O sábado finalmente havia chegado, e Miku já havia passado mais informações sobre a reunião, para Len. Como por exemplo, que ela seria realizada às 9 a.m na sala 2-B. O loiro já estava sentado em uma carteira no meio, observando com desinteresse enquanto pessoas e mais pessoas se juntavam no lugar. Alguns alunos ficaram de pé, afinal, era muita gente. O loiro via a de cabelos verdes sentada sobre a mesa normalmente usada pelos professores, ladeada por uma albina, a que lhe havia dito onde encontrar Miku quando quis entrar no grupo, Yowane Haku, se bem se lembrava.

         Suspirou pesadamente ao ouvir conversas animadas e confusas vindas de todos os lados, e percebendo que ninguém ali parecia realmente interessado na reunião. Olhou para o relógio 9:12 a.m... Hatsune devia estar esperando para ver se algum atrasado chegava.

         “Depois daqui, vou conhecer os pais do meu namorado...”

         “A festa de ontem foi incrível! Eu saí tão tarde que nem sei como consegui vir até aqui!”

         “Aaaaii, cuidado por onde anda!”

         “Querido, querido, vamos ao cinema? Saiu um filme com aquele ator que eu gosto, parece muito bom... é de ação!”

         “Bom dia, gente!!!” gritou Miku, com um sorriso, fazendo todas as conversas pararam por um segundo, e com que alguns respondesse um formal: “Bom dia, Hatsune-senpai”, outros um simples “Dia...” e até alguns “Yo”. Tiveram alunos que simplesmente assentissem e continuassem quietos, observando a garota com atenção, assim como Len.

         “Eu sei que a maioria de vocês queria estar em casa, dormindo.” E houveram murmúrios de concordância, fazendo a esverdeada rir. “Mas isso é mesmo importante, e no fim, eu sei que é divertido encontrar os amigos no fim de semana também, não é mesmo? Vocês ainda podem usar a oportunidade para sugerir um programa surpresa, né?” e piscou para a veterana que chamava o namorado para sair. Dessa vez, a grande maioria concordou, e o restante soltava baixas risadas.

         “Então, vamos acabar com isso bem rápido, e então podemos sair daqui mais cedo, o que acham?” os alunos pareceram se animar com a ideia, e a líder sorriu para todos. “Alguém tem alguma ideia para cartazes de propaganda?”

         Len arqueou um pouco a sobrancelha. Miku era boa nisso. Conseguira prender a atenção dos jovens com algumas palavras de camaradagem, sem deixar que eles se desviassem do foco, mesmo assim. Ela serviria bem de professora. Observou enquanto umas tantas pessoas iam falar com ela, algumas levando folhas de papel, e um grupo se formou, com todos conversando sobre o que poderia ser feito em determinados cartazes.

         “Acho que isso vai demorar...” resmungou alguém sentado atrás de Len, e o garoto virou a cabeça minimamente para olhar. Fora uma garota alta, de cabelos loiros e rosto bonito, que usava roupas muito folgadas, de aparência confortável, e olhava para frente, aparentemente falara sozinha, enquanto fazia anotações.

         “Tem razão. Mas eu gosto do projeto da Hatsune, então não tem problema.” Fora a vez de um menino albino, que Len teve que olhar duas vezes para confirmar se era mesmo do sexo masculino, pronunciar-se.

         O loiro colocou a mão no queixo, pronto para pensar no projeto, e em como poderia melhorá-lo. E então se lembrou que ele não sabia do que se tratava, e que entrou apenas para ficar em um grupo diferente de Rin. Franziu o cenho, se sentindo mal por só ter começado a pensar nisso agora. Estivera tão ocupado ajudando Rin na letra de Romeo & Cinderella e planejando junto com ela como fazer certos cenários, que até se esquecera de perguntar. E provavelmente sua irmã teria o mesmo problema na hora da primeira reunião...

         Virou-se para trás um pouco sem graça, atraindo a atenção da loira e do albino, que lhe mandaram um olhar curioso e questionador.

