A quadra estava vazia, procurei por ela nas arquibancadas mas não a encontrei. Corri pro vestiário com a respiração ofegante e lá estava ela, de costas, enrolada na toalha branca com o símbolo da escola, se secando de olhos fechados, ela ainda não tinha me visto e eu não fiz barulho nenhum.

Ela desceu a toalha e vi suas costas marcadas por cicatrizes estufadas e lisas de queimadura forte e intensa. Meus olhos marejaram de lágrimas, senti um nó na garganta me calar.

– SOPHIA – Eu corri até ela, os olhos de Juliard - ou de Sophia, eu não sei –, se transbordaram de terror. Ela cobriu a parte da frente com a toalha, eu segurei os braços dela pouco me importando por ela estar quase nua na minha frente, nos separando apenas por uma toalha. Eu queria saber porque ela estava fugindo de mim, fingindo não me conhecer – Sophia porque você está fazendo isso comigo? Sou eu, o Justin. – Não estava percebendo que lágrimas caiam do meu rosto até eu sentir a minha visão embaçar.

– Você está ficando louco garoto? – ela gritou – Saia daqui, eu estou tomando banho você não vê? Esse vestiário é femini... – ela se calou quando viu meu estado e seu olhar se entristeceu, ela se enrolou na toalha e alisou meu braço, eu fechei meus olhos sentindo o toque dela novamente em mim e sua voz soou baixo: 

– Ei Justin, eu sou a Juliard – Ela falou serenamente.

– Você não é a Juliard – eu insisti fixando ela com meus olhos – Você é a Sophia, minha Sophia.

– Eu posso até parecer, mas eu não sou ela. E onde quer que ela esteja, ela vai voltar pra você. Acredite.

Juliard me abraçou mas eu não conseguia mover um músculo, ela parecia estar falando a verdade. Era bom sentir o corpo de Sophia junto ao meu, meus olhos se fecharam e mais uma lágrima pequena cortou minha face, eu passei meus braços em volta dela e a apertei em mim, sentindo como se ela pudesse voltar a ser minha: 

– Eu não sei o que está acontecendo, mas eu vou descobrir Juliard – Eu falei com um nó garganta e beijei o ombro dela.

Juliard se afastou devagarinho e me olhou: 

– Eu vou conversar com você, deixa eu apenas me arrumar tá?

– Ok – respondi.

Esperei ao lado de fora que Juliard saísse, meu coração estava apertado, eu não sabia o que pensar. Eu sentia meu mundo desabar de pouco em pouco, meu coração batia acelerado e eu me perdi no tempo e só voltei quando Juliard saiu vestida com uma calça jeans, chinelos e uma blusa de meia manga, ela me olhou: 

– Vem comigo nas arquibancadas, acho que a gente pode conversar mais a vontade lá.

Eu não disse nada, apenas a segui. Ela subiu as três primeiras fileiras das arquibancadas e se sentou, eu me sentei ao lado dela e apoiei meu cotovelo no joelho olhando pra frente, mordi meu lábio e deixei que ela falasse: 

– Sabe porque eu tinha medo de você? – ela falou baixo, como eu não respondi ela se sentiu no direito de prosseguir – Porque você aparece em meus sonhos Bieber, imagina que loucura você sonhar com uma pessoa e ela derrepente te aparecer – Ela deu uma risadinha baixa.

– Eu sonho com você desde que parou de me mandar cartas – Eu falei baixo o suficiente para que ela não ouvisse.

– Agora eu vejo que você é um menino legal – ela acariciou minhas costas – Me conte sobre Sophia, é este o nome dela não é? 

– É – eu umideci meus lábios e engoli a seco desta vez olhando pra ela – Mas não quero falar nisso, você pode me dizer dos seus sonhos? 

– Bom,  eu sonho que... – ela tirou a mão das minhas costas – Eu sonho umas coisas bem loucas até – ela riu baixinho – Promete não rir? – eu apenas assenti e ela continuou - Eu sonho que nós dois estamos perdido em uma ilha, sabe? A gente luta contra piratas, a gente se diverte – ela riu mais uma vez, a risada ainda era a mesma de Sophia e isso apertou meu coração – Cada dia é um sonho diferente.

– Você sonha que estamos... perdidos? – Eu engoli a seco, ela viu que eu não ri e então sua postura se tornou séria novamente.

– Sim – ela mecheu os ombros – No início dos sonhos você era super frio comigo, mas a gente lutou junto contra piratas – ela sorriu – Foi incrível!

– É... – eu fechei meus olhos fortes – Foi incrível. – Eu sussurrei comigo mesmo.

Houve um silêncio enorme na quadra onde eu pude ouvir apenas o meu coração bater acelerado. Eu estava perdido, completamente perdido e não sabia o porque tudo aquilo estava acontecendo justo comigo. Talvez fosse apenas um sonho, eu esperava no fundo do meu coração que sim, que fosse um sonho. 

– E porque você toma banho aqui? – Eu mudei de assunto porque vi que não ia demorar muito e provavelmente eu iria enlouquecer pensando naquilo.

– Por causa das minhas costas – ela mordeu o lábio – Eu não sei, acho que isso foi marca de nascença... eu não me lembro direito, mas é feio e todos iriam rir de mim se eu mostrasse minhas costas. Assim como é meu braço – ela passou o dedo sobre a cicatriz – Eu não me lembro como foi.

– E seus pais... – eu indaguei – Eles não te dizem como foi? 

– Eu não conheço meus pais de verdade... porém os considero como se fosse. Eles tentam parecer pais de verdade, mas eu sei que não são. – ela suspirou – Bieber, acho que já te contei demais. Eu vou pro meu quarto agora, estou cheia de trabalhos de Sociologia e Física pra fazer.

– Eu posso te ajudar – eu me ofereci – Eu sou bom em Sociologia.

– Ok – ela sorriu de lado e se levantou – As cinco e meia passa na biblioteca.

– Tá – eu tentei forçar um sorriso de lado e Juliard desceu as fileiras das arquibancadas, atravessou a quadra e de lá ela me olhou, mecheu os ombros contorcendo a boca e sumiu da minha visão pelo corredor.