Eu pisquei algumas vezes, certo de que havia ouvido errado.

– Você conhece esse diário? – perguntei lentamente, meu tom de voz incrédulo.

Albus aproximou-se um pouco, olhando mais de perto o livro e estendendo a mão para pegá-lo, mas eu o impedi erguendo uma sobrancelha.

– Sim – ele confirmou e eu bufei impaciente.

– Pelas orelhas de Merlin, conhece de onde? – perguntei encarando-o indagativamente.

– Uau, alguém estressadinho por aqui – Albus comentou e eu atirei uma almofada em seu rosto. – Hey! Okay, pronto, eu falo! – ele afastou a almofada e olhou novamente para o diário. – Hum, na noite de Natal, eu briguei com Lily porque ela e Rose estavam rindo da minha cara porque James deixou ‘escapar’ aquele meu segredo... – Albus corou e eu fiz um gesto indicando que não fazia idéia de que segredo era aquele. – Da Sarah Alexander – concluiu.

– Ah, sua primeira vez! – eu exclamei, e talvez tenha sido alto demais porque uma menina que estava passando perto me encarou estranhamente, como se eu fosse um pedófilo ou algo do gênero e Albus corou triplamente mais. Sem duvida os genes Weasley entrando em ação.

– Cale a boca! – Albus chiou e eu fiz uma careta.

– Desculpe – pedi. – Pode continuar?

Albus estreitou os olhos como se deliberasse se eu merecia que continuasse falando.

– Eu fiquei furioso – ele continuou a contra gosto – E quis me vingar. Quando ela estava no jardim com Rose, eu subi até o quarto onde ela estava dormindo e procurei por seu diário em sua mala. Encontrei esse daí e o levei para meu quarto – Albus franziu a testa – mas não havia nada escrito com o que eu pudesse chantageá-la. Deve ter vindo com as minhas coisas.

Eu não tinha prestado muita atenção depois que ele disse que o diário era de Lily.

Quero dizer, alguém em meu lugar prestaria? Ele praticamente me dera tudo que eu precisava saber. Mas o mais estranho – e eu preferia não pensar nos motivos para isso – era que eu me sentia... Decepcionado.

Praticamente tudo se encaixava, desde a primeira comparação com o diário de Tom Riddle, depois dos comentários sarcásticos, assim como as ameaças de morte e o fato de não ser gorda. Eu sabia quem era AGD. Então porque eu me sentia inquieto? Porque parecia que algo não se encaixava?

– Scorpius? – Albus chamou e eu o encarei com a expressão vazia. – Você está bem?

– Yeah, eu estou – resmunguei enquanto olhava para o diário em minha mão sem acreditar.

– Não parece... Me responde uma coisa – Albus pediu e novamente encarei-o.

– Hum?

– O que você tanto faz com esse diário? Quero dizer, você escreve ai? Tipo, segredos e essas coisas? – Albus parecia estar se divertindo às minhas custas. – Há algo ai que eu possa usar futuramente para alguma chantagem?

Atirei outra almofada nele, levantando-me logo em seguida.

– Cale a boca – resmunguei.

– Hey! Aonde você vai? Sabe, já são quase nove horas, se te pegarem fora da sala comunal depois do toque de recolher você vai se dar mal – ele comentou – E você ainda não me disse qual é o plano! – eu apenas revirei os olhos.

Naquele momento o que menos me importava era ser pego. Coloquei o livro dentro do bolso interno de minhas vestes.

Eu precisava ter certeza, precisava de alguma forma, descobrir se era realmente Lily a garota do diário.

Talvez fosse bobagem minha ficar tão mexido com essa descoberta, afinal Hogwarts era enorme, e poderia ter sido qualquer garota, mas havia algo em minha mente que me dizia haver algo errado.

Caminhei pelos corredores frios das masmorras, subindo as escadas para o sala principal do castelo e logo depois virando a esquerda para subir em outro lance de escada.

Era idiotice minha, afinal eu nem sabia a senha da Grifinória e também não era como se eu fosse chegar em Lily e dizer ‘Hey botinho, eu sou o IPA, o imbecil com quem você conversa pelo diário’. Eu não era tão estúpido assim.

