidos de uma vez incluindo aquele que tinha o pé-de-cabra.

– A não, água salgada! – reclamou Grover.

– Não temos escolha! Vamos! – comandei nocauteando um tripulante feioso.

Corremos derrubando qualquer marinheiro que se colocavam no nosso caminho.

Na popa tivemos a sorte de não ter ninguém lá, porém não por muito tempo. Da Ponte de Comando até onde estávamos não era longe para atravessar contornando a chaminé, então não demoraria a toda uma tripulação raivosa de bandidos nos encurralarem.

Apreensiva, e morrendo de medo, subi na ponta da popa, uma mínima plataforma de ferro que mal dava para ficarem com os dois pés apoiados. Olhei para baixo. E voltei a olhar para cima, rapidinho. A altura era enorme do navio a água.

– Annabeth! – Grover apontou – Eles estão vindo!

– Venham os dois, se equilibrem na ponta da popa!

E que Poseidon nos proteja! Implorei.

Logo, nós três parecíamos trapezista de circo, meio agachados na ponta da popa, tentando se equilibrar. Respirando fundo, não olhando para baixo gritei:

– No três, pulamos! Um... Dois... – Clarisse lutava para se manter em pé. Grover nem tentou, do contrário cairia de volta para o navio – TRÊS!

Então, nós três pulamos num verdadeiro mergulho para a morte. Só tive tempo de fechar os olhos, enquanto eu ouvia o grito de raiva do capitão e dos tripulantes, perdendo os sentidos assim que eu atingi a água. Não vi mais nada depois disso.

Nosso cruzeiro em alto mar para o Caribe havia terminado.

*N/A: Proa: Frente do navio;

Popa: traseira do navio;

Ponte de Comando: centro de comando da navegação;

“Karaboudjan”: Peguei esse nome emprestado dos quadrinhos adaptados para desenho animado, “As Aventuras de Tintim e o Caranguejo das Tenazes de Ouro” do autor belga Hergé. Quem leu ou assistiu a esse episódio vai perceber que é um pouco parecido com este capítulo.



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Notas finais do capítulo

Tenho uma novidade para vocês. Eu criei um tumblr para a fic, onde lá eu vou postar os spoilers de cada capítulo na véspera, além de fotos, quotes e besteirol #rsrs. Acessem o meu perfil que tem o link e falem um oi!
Se você encontrarem algum errinho seja ele qual for, me avisem, ok?
Você leu? Então deixe um comentário e faça a Annabeth e o Percy felizes! (Se não a Clarisse vai ter dar um banho!)



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