- Justin

    De certa forma, não era a minha intenção fazer a gente se perder. Mas acho que se eu falasse isso a ela, eu teria de ouvir uma horda de xingamentos.

     - Vamos procurar o caminho de volta, ok? – Falou passando a mão pelo cabelo.

     - Certo... – Concordei e começamos a andar. – Ei, desculpa.

     - A gente vai achar o caminho de volta, relaxa...

     - Não é sobre isso...

     - Sobre o quê, então?

     - Por não ter aceitado seu pedido de desculpas. – Soltei. Ela parou e encarou o chão. – Olhe, eu sei que é um pouco tarde... Mas eu quero que a gente seja amigo. Não gosto de ser tratado assim... Por você. – Por que mesmo eu estava dizendo aquilo?

     - Bieber... – Ela começou. – Eu não...

     - Vamos lá! Nós vamos trabalhar juntos, vamos estar sempre por aí um do lado do outro; não é melhor uma trégua?

     - Uma trégua. Mas isso não quer dizer que somos amiguinhos, ok? – Ela explicou. Abri um sorriso.

     - Tudo bem.

     Voltamos a caminhar. O silêncio reinava, mas era como se não precisássemos falar. Agora seria fácil fazer uma aproximação, ela já estava menos na defensiva. Tudo que eu precisava fazer era insistir até que ela desistisse de tentar me manter longe.

     - Que tal McDonald’s depois de voltarmos? – Sugeri.

     - Hm...

     - Ah é, você não gosta. – Lembrei, me sentindo um imbecil.

     - Pois é.

     - Só um sorvete, pelo menos?

     - Pode ser. – Ela estava na minha frente, por isso não conseguia ver sua expressão. Mas ela havia aceitado e era o suficiente.

     Eu menti quando disse que não sabia por onde havia passado quando chegamos aqui. Eu lembrava o caminho, na verdade, mas eu queria ficar sozinho com ela para poder pedir desculpa. Com o Ryan na cola dela não ia dar.

     Aliás, eles estavam muito juntinhos para o meu gosto. Por que será que Ryan consegue ser mais amigo dela que eu? O que eu fiz de errado? Ryan é tão idiota quanto eu, tenho certeza. Nós não somos tão diferentes. Somos?

     - Meu Deus! Onde vocês dois se meteram? – Kenny gritou quando voltamos para o museu. Ele engoliu Miranda num abraço esmagador e depois me deu um tapa na nuca. – Nunca mais faça isso!

     - Por que eu? – Perguntei, colocando a mão na nuca.

     - Tenho certeza que Miranda não faria isso. – Conjecturou. Revirei os olhos.

     - Tá, que seja. McDonald’s! – Gritei e corri na frente para chegar ao carro.

     - Não senhor. – Kenny chegou um minuto depois. – De volta para o hotel.

     - Mas por quê?

     - Temos que voltar para Atlanta. Scott ligou e disse que precisa resolver umas coisas lá. – Anunciou.

     - Aconteceu algo? – Miranda perguntou, fazendo uma carinha fofa.

     - Nada. Só alguns probleminhas na gravadora, mas é coisa rápida. Amanhã a gente retoma as viagens.

     Voltamos para o hotel. Entrei no quarto e tirei a blusa, pronto para tomar um ótimo banho. Levei um susto quando percebi Selena ali. Ela estava sorrindo e tinha o notebook ligado ao seu lado, na mesinha.

     - Você voltou. – Sorriu mais ainda. Levantou-se e veio em minha direção. – Senti saudades. – Passou os braços por meu pescoço.

     - Já posso sentir o Grammy na minha mão, Sel.

     - Ela já esta mais amigável?

     - Sim.

     - Isso é ótimo, Jus! – Ela me abraçou. – Mas agora... – Suas mãos deslizaram por meu peitoral. Sorri e beijei aquela boca com vontade. Ela enlaçou suas pernas em volta da minha cintura e nós caímos na cama, ainda sem partir o beijo.

     Alguém bateu na porta.

     - Droga! – Xinguei baixinho, arrancando uma risadinha de Selena. Levantei e abri a porta.

     - J? Posso falar com você? – Era o Butler, com uma cara nada boa.

     - Fala. – Fechei a porta atrás de mim.

     - Por que está tentando se reaproximar da Miranda? – Perguntou de uma vez.

     - Eu... Eu só não quero que fique um clima estranho entre a gente. – Falei. Ryan não se convenceu. Ele me conhecia muito bem para cair naquela.