Mas eu continuei a subir as escadas, alguns quadros reclamando do barulho de meus passos. Ignorei-os completamente. Os corredores estavam completamente vazios, o que indicava que todos os (bons) alunos estavam em suas salas comunais, conversando bobagens e preparando-se para dormirem enquanto eu caminhava desmioladamente pelo castelo, podendo ser pego por qualquer monitor que estivesse fazendo ronda.

E eu nem cheguei a concluir esse quando ouvi passos atrás de mim.

Suspirei antes de virar e encarar quem era.

Para minha imensa surpresa, alta, magra, ruiva e com olhos brilhando de irritação, Rose Weasley encarava-me com ar de um gato que pegou sua presa.

– Que é? – resmunguei lembrando que ainda estava irritado com ela pelo que havia dito mais cedo.

Weasley pareceu perder um pouco a pose de mandona e me encarou com a expressão ilegível.

– Você não devia me tratar assim sabe? Especialmente quando estou prestes a te dar uma detenção – ela falou erguendo uma sobrancelha.

Bufei.

– Nossa, estou morrendo de medo – revirei os olhos (um gesto que estava ficando bastante comum). – Fale o que quer de uma vez Weasley, tenho coisas mais importantes para fazer do que ficar no meio de um corredor olhando para sua cara – disse à ela sentindo um pouquinho da minha raiva ser dissolvida depois de responder como um legitimo Malfoy.

Uma coisa que meu pai vivia reclamando era do fato de eu ser ‘amigável demais’. Tinha certeza de que se ele me visse naquele momento sentiria orgulho de mim.

Não que o que tinha feito fosse muito bonito, mas havia me deixado mais leve.

– Detenção, Malfoy – ela disse entredentes. – duas semanas, as oito horas, você vai limpar a sala de troféus vigiado de perto por Filch – concluiu e foi minha vez de estreitar os olhos, mas preferi não retrucar. Talvez eu merecesse.

– Ótimo – resmunguei e dei as costas à ela, voltando a caminhar.

– Sua sala comunal não é por ai – ela disse e correu até ficar em minha frente, impedindo-me de continuar a andar.

– Jura? Acho que nunca tinha percebido – juntei todo meu estoque de sarcasmo em minha resposta e tentei desviar dela para prosseguir meu caminho, mas ela não deixou.

– Pelo amor de Merlin, será que pode deixar de ser tão imbecil e agir como alguém com cérebro ao invés de um vácuo? – Weasley pôs uma mão em meu peito (o que me causou arrepios que eu decidi ignorar) e me encarou. – Olha, me desculpe.

Eu ainda estava irritado demais com as sensações que seu toque – mesmo que sobre as vestes – me causavam para dar muita importância ao seu pedido. Com certeza eu não conseguiria dormir naquela noite.

– Não quero suas desculpas – disse a ela desistindo de tentar me desviar.

– Ah, qual é Malfoy, eu sei que não fui muito simpática...

– Você foi uma grossa – acrescentei e ela estreitou os olhos.

– Yeah, eu fui – ela concordou a contragosto e balançou a cabeça – Mas é sério, eu não queria te ma...

– Você não vai falar ‘magoar’ não é? Porque, pelas calças de Merlin, eu ficaria magoado por algo que você me diz? – encarei-a tentando parecer incrédulo. – Você é insignificante para mim, Weasley – disse à ela (sentindo-me um monstro por dentro) e novamente tentei sair dali, mas daquela vez ela não me impediu.

Estava há alguns passos de distância quando ouvi sua voz.

– Talvez você não seja para mim – ela disse e eu parei de andar.

Os pensamentos decorrentes à AGD completamente esquecidos.

Virei lentamente e a encontrei me encarando.

Então eu me deixei levar. Quero dizer, eu queria mesmo fazer aquilo há tempos e as circunstâncias contribuíam, sem falar que mesmo que eu quisesse não conseguiria resistir aos meus impulsos.

Aproximei-me novamente, os passos lentos, olhando-a nos olhos.

Sem que eu percebesse como nem quando, eu estava beijando Rose Weasley e daquela vez não era um sonho.