Vento no Litoral escrita por Janine Moraes, Lady B


Capítulo 33
Capítulo 33 - Provocações


Notas iniciais do capítulo

N/A: Me perdoem, eu demoro muito muito, mesmo! É que é só chegar no final da fic que eu já empaco. Sempre! Haha Mas eu já fiz tipo um levantamento do que ainda falta escrever e só terminar os capítulos, interligá-los que a fic ta terminada, tanto que... confesso. Epilogo ta escritinho. =((( Já to sentindo saudade, af;
Quero agradecer mundo, do fundo do coração a recomendação da Bwriter! Fiquei tão feliz e contente, brigado mesmo, linda. Capítulo vai pra você, ok?
Agradeço também todos os comentários. Fico feliz que todos tenham gostado haha. E não se preocupem com minha mente maléfica, ela está bem aquietada. Obrigada mesmo por não terem desistido da fic apesar da minha demora, enrolação e etc. Obrigada mesmo! ♥
Enfim... Esse capítulo é bem descontraído e leve, sabe? Eu gosto dele, de verdade. Tem muitos diálogos e eu me diverti escrevendo.



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Acordei com o braço de Igor cingindo minha cintura, pisquei algumas vezes, tentando me mover. Isso fez com que ele me puxasse para mais perto. Pisquei algumas vezes, o quarto entrando em foco. Fiquei parada, recordando a noite anterior. Eu não devia ter sido tão... apressada. Ainda estava confusa sobre muitas coisas, mas... Não consegui evitar. Não quis evitar. Virei, olhando o rosto adormecido de Igor. Respirei fundo, analisando como seu rosto ficava pacífico, quase infantil enquanto ele ressonava. Mesmo depois de todo esse tempo, era esquisito ter a mim acordando primeiro. Era sempre ele que acordava primeiro e dessa vez fora eu. Não queria abandonar a cama, o calor e o conforto, a familiaridade do toque de Igor em mim, mas não poderia durar para sempre e eu tinha coisas a fazer. Meditei se deveria simplesmente me levantar e ir embora. Ou esperar ele acordar. A segunda opção parecia muito constrangedora, então tentei me mover sem acordá-lo. Funcionou.

Me vesti rapidamente e em silêncio. Sentada na cama.

– Vai mesmo me deixar abandonado aqui? – Me sobressaltei. Igor ainda estava deitado, mas agora estava apoiado em um cotovelo. Me olhando divertido, se fingindo de ofendido.  – Ir embora sem um beijinho de despedida? A noite não significou nada pra você?

– Você é um babaca. – olhei para o chão, constrangida.

– Obrigado.

– Não quis te acordar. – confessei, ele sorriu para mim.

– Ah é? Bem, você não me acordou. Ainda não aprendeu? – ergui a sobrancelha, confusa. – Eu sempre acordo primeiro. Sorri de leve.

– Faz sentido...

– Pra onde está indo de fininho? – Ele perguntou, quando levantei, tentando ajeitar meu cabelo, meus músculos protestando de uma forma quase agradavelmente.

– Eu entro cedo no trabalho hoje. – expliquei. Era uma meia verdade.

– Hum, eu também. Tinha esquecido. – Ele se levantou, deixando o lençol para trás. Abri a boca em choque, em como ele parecia a vontade. Ele me olhou interrogativo. – Que foi?

– Se cubra! – taquei o lençol nele, que escorregou para o chão porque Igor nem fez menção de pegá-lo, me olhou com curiosidade, sem dúvidas se divertindo com a situação.

– Calma... Não acredito que está ficando vermelha, já que você já viu, usou, aprovou... – Ele disse, forçando um tom sexy.

– Cala a boca!

– Você está ficando ainda mais vermelha, se é que isso é possível! – Ele gargalhou.

Que vergonha, Igor!

– Nunca havia ganhado um apelido assim pra... – Ele revirou os olhos, se divertindo. – você sabe...

– Estúpido, estúpido! – taquei uma almofada nele, que a segurou, rindo.

