- Quer dizer então que depois de uma guerra contra um bruxo mau, que não tinha nariz, chamado Voldemort, você – Falou Hermione apontando para o loiro no qual ela estava encostada no sofá – foi embora da sua casa porque não era mau como seus pais queriam que fosse. Daí então resolveu ajudar pessoas e como todo mundo bruxo achava...

- Acha. – Corrigiu Draco.

- Acha que você é mau, - Falou a garota com uma expressão de profundo desagrado. – Você escolheu morar aqui no mundo trouxa. Porque ninguém te conhece e nem te acha mau.

- Só esquisito. – Acrescentou Draco rindo.

- Só esquisito. – Confirmou Hermione.

- Bem, é isso. – Concluiu o loiro.

- Como alguém pode te achar mau? – Perguntou Hermione intrigada. A ideia soava absurda pra ela.

- Eu nem sempre fui assim... – Falou Draco pensativo...

- Mas você é assim agora. Você me salvou. Você me ensina um monte de coisas. Você me faz surpresas e me deixa feliz. Você faz eu ficar com uma coisa estranha na barriga. Você é bom. É meu anjo. – Declarou Hermione sorrindo para o loiro.

Draco demorou uns segundos para digerir a informação.

- Coisa estranha na barriga? – Ele questionou cerrando os olhos acizentados.

- É. – Afirmou a garota.

- Você jantou a mesma coisa que eu?

- Claro que... ah, isso foi uma brincadeira! – Percebeu a garota sorrindo.

- Que esperta a sabe-tudo! – Falou Draco assanhando os cabelos da bruxa com as mãos. Ela se esquivou tentando não rir, mas não adiantou. Em segundos os dois estavam rindo juntos como dois “bobões” na opinião de Hermione. Ficaram na sala, conversando e rindo, enquanto Petrus o elfo, observava tudo de seu lugar na cozinha, calado e com um discreto sorriso.

- Hora de dormir, tem alguém com sono aqui. – Disse o jovem Malfoy ao ver que Hermione bocejava em meio a risadas.

- Não quero dormir. – Falou a castanha esfregando os olhos.

- Ah você quer sim. Está caindo de sono.

- Não. Não quero dormir. – Repetiu a garota abraçando os joelhos. – Não vou dormir. Não vou dormir.

Draco percebeu que ela estava com medo de dormir. “Talvez ache que vá viver o que aconteceu de novo...” O jovem sentiu ímpetos de perguntar o que havia acontecido, mas achou melhor deixar para outra hora.

- Vamos lá, eu fico por perto até você...

- Jura? Você fica comigo? Você faria isso por mim? – Perguntou Hermione olhando para Draco com um pequeno sorriso brincando em seus lábios.

“Não era exatamente o que eu iria propor, mas...”

- Claro, vá se trocar.

- Esse seu quarto é muito quente... você reforçou o feitiço aquecedor? – Perguntou o loiro observando o quarto da garota.

- Gosto de calor. – Informou Hermione aparecendo na porta do banheiro que ficava no quarto. – Estou pronta para dormir. – Completou ela sorrindo.

Ficaram os dois parados. Um olhando para o outro. Hermione na porta do banheiro e Draco no centro do quarto.

- Vamos ficar assim até...

- Ah... Não. Deite-se. – Disse o jovem sacudindo a cabeça.

A castanha obedeceu e deitou-se em um dos lados da cama de casal. Ela puxou o cobertor sobre si mesma e ficou deitada de costas observando o teto.

O loiro sorriu torto enquanto conjurava uma poltrona para si.

- Você vai dormir aí? – Indagou a bruxa.

Draco ia resposta quando ela puxou o cobertor sobre a cabeça em um gesto rápido.

- O que foi? – O loiro quis saber. – Porque você fez isso?

- Você não gostou da minha roupa para dormir. Não é adequada, não é? – A voz de Hermione saiu abafada, mas Draco entendeu. Entendeu e riu.

- Não é nada disso... – Falou o rapaz.

- Então o que é? – Quis saber a castanha se descobrindo.

Ela achou o moletom, e a calça de pijama azuis muito bonitos e confortáveis. Eram também muito parecidos com os que Draco usava aquela noite. “Se não é o que estou vestindo, o que deve ser? Será que é o meu cabelo?” - Pensou ela.

- Não tem nada a ver com suas roupas, ou seu cabelo. – Disse o loiro tranquilizando a garota ao ver que ela alisava a trança que pendia em seu ombro.

- Então o que é? – Repetiu Hermione.

Vendo que a garota achava que o problema estava nela, Draco sentiu algo queimar dentro de si. Algo que o motivou a dizer:

- Não é nada. Eu só quis lembrar como se conjura uma poltrona. – Falou o moço fazendo a poltrona desaparecer com um aceno de varinha.

Hermione suspirou aliviada e sorriu para o rapaz, que lhe retribui o sorriso antes de rumar para o seu lado na cama.

- Obrigada anjo. – Disse a moça abraçando Draco, que apesar de surpreso e constrangido respondeu - Não é nada. Agora durma mon petit.

Havia uma praia muito bela, a areia debaixo de seus pés era muito branca e quente, o sol iluminava e aquecia cada cm² à vista. Draco não gostava de praias ou de calor. Ele preferia chuva, frio, um lugar pacato e de preferência gelado; mas por alguma razão, o rapaz gostou do ambiente. Uma razão que tinha um nome e sobrenome. “Hermione iria adorar”.

