She was Innocent. escrita por Cibelly H


Capítulo 11
Sou beijada por um mashmellow


Notas iniciais do capítulo

Aulas começaram, talvez eu demore um pouco...
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/168215/chapter/11

— Eu não avisei que iria trazer você, então será que você pode esperar um pouco aqui fora? — Rife perguntou.

— Claro. — respondi.

Ele entrou e eu me sentei em um dos bancos de madeira de pinheiro que ficavam na entrada da cabana. Naquele instante, assumi para mim que eu estava absolutamente apavorada. Todos os meus sentidos estavam em estado de alerta e minhas mãos tremiam. Não, não eram só as mãos: meu corpo inteiro tremia, porém eu não estava com frio. Eu queria correr, céus, como eu queria correr dali. Quando minhas palmas começaram a suar e eu estava quase me levantando para correr dali e tentando inventar alguma desculpa para Rife, eu ouvi. Era quase inaudível, mas definitivamente era a voz da mãe de Rife. Mas aquela voz era infantil demais, doce demais. Como a voz de uma criança.

—... Decisão estúpida. Você sabe que ainda é muito cedo! — ela disse.

— Eu... Eu sei. — Rife estava quase sussurrando, então coloquei meu ouvido na parede para ouvir melhor — Mas ela está esperando lá fora. Não vou simplesmente dizer que você não está.

Houve uma longa pausa.

— Nem pense nisso. — ela disse.

— Por favor! Só dessa vez. Eu não quero... Ela não iria entender. Mãe, você pode fazer isso. E, por favor, sem a manta. Ela solta fumaça e isso não seria muito normal. — Rife pediu.

Franzi o cenho. Que tipo de coisa eu não iria entender? Será que a mãe de Rife era uma hippie daquele tipo que era vegetariano, fumava ervas e não vestia roupas?

Minha vontade de correr dali aumentou ainda mais e eu parei de escutar. Ouvi passos e, poucos segundos depois, Rife estava na minha frente.

— Quer entrar? — perguntou sorrindo.

Apesar de todo o meu caos interior, eu sorri. Por que havia algo naquele sorriso, algo que só me fazia ver Rife e o quão lindo ele era. Por mais clichê que parecesse, aquele sorriso... Tirava-me o fôlego. Me fazia sorrir.

— E lá vamos nós. — respondi, pegando sua mão sem hesitação. Ele a segurou com força e fiz uma oração silenciosa para que nunca mais soltasse.

Assim que atravessei a porta, ela entrou em meu campo de visão. Meus ossos instantaneamente travaram e eu esqueci como respirar. Ela tinha os mesmo olhos que pareciam chamas de Rife, mas pareciam estar paralisados em uma mistura de amarelo, vermelho, laranja e dourado que era definitivamente hipnótica. O cabelo castanho parecia flutuar à medida que ela se mexia. Sentada de frente para uma lareira, com os braços protetoramente sobre os próprios joelhos, ela não poderia ser mãe de um adolescente. Mas então ela me viu e se levantou, me deixando mais atordoada ainda. Tudo sobre ela parecia tão perfeito, quase como se ela fosse mágica.

— June. Bom conhecer você. — ela disse com um sorriso. — Eu sou Héstia, deusa do lar, da lareira, da ordem familiar e da família.

Dois minutos. Cinco. Onze. Quinze. E eu não conseguia fazer nada além de encarar a fogueira enquanto eles se revezavam em explicar tudo. As palavras penetravam minha mente, mas não tinham sentido algum. Nada tinha sentido algum.


— Você jurou ser virgem. Para sempre. — murmurei para Héstia.

Ela calmamente assentiu e sorriu.

— E não mudei de ideia. — respondeu.

Eu a encarei, perplexa.

— Então como você explica o fato de ter um filho? Você ligou para a Cegonha do Olimpo e pediu um bebê a pronta entrega? Por favor. Eu já estudei alguma coisa de biologia. — falei.

— Na verdade, foi um pouco mais complexo. — ela disse. — June, Rife não é fruto de um encontro de corpos. Ele sequer era humano quando recebi a benção de Hera para transformá-lo em uma criança.

Automaticamente olhei para Rife. Ele estava sentado ao meu lado em frente à lareira, com o braço em volta dos meus ombros acima da manta que Héstia colocara em mim. Com a manta e seu calor, eu me sentia mais aquecida do que em qualquer verão.

— É a história de nascimento mais ridícula de todo o mundo. Quer ouvir? — perguntou com seu sorriso me aquecendo mais.

Suspirei.

— Nada pode me surpreender mais. — resmunguei. Ele aconchegou a minha cabeça em seu ombro e com sua mão livre segurou a minha.