– Ok, entendi. Espera aí, meu moranguinho do agreste. – Ele riu, dando as costas e eu pude ver toda a ondulação de seus músculos das costas, até bem... Enfim. Balancei a cabeça, respirando fundo. Igor voltou do corredor, vestido agora com uma bermuda vermelha. – Sabia que eu tinha perdido ela no caminho.

– Você é inacreditável.

– Eu? Eu deixei você chegar ao quarto pelo menos, achei minha camiseta e bermuda no corredor. Quem é impossível é você, queridinha. – gemi, constrangida. Tapando o rosto, ele riu se aproximando. Me abraçando de leve.

– Eu odeio você. – sussurrei, tentando responder, meu rosto vermelho.

– E é exatamente por isto que estamos aqui, hã? – Me afastei, tentando ficar brava com ele. Não consegui.

– Ainda temos que ir para o trabalho.

– Você me deve um café, estou faminto. Culpa sua. – Ele sorriu malicioso.

– Você vai fazer essas brincadeirinhas até quando?

– Ate você parar de ficar vermelha com isso, provavelmente.

– Ou seja, pra sempre. – bufei.

– Torna tudo mais interessante. – Ele me beijou no queixo antes de me puxar para a cozinha.

– Eu devia estar brava com você.

– Eu também. Mas não importa agora, importa? – Seus olhos analisavam minha expressão, preocupados, sorri de leve.

– Não agora. – Ele continuou me puxando, mais alegre dessa vez, para dentro da minúscula cozinha. Ele beijou minha mão, olhando em meus olhos.

– Você ainda não saiu por aquela porta, então me deixa ser feliz um pouquinho, ok? – Ele sorriu brilhantemente pra mim de uma forma muito convincente. Acariciei seu rosto que ainda possuía alguns vestígios de sono, meio cansado.

– Pega a cafeteira.  – sorri, indo no embalo de sua visível alegria. – Eu faço o café.

– Ok. Eu faço sanduíches. – Ele começou a mexer nos armários.

– Tem frios? – perguntei, estranhando como parecíamos funcionar no meio daquela bagunça. Igor colocou a cafeteira a minha disposição.

– Tem sim, calma aí. – Ele remexeu na bagunça de sua geladeira e eu acabei rindo.

– Seu apartamento é uma baderna.

– Pelo menos agora ele é limpo. – Ele comentou orgulhoso, começando a preparar os sanduíches.

– Ainda bem! – comentei, e ele riu alto. A todo instante me tocando, como se eu fosse fugir a qualquer momento. Foi um café da manhã interessante. Comi sentada no balcão e Igor sentado no banquinho. Ele me fez ficar constrangida, é claro, mas também me fez rir. Me distrair. Parecia realmente empenhado em não me deixar refletir, simplesmente estava me deixando respirar, ir com a maré. Engoli meu último gole de café e Igor riu.

– Você sabe que seu café é terrível, certo? – Ele provocou. Fiz uma careta, enrolando.

– Ok... Ele é ruim, mas não pior que o seu.

– Verdades da vida. – Ele concordou, ri baixinho.

– Tenho que ir... – suspirei, encolhendo os ombros. – Ou vou chegar atrasada. Preciso tomar banho.

– Pode tomar banho comigo. – Ele sorriu, como se tivesse tido a ideia mais genial do universo.

– Engraçadinho.

– É sério! – Ele apertou meu joelho, a mão subindo vagarosamente até minha coxa, segurei sua mão, tirando-a e ele fez um bico engraçado, me fazendo rir.

– Banho? Sei...

– Alguém está se soltando novamente.

– Eu vou embora de uma vez. – sacudi a cabeça, divertida. Pulando do balcão. Parecíamos muito... nós mesmos. Nem um pouco travados. Passei as mãos pelos cabelos, pegando minha sandália no chão da sala; vestígios da noite passada. Estremeci. Igor me seguiu.

– Não sei você... Mas podemos fazer isso mais vezes.

