Heart And Soul escrita por CDJ


Capítulo 55
LV




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 Acordei no dia seguinte com um barulho irritante bem perto do meu ouvido. Abri os olhos com dificuldade e procurei de onde saía aquele som. O iPhone de Justin vibrava no criado mudo ao lado da cama. Cutuquei Justin para que ele atendesse ao telefone.

 – Justin, seu telefone tá tocando – eu lhe cutuquei mais um pouco.

 – Atende aí, amor – ele pediu.

 Peguei o celular do criado mudo e atendi, saindo da cama enquanto colocava o fone no ouvido. Justin se mexeu no próprio lugar e voltou a roncar. Ele tinha uma facilidade tão grande pra voltar a dormir que era até impressionante.

 – Alô? – falei ao telefone.

 – Liv?

 A voz do outro lado da linha fez minha respiração parar e meu coração congelar. Quis desligar o celular e jogá-lo na cama, quis sair correndo, quis me trancar no banheiro. Eu queria fazer qualquer coisa menos atendê-la.

 – Oi, Selena – eu disse, na voz mais controlada que pude.

 – Oi, Liv. Tudo bom com vocês aí em Orlando? – a voz dela soava normal e entusiasmada, como se nada tivesse acontecido – Espero que você, Justin e as crianças estejam se divertindo.

 Então ela sabia que estávamos em Orlando. E ela sabia que Justin estava lá comigo. O que mais ela sabia? O que ela não sabia? Eles haviam terminado o namoro ou não? Pelo jeito que ela falava, era como se eles ainda estivessem juntos e essa viagem não passasse de um passeio casual entre amigos.

 – Sim, estamos nos divertindo bastante – respondi, a voz falhando um pouco – Selena, Justin está dormindo agora. Você quer que eu o acorde?

 – Não, não precisa. Mas se você pudesse dar um recado a ele, eu ficaria agradecida – ela respondeu.

 Assenti com a cabeça, mesmo tendo certeza de que ela não me via. Fui para o banheiro e me tranquei lá dentro. Eu queria saber se Justin havia mentido pra mim. Se estava com Selena e comigo ao mesmo tempo. Se aquilo fosse verdade, ele estava sendo um babaca retardado e cafajeste.

 – Sim, claro. O que quer que eu diga?

 – Diz pra ele que eu amei as flores que ele me mandou esta manhã. Tinha até um cartão dizendo que eu era a mulher da vida dele e que ele nunca poderia amar ninguém do jeito que me ama. Isso não é fofo? Ele é tão perfeito.

 Minha garganta se fechou e as lágrimas começaram a cair.

 – É, sim – murmurei – Muito fofo.

 – Obrigada por guardar meu recado, Liv.

 – De nada. Tchau.

 – Ah, outra coisa – ela me chamou de volta à linha – Eu queria te dar um aviso também.

 Engoli em seco e sequei as lágrimas que caíam. Agora Selena ia acabar com a minha pele. Ia me chamar de vadia, ia me mandar sair de perto de seu namorado. E eu ia escutar tudo isso calada porque ela estava certa. Justin era namorado dela e nós estávamos traindo Selena. Eu não conseguia acreditar que ele havia feito aquilo comigo. E ele disse que me amava. Se isso era amor, o que seria ódio?

 – Que aviso? – perguntei.

 – Justin é um pouco, hum, mulherengo. Ele sempre vê potencial em todas as garotas que conhece e é por isso que eu tenho que mantê-lo numa coleira bem apertada. Ele tem a necessidade de dar em cima de toda garota bonita que ele vê, porque esse é simplesmente o jeito dele. Eu o entendo, mas conto com a colaboração das garotas. Para que elas não deem muita bola para ele.

 Engoli em seco de novo.

 – O que você quer dizer?

 – Quero dizer que, Liv, você é uma garota muito bonita. Só quero deixar avisado que, se Justin der em cima de você, não fique assustada nem nada. Ele faz isso. Mas eu gostaria que você não prestasse atenção ao que ele diz. Tudo bem? Porque, você sabe, ele me ama mais do que ama qualquer outra pessoa. E, no final, ele sempre vai acabar voltando pra mim. Sempre. Não importa quem ele conheça.

 Fiquei muda. Não conseguia falar nada, porque suspeitava que, se eu abrisse a boca, não ia conseguir mais parar de chorar. Justin havia me enganado todo aquele tempo. Fez aquele teatro idiota na minha porta, me trouxe pra Orlando. Tudo isso pra que? Agora eu entendia mesmo o que ele queria. Ele dizia que ia esperar por mim, mas era mentira. Ele me queria do jeito mais errado possível.