         “Desculpe... poderiam me dizer do que se trata o projeto da Hatsune-senpai?” indagou, desviando os olhos ao ver a expressão dos interrogados.

         “Como você não sabe até agora?!” exclamou a garota, arqueando uma sobrancelha, parando de fazer anotações.

         “Bem, eu...” começou a falar, ajeitando o óculos sobre o nariz antes, nervoso. Porém, foi interrompido.

         “Não faz diferença. É melhor dizer logo, assim você começa a pensar mais rápido.” A loira tornou a falar e virou-se para o andrógeno albino de olhos diferentes. “Piko, explique a ele.”

         “Ah... eu é que vou explicar, né...?” suspirou, olhando para Len “Tudo bem... a Hatsune tem como projeto fazer uma linha do tempo com a cidade de Tokyo.” E sorriu.

         “... Como assim?” indagou o loiro, desentendido, franzindo o cenho. Piko suspirou outra vez.

         “Veja bem, vamos fazer algo como um caminho, ou um labirinto, e colocar nas paredes fotos de Tokyo evoluindo. Em algumas partes, talvez possamos colocar um vídeo de algo importante que aconteceu... só que vai desde Edo até a Tokyo atual, vai dar bastante trabalho.” Len entreabriu os lábios, surpreso. Aquilo ia ser dificílimo de fazer. Mas, provavelmente, se feito de uma forma boa, terminaria com um efeito muito bom.

“É claro que a Miku vai dar mais espaço para coisas importantes como... hmmmm...” começou a loira, colocando uma mão no queixo. “Como Edo virou capital, essas coisas.” Len assentiu, e pegou seu próprio caderno para anotar o assunto do trabalho. “Aliais, eu sou a Ia, e esse é o Piko.”

“Utatane.” Corrigiu o albino, rindo da expressão confusa de Ia. “Utatane Piko. Você é o Kagamine Len, não é? Então, porque entrou pro grupo da Hatsune se nem sabia do que era?”

Len ficou apenas o observando, tentando achar uma explicação. Molhou os lábios, nervoso, virando-se para frente logo depois, fingindo anotar algo no caderno, e logo depois tornou a olhar para trás, reparando que Piko e Ia o olhavam com curiosidade nada disfarçada. Estralou os dedos antes de finalmente falar algo.

“Eu não queria ir pro grupo da Akita Nero... e como estavam acabando os grupos, eu fiquei um pouco nervoso e ansioso para...” e, novamente, a loira o interrompeu.

“E o Ted? Digo, Kasane Ted? Ainda tinham vagas no grupo dele.” Os três ficaram em silencio por uns instantes.

“Bem...” começou Len, e como se por mágica, Miku apareceu ao lado dos três, sorrindo amigavelmente.

“Kagamine Len-kun...” chamou ela, fazendo o loiro virar-se para olhá-la. Por um momento, achou que seria repreendido por estar falando ao invés de tentar ajudar no trabalho, porém a garota continuava sorrindo dócil. “Você é dos poucos que não tem nenhuma atividade extra por aqui, e os outros que não tem precisam ir embora sempre na mesma hora...” o sorriso se alargou. “Será que não quer me acompanhar para comprar o material para fazer o trabalho?”

Primeiro, o loiro pensou em negar ferventemente, e dizer que precisava levar Rin para casa todos os dias. Mas, logo, passou-lhe pela cabeça que se não o fizesse, Miku ia ter que ir sozinha, e não era bom deixar uma garota carregar coisas pesadas. Ainda por cima, podia usar da oportunidade para pedir mais detalhes sobre o que ela queria fazer, já que tinha ficado com algumas dúvidas em relação ao trabalho.

“Ah, eu posso, claro... er... tudo bem...” respondeu, embaraçado, anotando no caderno, apressadamente, qual seria sua obrigação no grupo.

“Ah, mas também vou querer que você faça outras coisas...” ela comentou, colocando as mãos na mesa e inclinando-se para olhar o que ele escrevia. “Ajudar a preparar a sala, e a iluminação, essas coisas...”