– Cala a boca, Igor! – exclamei, prendendo o riso e me encaminhando para a porta. Ele me puxou, me abraçando, seus lábios nos meus me deixando estática por alguns segundos. Era certo demais para que eu pudesse me acostumar com isto.

– Fica...

– Tenho que ir trabalhar. – suspirei.

– Eu posso te dar uma carona, sei lá.

– Isso é meio rápido demais pra mim, Igor. – Ele me abraçou com mais força.  Era quase absurdo como me sentia bem e confortável aqui, em seus braços.

– Fica... – Ele sussurrou na minha boca. – Quando você sair por essa porta vai ter acabado, você sabe.

– Acabado?

– O momento perfeito. – fechei os olhos e me afastei, abrindo-os e dando de cara com seu rosto subitamente apreensivo e severo.

– Não vai acabar, Igor. Você já devia saber.

– Então fica... – Ele acariciou minha bochecha, segurei sua mão. Respirando fundo.

– Ainda não. Não posso ainda.

– Mais algum tempo?

– Nós dois precisamos disso.

– Então o que vamos fazer agora? – mordi o lábio, tentando pensar coerentemente:

– Eu preciso pensar. Isso foi... Só um aniversário.

– Já sei, você me usa, me abusa e agora joga fora. Isso magoa, sabia? – Ele fez cara de magoado.

– Igor! É sério. – gemi, ele riu na minha orelha, ainda me abraçando.

– Ao menos você está solteira agora, facilita algumas coisas pra mim. Não tenho que esperar tanto, tanto, taanto assim. Não tenho que esperar seu divórcio e tudo o mais.

– Engraçadinho. – Ele me soltou levemente e eu me encaminhei para porta. – Tchau...

– Você tem 10 segundos pra sair antes que eu te agarre e te leve pra tomar banho comigo. – estremeci com a ameaça, Igor sem dúvidas deve ter reparado.

– Muito engraçado. – mostrei a língua para ele.

– Está superestimando meu autocontrole. – Ele cruzou as mãos na nuca, alongando os braços, claramente me provocando.

– Ah é?

– 5 segundos. – abri a porta, o encarando. Ele fez uma careta, fingindo correr na minha direção, soltei um gritinho, saindo e fechando a porta. Definitivamente, fora um ótimo aniversário.

Fui pé ante pé para o apartamento. Entrei, girando a chave devagar, grata em ver que tudo ainda estava fora do lugar, ou seja, Edith ainda estava dormindo, ou já deveria ter saído. Caminhei para o banheiro para tomar um banho. Apagar o cheiro de Igor de minha pele.

Fora uma noite especial, verdadeira, intensa... E muitos outros adjetivos. Mas não era algo que mudaria todo meu modo de ver as coisas antigas. Embora eu também tenha prometido a mim mesma deixar o passado para trás. Eu não era mais a Malu antiga. Não viveria em função do meu passo. Claro, ainda tinha o que eu sentia por Victor martelando em meu peito, mas também havia Igor. Eu era uma mulher que infelizmente havia terminado um longo relacionamento e sem querer, se envolvera com um amor antigo. Era nisso que eu devia me concentrar. Fora uma ótima noite, mas não seria grande coisa até nós dois querermos que ela fosse.

Respirei fundo, o cheiro conhecido de xampu me acalmando. Se eu estava mudando, obviamente as coisas ao redor de mim mudariam, mas eu não precisava pensar em decisões difíceis agora. Decisões como finalmente me atirar nos braços de Igor. Preferia acreditar que eu ainda tinha um tempinho pra tirar pra mim mesma. Pra me perguntar se ficar sozinha era pior do que ficar sem Igor. Fazendo algo que eu não fazia há anos, literalmente... Comecei a cantarolar uma música baixinho enquanto me banhava. Relaxando, tentando me distrair, pensar em outras coisas que não fossem a noite anterior. Uma letra de música inocente, não romântica... Era tranquilo. Talvez eu conseguisse fazer isso dar certo.