 – Lembre-se disso, ok? – disse Selena, me trazendo de volta a realidade – Tchauzinho.

 – Tchau – murmurei.

 Desliguei o celular de Justin. Minha vontade era jogá-lo na parede, mas não o fiz. Ao invés disso, sentei-me no chão frio e solucei por vários minutos consecutivos. A dor inchava meu coração e me fazia perder o ar. Eu amava Justin de verdade. Ele era o único que tinha o suficiente de mim para conseguir me quebrar. E ele conseguiu. Ele realmente conseguiu me quebrar inteira. Eu não conseguia mais respirar direito.

 Quando me levantei e me olhei no espelho, eu não via nada além de uma garota idiota que foi cair nas palavras doces de um filho da puta. Eu devia ter imaginado, eu devia saber. Ele nunca se apaixonaria por mim de verdade. Quem sou eu, perto da namorada dele? Quem sou eu, perto da fama que ele tem? Quem sou eu? Não sou ninguém.

 Sequei as lágrimas e lavei o rosto. Meus olhos me encararam e a dor foi substituída pelo raiva. Justin havia me enganado e me fez sofrer. Mas agora ele não ia mais me ter. Eu ia ser tão má com ele quanto ele foi cruel comigo. Eu ia quebra-lo inteiro, do mesmo jeito que ele havia me quebrado.

 Peguei o iPhone e saí do banheiro. Ele já estava acordado e sentado na cama. Justin me olhou satisfeito, como se me ver fosse a melhor parte de seu dia. Até parece.

 – Bom dia, baixinha – ele saiu da cama e me abraçou.

 – Você pode, por favor, me soltar? – eu o empurrei para trás.

 – Está tudo bem com você? – ele me olhou preocupado.

 – Tudo ótimo – respondi, dando de ombros – Ah, você precisa de um celular novo.

 Justin encarou seu iPhone em minha mão e deu risada, negando com a cabeça.

 – Não preciso, não. O meu está aí com você – ele respondeu.

 Joguei o celular na parede. Ele bateu, quebrou e quicou no chão. Justin me encarou, abismado, e depois encarou o celular. Dei de ombros.

 – Eu disse que precisava de um celular novo.

 Saí do nosso quarto e entrei no quarto das crianças. Elas já estavam acordadas e pulavam em cima da cama de casal. Eu me foquei em arrumá-las para o nosso dia cheio hoje no parque da Universal. Justin já estava pronto quando entrei no quarto para me trocar. Escolhi uma blusa e um short e peguei outro sutiã. Virei de costas pra ele e tirei o sutiã que estava usando. Coloquei o sutiã novo sem que ele visse algo considerável.

 – Quer ajuda para abotoar? – ele perguntou, tocando nas minhas costas.

 – Não toca em mim – respondi, com raiva – Posso fazer isso sozinha.

 – Tudo bem – ele respondeu, erguendo as mãos espalmadas – Você está na TPM ou sei lá? O que aconteceu?

 Bufei e me virei, já com o sutiã abotoado. Coloquei o short e a blusa. Quando me sentei na cama para colocar os tênis, voltei a falar.

 – Não tenho nada. Só estou cansada de você.

 – O que? – ele perguntou, confuso.

 – Você quer que eu soletre? C-a-n-s-a-d-a – respondi, me levantando com os tênis nos pés – É um sentimento bem comum.

 – Liv, do que você está falando? Você está tão estranha hoje – ele argumentou, franzindo as sobrancelhas.

 – Justin, você é muito burro pra entender. Então vamos descer e ir para o parque logo, porque as crianças estão nos esperando – respondi, passando por ele e indo em direção ao quarto das crianças.

 Justin me puxou forte pelo braço e me fez encará-lo. Ele tinha um olhar que misturava confusão com raiva. Pra mim, aquilo estava ótimo. Se ele apodrecesse no inferno, eu também ficaria muito feliz.

 – Fala direito comigo, porra! – ele aumentou o tom de voz e me apertou mais forte.

 – Me solta, seu idiota – tentei puxar meu braço.

 – Não até você me dizer o que está acontecendo.

 – VOCÊ SABE O QUE ESTÁ ACONTECENDO – gritei.

 Eu sentia as lágrimas de raiva queimando meus dutos lacrimais. Eu queria tanto chorar, mas não podia. Não ali. Não na frente dele. Eu tinha que me fazer de forte e pisá-lo até que não sobrassem nada mais do que as cinzas de Justin no meu coração. Ele era um babaca, idiota, cafajeste, filho da puta, mentiroso. Ele me enganou, mentiu pra mim e quebrou meu coração. Eu queria tanto poder odiá-lo. Mas eu só sentia raiva.