— Em qualquer fogo, qualquer lareira, eu irei estar. — começou Héstia — Mas normalmente eu assumo a forma de uma garotinha. Eu já encontrei você uma vez, há alguns anos. Era natal na casa dos seus avós, lembra? Você me viu e veio falar comigo. Normalmente os mortais e até mesmo os semideuses não conseguem me ver, por causa da névoa. Mas existem raras exceções. Mesmo assim, até quem me vê tende a me ignorar. Ou apenas não quer me enxergar. Não importa, mas acho que você conhece Carly Allen, certo?

A memória veio a minha cabeça. Quando eu tinha seis anos, passamos o natal da casa do vovô Brooks. Enquanto Kate e Zoey brincavam de banco imobiliário, o Tio Frank comia todo o peru e meus pais conversavam animadamente com meus avós e o vovô Brooks sobre alguma coisa que não lembro, eu estava absorta em algo que aparentemente só eu percebia. Uma garotinha com uma vara de ferro, atiçando as chamas da lareira. Ela me viu e sorriu. Então, pelo resto da noite, eu a ajudei a atiçar as chamas, ocasionalmente sorrindo. Quando era hora de irmos embora, eu fui me despedir dela, mas não havia mais garotinha nenhuma. Eu contei tudo a Kate, mas ela obviamente achou que era só uma amiga imaginária ou algo assim.

— Claro. Ele trabalha no mesmo hospital que o meu pa... Que Edward. — falei. Um nó na garganta me impedindo de chamar Edward de pai. Um nó na garganta e um cara chamado Eros que nem sabia que eu existia.

— Eu conheci Carly quando ele era muito pequeno. Ele era uma dessas raras exceções, os mortais que enxergam através da névoa. Ele sempre me considerou sua melhor amiga. — ela disse sorrindo, parecendo mais jovem a cada segundo. Imaginei se ela poderia assumir a forma que quisesse, por que quando a vi naquele natal ela não poderia ser mais do que uma garotinha de oito anos. — Bem, ele cresceu. E um dia, enquanto acampava, ele fez uma fogueira. E eu apareci. Nós conversamos sobre a importância da família e... E ele me contou que tinha pesquisado bastante, e chegado a conclusão de que eu não era uma alucinação da mente dele. Que eu era real e que era algo sobrenatural. Que eu era a verdadeira Héstia, a deusa em pessoa.

Pensei em como foi assustador conhecer Afrodite e Apolo. Eu devia ter mais consideração por Carl Allen. O cara passou a infância com uma melhor amiga que só ele via e descobriu sozinho que ela era uma deusa. Isso fazia minha experiência com os deuses parecer uma coisa bem normal.

— Eu não pude fazer nada a não ser confirmar, mas eu queria preservar Carl. Ele deveria viver como um mortal ignorante e feliz, e era lógico que ele não queria isso, por que ele sempre fora diferente. Por que ele literalmente não via o mundo com os olhos mortais. Por isso eu decidi naquele momento que nunca mais Carl veria nada através da névoa. Eu jurei a mim que no dia seguinte eu imploraria a Hécate para que ela colocasse de volta o véu da névoa sobre os olhos dele. Nós assamos mashmellows e então ele fez algo inesperado. Ele jogou seu mashmellow na fogueira como uma oferenda a mim e, pela benção de Hera, quando as chamas atingiram o mashmellow, dele nasceu uma criança. — ela terminou serenamente.

Um nó maior ainda se formou na minha garganta.

— Você quer que eu acredite que uma criança nasceu da queima de um mashmellow? — perguntei atônita.

— June, você ficaria espantada com quantas coisas são possíveis nesse mundo. — ela respondeu sabiamente.

Observei silenciosamente o movimento das chamas da lareira. Eu não sentia mais frio tampouco, o calor já era quase desconfortável enquanto eu refletia. Ultimamente os fluxos de informações que meu cérebro recebia eram sempre muitos e de uma só vez. Ele devia estar bem cansado de tantas novidades. Eu estava cansada de tantas novidades.

Parecendo como sempre adivinhar todos os meus pensamentos e as minhas necessidades, Rife me abraçou. Mas, em meio a Héstia e a lareira, seu calor era quase insuportável. Ele também percebeu isso e me soltou.

— Você é um... — comecei.

— Semideus? É. — ele respondeu.

Uma onda de choque correu meu corpo. Rife era um semideus. Eu e Marvel não éramos os únicos.

— Marvel é também. — respondi com estranha empolgação.

Ele franziu o cenho.

— Marvel King? O garoto que me odeia? — perguntou.

Engoli a seco.

— Ele não odeia você. Mas você rouba todo o meu tempo e acredite em mim quando digo que melhores amigos não gostam disso. Mesmo Meena deve estar fervendo de ódio agora. Quem irá documentar os treinos de sua ascendência épica ao topo da patinação?

Ele me deu um sorriso torto.