~*~

Eu havia dito que iria me concentrar um pouco mais em mim, na minha própria saúde mental. Mas durante toda a manhã não conseguia tirar Igor de minha mente. Tirar a noite anterior de meus pensamentos, sobre o que ela significou, eu não conseguia fugir do fato que fora a melhor noite que eu já tivera. E mesmo tentando não me lembrar, não me deixar convencer disso... Era impossível não me lembrar dos beijos, dos toques, das carícias e de toda a conversa. Do início da manhã cheio de intimidade e tranquilidade, como fora quente e em como eu me sentira... feliz?  Era meio contraditório; uma parte de mim queria simplesmente jogar tudo as favas e correr para o braços de Igor e a outra achava isso muito precipitado, irracional, que era como matar meu orgulho, meu amor próprio.

– Malu? Ô, Malu? – Pablo estalou os dedos, fazendo eu me sobressaltar. – Ta acordada?

– Desculpe, me distraí.

– Hum, sei... – Ele me entregou alguns papéis, cruzando os braços em seguida. – Sabe o que é muito esquisito?

– O que?

– Você e Igor... Tão distraídos hoje. – Pablo comentou, me olhando curioso. Corei ele abriu aquele sorriso malicioso que me tirava do sério.

– Pode ir parando.

– O que eu perdi ontem a noite?

– Nada, Pablo. Nada. – passei a mão pelo rosto, tentando esconder o rubor. Pablo reparou, abrindo a boca, aparentando choque.

– Cara, não acredito que vocês...

– Pablo... – O cortei, arregalando os olhos. Pablo riu alto.

– Não creio... IGOR, CADÊ TU? – Pablo começou a caminhar pelos corredores, chamando a atenção de todos, eu o segurando tentando impedir uma cena ainda mais constrangedora.

– Cala a boca, Pablo. – gemi, o balançando pelo braço. – Pelo amor de Deus!

– Por quê? Pra você estar desesperada assim só pode ser verdade.

– Não. Estou. Desesperada. – respirei fundo, colocando as mãos na cintura. Tentando manter a expressão impassível.

– Está roxa.

– Ér... Suas suposições são constrangedoras e absurdas, ué.

– Ou talvez causem boas lembranças. – Ele mexeu a sobrancelha, malicioso.

– Ah, por favor!

– Você ta toda distraidinha. Ele ta todo distraindo. Você quer mesmo que eu acredite que você ta feliz porque ganhou um bolo do Eduardo ontem, com aquela cara de tristeza total. E que Igor ta assim porque passou a noite na fossa? Não sou burro, mulher.

– Você é insuportável, isso sim!

– Preciso ter uma conversinha com Igor. – Ele fez uma expressão sugestiva, o segurei pela blusa.

– De jeito nenhum.

– Você sabe onde ele está?

– Provavelmente com Edith, sei lá... Trabalhando!

– Edith está de folga hoje. – Ele comentou. O olhei curiosa.

– Desde quando sabe disso e eu não?

– Desde que você passou uma tórrida noite de amor...

– Pablo! – O interrompi, ele prosseguiu com a frase.

– Com Igor.

– Eu te odeio. – rangi, ele riu bem humorado.

– Vamos lá, vou substituir Edith pra você hoje. – Ele assumiu uma pose quase feminina, os olhos brilhando de curiosidade. – Me conta, me conta! Com todos os detalhes, amiga!

– Não aconteceu nada! – bati o pé, Pablo continuou rindo.

– Do que vocês estão falando? – Daniela apareceu, seguida de Igor. Ótimo, era um verdadeiro pesadelo.

– Nada importante. – Me adiantei, antes que Pablo abrisse a boca. Analisei melhor o sorriso gigante de Daniela e Igor desajeitado com as mãos no bolso, me olhando de um jeito meio culposo.

– Ah, certeza? – Ela abriu um grande sorriso. – Acabamos de voltar do almoço.

 – Almoçaram juntos? – Pablo externou meus pensamentos. Olhando de mim para Igor. – Mas isso não faz sentido...