 – Liv, fala comigo – ele pediu, os olhos torturados.

 – Justin, me solta – pedi mais uma vez.

 – Não. Fala comigo.

 – ME SOLTA! – gritei e o empurrei para trás.

 Justin cambaleou para trás e soltou meu braço. Saí do quarto e fui para o das crianças. Elas me esperavam, já prontas. Nós descemos juntos pelo elevador e tomamos café da manhã em silêncio. Justin e Moshe apareceram depois, mas também não disseram nada. Justin me olhava abismado e confuso. Eu não queria demonstrar meus sentimentos, então simplesmente continuei indiferente.

 Nós saímos com a Land Rover naquele dia, porque os parques da Universal ficavam fora do complexo da Disney. Assim que chegamos lá, o que havia acontecido no Magic Kingdom acabou acontecendo no Island Of Adventures. Fomos puxados para longe da multidão e da revista e já entramos direto no parque. Pegamos a entrada à direita e caminhamos até chegarmos ao Seuss Landing, uma área dedicada ao Dr. Seuss.

 Essa área era um pouco mais dedicada à crianças menores, então fomos em praticamente quase todos os brinquedos. Quando saímos de lá, chegamos ao The Lost Continent. Lá assistimos a um show cheio de efeitos especiais, relatando a briga de Poseidon com outro deus que eu não me lembrava do nome.

 Saímos do The Lost Continent e chegamos ao O Mundo Mágico de Harry Potter. Foi a única coisa que mudou meu dia. Não consegui aproveitar tanto assim, porque meu humor estava péssimo, mas comprei feijõezinhos de todos os sabores e sapos de chocolate na Dedos de Mel. Quase me perdi na Zonko’s e depois fui pegar uma cerveja amanteigada.  Almoçamos no Três Vassouras.

 Esperamos a comida baixar e ficamos passeando pela falsa Hogsmeade. Depois fomos numa pequena montanha russa, o Flight of the Hippogriff, que era leve e admitia crianças pequenas até uma certa altura. Eu e Justin fomos sozinhos no brinquedo dentro do castelo, chamado Harry Potter and the Forbidden Journey. Não conversei com ele enquanto esperávamos na fila do Express, que era uma espécie de Fast Pass. Ele nem ousou olhar direito pra mim. O brinquedo era no estilo de uma montanha russa e a única coisa que ele não fazia era virar de cabeça pra baixo.

 Assim que saímos, fomos para a área de Jurassic Park. Não havia muita coisa que nós pudéssemos fazer lá, então seguimos direto para Toon Lagoon. Em Toon Lagoon, só fomos em um brinquedo, o Popeye and Bluto’s Bilge-Rat Barges. Cabiam cerca de seis pessoas em uma pequena embarcaçãozinha redonda de maneira. Aí seguímos por um rio com uma fraca correnteza e acabamos inteiramente encharcados. Foi o brinquedo mais divertido, com certeza. As crianças adoraram.

 Depois de Toon Lagoon, vinha Marvel Superhero Island, que era a área dedicada aos super heróis da Marvel. Não fomos em nenhum brinquedo também, porque as crianças não podiam andar em alguns e eu não queria ir em nenhum sozinha.

 Já passava das sete da noite quando saímos do parque. Pegamos a Land Rover e voltamos para o hotel. Tive que dar um banho nas crianças, porque ela estavam ensopadas e suadas. Enquanto elas assistiam Nick Jr, aproveitei para tomar banho no banheiro deles mesmo. Saí do banheiro já de roupa e não fui para o quarto de Justin. Fiquei só no quarto das crianças, tendo que aturar Dora, a aventureira.

 Justin nos chamou para descer até o restaurante do hotel. Foi o que fizemos. Ele tentou passar o braço pela minha cintura, mas eu o empurrei para longe. Ele resolveu dar um pouco de atenção aos irmãos e à Louie, já que eu não estava dando bola pra ele. Só por causa disso, o jantar foi super animado. As crianças conversavam e cantavam com Justin, mas eu não conseguia tirar a expressão de descontentamento do meu rosto.

 Subimos de volta para o nosso andar. Caminhei em direção ao quarto das crianças, que era onde eu ia dormir naquela noite. Justin me puxou pelo braço de novo antes que eu pudesse entrar. Fechei a porta do quarto e deixei as crianças lá dentro.