     - Claro que não. Eu não sei o que você está pensando, Justin, mas eu quero que pare! Você não sabe mais o que faz!

     - Como assim?

     - Desde que começou a namorar outra garota, você não é mais o mesmo. Você mudou, cara, de verdade. – Ryan baixou o tom de voz.

     - Fala como se soubesse muito. – Rebati.

     - Na verdade, JB, eu não sei de nada. Você deixou a gente completamente à parte dessa sua nova vida. Você não está se reaproximando dela por mera coincidência, não é?

     - Como pode vir aqui e dizer um monte de besteira? Você bebeu? – Perguntei, tentando me defender.

     - Vocês se perderam, não foi? Miranda comentou algo assim. Fala sério, você é melhor que isso para poder ficar sozinho com uma garota.

     - Já chega, Ryan. Eu quero que Miranda e eu sejamos amigos. Só isso.

     - Sem segundas intenções? – Perguntou, desafiador.

     - Sem segundas intenções. – Afirmei.

     - Hm... – Ele parou e me analisou. Depois se virou e caminhou até o elevador. – Estarei aqui quando quiser falar. Espero que não se afogue em suas próprias mentiras, cara.

     Fiquei parado no meio do corredor. Aquilo era um absurdo! Ryan nunca havia falado comigo daquele jeito. Nessas horas eu sinto falta de Chaz, ele leva as coisas muito menos à sério que Ryan.

Tell me how the fuck we supposed to stay friends

When you got a bunch of feelings that you don't show

I can tell I can tell I can tell certain people don't like me no more

     Entrei no meu quarto me perguntando quanto tempo Scooter ia levar para resolver esse probleminha. Vi meu violão antigo jogado no canto do quarto. Era surreal estar ali depois de tanto tempo.

     Peguei o violão e comecei a dedilha-lo. Depois de um tempo, reconheci a suave melodia de Someone Like You. Meus lábios balbuciaram algumas palavras do refrão, mas minha voz parecia abafada.

     Parei de tocar quando vi a peça branca no chão. Senti cada músculo do meu corpo ficar tenso. Aquilo estava ali ainda? Quando saímos em turnê, eu estava tão agitado que sequer arrumei certas coisas no meu quarto. Levantei da cadeira da escrivaninha e fui até perto da cama, onde a roupa se encontrava.

Flashback On

     O tempo parecia passar devagar; um dia, dois, três, uma semana já. Minha mãe estava demorando a voltar do encontro com os amigos dela.

     Liguei o som e fui tentar escolher um CD. Eram muitos e desisti de tentar escolher apenas um que me agradasse, por fim coloquei numa rádio e sentei no sofá, com o rosto entre as mãos.

     Ainda doía muito. Cada palavra ficava rodando em minha mente, zombando de mim. Não tinha volta. Não haveria volta. Estava tudo acabado bem ali. Eu havia perdido a garota mais perfeita, incrível, maravilhosa desse mundo. Eu era um idiota. Um perdedor.

     O som da campainha interrompeu meus pensamentos maldosos.

     - O que você quer aqui? – Perguntei ao abrir a porta.

     - Eu queria mesmo te pedir desculpas, Jus. De verdade. – Ela tinha uma lágrima nos olhos.

     - Eu ainda não perdi você, não foi?

     - Não. – Ela sorriu. – E então?

     Peguei sua mão e a puxei para dentro de casa. Ela sorria o sorriso mais lindo que eu já vira naquele rosto. Meio que sem pensar, desmanchei o sorriso com um beijo suave, macio. Minhas mãos passeavam por suas costas, livremente, enquanto ela bagunçava meu cabelo.  

     Meio desajeitados, subimos a escada e entramos no meu quarto. Desabotoei a camisa dela e a joguei longe, depois ela tirou a minha. Andamos até a cama e caímos deitados, ela ainda em cima de mim. Passei minhas mãos por todo seu corpo, girei e fiquei em cima dela, indo para seu pescoço. Ela gemia e se atrapalhava com o cinto da minha calça.

     - Justin. – Ela gemeu, apertando meu ombro.

     - Miranda. – Sussurrei, baixinho.

Flashback off

     - Filho? – A voz de minha mãe me trouxe de volta à realidade. Chutei o sutiã para debaixo da cama.

     - Sim? – Virei-me para a porta.

     - Scooter quer te ver na gravadora em 30 minutos. – Ela avisou e olhou em volta. – Mas antes arrume isso aqui.

     - Sim senhora! – Comecei a dobrar o cobertor.

     Terminei tudo e corri para a gravadora.