O garoto voltou à consciência, com fortes dores no braço e no tórax. Ele sentia um liquido quente escorrendo por sua cabeça, que latejava de dor. O moreno percebeu estar de ponta cabeça no carro, algo que dificultava bastante seu trabalho para sair dali.

Sean se livrou do cinto, que o tinha salvo de uma batida muito feia na cabeça. Apesar do risco fundo em sua testa. Ele se virou, para ficar de costas no teto do carro, que agora era o único chão solido que ele tinha.

O moreno usou a força que tinha nas pernas para chutar a porta para longe do seu caminho e sair rastejando do carro com dificuldade. O garoto olhou ao seu redor, vendo o deserto escuro e solitário na noite que era a sua volta e seu carro favorito, um Lexus 660 destruído.

Sean sacou seu celular e procurou sinal. Infelizmente, onde ele estava não havia nada. Então o garoto, subiu em cima das grandes pedras que compunham o desvio que causara seu acidente e encontrou um minúsculo ponto de sinal. O suficiente para mandar uma mensagem rápida a Ryan.

O garoto tirou o casaco e se apoiou de costas na pedra, esperando a dor passar e o amigo chegar. Pelo menos a dor latejante em sua cabeça o fazia esquecer seus problemas e dos rostos que assombravam sua mente. Pelo menos isso. O moreno pensou, pelo menos isso aquele acidente estúpido o havia feito.

Tinha sido burrice deixar seus pensamentos voarem até aqueles rostos, tinha sido criancice tirar seus olhos da estrada por segundos antes de ver que era tarde demais. Agora seu querido carro estava estragado, e ele estava perdido em algum lugar da rota 66.

O moreno percebeu finalmente, que sentia uma ponta aguda de dor em seu braço esquerdo. No entanto, como havia sido treinado para resistir à dor não sabia ao certo se era apenas um machucado ou uma fratura mais grave.

Sean viu um vislumbre de um carro a distância e pensou que até que não tinha esperado muito. Logo o carro de Ryan estacionou perto do desvio e o ruivo saiu lá de dentro com uma roupa de festa.

- Puxa, Sean, eu gostava desse seu carro. – Ryan disse, se aproximando do amigo que já escorregava da pedra.

- Obrigada, cara, eu estou ótimo. – Sean disse.

O ruivo riu.

- Esta machucado? – o ruivo perguntou.

- Acho que quebrei o braço e tenho um corte na cabeça, fora isso estou ótimo. – o moreno disse, dando de ombros.

- Vamos, temos que dar um jeito nessa sua cara de machucado antes da festa de hoje à noite. – o ruivo disse.

- Eu acabei de sofrer um acidente e você só se importa com a festa de hoje à noite? – o moreno perguntou, ironicamente, entrando no carro junto do amigo.

- Lembra-se de quem vai à festa dessa noite? – Ryan perguntou.

- Não, acho que a batida fez algum mal a minha cabeça. Por favor, caro amigo, refresque minha memória. – Sean pediu.

- Acho que a pancada na sua cabeça foi forte demais. – disse o ruivo e o moreno riu. – Owen estará lá essa noite.

- Ah, sim. Owen. – disse Sean, parecendo refletir por um momento de olhos fechados. – Vamos acabar com todo o dinheiro dele, mas primeiro, me deixe na sede. Preciso de uns curativos.

Dito isso, Ryan aumentou ainda mais a velocidade do carro. Cortando o deserto com a atenção que Sean não teve naquela tarde. Eles chegaram em pouco tempo na sede, saindo do carro e subindo os vários degraus até a enfermaria da organização.

Sean se sentou em uma maca e uma garota de cabelos castanhos veio logo examiná-lo. Seu nome era Grace, ela estava há muito tempo na organização, sendo ela muito experiente.

- Ei, Sean, o que aconteceu com você? – Grace perguntou, enquanto apertava o braço do garoto, para sentir as fraturas. – Perdeu a pratica?

- É como dizem, minha querida, muito tempo longe do campo faz isso as pessoas. – Ryan disse, interrompendo o amigo.

- Cala a boca, Ryan. – Sean rebateu, fazendo o amigo rir.

- Bom, Sean, você esta com o braço quebrado. – Grace disse. – Vou chamar a enfermeira para engessá-lo e você já poderá ir.

- E você Grace? O que esta fazendo aqui na enfermaria? – Sean perguntou, enquanto a garota arrumava suas coisas.

- Cumprindo horas por aqui, tive uma infração na ultima missão e vou ter que passar algumas horas por aqui. – a garota falou, revirando os olhos.