 – Você não vai dormir comigo hoje? – ele perguntou.

 – Não.

 Justin soltou o aperto em meu braço e me encarou, mais confuso do que antes.

 – Liv, não estou te entendendo. Ontem nós tivemos uma noite maravilhosa. Sei que foi tão boa pra mim quanto foi pra você. E hoje você ficou toda estranha comigo. Qual é o problema?

 Os olhos dele pareciam torturados de novo. O que eu estava fazendo realmente o machucava. Pelo visto, ele gostava de brincar com a comida. E agora que eu não parecia mais estar entrando nessa brincadeira, a comida havia perdido o gosto.

 – Meu problema? Você quer mesmo saber qual é o meu problema? – perguntei, cerrando os punhos.

 – Quero.

 – Você. Você é o meu problema.

 Justin cambaleou para trás, como se eu tivesse lhe empurrado.

 – Você é patético. Você realmente acha que com essa conversinha fajuta vai conseguir me ter? Eu conheço suas verdadeiras intenções, Bieber. E ontem eu percebi que eu cansei de brincar. Eu me cansei de você – minha voz saiu amarga, dura e falsa.

 Eu tinha imaginado o discurso na minha cabeça um milhão de vezes e eu queria usar as palavras certas para atingi-lo forte o suficiente. Eu queria massacrá-lo, dominá-lo e quebra-lo, do mesmo jeito que ele havia feito comigo. Eu queria pisar em seu ego e dar um nó no seu orgulho, para que ele nunca mais fizesse algo assim com outra garota.

 – Mas... – Justin estava com os olhos cheios de lágrimas – você me ama.

 – Eu nunca disse isso. Eu gosto de você, isso é verdade. Gosto de brincar com você, gosto de beijar você, gosto quando chegamos perto de fazer algo mais sério. Só que eu já perdi minha paciência. Já me cansei. Justin, você é realmente um garoto comum. Ordinário, sem nada de especial. Não há nada em você que me prenda. Eu só quero deixar claro que você é só mais um pra mim. Eu não te amo e, pelo amor de Deus, definitivamente não te quero. Então, procure outra garota.

 Justin quase não conseguiu manter as lágrimas dentro dos olhos. Aquele discurso devia ter feito eu me sentir melhor, mas eu me sentia mil vezes pior. Queria chorar pelo resto da noite e sumir para sempre. Não queria ver Justin nunca mais. Ele só me trazia dor, sofrimento e mentiras. Eu não aguentava mais aquilo.

 Eu me virei para entrar no quarto das crianças, mas Justin me puxou de novo.

 – Você está mentindo – ele disse, olhando nos meus olhos.

 É claro que eu estava mentindo, mas ele não podia saber daquilo. Neguei com a cabeça e sorri de escárnio. Empurrei-o para trás e cruzei os braços.

 – Não sou a mentirosa dessa história – sibilei.

 – Eu nunca menti pra você! – ele jurou, inclinando o corpo para se aproximar de mim.

 – Vá se foder, Justin. Não quero mais te ver, entendeu isso? Não quero mais você. Pra mim já chega! – eu me virei e abri a porta – Você me dá nojo.

 Fechei a porta do quarto e tranquei com a chave. Colei as costas na porta e comecei a chorar. As crianças me puxaram pela mão e quiseram saber o que estava acontecendo. A porta de conexão com o quarto de Justin estava só fechada e ele provavelmente não entraria. Não contei às crianças o que havia acontecido, mas me deitei com elas na cama de casal. Elas dormiram minutos depois, mas eu continuei acordada. Não ouvi som nenhum vindo do quarto de Justin e parei de pensar nisso. Só fui pegar no sono depois de chorar por duas horas consecutivas. Minha cabeça latejava e meu corpo inteiro doía. Quando fechei os olhos, rezei para que tudo aquilo não passasse de um sonho ruim.


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Notas finais do capítulo

Lembrando que também estou postando no fanficscdj.tumblr.com e no animespirit.com.br/cbdd6277
Então pessoal, acho que o próximo capítulo vai ser o último dessa temporada. E sim, vocês estão chocadas e odiando muitas pessoas (inclusive eu) depois de lerem esse capítulo. POIS É, a porra ficou séria. E não acaba por aqui a baixaria HADUIHAUI
Ah, sobre os nomes dos brinquedos do parque, eu só tenho o folhetinho deles em inglês. Então, todos os nomes estão em inglês. Desculpem por isso.
Enfim, espero que tenham gostado e até amanhã ♥