Lancei-lhe um olhar de aviso para que ele se calasse, ele deu de ombros.

– Fomos falar de algumas coisas do orçamento do planetário, alguns equipamentos estão precisando ser consertados. – Igor explicou, Daniela o interrompeu, o segurando pelo braço. Corei sem poder me conter.

– Só que o assunto girou para outros tão mais interessantes...

– Interessante... Eu tenho que... – olhei para os papéis que Pablo tinha me dado, tentando me manter tranquila. – analisar isso e tudo o mais. Até outra hora.

– Posso falar com você um minuto, Malu? – Igor me interrompeu, dando um passo a frente. Daniela ainda segurando seu braço.

– Depois... Agora estou meio ocupada. – sacudi os papéis, mal-humorada. Virei as costas, quando ia fazer menção de andar e ir para minha sala, Daniela me parou.

– Ei, Malu... Espera um pouco! – Ela sorria, cruzou os braços. – Olha é meio difícil não notar que você se sente meio desconfortável com Igor e nosso quase relacionamento.

– Quase relacionamento? – parei, cruzando os braços.

– Vish, ferrou. – Pablo comentou, mas não se mexeu. Olhei para Igor que arregalou os olhos.

– É... Quer dizer... – Ela sorriu, mexendo nas mãos. – nós estamos realmente tendo alguma coisa especial.

– Me poupe de suas fantasias, ok? – disse, tentando controlar o riso. Definitivamente, ela era louca.

– Fantasias? Acho que você não está entendendo...

– Você é quem não está entendendo. Fica por aí inventando relacionamentos e ainda mais na frente do cara? Qual é o seu problema? Pro seu governo não tente espalhar rumores que vocês estão tendo algo... Porque eu sei que não tem. Então, não tente me atingir com isto.

– E como poderia? Você tem um noivo não é mesmo? – Ela comentou ácida e irônica, parecia ter ficado realmente irritada comigo. – Ah, é... Ele te chutou.

– Pois é. – corei, mas continuei firme. – E olha só, agora estou solteira!

– Igor não vai voltar pra você. – Ela disse firmemente. Sorri para ela.

– Eu não disse que ia.

– Eu to bem aqui, sabiam? – Igor interrompeu.

– Shhhh. – Eu, Daniela e Pablo fizemos para Igor, que bufou. Na verdade, eu queria matá-lo.

– Desista, Malu... Nós realmente temos algo. Nós nos damos muito bem e ainda temos toda nossa química... sexual.

– Você é absolutamente louca! – revirei os olhos, segurando a pasta firme em minhas mãos, quase a amassando.

– Eu dormi na casa de Igor aquele dia. – Ela tentou jogar sujo, sorri quase não acreditando. A raiva ameaçando explodir de dentro de mim.

– Arran, ta. Eu vi.

– Eu dormi na casa dele ontem também. – Não consegui me controlar. Comecei a rir alto.

– Definitivamente... Você não dormiu na casa dele ontem.

– Como pode ter certeza?

– Não faz diferença. A propósito, boa faxina aquela do outro dia. Tudo estava muito limpinho, viu? Embora eu não tenha reparado muito bem... Porque você sabe como é... Pensando bem, acho que você não sabe como é estar ocupada realmente estando com um homem ao invés de limpar a casa dele e espalhar rumores.

A boca dela se abriu em um O grande, a de Pablo também, mas eu me sentia melhor com isso. A colocando em seu devido lugar. Normalmente era isso que o ciúme fazia comigo, eu simplesmente jogava, me defendia, mesmo sabendo que isso me envergonharia depois, Pablo sem dúvidas me lembraria disso pelo resto da vida, mas ver a expressão de Daniela já me fez sentir um milhão de vezes melhor. Igor me segurou pelo braço, me puxando. Sua expressão era séria, podia ouvir o riso nada discreto de Pablo ao longe. Igor me levou até a sala dele, fechando a porta. Joguei a pasta na mesa. Ainda irritada.