A garota deu as costas aos dois, e deu espaço a enfermeira. A mulher engessou o braço do moreno, dando as instruções adequadas para a recuperação. Ele teria que passar dois dias com o braço imobilizado e apenas no final do segundo dia, quando o braço estivesse imobilizado ele receberia o liquido que o curaria em uma madrugada.

Fazia tempo que o garoto não recebia o liquido de cura, e naquele momento, parecia uma boa ideia de esquecimento aquela dor insana e mental que ele sempre sentia. Talvez aquilo apagasse sua memória por algumas horas. Será que aquilo seria o suficiente? Bom, ele esperava que sim.

Depois de tomar um banho, tomando cuidado para não molhar o gesso e se trocar, os dois amigos foram para o clube. Onde dariam uma super noite, patrocinada por Ryan, para Owen. Sean só concordara em fazer aquilo porque era o ex de sua irmã, e porque Ryan era seu amigo.

*************

O avião particular da organização tinha acabado de decolar, e as duas garotas não trocaram uma palavra desde que tinham embarcado. Leah ainda estava apreensiva, aquela era sua primeira missão e ela tinha medo de falhar.

Já Megan estava receosa por levar alguém totalmente inexperiente. E tinha ainda mais medo de sair em uma missão e levar o dobro do tempo esperado, sendo que seu ex namorado estava vindo a cidade. E se ela conhecia o irmão e Ryan, e ela conhecia, sabia que eles já tinham conhecimento sobre a vinda de seu ex, e que provavelmente estavam aprontando algo.

- Sabe, Megan, você não é a única preocupada por aqui. – Leah disse sem pensar, cansada daquele silêncio incomodo que tinha que aturar sempre que a morena estava por perto.

- Você julga seus problemas piores que os meus? – Megan perguntou.

A morena estava sentada de frente para a loira, e se virou para encará-la friamente.

- Meu ex namorado, Owen, de Nova York esta indo para Los Angeles essa tarde. Sean e Ryan com certeza sabem da presença dele no The Night essa noite e com certeza vão aprontar alguma coisa. Ele é a única lembrança que eu tenho viva do meu passado e meu irmão acha que o matando vai me proteger... – a morena começou, parando para retomar o fôlego e decidir se aquilo era mesmo uma boa ideia. – Eu preciso mante-lo vivo, eu não sei por quê. Mas eu preciso de algo no meu passado que não esteja morto e que não exale desastre.

- Minha vó... Clarisse me odeia. E deixou isso muito claro na ultima noite. Eu estava arrumando minhas malas para vir a esta missão, e ela estava bêbada. Ela disse tudo o que pensa de mim na minha cara. Disse que eu sou a responsável pela morte de meus pais, e pra ser sincera, eu realmente acho que a culpa seja minha. Então eu estou sendo treinada, provavelmente, para matar a mim mesma. O que vai ser uma grande perda de tempo da parte de todos vocês. Mas quer saber, eu realmente não acho que falar com você sobre isso vai adiantar alguma coisa. – a loira disse friamente. Parecendo a própria Megan por alguns segundos.

A morena sorriu, minimamente.

- Eu entendo você. – a morena disse, fazendo a garota na sua frente a olhar desconfiada. – Sério, eu entendo. Eu perdi minha mãe quando era pequena, a única diferença é que Sean cuidou de mim esse tempo todo. Então eu acho que vocês tem mais coisas em comum do que pensam.

- Por que esta me dizendo isso? – a loira perguntou.

- Porque eu vejo muito de mim em você. Toda a sua força e essa perseverança, que você tenta esconder para usar como um elemento surpresa. Eu entendo, eu era assim no começo. – Megan disse. – Alem do que, eu vejo o jeito como olha para meu irmão. Sei o quanto gosta dele.

- Vai me dizer que é perda de tempo? – Leah perguntou. – Porque ouvir de você vai ser melhor do que eu repetir a mim mesma pela nonagésima vez.

- Não direi isso, porque machucara minha amiga e meu irmão. – a morena disse, fazendo a garota levantar uma sobrancelha. – Tenha paciência com Sean, ele já passou por muita coisa e é muito cabeça dura. Então vá com calma.

- Então esta me perdoando pelo que aconteceu no The Night? Porque sinceramente, eu sinto muito.

- Sei disso. Você estava chateada, eu não facilitei o treinamento para você. – Megan disse, dando de ombros. – Só que da próxima vez, tente puxar Sean para a pista e não meu namorado.

- Vou tentar. – Leah disse, sorrindo junto da morena. – Falando nisso, vamos tentar acabar essa missão antes que tudo o que sobre de Owen seja fumaça.

- Por isso, e para que sua vó lhe peça às desculpas que você merece. – a morena disse, sorrindo.