— Acho que tenho que continuar sendo egoísta nesse quesito. Você não é o tipo de pessoa que eu possa me deixar perder. — seus olhos não estavam brincalhões, mas profundamente sérios.

— Você sabe como é isso? Perder. — perguntei.

Seus olhos deixaram os meus. Foi aí que lembrei-me de Héstia.

— Acho que preciso ir para casa. — falei.

— Mas você nem jantou! — Rife protestou.

Minha mão deslizou pela minha testa e bagunçou meu cabelo. Agora não era mais somente meu cérebro: todo o meu corpo se sentia exausto. Mesmo uma deliciosa comida da deusa do lar não me ajudaria agora.

— Rife, ela está cansada. Seja compreensivo. — Héstia veio em minha defesa.

Ele suspirou.

— Eu te levo. — falou.

— Não. Eu sei cuidar de mim. — respondi mais bruscamente do que pretendia. Despedi-me de Héstia e saí em direção a velha Chevy com passos lentos e pesados. Parecia que meu próprio corpo não conseguia aguentar meu peso. Parecia que o mundo iria desabar.

Foi quando minhas mãos trêmulas derrubaram as chaves no chão que eu percebi que era inútil. Rife precisava me levar para casa.

Encostei minha bochecha direita no vidro da caminhonete. Pela primeira vez em muito tempo, eu gostei do frio. Ele pairou sobre minha bochecha, me livrando pouco a pouco de todo o calor. E então passou, o frio cortante me atingiu e meu corpo se arrepiou na tentativa de me aquecer.

E então calor brotou da minha nuca.

Era a mão de Rife brincando com meu cabelo. Aos poucos o frio foi se tornando menos doloroso, mas os arrepios não sumiam. E então eu podia sentir seus lábios na minha orelha.

— Uma coisa ruim e encantadora sobre você é a sua teimosia. — ele sussurrou com a voz aveludada me dando duplos arrepios.

Fechei os olhos por alguns segundos. Por mais cansada e indignada com os deuses que eu me sentisse, aqueles poucos segundos pareciam apagar todas as coisas ruins.

— Você sabia que eu era filha de Eros. — acusei.

Senti Rife estremecer e depois sorrir.

— Eros? Então faz todo o sentido. — os lábios roçaram minha orelha de novo — Mas eu sabia que você era especial. Que mesmo se você fosse mortal, eu poderia confiar meus segredos a você.

— Quando percebeu isso? — perguntei.

Ele hesitou.

— Há muito tempo. Enquanto eu te observava patinar nesse lago.

Virei-me para encará-lo.

— Mas então seria só uma garota patinando.

Ele balançou a cabeça negativamente e tirou uma mecha do meu cabelo do meu olho.

— Você não vê? Você tem uma áurea poderosa. Você atrai as pessoas de uma forma bem difícil de resistir. É por isso que elas lutam para estar com você. É por isso que eu tenho tanto ciúmes de você. — ele suspirou e estralou os dedos, uma mania que demorei um pouco para perceber que tinha.

— Você ensaiou isso? Ficou muito bom. Pena que não é verdade.

Ele balançou a cabeça negativamente de novo, bufou e revirou os olhos. Aproximou-se e seus olhos penetravam os meus.

— Eu queria poder te mostrar como você realmente é. — suas palavras ressoaram mais de uma vez na minha mente.

Eu não sabia responder. Eu não podia responder. Eu não queria responder.

Meus olhos se desviaram dos dele e se fixaram na neve que se acumulava sobre os galhos de um pinheiro.

— Mas você não pode. Você realmente não quer. — quando as palavras saltaram da minha boca, me xinguei por tê-las dito.

E então ele levantou suavemente meu queixo para olhá-lo nos olhos. Eles estavam absolutamente púrpuros, como na noite em que ele me trouxe para casa. Na noite em que eu realmente o conheci.

— Nunca diga isso novamente. — falou.

E então ele se inclinou e lentamente beijou meu rosto. Primeiro o sinal em cima da sobrancelha direita, depois as sardas da minha bochecha, depois a ponta do meu nariz e por último, meus lábios, onde seus olhos se fecharam. Um calafrio desceu a minha espinha e percebi que vinha de sua mão, que segurava a minha nuca. Todo o meu corpo relaxou, como se os lábios dele transmitissem uma mensagem, “tudo vai ficar bem”.

Meus olhos finalmente se fecharam, minhas mãos automaticamente se dirigiram para a sua nuca e delicadamente faziam padrões circulares em seu cabelo escuro e espesso. Ele me puxou para mais perto e fiz uma última nota mental.

“Esse deve ter sido o melhor beijo da história.”





Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews me deixam muito feliz. Melhoram meu humor, sabem? Façam uma boa ação, comentem (:



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "She was Innocent." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.