– Ta, ta. Já sei... Exagerei. – Me virei, Igor estava até relaxado. Não parecia muito afetado com as mentiras de Daniela, talvez um pouco alegre com a minha explosão sem dúvidas. Queria nem pensar em como isso tinha aumentado seu ego.

– Só achei que seria segredo a noite de ontem/hoje? Agora o planetário todo deve saber.

– Bom pra você. – resmunguei. Ele se sentou na mesa, a minha frente. Me puxando.

– É, passei a noite com uma mulher incrível.

– E nada louca, ou insana, ou assanhada, ou vadia! – Me soltei de seus braços, irritadiça. – Só às vezes.

– Você é realmente ciumenta, não é? – Ele riu, se aproximando. Fiz um gesto para que ele se mantivesse distante. Ainda não acreditava que ele tinha saído pra almoçar com ela.

– Não... – Ele me encarou. – Ok, ok! Talvez um seja um pouco ciumenta.

– Um pouco? – Ele riu.

– Ta. Muito... – Não era necessariamente minha culpa ser tão ciumenta, só não conseguia evitar.

– Você nunca pareceu muito ciumenta com o outro lá. – Ele comentou, respirei fundo. Porque ele tinha que me lembrar de Victor nessas horas?

– É, diferente... – Eu nunca tivera um ciúmes louco de Victor, mas com Igor simplesmente não conseguia deixar de lado.

– Por quê...?

– Porque eu não gosto dela! – apontei para fora, gesticulando enquanto falava. Daniela era insana, atirada e louca, ainda mais agora que ela fazia questão de me provocar.

– Ou porque gosta de mim? – Ele disse presunçoso.

– Essa pergunta é meio inútil, porque né. – respirei fundo, já suficientemente constrangida. Ele riu baixinho. – Aliás, ta na minha hora, tenho que ir.

– Te dou uma carona.

– Não precisa. Meu carro ta aqui.

– Não me faça insistir. – Ele fez pose de cavalheiro, exageradamente. Prendi o riso.

– E não me faça negar mais uma vez.

– Você é meio bipolar, sabia? – Ele comentou, quase sorrindo.

– É, seu sei.

– O quer que eu faça? Finja que nada aconteceu ontem? Hoje?

– Talvez...

– É impossível. – Ele disse, olhando em meus olhos, corei e engoli em seco. – Olha... Sei que está confusa porque terminou com Victor agora... E me ‘atacou’, obrigado Deus! – revirei os olhos – ontem a noite... Mas não precisa fingir que não aconteceu só porque é mais fácil. Aliás, agora todos sabem e...

– Não dá pra fingir, isso eu sei.

– Então por que... – O interrompi mais uma vez.

– Se fosse fácil fingir as coisas sobre você, Igor... Eu simplesmente não me importaria em ouvir essas coisas daquela azeda. É esse o problema. Quando estou com você eu sinto demais. E você tem que concordar que é meio destrutivo.

– Quer esquecer o que aconteceu por causa disso? Porque... Sente alguma coisa?

– Não é isso. É porque eu sinto demais. E eu não quero esquecer, só... Não quero que me assombre, entende? Eu... Não tenho como explicar. Quando senti demais, perdi você. Quando voltei a sentir demais perdi, Victor. Perdi muita coisa por causa desses sentimentos, dessas bagunças amorosas. Então, não me julgue, ok? Nada nunca foi muito fácil pra mim. E eu ainda to me acostumando com minhas novas perdas.

– Certo, estou meio afobado mesmo. Mas... Não sei o que fazer.

– Como eu disse, preciso de um tempo sozinha.

– Ok... Entendi. Carona? – O olhei, perguntando com os olhar se ele tinha entendido alguma coisa do que eu disse. Ele fez um bico engraçado, revirei os olhos, suspirando:

– Não... Obrigada.

– Está brava comigo, de novo? – Ele voltou a fazer bico, me testando. Ele era um verdadeiro filho da mãe! Sabia como me provocar e me fazer vacilar.