“C-certo...” tratou de acrescentar isso a suas notas, vendo a esverdeada sorrir. Miku virou-se para Piko e Ia, que apenas assistiam em silêncio.

“E vocês, o que vão querer fazer?” o loiro tinha certeza que a voz de Piko formulara uma resposta, e chegou a seus ouvidos, porém seu cérebro foi incapaz de decodificar o código sonoro e permitir-lhe entender o que era dito.

Pelo restante da manhã foi assim. Ficara aéreo, olhava para Miku explicando tudo que iam fazer, na frente do quadro, mas não conseguia entender nada. Respondia apenas com “é”, “talvez” e “sim” quando Ia lhe perguntava algo. Agora que já havia aceitado fazer as compras com Miku, lembrara-se que não ia poder fazer isso de forma alguma. Não sem deixar Rin extremamente irritada, e estava evitando ao máximo fazê-lo.

“Precisa ter uma forma...” pensava, enquanto mordia o lábio inferior nervosamente. “Talvez dizer a Hatsune-senpai que minha mãe não deixou, na segunda feira... é isso, pode dar certo...”

Foi com isso em mente que saiu da sala, quando já era meio-dia, e foi correndo para casa. Assim que entrou, apurou os ouvidos. Não conseguia ouvir nada. Ou seja, depois do café da manhã, Rin voltara a deitar-se e estava até agora dormindo. Suspirou, embora um sorriso divertido estivesse em seu rosto. Nunca entenderia como alguém conseguia dormir tanto.

Fazendo o mínimo de barulho possível, praticamente andando na ponta dos pés, foi até seu quarto e deixou a mochila em cima da cama, prendendo o cabelo em um rabo-de-cavalo e tirando o casaco de moletom, não se incomodando em tirar os óculos naquele momento. Em seguida foi até a cozinha, colocando as duas marmitas, que a senhora Kagamine deixara prontas, no microondas. Colocou o mesa, passando a comida para os pratos, pois não gostava de comer na marmita, para só então ir em direção ao quarto da irmã.

Abriu a porta lentamente, surpreendendo-se ao perceber a luz da escrivaninha acesa. Entrou, vendo Rin escrevendo, concentrada, em uma folha com as bordas decoradas com desenhos de rosas amarelas, e fones de ouvidos, provavelmente por isso não reparara que ele havia chegado. E estava tão concentrada que não percebeu que ele entrara. Arqueou uma sobrancelha, olhando desde o rosto corado da loira até as letras decididamente mais caprichadas que o normal, e entendeu o que aparentemente estava acontecendo.

Limpou a garganta, finalmente fazendo Rin se virar, atônita, para ele, empurrando a carta, até fazê-la cair atrás da escrivaninha. Len teve muita vontade de rir. Tanta, que teve que morder a parte interior da bochecha com força para se impedir, segurando um gemidinho de dor que quase escapou por isso.

"O almoço." Falou simplesmente, vendo Rin relaxar, desviando os olhos. "Quer falar sobre isso?"

"I-isso o que? Não fiz nada! Você não viu nada!!" começou com um sussurro, que foi ganhando força, até se transformar em um grito ansioso.

"Calma... eu não li nada, Rin." Ela suspirou aliviada. "Mas dava pra saber sobre o que era. Se quiser me contar..." a loira pareceu pensar no assunto, levantando os olhos para os do irmão, fitando-os por certo tempo, até suspirar e levantar-se, sem olhá-lo.

"Vamos almoçar. Eu estou com muita fome..." resmungou, embaraçada, mexendo as mãos nervosamente.

Len decidiu deixar o assunto de lado e guiá-la para a cozinha. Aquela Rin apaixonada e envergonhada era fofa, mas não podia provocar muito, afinal, ainda pretendia comentar "despretensiosamente" sobre o chamado de Miku, para ver se a loira se importaria que ele fosse. Por isso, o almoço foi quase totalmente silencioso, tirando alguns poucos comentários.

Mas se Len soubesse a confusão que aquela simples e inocente carta traria, com certeza teria perguntado. E impedido Rin de entregá-la.