E foi pensando nela que Draco acordou. Para sua decepção, o lugar outrora ocupado pela garota, jazia vazio na cama.

- Mas onde ela está a uma hora dessas? – Perguntou-se o jovem observando um relógio amarelo que ficava numa cômoda perto da cama.

Ao fazer sua higiene matinal no banheiro da castanha Draco percebeu que ela já havia tomado banho. O rapaz notou, com certo pesar, que Hermione tomava mais banho que uma pessoa normal vivendo em um país tropical.

“Talvez ela se sinta suja” – Disse uma vozinha no fundo de sua mente.

- Se eu pego o desgraçado que fez isso... –Murmurou o jovem para si mesmo.

 - Eu espero que Draco goste. Você acha que ele vai gostar?

- Sim senhora. O Sr. Malfoy gosta muito de geleia de uva no café da manhã.

- Por quê?

- Porque me lembra da comida da minha mãe. O que Petrus faz aqui? Porque você está... Cozinhando? – Pronunciou o loiro adentrando na cozinha ocupada pelo elfo e pela garota.

- Ah Draco! Bom dia! – Falou a jovem como se não tivesse ouvido nada.

- Bom dia. – Respondeu o jovem não resistindo e sorrindo.

A cena era bastante cômica, mas inspirava cuidado. Hermione estava com um avental azul, que Draco não sabia a procedência, mexendo alguma coisa, provavelmente a tal geleia de uva, no fogão. A garota sorria para ele e mexia distraidamente o conteúdo da panela. O jovem tremeu pensando nos possíveis desastres.

Draco enviou um olhar ameaçador para o elfo que estava sentado numa banqueta enfeitando um vaso com flores.

- Petrus acha melhor a Srta. Granger cuidar das flores. Petrus termina a geleia do Sr. Malfoy. – Falou o elfo pulando para o chão tremulamente. Com certeza ele havia entendido a ameaça silenciosa do seu senhor.

- Mas eu...

- Deixe isso pra Petrus, Hermione. Aposto que ele vai ficar muito feliz, não é? – Perguntou Draco lançando um olhar assustador para o elfo, que balançou a cabeça num gesto positivo de modo frenético.

- Então, tá. – Concordou a jovem dando de ombros.

Ela fez o avental desaparecer com um aceno de varinha e sentou-se na banqueta onde, antes o elfo esteve.

- Você acordou cedo hoje. – Disse Draco apoiando os cotovelos na mesa.

- Eu quis fazer o café da manhã. Chamei o Sr. Petrus e ele veio me ajudar gentilmente. – Falou a castanha sorrindo ao fazer uma margarida brotar em sua palma da mão, ela a tirou e colocou no vaso.

- Você sabe fazer mágica sem varinha? – Perguntou Draco intrigado. Poucos bruxos sabiam canalizar sua mágica para o próprio corpo sem o uso de varinhas. Ele próprio não sabia fazer muita coisa sem varinha.

- Claro. – Respondeu a castanha estalando os dedos e fazendo brotar da palma da outra mão um pequeno ramalhete de margaridas.

- Gosta de margaridas? –Quis saber Draco, fazendo uma nota mental de perguntar sobre a magia de Hermione ao Potter.

- Sim. São flores muito bonitas, não acha? – Disse Hermione posicionando o vaso, agora cheio de de flores no centro da mesa.

- Como você aprendeu? – Quis saber Draco, se referindo a foto da mágica sem varinha da garota.

- Como aprendi o que?

- Fazer mágica assim, - Falou o jovem apontando com a cabeça para o vaso. – Não lembro de ter ensinado a você. Nem de ler sobre isso.

- Eu não sei. É que sai as vezes. – Admitiu a bruxa encolhendo os ombros. – Não é adequado?

- Ah não, não é nada disso. Pode fazer sempre que quiser. É adequado sim. – Falou Draco sorrindo de lado.

Um grande sorriso brotou dos lábios de Hermione. Ela ficava feliz em saber que estava se “adequando” rapidamente à vida nova que começara ao lado de Draco. A castanha já sabia muito bem como se vestir adequadamente, como se portar à mesa, como realizar feitiços complicados, como se controlar para não tagarelar... Tudo isso deixava contente, pois apesar de não lembrar de nada sobre sua antiga vida, Hermione queria lembrar de cada segundo de sua atual fase, e de como ela se esforçou para tudo dar certo.

- A geleia está pronta. – Anunciou o elfo interrompendo o silêncio que se estabelecera na cozinha.

Volta e meio Draco olhava para Hermione que praticava feitiços no quintal. Ele estava apreensivo. Havia combinado com Harry que iriam tentar fazer a memória da castanha voltar. O plano de Potter era ridículo na opinião do jovem Malfoy, mas ele teve de concordar.

O relógio marcou a hora combinada e Draco posicionou-se e aguardou em frente a lareira.

- Ora, ora... Não sabia que você era tão cavalheiro, Malfoy. – Falou a ruiva aceitando a mão que Draco lhe estendera ao sair das chamas verdes.

O loiro teve de revirar os olhos. “Essa Weasley nunca deixa de ser uma chata”.

- Vamos logo com isso, não é? Cadê a Mione? – Perguntou Gina olhando ao seu redor.

- No quintal. – Disse Draco secamente.