– Não...

– Está sim. – É, talvez eu estivesse. Acabei soltando, em outro surto de sinceridade:

– Você passa a noite comigo e já vai com a outra lá? Sério mesmo?

– Foi a trabalho, ela me chamou e... – Ri alto de sua ingenuidade.

– Meu Deus! Como você pode ser tão ingênuo em certas coisas e totalmente... hã... não ingênuo em outras?

– Seja mais específica. – Ele sorriu malicioso.

– Viu? Essa sua cara de pau! Você não consegue detectar quando as outras pessoas estão sendo?

– Me desculpe!

– Mate aquela garota e eu te desculpo. Melhor, deixe que eu o faça.

– Tecnicamente... Você não pode matá-la.

– Viu? Já está a defendendo! – Ele riu baixo, me puxando pela blusa, segurando na minha cintura e fazendo carícias com o polegar.

– Não fique brava.

– É que... Estava tudo bem e agora... Argh. Eu não sei lidar com isso. Na verdade, estou fazendo cena sendo que eu não tenho direito de fazer cena. Só não consigo evitar. Não quero me sentir assim, mas também não quero ter que assistir isso.

– Você não tem... Eu te dei as opções, Malu. E você deu a si mesma tempo. Só falta você escolher o que quer no final de tudo. Fácil.

– Claro, claro, muito fácil!

– Você só tem a ganhar se me escolher. Não querendo atrapalhar seu próprio julgamento e tudo o mais. Só um detalhezinho. – balancei a cabeça em desaprovação, ele continuou sorrindo.

– Se eu escolher você... – Ele intensificou as carícias na minha cintura, provavelmente tentando me fazer perder o foco, respirei fundo. – Vou ter que lidar com todas as vadias pelo caminho.

– E eu com todos os marmanjos. Porque queridinha... Você é uma ten-ta-ção.

– Você anda passando muito tempo com Edith e Pablo. – sorri.

– É que toda aquela tensão entre eles, aumenta a nossa e... – Ele me puxou para mais perto. Espalmei minhas mãos em seu peito, o empurrando e me soltando de suas mãos.

– Ainda não esqueci daquela azeda, Sr Igor.

– Vai mesmo me negar? – Ele continuou brincando. – Assim... tão carente e disputado?

– Você ta ficando metido demais.

– Muitas me querem, Srta Malu. Muitas, eu se fosse você ficava de olho, botava uma aliança aqui no meu lindo dedinho... – Ele mostrou o dedo anular, fazendo pose de sério. – Senão vai perder.

– Você é um babaca.

– Eu sei. É meu charme. E você é ciumenta, o que a torna ainda mais irresistível. Fatos, fatos...

– Você está impossível hoje. Tchau. – resmunguei, ele me mandou um beijinho. Acabei rindo enquanto fechava a porta. Quase não notei o ser me esperando do lado de fora da porta, sorrindo malicioso.

– O que vocês fizeram aí dentro pra você entrar toda estressada e sair toda alegrinha, Malu?

– Ah, pelo amor de Deus, Pablo!

Tentei fugir dele, mas foi meio inútil. Pablo, impressionantemente... Também tinha acordado de muito bom humor. Me perguntei porque antes de sair de casa Edith não tinha aparecido pra fazer um belo questionário, já que nas folgas dela... Ela sempre acaba acordando cedo.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam a cara de pau de Igor, dos ciúmes da Malu, da Daniela sendo colocada no devido lugar, de Pablo todo curioso? *---* Escrevi o capítulo mais pra descontrair mesmo, algo bem relax e romântico e gostei. Malu ta vendo como ficar com Igor tbm é bom, quis mostrar esse lado dos dois e provavelmente vou seguir nisso, pq eles nunca tiveram um tempo 'deles', e acho que eles precisam disso, entendem? Por isso ainda tenho alguns capítulos pela frente. Espero que tenham gostado. Reviews? Brigada mesmo por lerem! ♥